A gente corre de um lado pro outro, faz um milhão de coisas, sai da academia e continua fazendo ginástica, corre mais um pouco, cria asas, voa, respira, pausa, poesia, continua, corre atrás, vira artista de Circo de Soleil sem saber.
Mexe o corpo, cuida da alma, atravessa a rua, a dor, os sete mares. E aí um dia, distraído que estava falando ao celular, agenciando com certeza uma reunião muito importante, inadiavelmente importante, você é pego de supresa por uma moto que vinha costurando o trânsito, a um tanto assim por hora.
Crash. Silêncio. Sirene. (Isola.)
Essa cena praticamente abre o filme “Como eu era antes de você”. Atleta, dinâmico, aventureiro, romântico, era assim o jovem Will antes daquela moto. Um desses reveses que a gente nunca espera viver na vida, quando vem ela própria mudar o curso, desviar a rota, virar o avesso pelo avesso. E aí ele vai parar (literalmente) numa cadeira de rodas. Pára o mundo, pára tudo, brilho nenhum nos olhos pra contar a história. Até chegar a alegre Lou, tão cheia de encanto e luz, contratada para cuidar desse homem que perdeu o movimento, a graça, a ternura, o sentido de viver.
Sem ter sofrido nenhum acidente, nenhum imprevisto no caminho, nenhuma rota interrompida (graças a Deus!), como é que você anda cuidando de você? Do seu movimento (e suas pausas) diante da vida? Sua rotina, sua graça, seu trabalho, sua ternura, seu amor, seu brilho nos olhos, suas relações mais próximas e afetivas? Como é que você anda cuidando de você, mesmo quando o mundo parece parar lá fora, e quando aí dentro o sol se põe pra “nunca mais” voltar? Qual é a sua postura, o seu olhar, o seu modo de acolher até mesmo aquilo que você não pediu para viver?
Nunca vou me esquecer de uma palestra que dei há alguns anos no Dia Internacional da Mulher, quando fiz à plateia a seguinte pergunta: “Qual é o sentido da sua vida?”
“Amar, “ser feliz”, “minha família”, “evoluir como ser humano”, foram algumas das clássicas respostas. Até que uma cadeirante levantou as mãos e o auditório em peso se voltou para ela.
“- O sentido da minha vida é acordar todos os dias e sentir entusiasmo.”
Não sei descrever a emoção que senti, compartilhada com aquelas mulheres que por um instante se calaram, se olharam e com certeza receberam ali, naquela simples resposta, toda a grandeza de uma homenagem.
Virgínia says
Assisti hoje a este filme. É um choque de realidade intenso de ambos os lados. Muito difícil tentar fazer um pré julgamento da atitude do personagem Will, em contrapartida, Lou mostra o avesso do ser humano, deixando que seus melhores sentimentos floresçam. Penso que como as formas de amar são tão distintas.
Renata Feldman says
Cada um ama do jeito que dá conta, Virgínia. Tenho aprendido cada vez mais que as coisas são como são, exatamente do jeito que são. Mas uma coisa certa: a energia do amor é contagiante e transformadora. Que bom que é.
Abraço carinhoso!
Patrícia Feldman Soares says
Renata Feldman,
Gratidão.
Esse seu post no dia de hoje, no momento de vida em que estou vivendo, é muito importante para mim.
Sorrisos com borboletas para você.
Renata Feldman says
Sintonia, Patrícia, que também costumo chamar de “Deusidência”.
Fico feliz que o post tenha te tocado (e ajudado) de alguma forma.
Beijo, querida, cuide-se bem!
Maria Inez Girardele says
Parabéns, Renata! Como sempre, brilhante sua escrita.
Texto que nos leva a uma profunda reflexão.
Bjo
Maria Inez Girardele
Renata Feldman says
E que bom compartilhar essa reflexão com você, Maria Inez!…
Assim minha escrita ganha ainda mais sentido.
Abraço carinhoso, minha querida!