Adultos, hora do recreio.
Prepare-se para a pipoca, o riso e a emoção de “Os Croods”, um filme impactantemente delicioso.
Impactante pelos cenários coloridos, abalos sísmicos em terceira dimensão, invenção do fogo. (Sim, você quase havia se esquecido que ele foi inventado um dia.)
Prepare-se para conhecer uma típica família do tempo das cavernas, conectadíssima com a fome, os perigos do mundo lá fora, a necessidade de sobrevivência.
Prepare-se para se encontrar com o seu adulto pós-moderno que, embora preso em outras cavernas, ainda morre de medo do escuro. De medo de amar. De se encontrar. De virar gente grande. De voar, de ser, de simplesmente viver. (Viver é perigoso, meu caro.)
Em quantas cavernas mais você tem se escondido? Por trás de qual celular, debaixo de qual cobertor, engolindo quantos analgésicos pra dor?
A DreamWorks não colocou isso lá na ficha técnica, mas Guimarães Rosa devia estar lá, no maior de todos os letreiros, lembrando que “o que a vida quer da gente é coragem”. Coragem de transpor montanhas, desenterrar-se de areias movediças, descobrir novas paisagens, sair do lugar, romper com o escuro. (Olha o fogo aí fazendo todo o sentido.)
Foi-se o tempo que medo era invenção de criança. Hoje os pequenos tem medo de mosquito da dengue, mas são os adultos que acendem o abajur à noite, às voltas com os seus fantasmas.
Como se não bastasse, o filme ainda tem um quê especial de constelação familiar quando a filha rebelde se enche de coragem para tomar o pai medroso. Na energia de um abraço, na ligação de um “eu te amo”, no abismo da dor de uma grande perda, o que acontece é força.
Adultos, ao trabalho.
Rita de Cassia Ribeiro says
Amei, amei, amei c força querida Renata!!!
Q belo texto sobre coragem tendo como pano de fundo ‘Os Croods”, o fogo e ainda nos presenteando com uma das mais lindas citações de Guimarães Rosas!!! Sim, sim…ao trabalho! É o mínimo q podemos fazer diante um encorajamento tão contundente, mas permeado com a delicadeza de sempre!!!
Com carinho.
Bj Rita de Cássia
Renata Feldman says
Que comentário mais lindo, Rita!
Muito obrigada!
Um abraço carinhoso!
PC says
Tô indo com Tomás hoje, ver se eu aprendo um pouco de coragem. Ele vai fazendo a tradução simultânea, nas horas que meu medo não me deixar entender…
Depois te conto.
Beijos,
PC
Renata Feldman says
Coragem você ENSINA, querido PC, aos montes!… Vocês vão adorar, depois me conta.
Dá um abraço de urso no Tomás.
Ana says
Que legal, Renata! Fiquei curiosa. Quero assistir tbm!
O que vc falou sobre o medo que os adultos sentem, é bem verdade. Enquanto as crianças estão por aí empolgadas com os toboáguas, com as montanhas russas e com o volume alto do cinema, tem muito adulto com medo aventurar-se na vida! Mãos à obra!
Um beijo, querida!
Renata Feldman says
Você vai gostar, Ana. Taí um filme infantil feito especialmente para as crianças que nos habitam. Beijo carinhoso, querida!
Cristina says
Muito legal Renata, assisti já faz muito tempo, então nem me ligava na questão sistêmica naquela época, então hora de revê lo.
Verdade, com os passar dos anos os fantasmas mudam, mas continuam presentes ……
Renata Feldman says
Interessante assisti-lo com esse olhar, não é? Tem uma série que estou doida para ver, que é pura Constelação Familiar: “Uma nova mulher”, no Netflix. Fica a dica.