Amor

"Quer namorar comigo?"

18 June, 2016

A-CHave-do-amor

Sou do tempo do bilhete dobrado às pressas, quando o coração se fazia ouvir mais que qualquer explicação de álgebra ou geografia. Do tempo em que as meninas trocavam papel de carta, trocavam olhares, contavam seus segredos a uma folha de papel.

“Querido diário, hoje eu senti de perto o perfume do Thiago. Quero sentir de novo. E de novo. E de novo, cruze os dedos.”

Não muito longe daqui, os meninos tiravam as meninas pra dançar. Música lenta, rosto colado (meu pai foi me buscar numa festinha e presenciou a cena, fala dela até hoje) ,  “salada de frutas”, jogo da verdade.

Hoje os jogos são muitos. E outros. E tantos. Voláteis, descolados, desromantizados,  absurdamente práticos. “Tô pegando.” “Tô ficando.” “Tô dando um tempo.” “Enrolando”.  “Experimentando”. “Curtindo.” “Tô vendo o que é que dá”.

Nessa nossa atual era hedonista, em que o prazer fala alto e os vínculos andam roucos, um tanto quanto escassos, são estes os gerúndios e imperativos da vez.

“Querido Tinder, busque  alguém do meu número. Gata, malhada, 20 a 25 anos, de preferência a 100 metros da minha casa.”

O velho e bom pedido – “Quer namorar comigo?” – soa quase  como um bilhete premiado em tempos de relacionamentos fugazes.  Em alguns casos a relação já configura namoro, é fato, mas é melhor que não seja nomeada assim. (Assusta.) Eles se falam todos os dias, mandam mensagem, se vêem a cada final de semana, não conseguem desgrudar um do outro mas deixa como está. Sem nomear, sem nada oficializar, nenhum status no facebook.

Em alguns casos, o clássico amor à primeira vista acontece. Vem acompanhado de uma energia diferente, uma emoção nada racional, uma química que vem antes mesmo do primeiro beijo. Vai explicar. E lasque logo o pedido, é claro que a resposta é sim, tudo o que a moça quer é namorar com você.

Tenho ouvido gente cansada de esperar. Gente exausta das baladas, dos beijos mecânicos,  “desculpa, foi engano”.  Por outro lado, vejo pessoas que não se cansam de tentar.  Tentativa e erro, uma hora o acerto vem, quem espera sempre alcança.

De uma forma ou de outra, entre um caso e outro, com todas as mudanças que vieram e que fazem parte; com todos os recursos tecnológicos, amorosos e os diários que mudaram de lugar; com tudo o que já não mais é, tudo o que já foi um dia e tudo o que ainda virá, uma coisa é certa: no fundo no fundo, todo mundo tem uma necessidade imensa, intrínseca, inevitável, de amar.

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