Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Casamento

15 March, 2011

E eles se casaram, depois de juras e declarações de amor. Depois de juntarem dinheiro, escovas de dente e roupas de cama. Depois de ouvirem que o amor habita a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, “até que a morte os separe”.
Com todo o respeito, seu padre, naquele momento não dava para pensar em fim. Apenas começo, página branca como o véu da noiva,  sino batendo, livro novo na estante.
Saíram da igreja aos beijos e aplausos, sob uma fina chuva de arroz, sol nascente dentro de cada um.
Levariam um tempo ainda para cozinhar o feijão, viver o dia-a-dia das contas, das reuniões de condomínio, do choro de alegria dos filhos.
Sem perceber foram envelhecendo juntos, se amando um pouco mais a cada dia, dormindo como conchas do mar e assistindo à TV de mãos dadas.
À tristeza iriam se somar as quedas, os tropeços, os inevitáveis desencontros.
À doença iriam se somar as crises de TPM, os pavios curtos, as dores de cabeça no meio da noite.
O padre tinha razão. Ao colorido do amor se juntam nuances de cinza, preto, bege, cores que desbotam com o tempo.
E quando tudo parece árido, vazio, asséptico, vem o amor para lembrar a que vem. Nascendo de novo como o sol que nunca falta, trazendo consigo a força de uma história, de um sonho emoldurado por beijos e abraços, fotos e filhos, netos que também trazem choro de alegria. Dizendo sim sem precisar de palavras. Ouvindo a marcha nupcial quando o silêncio fala mais alto. Florescendo um jardim inteiro quando o buquê há muito tempo já secou.

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