Palavras abraçam. Aproximam. Acolhem. Fazem do silêncio ponte, do coração tradução, da dor um caminho.

Renata Feldman faz das palavras matéria-prima. Seu trabalho é feito de escuta, acolhida, interação, escrita.

Seja no refúgio da psicologia clínica, nos livros publicados ou posts aqui do blog, palavra é preciosidade.

Entre, aconchegue-se e fique à vontade. É uma alegria dividir este espaço com você.

Flor decorativa
Amor

Acabou. (?) ...

28 February, 2016

Hibiscus Exploded 01, Singapore

Muitas coisas são simples de terminar: aquele bolo cheiroso que acabou de sair do forno, só esperando pela calda de chocolate; aquele relatório parado na gaveta há algum tempo; aquela arrumação que você prometeu fazer desde o ano passado; aquela música que ficou faltando um pedaço; aquele curso pendente, urgente, que ficou agarrado por causa de um ponto; aquele papo-cabeça que um imprevisto qualquer não deixou descer pro coração.

Sobe o nível de complexidade. Vínculo. Hábito. Amor. Desencontro. Desânimo, preguiça, desamor.

Como é difícil, doído, colocar um ponto final naquela história que começou sem nenhum rabisco e agora precisa de um curso de caligrafia para se fazer entender. Terminar o namoro, romper a relação, dar um tempo, pedir a separação. Gosto amargo que esse assunto tem. Fim de linha, não te amo mais, adeus, foi bom enquanto durou, acabou. The end.

Tenho visto algumas pessoas se queixarem do amor. “Destemperou, esfriou, perdeu o sal.” Foi mal. “Ao invés de alegria, dor de cabeça, insônia, distância. Não tenho mais esperança”. “Perdemos a liga, o timing, o encanto.” Pranto. Paradoxalmente, muitas vezes a queixa não precede o fim: se perde em si mesma, atônita e catatônica, sem energia para seguir adiante. Dá-se voltas  no mesmo lugar, dois passos pra frente e vinte para trás.

Num desses momentos de paralisia, talvez se descubra a força que o amor tem de se colocar em movimento, resgatando o que parece ter sido perdido. E aí o tempo é de conversa, redescoberta, reforma: muito barulho, pó, poeira, desconforto e trabalheira para se chegar, enfim, a uma casa mais bonita, sem goteiras e infiltrações, com rede pra descansar a alma na varanda.

No entanto, talvez a fraqueza se confirme, ainda não tão firme, mas certa do fim. Entre a decisão e o ponto final, a angústia de dizer não e se despedir. Mesmo com a certeza de que o melhor caminho é terminar, muitas pessoas ficam agarradas a uma relação árida e estéril, que há muito já não dá flor. Ou porque não querem magoar o outro; ou porque têm medo de ficarem sozinhas. Ou porque não concebem a ideia de renunciar ao tanto de amor que vem do lado de lá: “Ele diz que sou tudo pra ele, que faz tudo pra me ver feliz… Como posso jogar esse amor fora?”

Interrogação, reticências, vírgulas, ponto final. Como você anda pontuando sua relação com o amor?

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