<![CDATA[Renata Feldman]]>https://rfeldman.web.app/https://rfeldman.web.app/favicon.pngRenata Feldmanhttps://rfeldman.web.app/Ghost 2.9Sat, 19 Apr 2025 00:29:35 GMT60<![CDATA[Adolescência]]>https://rfeldman.web.app/adolescencia/Ghost__Post__67fc632d4a902a0001a5298eWed, 16 Apr 2025 22:51:00 GMT

Adolescência

Depois de tanto já dito, refletido, doído, sentido, a série continua. Na vida. Nos quartos e suas portas fechadas. Nas salas de aula, recreio, nos shoppings e nas resenhas. Nas telas de celular, no feed do Instagram, nos olhos do seu filho. Tem olhado pra eles? Tem percebido o que eles querem te dizer, de verdade? (Nem sempre querem, mas uma hora acabam contando.)

Sem culpa, essa palavra por demais torturante e pesada, corrente de chumbo arrastando o coração. Um dos sentimentos mais compartilhados na terapia pode traduzir também uma ideia de arrogância, uma prepotência de achar que se é infalível, quase Deus. Não somos. Somos humanos, falíveis, imperfeitos. Erramos, a despeito da nossa urgente necessidade de acertar. No lugar de culpa, prefiro pensar na parcela de responsabilidade de cada um, essa aí certa e implacável, força motriz a reger os relacionamentos.

Em seu grande fenômeno de audiência e repercussão, a série Adolescência da Netflix levanta algumas reflexões importantes. Que bom que faz isso, apesar da desagradável sensação de soco no estômago. Ui. Dói.

Não se trata apenas de adolescer, mas de atravessar essa desde sempre complexa fase da vida em um mundo que agora é também virtual, com suas envolventes e aprisionantes redes de distração, aprovação e dopamina. Likes, emojis, códigos muitas vezes indecifráveis para os pais viraram o novo dialeto dos filhos. Legendas, por favor. Afeto, cuidado, comunicação e presença podem construir pontes ao invés de abismos.

Ah, e limites, é claro. O bom e velho limite de sempre, um tanto quanto escasso nesses nossos densos e estranhos tempos. Se os pais não colocam, a vida escancara. Sem dó. E por falar em limite, é preciso enxergá-lo também aqui entre esses dois verbos: sentir e agir. Você pode sentir tudo, mas nem sempre pode agir conforme o que sente. Pode sentir raiva, ódio de alguém que te rejeitou, mas não pode matar esse alguém. Equilíbrio e saúde mental nunca foram tão importantes. Não só para os adolescentes, mas também para os adultos que os conduzem por essa vida afora. Modelo é bússola.

E se tem uma coisa que dorme e acorda com a gente é a tal da consequência. O que falamos, o que fazemos, o que comentamos diretamente com o outro ou no universo virtual não escapa à dimensão do real. Autorresponsabilidade, autoconhecimento e autoamor são premissas fundamentais para se relacionar consigo mesmo e com o outro.

Então vai lá. Olhos nos olhos, pulso firme, coração disponível para acolher esse adolescente que anda se descobrindo – ou se escondendo – bem aí à sua frente. Amor é a senha.

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<![CDATA[Missão cumprida!]]>https://rfeldman.web.app/miss/Ghost__Post__6784397216d1790001ac5ce8Wed, 16 Apr 2025 22:50:46 GMTMissão cumprida!Missão cumprida!

#dicadelivro

Amo colecionar palavras. Livros na estante e no coração. Especialmente aqueles que a gente termina e sente uma espécie de orfandade, sensação de perda e ao mesmo tempo ganho – quanto ganho!… – assim que alcança a última última página. Autores novos, clássicos, antigos, imortais. Emendo um no outro como quem tem fome de vida, sede de ser: Renata, Juliana, José, Teresa, Amanda, João, entre tantas personagens que já “fui” e conheci um dia nos livros desse mundo afora.

Já há algum tempo criei o hábito de compartilhá-los no Instagram, sempre acompanhados da expressão “Missão cumprida!” e da hashtag “dica de livro”.

Coisa mais deliciosa e extraordinária nesse comecinho de ano foi terminar a leitura do meu recém-publicado “Casos de “Amor”, agora não mais no lugar de quem o escreveu e revisou mil vezes, mas no lugar de leitora “simplesmente”.

