Sou do tempo do bilhete dobrado às pressas, quando o coração se fazia ouvir mais que qualquer explicação de álgebra ou geografia. Do tempo em que as meninas trocavam papel de carta, trocavam olhares, contavam seus segredos a uma folha de papel.
“Querido diário, hoje eu senti de perto o perfume do Thiago. Quero sentir de novo. E de novo. E de novo, cruze os dedos.”
Não muito longe daqui, os meninos tiravam as meninas pra dançar. Música lenta, rosto colado (meu pai foi me buscar numa festinha e presenciou a cena, fala dela até hoje) , “salada de frutas”, jogo da verdade.
Hoje os jogos são muitos. E outros. E tantos. Voláteis, descolados, desromantizados, absurdamente práticos. “Tô pegando.” “Tô ficando.” “Tô dando um tempo.” “Enrolando”. “Experimentando”. “Curtindo.” “Tô vendo o que é que dá”.
Nessa nossa atual era hedonista, em que o prazer fala alto e os vínculos andam roucos, um tanto quanto escassos, são estes os gerúndios e imperativos da vez.
“Querido Tinder, busque alguém do meu número. Gata, malhada, 20 a 25 anos, de preferência a 100 metros da minha casa.”
O velho e bom pedido – “Quer namorar comigo?” – soa quase como um bilhete premiado em tempos de relacionamentos fugazes. Em alguns casos a relação já configura namoro, é fato, mas é melhor que não seja nomeada assim. (Assusta.) Eles se falam todos os dias, mandam mensagem, se vêem a cada final de semana, não conseguem desgrudar um do outro mas deixa como está. Sem nomear, sem nada oficializar, nenhum status no facebook.
Em alguns casos, o clássico amor à primeira vista acontece. Vem acompanhado de uma energia diferente, uma emoção nada racional, uma química que vem antes mesmo do primeiro beijo. Vai explicar. E lasque logo o pedido, é claro que a resposta é sim, tudo o que a moça quer é namorar com você.
Tenho ouvido gente cansada de esperar. Gente exausta das baladas, dos beijos mecânicos, “desculpa, foi engano”. Por outro lado, vejo pessoas que não se cansam de tentar. Tentativa e erro, uma hora o acerto vem, quem espera sempre alcança.
De uma forma ou de outra, entre um caso e outro, com todas as mudanças que vieram e que fazem parte; com todos os recursos tecnológicos, amorosos e os diários que mudaram de lugar; com tudo o que já não mais é, tudo o que já foi um dia e tudo o que ainda virá, uma coisa é certa: no fundo no fundo, todo mundo tem uma necessidade imensa, intrínseca, inevitável, de amar.
Vanessa Bruno says
Parabéns Renata!! Vc escreve mto bem. Adoro ler seus textos.
Bjsss cor de rosa
Vanessa Bruno
Psicologa e Consultora de beleza Mary Kay – Cuidando do corpo e da mente.
http://www.marykay.com.br/vanessabruno
Renata Feldman says
Muito obrigada, Vanessa! Fico feliz de te ver por aqui.
Beijos!
Ana says
Belo texto, Rê!
Os tempos vão mudando e, os relacionamentos, adquirindo novos formatos. Felizes daqueles que ainda trocam bilhetinhos surpresas, olhares apaixonados e, principalmente, que não tem medo de mostrar o tamanho do amor que sentem. Vamos amar muito, pq não há sentimento melhor que esse!…
Beijos!
Renata Feldman says
O amor precisa se expressar sempre, Ana. O tempo que for, do jeito que for!…
Beijo, querida!
Tito says
Lindo texto Ré, o tal do romantismo, aquele lance de namoro agarrado, de meu bem para cá, meu bem para lá.funciona, de certo modo, até hoje, mas, o romantismo em essência, não parece resistir a poucos remanescentes.
A grande diferença entre as épocas,
é antigamente ficava-se namorando,
e agora, namora-se “ficando”…
Beijos
Renata Feldman says
Novos tempos, novas formas, o amor tentando entrar pela janela e se fazer presente.
Inversão bem real, diferença precisa entre um tempo e outro.
Beijos, paizinho!
Angela Belisário says
É…
O gostoso está no fim…
Antes se namorava,
Hoje infelizmente
A era digital,
Tirou o gostinho
Do que era gostoso
Ficar juntinho,
Troca de olhares, de beijos…
Papo olho no olho.
Hoje se faz
Através do digital
Sem sabor, sem cor…
Tenho pena desta geração.
Lindo texto como sempre, nos faz refletir amei.
Bjs e até daqui a pouco.
Renata Feldman says
Cada tempo um sabor, uma forma de amar.
E se faltar sabor, bota uma pimentinha, umas ervas finas, tempero é que não pode faltar.
Beijo, Angela, fiquei feliz em rever você!
Angela Belisário says
Também gostei de te ver.
Temperos este é o meu texto para o livro do NEETI quando for editado verá.
Beijo carinhoso.
Renata Feldman says
Oba! Já estou na fila de autógrafos.
Beijo, querida!