A cena é linda, eu diria perfeita.
O namorado pára o carro em uma rua tranquila,
venda os olhos da namorada
e coloca uma música que fala de amor.
De repente a rua é tomada por casais de namorados
passeando de mãos dadas, sorrindo enamorados
entre beijos, abraços, flores e balões.
(Armação criativamente inventada,
famoso flashmob dos dias de hoje.)
Os olhos outrora vendados não acreditam no que vêem.
Choram de emoção, pupila dilata, fala falta.
O clímax chega na forma de uma caixinha preta
de veludo que delicadamente se abre,
mostrando duas alianças de ouro.
– Quer se casar comigo?
(…)
– NÃO.
(…)
Não?!?
A cena é inesperada, eu diria imperfeita.
Imperfeita como a vida é, afinal.
Plena de encontros e desencontros,
amores correspondidos e doídos,
porções inteiras de sim e não.
É com a recusa de um pedido do casamento
em pleno 12 de junho que começa o filme
“Odeio o Dia dos Namorados”.
O nome é curioso. Chama atenção
pelo forte antagonismo do verbo utilizado
em relação a uma data tão cheia de amor pra dar.
Aí você torce o nariz. Esvazia-se de toda
e qualquer pretensão já prevendo
uma tola comédia romântica cheia de clichês.
Lêdo engano.
“Odeio o Dia dos Namorados” é leve,
engraçado, ficcional e também muito real.
A mulher que não aceitou se casar
foi um dia a menina que botava fones de ouvido
para não ouvir a briga dos pais.
A publicitária viciada em trabalho
viveu um dia abstinência de amor
nas suas decepções de adolescente.
Um acidente de carro pára tudo, movimenta tudo,
dá a ela a oportunidade de voltar no tempo.
Pausa providencial, Divina Providência
dando uma explicação a tudo.
Depois de tanta “viagem”, nasce o slogan
do bombom Sonho de Valsa: “Alimente o seu amor”.
Como ex-redatora publicitária, adorei.
Era o slogan que eu gostaria de ter criado.
Como psicóloga, ouvinte frequente das trincas
que muitas vezes esfarelam as relações afetivas, validei.
O amor – a despeito de todos os traumas,
vazios e antagonismos – tem fome e sede,
necessidade constante de cuidado e nutrição
para não correr risco de inanição.
Deve ser por isso que os restaurantes
fazem fila no Dia dos Namorados.
Oficialmente os casais ficam ávidos
de rua, lua, vinho, ninho,
famintos que estão de amor.
Anonymous says
Fiquei com vontade de ver o filme e adorei o texto.Parabéns!
Dalila
Renata Feldman says
Assiste e depois me conta, Dalila! Não esquece de levar o “namorado”!
Beijos carinhosos!