Que alegria levá-lo comigo na mala para João Pessoa e reler cada conto agora já dentro do livro impresso, e não mais num arquivo de Word do computador. Pés na areia, capa de frente pro mar, olhos marejados de emoção. Ri, chorei, voltei no tempo, me conectei a cada personagem e às prefaciadoras Cris Pàz e Claudia Botelho com amor e gratidão.

Missão cumprida, dupla e lindamente cumprida. Sei que sou suspeita para falar, mas essa dica de livro é especial. De uma forma ou de outra, você vai se encontrar no meu “Casos de Amor”.

]]><![CDATA[Meu terceiro filho]]>https://rfeldman.web.app/meu-terceiro-filho/Ghost__Post__6775efbdc04e150001c5ba7bThu, 02 Jan 2025 01:53:05 GMTMeu terceiro filho

Meu terceiro filho
Meu terceiro filho

Onde foi mesmo que eu parei? 

Ah, sim. No nascimento da minha filha, dia primeiro de novembro. Desde lá tive que sair de cena por aqui para entrar em sintonia com a correria de parir meu terceiro filho, correria melhor não há. 

Ei-lo, pois, aqui. Bonito, saudável, apgar 10, 122 páginas, pesando alguns gramas de muita emoção e alegria. 

Seu nome? Casos de Amor. Gênero literário? Conto. Resumo da ópera? Histórias que ouvi no consultório e na vida lá fora. Diante do fascínio e emoção que me causaram, pedi autorização para escrevê-las e tomei cada sim com genuína alegria. 

A maioria dos nomes foram trocados, permanecendo alguns de forma intocada. Em especial os dos meus avós, José e Bella, que não estão mais aqui para contar a história mas seguem dentro de mim, eternizados no coração e nas páginas deste livro.

A maioria dos casos preservou integralmente sua veracidade. Verdade ao pé da letra. Outros foram de certa forma alterados, misturando fantasia à realidade. E alguns foram inteiramente ficcionados, inspirados em temas abordados na clínica e na vida como ela é.

Se você ainda não adquiriu o seu, este é o caminho das flores: httpsq://forms.gle/S2eGL2mq6zEyCwae7

(Clicar aqui em “caminho das flores” ou no link da bio na minha página do Instagram para fazer o seu pedido.)

Fecho o ano com a alegria desse meu rebento, já esperando o nascimento de um 2025 lindo pra gente. E com blog e site novo, aguarde, não vejo a hora de compartilhar a novidade com você. 

Feliz Ano Novo e obrigada por me acompanhar nessa doce travessia. É muito bom ter você aqui. 

]]><![CDATA[Doce espera]]>https://rfeldman.web.app/doce-espera/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afffeFri, 01 Nov 2024 10:01:15 GMT

Doce espera
Doce espera

Doce espera

Eu sempre soube que ela se chamaria Isabella. Bella, com dois eles, em homenagem à minha avó materna, por quem sempre morri (vivi, ainda vivo) de amor. Eu só não sabia que ela iria demorar tanto para chegar, especialmente porque a primeira gestação veio muito rápido, contrariando a previsão da médica: “em torno de 6 meses a 1 ano, pode ir tomando as vitaminas.” No mês seguinte eu estava grávida.

Foi depois de 2 anos de espera, nove Beta HCG negativos, um diagnóstico de ovários policísticos, medicamento para induzir a ovulação, vários ultrassons, um exame de nome complicado (histerossalpingografia) e muita ansiedade que ela chegou: linda, pesando quase 4 quilos, cabelo preto que depois virou ruivo arrepiado que depois virou loiro ouro.

Ah, minha Bella, por que você demorou tanto a vir?, vivo te fazendo essa pergunta.

Há 17 anos ganhei de presente sua doçura, sua braveza, sua graça, seu sorriso, sua companhia, seu jeito cativante de ser, sua humanidade, sua personalidade forte, sua alegria, seus sonhos, sua emoção, seus valores, seu tudo. Tudo – tudinho o que vem de você.

Te esperaria uma vida inteira.

