Um jogador entra em campo e a torcida do time adversário se agita na arquibancada de forma cruel, desrespeitosa, absolutamente desumana. Impregnados de preconceito racial, homens emitem grunhidos imitando macacos. Perdem a razão, o respeito, a ética e a emoção, literalmente se desumanizando à frente das câmeras. Catarse, força coletiva, crime, animalização. Seja lá o que for, estes chamados seres humanos, teoricamente pensantes, mostram-se lamentavelmente ocos de raciocínio e coração. Em pleno século 21, não dá para acreditar.
Mas ainda não perco a esperança. Resgato da infância a linda música de Paul McCartney e Stevie Wonder que aprendi a cantar na escola: “Ebony and Ivory live together in perfect harmony side by side on my piano keyboard, oh lord, why don’t we?” A lembrança é quase fundo musical para o depoimento de Tinga, o jogador-alvo do triste episódio: “Trocaria todos os meus títulos pela vitória contra o preconceito.”
Abro o facebook e vejo pessoas formando sua opinião. A unanimidade nunca foi tão sensível e inteligente. Atleticanos verbalizam com indignação seu apoio ao meio-campista do Cruzeiro, unindo-se a ele com solidariedade e respeito. Duas bandeiras tão contrárias flamulam juntas em prol de algo sagrado chamado dignidade.
Escuto meu marido – “Galo até morrer” – comentar sobre as cores da camisa do time do coração:
– É preto e branca, Rê, porque junta as duas raças sem distinção, num grande grito de gol.
Corre esperança nas minhas veias.
Penso no nome do torneio que foi palco deste grande dissabor: Copa Libertadores.
LIBERTA-DORES. Assim seja.
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