Algumas mulheres não gostam de contar a idade que têm. Contam casos, sapatos, contam os dias mas não contam a verdade que vai estampada no seu RG.
Já algumas mulheres têm 40 anos e muita – muita emoção pra contar. A emoção de ter encontrado o seu próprio amor. (E quando digo “seu próprio amor” estou me referindo ao amor-primeiro, amor-oxigênio, prioridade, inteiro, que algumas mulheres deixam lá no fim da fila ou esquecido num banco de praça qualquer.) A emoção de saber quem se é, de dizer o que se quer, sem rodeios ou silêncios improdutivos. A emoção de reconhecer que se caminhou muito para chegar até aqui, apesar de todas as pedras no caminho, e – boa notícia: com atestado de sobrevivência, sã e salvas, inteiras.
Mulheres de 40 costumam dar uma repaginada no próprio sofrimento. Colocam outro olhar na dor, não choram mais pelos motivos de tempos atrás. Picuinhas, ladainhas, blablablás e mimimis dão lugar a saudáveis e interessantes conversas internas – e consequentemente com o mundo que as cerca. E são justamente essas conversas que parecem deixar a mulher de 40 mais bonita, mais bem-resolvida e cheia de graça, apesar dos sinais que o tempo insiste em enviar, pedindo como resposta apenas um sim. (Aceita?)
Algumas dão peso extra aos quarenta, transformando-o em quase mito, amargo rito, pula esse “desaniversário” pelamordeDeus. Acabam se colocando de quarentena, castigo, como se fazer 40 anos fosse doença. Outras, por outro lado, elegem a leveza para significar cada ruga, cada rusga, tudo que se conquistou e também o que não se conquistou. Sabem que a vida não é perfeita e é feita de dois lados. Buscam, sempre que podem, viver o melhor deles. E dá-lhe carpe diem que a vida é curta e merece ser vivida. Ô, se merece.
Adeus óculos cor-de-rosa, deslumbres rasos, traumas de infância, contos da carochinha. A mulher de 40 não se contenta com pouco e quer sempre mais da vida. (Onde se vê “mais” leia-se amor, realização, plenitude, autenticidade, segurança, emoção, alegria. Sem deixar de ser dona de si nem por um segundo.)
E chega de cobrar, comparar, se amuar diante dos acontecimentos que não estavam no script. “Se não estavam deve haver algum sentido, aceita que dói menos”, é o que costumam compartilhar amigas reunidas em um café. Açúcar ou adoçante? Riso, endorfina, colheres cheias de cumplicidade, bem-vinda ao clube. E como são produtivos esses encontros…. Deveriam ser religiosos, sagrados, prioridade absoluta nessa sua agenda tão cheia.
Algumas correm contra o relógio biológico. Não sabem se esperam, se congelam ou se desmancham seus sonhos. Algumas correm contra o relógio da cabeceira, da academia, do ponto, da escola dos filhos, da reunião que não espera, do supermercado que está quase fechando, do sinal que já vai abrir. Corre, ginasticaliza o dia, respira, olha pra dentro, medita. A mulher de 40 não quer perder o sol que se põe na alma, nem as estrelas que de olhos fechados se permite contar, em noites de amor indizíveis. (Nem o melhor tradutor intérprete seria capaz de decifrar.)
E de novo amanhece, enternece, lá vai a mulher de 40 correr com os lobos, se distanciando cada vez mais dos cativeiros que a abrigaram um dia.
Sua identidade? Felicidade, rima tão bonita.
Pérsia says
Amei amiga!!
Mais uma vez me vi em suas palavras. …. Beijos!!!!
Renata Feldman says
E eu te vi, linda de viver, em cada frase minha.
Beijo, querida!
Dalmir Trotta says
Parabéns Renata , e viva as quarentonas. Sempre bom ver os seus posts. Beijos, Dalmir
Renata Feldman says
Sempre bom te ver por aqui, querido professor!
Muito obrigada!
Abração!
Márcia says
Você tem o grande dom de colocar as verdades da alma de uma forma muito especial . Simplesmente MARAVILHOSO !!! Parabéns Renata
Renata Feldman says
Ah, Márcia, como a minha alma gosta de escrever!…
E que bom ter a sua pra ler!
Muito obrigada, querida!
Abraço carinhoso!
Angela M. M. Belisário de Moraes says
Nossa que lindo, amei. Me enxerguei em todos os parágrafos, já passei dos quarenta a muito, mas a corrida contra o tempo continua até hoje, não podemos perder a caravela da vida. Grande abraço.
Renata Feldman says
A vida não espera, Ângela. Pelo brilho dos seus olhos vejo uma linda mulher de 40 acenando para mim!…
Abraço carinhoso, querida.
Dalmir says
Viva as quarentonas. Como elas possuem coisas para nos ensinar… Parecem vinhos. O tempo passa e cada vez mais exalam o verdadeiro buquê que nos deixam inebriados.
Amo vocês. Beijos, abraços, carinhos.
Renata Feldman says
Um brinde, Dalmir! A esses 40 que tanto nos ensinam, nos enchem de vida e perfume.
Abração!
Teolinda Aguillar says
Aaaah! Que linda ‘exposição’. Desnudou, prestigiou, enalteceu, exaltou, festejou! E eu aplaudi sorrindo. Beijo grande
Renata Feldman says
Ah, Teo-linda querida, não é à toa que o seu nome carrega este adjetivo!… Que alegria ter você festejando comigo!…
Abraço carinhoso!