]]><![CDATA[7 de Outubro]]>https://rfeldman.web.app/7-de-outubro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afffcMon, 07 Oct 2024 22:40:45 GMT

7 de Outubro
7 de Outubro


1 ano de morte. Mortes, no plural.

1 ano de vidas partidas, quebradas, roubadas.

1 ano de dor. Desamor. Desumanidade.
Terror. Torpor. Escuridão. Horror.

1 minuto de silêncio.

1 ano sem palavras.

Sopro de esperança, canto de paz, grito de NUNCA MAIS.

Chora a vela, choramos todos nós.

]]><![CDATA["Meu filho, nosso mundo"]]>https://rfeldman.web.app/meu-filho-nosso-mundo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afffbSun, 18 Aug 2024 14:47:46 GMT

"Meu filho, nosso mundo"
"Meu filho, nosso mundo"

Um filho de pais separados. Um diagnóstico de TEA – Transtorno do Espectro Autista. Um “convite” da escola para ele se retirar. Um filme sobre o amor, na dimensão mais ampla e profunda que esse sentimento carrega ao expressar os laços entre entre pais e filhos. (Amor que não dá pra explicar, “apenas” sentir.) E tem também o amor do avô, representado no filme pelo brilhante Robert De Niro, que fora das telas tem um filho autista.

E é assim, exatamente do jeito que é, diagnosticado não só na ficção como também na vida real, que o cativante Ezra nos conduz gentilmente a entrar no mundo dele, compreendendo sua maneira de enxergar e sentir o mundo à sua volta. Mundo que vira de cabeça pra baixo (literalmente) quando ele escuta o namorado da mãe falando sobre seu pai num tom irônico e sai de casa desnorteado no meio da noite para avisá-lo. Acaba sendo atropelado por um táxi, e esse é só o começo. A partir daí a o escurinho do cinema te espera, prometo que não vou dar spoiler. Apenas umas pinceladas pra você já ir se aconchegando:

  • prescrição medicamentosa e medida protetiva podem tirar um pai do prumo. Completamente.
  • ver o filho pelas grades da escola em estado de letargia é paralisante: causa dor emocional, cabeça quente, decisões precipitadas.
  • amigos são porto seguro;
  • cavalos falam através dos olhos.
  • abraços acalmam, abrem caminhos, aproximam, transformam.

É sobre isso. Amor. A chance é grande de você se sentir tocado(a).

]]><![CDATA[Lúcio, Clarice e eu.]]>https://rfeldman.web.app/lucio-clarice-e-eu/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afffaThu, 18 Jul 2024 11:30:53 GMT

Lúcio, Clarice e eu.
Lúcio, Clarice e eu.
Lúcio, Clarice e eu.

Seguimos juntos há 4 meses. No quarto, na varanda, na praia, no voo de volta pra casa, no sofá da sala.

Ele sempre disponível, eu nem tanto. Ele inesperado, controverso, envolvente, arrebatador. Eu completamente fisgada, atraída, curiosa, envolvida.

Me pego pensando nele durante o dia, ansiosa para encontrá-lo à noite.

Fazendo um balanço da nossa relação, posso dizer que estamos avançando. No meu ritmo, devagar e sempre, mas com muita cumplicidade e já caminhando para o fim. Sim, naturalmente vamos terminar em alguns dias.

Não vejo a hora de chegar à página 550, ver no que vai dar essa história e ainda ler a crônica que Clarice Lispector escreveu para o seu amigo Lúcio Cardoso, autor desse querido calhamaço que ganhei de presente em março. (Presentão.)

Enquanto isso, vamos seguindo. Uma página de cada vez, vou adentrando a casa e a mente de cada integrante dessa insólita família. Suas cartas, seus diários, suas confissões, seus segredos. Prato cheio pra mim, você diria. Quase um banquete, ando me divertindo.

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<![CDATA[Senso de si.]]>https://rfeldman.web.app/senso-de-si/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff9Tue, 02 Jul 2024 18:47:15 GMT
Senso de si.
Senso de si.

Divertidamente 2 está dando o que falar. E o que sentir, como não poderia deixar de ser.

A ansiedade que mora em mim falou, falou na minha cabeça e só sossegou quando os ingressos foram finalmente comprados. (Uma luta, diga-se de passagem.)

E aí eu não desgrudei os olhos e o coração da tela, a alegria dominando meu painel de comando cerebral.

