Ontem minha irmã do meio fez aniversário. Quando vi os números 2 e 9 brilhando acesos em cima do bolo, constatei a inevitável passagem do tempo. Olhei pra trás e me vi, com todo o glamour de irmã mais velha, cuidando da minha “bonequinha viva”.
Empurrava o carrinho para fazê-la dormir, inventava canções de ninar, ajudava minha mãe no banho e na trocação de fralda, dava-lhe coragem para aprender a andar. Se ela não parava quieta, eu dizia que “o jacarezinho ia pegar”. (Não é à toa que a danada acabou virando veterinária…)
Lá pelos seus 4 anos, trocando o “r” pelo “l”, precisou ir à fonoaudióloga, e quem a levava também era eu. Enquanto a pequena treinava a fala com leite condensado, eu ficava na sala de espera, no meio de um tanto de mães, ouvindo casos de dona de casa, aguada num leite condensado…
Lembro disso com carinho, com a ressalva – e um leve puxão de orelha na minha mãe – de que talvez tenha me tornado gente grande antes da hora, responsável demais…
Mas também conheço casos que são o avesso dessa história. Pais que saem para trabalhar e deixam crianças cuidando de outras crianças. E aí, no lugar do cuidado fica o descuido, a distração, a falta de noção. Não é por mal, mas por falta de maturidade. Consequência: crianças expostas ao sol, à rua, ao fogão, ao perigo – palavras que definitivamente não combinam com a materna-idade e a paterna-idade.
A estes pais, o meu carinhoso puxão de orelha.
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