
Eu nunca fui de brincar com Barbie. Sou do tempo da Susi, mas o que eu gostava mesmo era do “Meu Bebê”. Como num ensaio à maternidade que eu viveria anos mais tarde (não só como mãe mas também pesquisadora do tema no mestrado), adorava passear com esse boneco vestido com as roupinhas que já não cabiam mais na minha irmã, e bem aconchegado no carrinho que também foi dela. Algumas pessoas chegavam a me parar, achando que o menino era de verdade. Sucesso na praça.
Como professora de redação publicitária que fui, levei um dia para a sala de aula um texto de Rubem Alves tecendo uma crítica ferrenha à Barbie e comparando-a a uma bruxa, além de fazer menção aos bonecos de vodu. Ui. Vale a pena a leitura.
E foi assim que eu fui hoje – com um pezinho atrás e look azul, diga-se de passagem, assistir ao comentado filme da boneca estrelada pela linda e estonteante Margot Robbie.
Saí de lá feliz, missão cumprida. Gostei de ver uma Barbie se assumindo estereotipada (e quebrando estereótipos) no seu icônico mundo cor-de-rosa. Uma Barbie que se depara com pé chato, pensamentos de morte, celulite e uma boa dose de enfrentamento para lidar com a sua crise existencial. Bem-vinda à vida, querida Barbie. Aceita água, café, chá, cappuccino? A caixa de lenços está bem aí ao lado.
E assim ela chora. Medita. Pratica a sororidade, envolta de amigas leais e que compõem um real cenário de diversidade, como a vida é. Tem Barbie de tudo quanto é jeito, inclusive negra, acima do peso e dançando em uma cadeira de rodas.
O filme traz um olhar crítico a temas como patriarcado, machismo, padrão estético. E ainda perpassa a adolescência e o processo de envelhecer, acendendo luz sobre o lugar da mulher na sociedade.
Quanto ao meu lugar na sala de cinema, eu estava bem servida: filho de um lado, filha do outro; ela com o namorado, ele com uma amiga e sua calça branca que foi sendo lentamente tingida pela cor rosa do pacote de pipoca. Viva as imperfeições da vida.
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