Não resta dúvida de que a grande atração do filme são as novas emoções – Ansiedade, Vergonha, Tédio e Inveja – somado às outras já famosas do primeiro filme: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo, Nojinho. (Soube que ficaram de fora a Humilhação e a Culpa, sentimentos que vivo escutando por aqui.)

Mas para mim o ponto alto da trama, de uma preciosidade só, foi o “senso de si”, representado por um belo e iluminado cristal que representa a essência de cada pessoa: sua autoestima, seus valores, seu eu, sua identidade. É como se deparar com a pergunta que muitas vezes leva-se anos de terapia para responder: Quem é você? Queira se apresentar. Sua personalidade, seu sistema de crenças, seu autoamor, sua singularidade, suas emoções muitas vezes reprimidas. Sua visão de mundo, qual é? Pois saiba que ela impacta diretamente no seus sentimentos, que por sua vez afetam e direcionam o seu comportamento. E se a ansiedade chega de malas prontas para acampar na sua cabeça, é confusão na certa. Mas se você se volta para o seu cristal e não perde de vista quem você é, a caminhada se torna menos difícil. Respira!… Olha pra dentro, respira de novo, trate de se encontrar.

Taí um filme perfeito pra gente grande. Você, no caso, com todas as letras e emoções que carrega aí na caixola e no peito. Claro que o público infantil e adolescente se sente ultra-identificado e tem lotado as salas de cinema, mas não se engane: o enredo vai te envolver, te prender, literalmente te enredar se você já entrou na vida adulta faz tempo e anda tendo que aprender a lidar – na marra, no sofrimento, na leveza e na graça – com as suas emoções.

Eu me emocionei. Enquanto grudava os olhos na tela foi passando um filme na minha cabeça: a sala 804, a caixa de lenço e as tantas e tantas pessoas incríveis, singulares, preciosas que passam e já passaram por aqui.

Que emoção confirmar a beleza dessa minha profissão. Chorei de alegria.

]]><![CDATA[Ponto final.]]>https://rfeldman.web.app/ponto-final-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff8Fri, 31 May 2024 16:42:22 GMT

Ponto final.
Ponto final.

Já há algum tempo venho pensando na importância dos pontos finais. Não só em relação aos ciclos que necessariamente precisam ser fechados (bem-vindo à vida), mas também em relação aos assuntos e conversas que naturalmente deveriam ser encerrados mas ou se perdem no tempo ou adormecem no silêncio, permanecendo eternamente em aberto. Pendentes. Um conjunto de belas reticências ao invés de ponto final.

Conversas difíceis. Assuntos áridos. Diálogos espinhosos parecem ser guardados na gaveta ou enterrados antes mesmo de morrer. Desoxigenação. Deixa pra lá. Uma hora ela esquece. Muda de assunto. Shhh.

E não  falo só dos assuntos difíceis que escuto diariamente no segredo das quatro paredes da sala 804.

Falo também das questões triviais, bom dia, boa tarde, oi, dormiu bem, saudade, como posso ajudar? Conversas iniciadas no WhatsApp e deixadas sem resposta. Cabeças rolando lááá pra baixo. Silêncio. Vácuo. Falta de coragem, liga, enfrentamento. Ou diriam falta de tempo? Excesso  de praticidade? Já respondeu, adeus, agora não me interessa mais? Falta de cuidado, delicadeza, comunicação, empatia? Ou você é do time do check, desembola, vida que segue, página virada, missão cumprida, pingos nos is e também ao final da frase?

Seja o que for, aproveitando que hoje o mês de maio nos deixa com um belo de um ponto final, fica aqui a reflexão. 

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<![CDATA[Festa ou viagem?]]>https://rfeldman.web.app/15-anos-festa-ou-viagem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff7Sat, 20 Apr 2024 23:58:10 GMT
Festa ou viagem?
Festa ou viagem?

O que são 15 anos para você? O que foram?

Festa de debutante, valsa com o pai, viagem pra Disney, turma de amigos, espinhas no rosto, quarto fechado, fone de ouvido, mudança de escola. E dá-lhe química, física, biologia, hormônios à flor da pele, primeiro namorado, começo de terapia, aconchego ou conflitos na família, complete a lista.

