Todo ano a história se repete: a árvore, os presentes, o presépio, o panetone; as luzes, a ceia, o amigo-oculto, a família reunida.
A história é bonita pela essência e intenção que carrega, mas também um tanto quanto paradoxal em alguns casos. Entre as quatro paredes de um consultório de psicologia, não é raro escutar:
– “Ai, que preguiça. Vou ter que encontrar o Fulano.”
– “Tirei o Siclano no amigo-oculto. Tudo que eu não queria…”
– “Família reunida? Que família?!”
– “A gente passa o ano inteiro sem encontrar, e no Natal ainda tem que dar presente?!”
É claro que nem todo mundo sente assim. Prezando o lado antagônico da vida, vejo também olhos brilhando à minha frente, acompanhados de palavras que são puro entusiasmo e alegria:
– “Amoo Natal!”
– “Adoro reunir a família!”
– “É a melhor época do ano pra mim!…”
Como a primeira versão tem se repetido a cada ano e prevalecido em relação à segunda, pelo menos diante dos meus olhos e ouvidos, vai aí uma pequena reflexão.
Indo além das questões religiosas e dos dados históricos sobre a criação do Natal, recorro à licença poética para criar minha teoria acerca do assunto. Acho que Deus “criou o Natal” justamente para colocar os homens diante deste grande paradoxo, no sentido de aprender e crescer com ele. Amor, paz, proximidade, harmonia – não seria este o significado e a promessa de cada 25 de dezembro?
Se o Natal se repete invariavelmente a cada ano, talvez seja porque essas coisas são preciosas demais para não se aprender. (Ou esquecer.) É como se a cada Natal Deus mandasse uma provinha pra gente, com questões difíceis de resolver. Ou em alguns casos (casas) questões até simples, por vezes delicadas talvez. Mas não impossíveis de responder. Tem gente que toma bomba. Tem gente que passa de ano brilhando ou raspando. E de um jeito ou de outro, lá vem mais um Natal. Hohoho.
No aconchego (leia-se também cansaço e agito) que nos convoca essa época do ano, é como se Deus enchesse a terra de luz e esperança e dissesse: “Então é Natal. Vai ter amigo-oculto, panetone, ceia, presente e o principal: família reunida. Família que não é perfeita, nenhuma nunca foi nem nunca será. Mas que mesmo assim – do jeito que for – vem justamente do amor. Amor que nos presenteia e embala com laços de vida. Vínculo. Amor que é segunda chance, terceira, quarta, até perder de vista. Amor que faz parte, mesmo que você queira pular essa parte do calendário. Mesmo que você ache tudo isso bonito só na teoria. Então permita-se achar tudo, sentir tudo, mas tente pôr nem que seja um pouco em prática. Afinal de contas a gente está aqui nessa terra pra amar, eis a grande lição. Faça valer. Faça o que você der conta, mas faça; nem que um cadinho. Busque sentido. Busque sentir. Encontre. Então é Natal. Se vira”.
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