Amor

Amor. Amém. Mazal Tov!

20 December, 2021

O ano vai dando seus últimos suspiros e a gente acaba confirmando, com unanimidade e propriedade de causa, a frase estampada na primeira página do meu calendário: “O tempo passa. Feito passarinho.”

Arrumo as gavetas, guardo caixas de memórias, faço minha retrospectiva particular. Ao preparar o ninho para mais um ciclo, pouso minha emoção em um dos momentos mais lindos que vivi este ano: o Bat Mitzvá da minha filha, adiado em função da pandemia e pelo mesmo motivo realizado em uma cerimônia pequena, intimista, mas guardada pra sempre no coração.

Este post é para você, minha Bella. E para a posteridade também. Antes de me despedir de 2021, deixo aqui o discurso que li para você, celebrando não só a sua maioridade judaica como também todos aqueles que vieram antes.

Daqui a alguns anos, quando você estiver preparando o Bat Mitzvá da minha neta, quem sabe, o meu texto estará aqui para te inspirar. ❤️



Filha querida,

Escrevo para você ouvindo Chopin, compositor preferido da sua bisa Bella, nossa amada e eterna pianista, razão especial do nome que você carrega.
A música me inspira… a nossa ancestralidade me guia. Quanta saudade. Quanta emoção.

Olho para você e vejo um tanto de mim, do seu pai; seu irmão, seus avós, família: sinfonia de amor sem fim. Olho para você e te vejo no meu colo, aqui nesta mesma sinagoga, há treze anos atrás, quando celebramos o seu Brit Lebat. Olho para Deus, tão bem guardado aqui dentro de mim, e agradeço pela dádiva que foi (que é) ter você na nossa vida, depois de muito mais de nove meses de espera. Ahh, como eu te esperei, Bella!… Como eu conversei com Deus e pedi por você, meio que sem entender essa sua demora. E como eu agradeci pela sua chegada, quase um milagre, tanto tempo depois. Essa história eu já te contei várias vezes, no doce ritual da hora de dormir, naqueles minutos abençoados de conversa, afeto e ternura que antecedem o apagar das luzes e o Shemá Israel. Eu sempre terminava a história com a tradicional pergunta: “Por que você demorou tanto, Bebella?” (Como se você pudesse me responder, me contar os mistérios dessa
vida.) Mas melhor que a pergunta era a conclusão que até hoje eu não canso de dizer: “Ahh, valeu a pena esperar!…”

E por falar em espera, aqui estamos nós, juntos na emoção de finalmente celebrar o seu Bat Mitzvá, adiado por motivos de força maior. Parodiando Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pandemia”. Fico imaginando seu biso Jaime, sentadinho na sua mesa do escritório (que é pra onde ele ia religiosamente todos os dias, até o fim de sua vida), debruçado sobre os jornais, lendo a notícia de um vírus que parou o mundo. O que ele diria? E seu biso Zé, pneumologista de mão cheia, pioneiro no tratamento da tuberculose, que estudos faria? Quantos pulmões ele ajudaria a curar, se aqui estivesse?

Que alegria podermos nos reunir aqui hoje com saúde para te ver trilhar um caminho permeado de significado, tornando-se hoje uma legítima filha do mandamento. Mandamento de amor, Bella. É isso, em resumo, que o Eterno nos ensina e nos convida a colocar em prática, todos os dias da nossa vida, do amanhecer ao anoitecer. Ser: uma pessoa boa, do bem, de coerência e verdade; amar, honrar seus pais e todos aqueles que vieram antes, levar seus valores adiante. Amar, nunca é demais dizer.

Olho para você (não me canso de olhar) e vejo luz. Olho para o céu e vejo, entre tantas estrelas, uma de nome Estela, outra bisavó que você também não teve a alegria de conhecer. Dela veio a melhor torta de morango com suspiro do mundo. Deve ser de lá também que veio a sua doçura.

E nessa conjugação de estrelas e raízes floresce você, Bebella. Mistura de paz, amor, alegria. Menina de personalidade forte, segura de suas escolhas e extremamente justa nas suas posições; sensível, dedicada, gentil, generosa e humana. Amiga de todos, conciliadora e apaziguadora de conflitos; dona de um lindo jardim de suculentas, cactos, barbas de moisés, entre outras plantas que você cuida com todo o carinho; dona de uma estante colorida de livros que representa bem o nosso povo; dona de um par de chuteiras que te move a fazer gols, tendo ao seu lado o melhor técnico do mundo; e de um All Star que é seu companheiro invicto nos melhores momentos da caminhada.

Termino por aqui minhas palavras de amor a você, minha menina-flor, certa de que o ponto final se transforma em reticências, assim como a noite se transforma em dia. Te abençoo, filha, na continuidade de uma história que agora ganha ainda mais sentido com o que estamos vivendo aqui hoje.
Que o Eterno te ilumine e te abençoe a cada passo dessa grande travessia. Amém. Amor. Mazal Tov!

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