O que você fez nos últimos 15 anos? O que fará? Uma década e meia não é pouca coisa, pense bem. Para os casados há esse tempo, bodas de cristal. (Nada mal.) Para uma empresa fundada há 15 anos, trajetória de excelência. Para quem se foi há 15 anos, dor e saudade. Para uma amizade dessa idade, confiança, cumplicidade, chão caminhado junto, muita história pra contar.

O blog completa 15 anos com emoção e alegria, e você é convidado(a) especial dessa festa. Festa de letrinhas, palavras, ideias, imagens. Todo mundo se jogando na pista.

Ou uma viagem, que tal? Viagem pelo tempo, voltando lá em abril de 2009, quando tive a coragem de publicar o meu primeiro post. (Um não, três de uma vez, a moça aqui estava empolgada: Tempo fechado, Dedo no nariz, Ginástica.)

Viagem pra dentro da gente, guiada pelo coração e pela oportunidade preciosa que a gente tem de pensar na vida – “vida com todas as letras, dores, amores, escolhas, emoções e imperfeições. Vida cheia de encontros e desencontros, medo e coragem, partida e chegada. A vida cabe num blog”, é o que diz o cabeçalho por aqui. (Amo viajar, não precisa nem me chamar duas vezes.)

Obrigada por fazer parte da minha emoção em escrever para você há 15 anos. É bom ter você aqui, do outro lado da tela, dando um sentido todo especial a essa travessia. Muito, muito obrigada.

]]><![CDATA[Luz]]>https://rfeldman.web.app/luz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff6Sun, 07 Apr 2024 21:18:37 GMT

Luz
Luz

“No princípio Deus criou o céu e a terra. E ordenou que a luz pusesse fim à escuridão. E a luz se fez.”

Bendita luz que faz a gente abrir os olhos, amanhecer, amar, fazer uma prece, agradecer. Ser café coado, abraço apertado, amor, trabalho, pausa, paz, correria, ensinamento, aprendizado, sentimento. Ser humano.

Levo os olhos ao céu e por uma fração de segundo me perco, me encontro, me enterneço. Deus começa cedo a rascunhar seus poemas, leio cada verso com emoção. Alumbramento.

Levo os olhos à terra e sinto o coração apertar, dividido. Por um lado vejo flores, sementes, luz, sintonia, gente linda trilhando esse caminho. Por outro vejo pedras, lama, areia movediça, labirintos, túneis escondidos, gritos silenciados, barbárie, tortura, desumanidade, gente vivendo na mais completa escuridão.

Falo da falta de paz. Da falta de ar. Da falta de clareza, entendimento, discernimento. Falo (grito) de um massacre que hoje completa 6 meses. De um 7 de outubro que ainda não acabou. Dos reféns que ainda estão lá. De um “Nunca mais” que acabou acontecendo de novo.

Falo do ódio que se colocou no lugar do amor. Da dor que assola israelenses e palestinos. Das palavras equivocadas, dos pronunciamentos repletos de engano, da cegueira e dos olhos vendados. Falo do terror que ameaça não só um pedaço de terra, mas um planeta inteiro.

É noite. O céu está escuro. Chamo Deus pra conversar, quem sabe fazer nascer um milagre, alumiar o coração da gente.

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<![CDATA[Vida inteira]]>https://rfeldman.web.app/vida-inteira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff5Sun, 17 Mar 2024 21:14:38 GMT
Vida inteira
Vida inteira
Vida inteira

Era pra ser apenas um simples telefonema pra desmarcar uma aula de piano, quando ainda nem existia celular. Mas aí o irmão da professora atendeu. E o que eram pra ser 5 minutos viraram 25. E o que era pra ser uma não tão simples conversa sobre vestibular (comunicação ou psicologia?) acabou virando um convite despretensioso pra assistir a uma aula na PUC. (Que estava de greve e acabou fazendo aqueles dois pararem lá na Líber Vinhos e Livros, que já nem existe mais.)

E foi assim que tudo começou. Em um 15 de março de 1991 que acabou levando a um 15 de março de 1997, que num piscar de olhos chegou a 2024, que segundo o Google é bodas de crisoprásio, e que pelos meus cálculos dá uma vida inteira. Feliz Dia 15, André Luis. ❤️ 27/33

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<![CDATA[O que você tem feito?]]>https://rfeldman.web.app/o-que-voce-tem-feito-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff3Sat, 24 Feb 2024 20:55:10 GMT
O que você tem feito?
O que você tem feito?

