Tem pessoas que a gente gosta de graça. Sem fazer a menor força. Mesmo sem conhecer de perto. Mesmo sem nunca ter saído pra tomar um café, como fazem os amigos. Mesmo sem ter o mesmo sangue correndo nas veias ou lugar certo no almoço de domingo. Mesmo sem nunca ter conversado, pode? Pode. Algumas pessoas se fazem gostar (eu diria até amar) naturalmente, por unanimidade, pelo jeito especial que têm de tocar o coração da gente e acender uma afinidade que não tem tamanho nem volta.
Assim era o Boechat pra mim. Parte da minha rotina, do meu bom dia. Ele “ia” comigo no trajeto da escola, levando os meus filhos. Dali “seguíamos” para o consultório, e era como se a gente fosse mesmo conversando através do rádio, uma prosa e sintonia boa. Com ele eu ria, chorava, me indignava com algumas notícias do nosso país. Com ele eu sentia uma força, uma firmeza, uma cumplicidade em pensar do mesmo jeito.
Há 4 anos eu escrevi sobre o Boechat aqui no blog. Foi quando ele teve um surto depressivo e ficou fora do ar por algumas semanas. Em meio à enxurrada de mensagens que chegou à rádio questionando o seu sumiço, uma se destacou: a de uma ouvinte compartilhando a pergunta da filha a caminho da escola: “Mamãe, o Boechat virou estrelinha?”
4 anos depois, no susto e na notícia que atravessa o peito, o céu nos rouba Boechat para brilhar lá em cima, dessa vez. Ele parte e o que fica é FALTA. Uma imensa e gigantesca FALTA. Perdemos sua voz, seu bom dia, seu boa noite. Perdemos sua presença marcante, sua verdade, sua grande porção de humanidade. Perdemos suas palavras, que tanto falavam por nós.
Obrigada por tudo, Boechat, e descanse em paz. Que a sua luz nos sirva de farol pra que a gente continue “tocando o barco”, como você sempre pedia e gostava de dizer.
Angela Belisário says
É…
Estrela maior, que iluminava a vida de muitas pessoas.
Você disse tudo, perdemos um grande BRASILEIRO.
Bjs
Renata Feldman says
Sim, querida. Que ele nos ilumine lá de cima, pra que a gente navegue um pouco melhor por esses mares tão turbulentos…
Bjo!
Selma. Araujo says
Renata, estou igual a vc . Sem chão . Sem
Minha companhia de todas as manhãs e noites .
Você disse tudo
Renata Feldman says
E ficar sem chão dói. Muito. Essa falta é sentida de uma forma muito igual mesmo. Há uma unanimidade, uma cumplicidade em falar do Boechat.
Abraço carinhoso!
Regina Coeli F.Maia says
Gostei muito do seu Toca o barco! Serve pra nos mostrar o que temos de valor no dia a dia. Assim como o Boechat,temos outras pessoas que devemos valorizar muito por fazer parte do nosso dia dia.
Parabéns Renata, lindo texto.
Renata Feldman says
Obrigada, Regina. Está aí um texto que eu não pedi pra escrever. Foi um desabafo, um jeito de viver o luto, uma forma de não passar mal aqui dentro.
Abraço carinhoso!
Cesar Vieira says
Obrigado e parabéns, querida Renata, por este post precioso sobre o Boechat. Com quem muitos de nós desenvolvemos mesmo uma bela afinidade a distância, seja como ouvintes ou telespectadores. Por isto, seu vazio levará muito tempo para ser ocupado. Mas fico torcendo para que seu estilo continue influindo a mídia brasileira.
Renata Feldman says
Bota vazio nisso, Cesar. Que a gente possa preenchê-lo com a nossa saudade, nossa reverência e imensa gratidão. E que possamos sim, transformar notícias ruins em notícias boas (quero acreditar nisso), a partir da referência que ele nos deixou.
Suely says
Texto que nos emociona e nos faz refletir sobre a vida… e agradecer a Deus pela nossa.
Renata Feldman says
Precisamos refletir sim, Suely. É isso o que move e transforma a gente.
Obrigada pela visita, volte sempre!