“Não se nasce mulher, torna-se mulher.”
É de Simone de Beauvoir a célebre frase que tantas mulheres – feministas ou não, famosas ou não, carregam na alma e no olhar.
Dê a estas mulheres um espelho e ali estará toda a sua poesia em movimento – olhos, cílios, boca, seios, jogo de pernas, salto alto, cintura. (Muito jogo de cintura.)
Dê a estas mulheres um divã e ali estará sua vida inteira em paralisia ou movimento – suas escolhas, seus medos, vontades, desejos, delírios, alucinações mais cheias de lucidez.
Sua menina já foi dormir faz tempo. Virou Bela Adormecida esquecida num castelo no meio da floresta. Esquecida pelo príncipe, que lembrou que ele mesmo não existe. Carregada no colo pela mulher, embalada pelas lembranças do que um dia foi. Foi, já não é.
Dê a estas mulheres um homem de verdade e ali estará sua alma, sua carne, seu corpo, sua mente.
Mente quem diz que já se nasce mulher. Nasce a menininha linda, dengo da tia, xodó da vovó. Torna-se mulher com o tornar dos dias, noites, anos a fio. Nasce a primeira espinha, o primeiro amor, a primeira dor. Torna-se mulher quem se apropria de si, com todos os arranhões que a vida traz. Torna-se mulher quem diz tudo com o olhar, sem códigos ou legendas. Quem vai pra cama sem dormir com os anjos. Quem toma à frente sem fazer revolução. Quem atravessa o deserto sem pedir colo. Quem faz dos rascunhos poesia. Quem faz de um perfume sua autoria.
Torna-se mulher quem sabe amar por inteiro
sem nunca ter feito um curso de amor no exterior.
Fabiana says
…Meninas são tão mulheres, seus truques e confusões, se espalham pelos pêlos, boca e cabelo…(Leoni)
Renata Feldman says
… hormônios sempre tão à flor da pele…
Não é à toa que viramos letra de música e verso de poema, Fabiana!
Abraço!
Anonymous says
mulheres são essencialmente especiais, sem rodeios. Você faria um texto sobre amizade? já acompanho seu blog a um mês e estou aprovando sua linguagem romântica de ver a vida e também intimista.Parabéns pelos textos. Marco Antônio. (Belém do Pará).
Renata Feldman says
Amizade é sempre um tema-fonte-de-inspiração, Marco Antônio. Aceito a encomenda com bom grado, só não prometo uma data ao certo…
Enquanto isso, leia “Pequenos Encontros” e “Receitinha”, pesquise aqui no buscador do blog.
Um abraço e muito obrigada pela visita!
Anonymous says
Existem certas “belas adormecidas”? Existem príncipes que já foram e não são mais?…existe papai noel?…nada é tão lúdico e cinematográfico quanto parece.De nada existe fantasia se não há reciprocidade.Lúcia.
Renata Feldman says
Belas Adormecidas e acordadas, príncipes e sapos, Papai Noel e Coelhinho da Páscoa…
Sim, Lúcia, eles povoam a vida e o imaginário das meninas, meninos e quem mais tomar a fantasia como sorvete derretendo na taça.
Obrigada pela visita, volte sempre!
Cidinha Ribeiro says
Como deveria mesmo ser uma homenagem às mulheres… cheia de delicadeza e sutileza. Parabéns, Renata! Gostei demais.
Esta é para você, em retribuição à homenagem:
“Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.”
Hilda Hilst
Renata Feldman says
Muito obrigada, Cidinha! Também adorei o seu presente, jóia preciosa neste Dia que nos toca….
Abraço carinhoso!
Anete says
Suas palavras tão bem escritas e com tanta delicadeza!!!! Adoro sempre!
Renata Feldman says
Linda e proveitosa nossas trocas, Anete: eu com as palavras e você com o olhar cheio de sensibilidade e encanto!
Muito obrigada, querida!
Cristiane says
Que tudo! Lindo!
Renata Feldman says
Obrigada, Cris!
Bjs