A vida anda acelerada por aqui. E muito provavelmente por aí também, me corrija se eu estiver enganada. É unânime a sensação de que o tempo está passando mais rápido, cientistas andam se debruçando sobre o tema. Rotação da terra, batimentos cardíacos, rotina de trabalho, memórias boas ou ruins…. Tudo parece influenciar nossa relação com o senhor das horas. Outro dia mesmo te desejei Feliz Ano Novo, daqui a pouco estamos pulando sete ondinhas outra vez.

E o que você tem feito? Deslizando eternamente o polegar pela tela do celular? Acelerando os áudios do WhatsApp, para não perder tempo? Lendo, amando, rindo, dançando, pelejando, pulando feito pipoca, se divertindo na cozinha? Saiu um nhoque no capricho, quem vai querer?

Sessão de cinema: duas horas. Sessão de terapia: 50 minutos, com ou sem choro. 6 a 8 horas de sono para um dia maravilhoso. 20 minutos de recreio, passa num segundo. 30 minutos contados no relógio para a reunião mais importante da sua vida. 5 minutos de meditação antes de ir trabalhar, respira!… 40 segundos para abrir uma garrafa de vinho, tim-tim.

É fato: a vida é curta e parece estar ainda mais breve por causa desse tempo serelepe que não para de correr. Vivamos, então. De forma leve, amorosa, presente, inteira. Feliz cada novo segundo de vida vivido por você.

]]><![CDATA[Missão cumprida]]>https://rfeldman.web.app/missao-cumprida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff2Wed, 27 Dec 2023 20:15:25 GMT

Missão cumprida
Missão cumprida

Gosto da ideia de missão cumprida. Mais que da ideia, do ato em si. Que seja ticar a lista ao fim do dia, realizar um grande projeto, terminar um livro ou encerrar o ano. Lá se vai mais um embora e eu não resisto à tentativa de olhar pra ele com carinho, apesar de todas as pedras no caminho (sim, elas fazem parte), realizando uma breve retrospectiva do que significou 2023 na minha vida. E na sua, já parou pra pensar?

Suas andanças, suas dores, seus amores. Suas alegrias, suas batalhas, seus perrengues. Seu trabalho, sua família, sua saúde.

Andou cuidando bem de você? Das suas relações? Fez direitinho o para-casa, para-vida? Espero que passe de ano com louvor.

Pelos ossos e flores do meu ofício, não consigo deixar de apreciar o grande trabalho que é realizado no lado de dentro de cada um. Trabalho silencioso, ruidoso também tem hora (como todo bom trabalho de construção), mas de uma preciosidade que faz qualquer ano valer a pena. Ou, nas palavras de um post compartilhado por uma amiga querida, colega de profissão: “Apesar de tudo, não cancele o ano que te fez enxergar o quanto você é forte.”

Daqui pra trás, força e aprendizado. Nada é em vão, nada foi em vão. Daqui pra frente, surpresa. Esperança. Sorte. Entusiasmo e encantamento, como o de uma criança abrindo um presente. Abundância e bonança, que assim seja.

Gosto de pensar no Ano Novo como página em branco, seguindo o bom e velho clichê. Amo comprar agenda nova, fico um tempo namorando a capa até me decidir por aquela que seguirá comigo no registro dos meus dias. E dá-lhe esperança. Dá-lhe amor, alegria, brilho nos olhos para escrever o que virá.

Que 2024 seja o que você quiser e sonhar. Dá trabalho, mas também dá gosto chegar lá na última página com a sensação de missão cumprida. Mãos à obra. Feliz Ano Novo, cheinho de inspiração pra você.

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<![CDATA[Paradoxos de Natal]]>https://rfeldman.web.app/paradoxos-de-natal/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff1Wed, 20 Dec 2023 07:34:28 GMT
Paradoxos de Natal
Paradoxos de Natal

Todo ano a história se repete: a árvore, os presentes, o presépio, o panetone; as luzes, a ceia, o amigo-oculto, a família reunida.

