Eles namoraram por três anos. Viveram momentos bons, tropeçaram em alguns momentos ruins, compartilharam a vida no que ela tem de melhor: afinidade, cumplicidade, graça, leveza, sintonia, amor, alegria. Bom dia, boa noite, “almoça comigo?”, segunda, terça, “te amo”, quarta, “sonhei com você”, quinta, sexta (“sextô!), sábado, domingo, “já tô com saudade”.
Até que um dia o namoro acabou. Do nada. Do tudo. Luto. Tortura.
Afora os pequenos desgastes ao longo do caminho, um grande abismo se abriu entre eles. Desconfiança. Quebra. Ausência. Falta. Abstinência de respeito, carinho, conversa, entendimento. Uma lenha na fogueira colocada por um suposto amigo incendiou tudo. Inveja? Maldade? Paixão? Interesse? Sem explicação, o namoro terminou numa noite de São João. ´”Olha a cobra!… É mentira!…”
Cada um seguiu (ou pelo menos tentou seguir) seu caminho, a partir das cinzas em que se transformou aquela relação. Ele caiu na vida, passou a configurar em todos os aplicativos, fez do passado ironia.
Ela fez terapia. Ioga. Entrou para a faculdade. Aula de canto. Academia. Levantou peso para aliviar o fardo, misturou suor e lágrima, fez do passado presente.
Há alguns dias, chegando ao final da sessão, ela me disse que estava tudo muito difícil.
– Eu ando, ando, ando. Vou longe, dou alguns passos, realizo algumas conquistas, conheço gente bacana, mas parece que acabo voltando sempre pro mesmo lugar: o lugar que ele ocupa no meu coração. Lugar de homem da minha vida, entende? E eu não sei se quero tirar ele desse lugar. Porque se eu deixar alguém entrar no meu coração, ele vai acabar ganhando o título de ex-namorado, e eu acho que isso é muito pouco pra ele. Ele é o homem da minha vida, Renata.
O tempo já havia acabado. A caixa de lenço também. Fim da sessão, tão mais simples que o fim de uma relação de amor. (Haja dor.) Olhei com ternura nos olhos da minha cliente e disse:
– Entendo, minha querida. É muito amor e muita dor dividindo espaço aí no seu coração. E, sim: ele foi o homem da sua vida naqueles três anos em que ele fez parte da sua história, da sua travessia… Pensando bem na sua linha do tempo, você ainda tem um longo chão pra caminhar, pra encher de amor cada trecho do caminho. Ainda há de chegar alguém que ocupe a parte mais iluminada do seu coração; na hora certa, quando tiver que ser… E por falar em tempo, infelizmente o nosso acabou, leve essa pergunta com você como “para-casa, para-vida”: onde foi parar a mulher da sua vida? Aquela que aprendeu (a duras penas, eu sei) a se amar em primeiro lugar? E que justamente por conta dessa escolha decidiu terminar um namoro que já não fazia mais sentido, pela forma abusiva e destrutiva como ele passou a existir? Olhe para o seu coração, faça uma busca cuidadosa, amorosa, gentil. Traga de volta a mulher da sua vida. Essa que está bem aí na minha frente, com os olhos embaçados, olhando pra mim.
Andre says
Casos de amor.
Renata Feldman says
Caso sério!…
Cristina Pires de Souza says
Muito linda a sua forma de se expressar, quanto amor você coloca em suas palavras, quanta sensibilidade .
Sua escrita é algo que nos toca a alma!
Agradeço hoje ao universo por tê la colocado em meu caminho! ❤️
Renata Feldman says
Ah, Cristina, que alegria! Agradeço daqui também, com o coração quentinho.
Muito obrigada pela visita, volte sempre!
Roger says
Que texto sensacional, Rê. Nossa, como esse texto me representa nos últimos anos, mesmo sem eu querer admitir…
Renata Feldman says
Que alegria, Roger, te encontrar por aqui e ver você se encontrar no meu texto. Ainda por cima com um depoimento tão significativo… Admitir é o primeiro passo. Avante!