Tem gente que coleciona selos, moedas, poemas, rótulos de vinho. (Há quem também colecione gols do Galo, acabo de saber.)
Quando eu era pequena, meu hobbie era colecionar papéis de carta para trocá-los com minhas amigas na escola.
Um deles, tempos depois, acabei tirando da pasta (santa audácia!) para escrever uma carta para aquele que viria a ser meu namorado (causa nobre!), 26 anos atrás, numa época em que ainda se postavam cartas pelo correio.
Hoje coleciono lugares. Guardo na pasta do coração uma geografia inteira de praias, estradas, montanhas, praças, castelos, museus, trilhos de trem.
Tiradentes, Rio, Iriri, Trancoso, Cafofo, Disney, Fazenda Santa Marina, Chile, Nova York, Madri, Toledo, Munique, Salzburgo, Varsóvia, Praga, Cracóvia.
Guardo também a pasta dos lugares sonhados, ainda não pisados – Itália (bota sonho nisso!), Holanda, Portugal, Israel, Rússia, Viena, Monte Verde, Campos de Jordão, Barcelona, Grécia, Floripa.
Me dê um bilhete premiado que dou a volta ao mundo, sem pestanejar.
Acabo de voltar da Polônia, coleção especial de emoções, raizes, judaísmo, ancestralidade, família.
Ouvi alguém dizer: “Esta terra tem um cheiro doce, não sei ao certo identificar o que é.” (…) Eu sei: é cheiro de vó, bisavó, tataravó, adocicado de amor e história e força e vida. Le chaim!
Acabo de voltar de lá, não sem antes me sentir em casa; não sem antes me encantar por Varsóvia e Cracóvia; não sem antes passar por Auschwitz e me emocionar com um passado que jamais poderemos esquecer. E – engraçado: diferente de outros lugares por que já passei, desta vez não senti a peculiar nostalgia que costumo sentir quando deixo cada destino. Ao entrarmos no táxi rumo à estação central, malas prontas para Praga, tendo acabado de visitar a famosa Fábrica de Shindler, não senti o coração apertado. Não desta vez.
Pela Polônia – minha Polônia querida – não senti dó de ir embora, nem nostalgia ou saudade antecipada. Talvez seja porque, na verdade, eu nunca tenha saído de lá.
Sara Mourão Monteiro says
Que lindo texto, Renata. Consegui sentir daqui um pouco da sua viagem por aí! Um abraço. Sara
Renata Feldman says
E assim, carrego também um pouquinho de você comigo!
Beijo, minha querida!
Cidinha Ribeiro says
Que lindo, Renata! Interessante a diferença que faz a escrita verdadeira, nascida do coração, a escrita emocionada. Ela cria laços entre o escritor e o leitor. Laços duradouros. Parabéns, você brilhou! Um beijo e obrigada por incluir o Cafofo em suas boas lembranças.
Renata Feldman says
E isso não é mesmo um presente, Cidinha? Presente embalado com laços de vida!…
Obrigada pelo carinho, e por fazer do blog também um pequeno refúgio seu.
Abraço!
Angela Belisário says
Lindo demais, vc tem o dom de colocar no papel as coisas mais simples fazendo com que elas se tornem grandiosas.
Aquela carta vc ainda não recebeu?
Tá lembrando de qual estou falando?
Bjs
Renata Feldman says
Muito obrigada, minha querida.
O papel ganha vida quando a gente derrama sobre ele o coração, você sabe o que é isso!…
Ainda não recebi, acredita?!
Continuo esperando!… (rs)