Dessa vez eu não tinha aula no mestrado. Parênteses: as aulas acabaram. Agora é só escrever, escrever, escrever. Enfim sós: apenas eu, meus livros, meus neurônios e minha orientadora que eu “ganhei na loteria”.
O título da minha dissertação? “Modos de ser mãe na contemporaneidade.” Hum. Pois é. Olha eu aqui escrevendo sobre culpa materna parte 2. Me sentindo objeto de pesquisa da minha própria pesquisa. Me sentindo culpada porque no dia anterior fui ao cinema (também sou filha de Deus), não abri a agenda da Bella e não vi o bilhete da apresentação de inglês pra encerrar o semestre. Fui saber do evento pela Mariana, mãe de uma coleguinha, outro ganho de loteria na minha vida.
Remanejamentos de horário aqui e acolá, conseguimos chegar pontualmente à escola, eu e o Dé. (Mega Sena acumulada: pai e mãe indo à apresentação de inglês da filha.)
Cruzamos com ela na escada, de mãos dadas com a ajudante da professora, indo até a secretaria para me ligar, já achando que eu não iria. Passando da “chuezice” à alegria, pulou no meu colo e chorou um choro de emoção, surpresa e alívio. (Alívio digo eu, ufa.)
Enquanto não começava a apresentação, fui “tricotando” com as outras mães sobre a ginástica que a gente faz pra não perder uma coisa dessa. E da culpa que a gente tem quando perde. Uma das mães, que cruzou a cidade para estar ali aquela hora, disse ter dito pro chefe: “Vou ali e já volto.” (!) Como ele não perguntou onde era “ali”, ali ela estava. E ainda remendou: “Mãe pode fazer terapia a vida inteira que ainda vai ter culpa.”
Para as mães que compartilham dessa ideia, repasso o que aprendi (que bom que aprendi) com outro querido professor, Eduardo Gontijo, da cadeira de Ética (só podia ser): “O amor é requisito para a culpa.”
Se nos sentimos culpados, é porque há muito amor antecedendo este sentimento pesado e difícil de viver. Através do amor, podemos transformar o nosso olhar diante da culpa, e até nos sentirmos menos culpados.
Que isso sirva de alento (como cobertor e leite quentinho) para as mães que não puderam ver seus filhos cantando e dançando em inglês. Se os seus filhos choraram durante a apresentação e foram habilmente conduzidos pela professora até o parquinho (ainda bem que inventaram o balanço e o escorregador), com certeza não foi por falta de amor.
Anonymous says
Segundo a psicóloga da minha filha, não basta estar totalmente disponível para dar um amor disponível,basta nos minutos que se tem dar o melhor em dedicação…eu, dou as 2 partes pra ela, meu trabalho me requer isso, remanejamento em maior quantidade. Pra quem pode é maravilhoso!
Renata Feldman says
A disponibilidade fica completa com dedicação e afetividade, Anônimo!…
Feliz da sua filha, feliz de você!
Obrigada pela visita, volte sempre!
Anonymous says
Renata, querida!
Ouvi de voce o texto lindo postado acima e me emocionei, passei por aqui para lê e Reler e me emocionei novamente, pois me identifiquei tal qual o que sou, MÃE!
Renata Feldman says
Uma mãe linda, Anônimo, cheia de emoção para viver e compartilhar!
Abraço carinhoso, volte sempre!