A história é bonita pela essência e intenção que carrega, mas também um tanto quanto paradoxal em alguns casos. Entre as quatro paredes de um consultório de psicologia, não é raro escutar:

– “Ai, que preguiça. Vou ter que encontrar o Fulano.”

– “Tirei o Siclano no amigo-oculto. Tudo que eu não queria…”

– “Família reunida? Que família?!”

– “A gente passa o ano inteiro sem encontrar, e no Natal ainda tem que dar presente?!”

É claro que nem todo mundo sente assim. Prezando o lado antagônico da vida, vejo também olhos brilhando à minha frente, acompanhados de palavras que são puro entusiasmo e alegria:

– “Amoo Natal!”

– “Adoro reunir a família!”

– “É a melhor época do ano pra mim!…”

Como a primeira versão tem se repetido a cada ano e prevalecido em relação à segunda, pelo menos diante dos meus olhos e ouvidos, vai aí uma pequena reflexão.

Indo além das questões religiosas e dos dados históricos sobre a criação do Natal, recorro à licença poética para criar minha teoria acerca do assunto. Acho que Deus “criou o Natal” justamente para colocar os homens diante deste grande paradoxo, no sentido de aprender e crescer com ele. Amor, paz, proximidade, harmonia – não seria este o significado e a promessa de cada 25 de dezembro?

Se o Natal se repete invariavelmente a cada ano, talvez seja porque essas coisas são preciosas demais para não se aprender. (Ou esquecer.) É como se a cada Natal Deus mandasse uma provinha pra gente, com questões difíceis de resolver. Ou em alguns casos (casas) questões até simples, por vezes delicadas talvez. Mas não impossíveis de responder. Tem gente que toma bomba. Tem gente que passa de ano brilhando ou raspando. E de um jeito ou de outro, lá vem mais um Natal. Hohoho.

No aconchego (leia-se também cansaço e agito) que nos convoca essa época do ano, é como se Deus enchesse a terra de luz e esperança e dissesse: “Então é Natal. Vai ter amigo-oculto, panetone, ceia, presente e o principal: família reunida. Família que não é perfeita, nenhuma nunca foi nem nunca será. Mas que mesmo assim – do jeito que for – vem justamente do amor. Amor que nos presenteia e embala com laços de vida. Vínculo. Amor que é segunda chance, terceira, quarta, até perder de vista. Amor que faz parte, mesmo que você queira pular essa parte do calendário. Mesmo que você ache tudo isso bonito só na teoria. Então permita-se achar tudo, sentir tudo, mas tente pôr nem que seja um pouco em prática. Afinal de contas a gente está aqui nessa terra pra amar, eis a grande lição. Faça valer. Faça o que você der conta, mas faça; nem que um cadinho. Busque sentido. Busque sentir. Encontre. Então é Natal. Se vira”.

]]><![CDATA[Carta-resposta]]>https://rfeldman.web.app/carta-resposta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afff0Fri, 08 Dec 2023 18:57:25 GMT

Carta-resposta
Carta-resposta

Outro dia escrevi uma carta pro mundo. Não imaginava que a resposta viria tão rápido, no dia seguinte, em pleno show do Paul McCartney. Um estádio inteiro entoando alegria, paz, sintonia. Por um instante esqueci que o mundo lá fora anda em guerra.

Não é apenas sobre ser o genial, incrível Paul McCartney. Ou sobre as músicas lindas que ele toca. É sobre a forma cativante como ele nos toca.

Aos 81 anos de idade, cheio de graça e vitalidade, ele mostrou que entende não só de música como também de empatia. Sorrindo com os olhos e com um sotaque digno de aplausos, ele me encantou com o jeito de entrar no nosso mundo:

– Belo Horrrizonte, estou aqui. Uai.

– Trem bom.

Ah, se eu soubesse. Te levava uma cesta cheinha de pão de queijo.

E dá-lhe “Hey Jude”, “Something”, “Live and let die”. E teve ainda “My Valentine”, que ele dedicou à sua esposa Nancy com a voz cheia de amor.

E mais aplausos. E mais sotaque, acompanhado de um gesto aproximando o dedo indicador do polegar:

– Esta noite.. vou tentar falar um pouquinho português. Só um cadinho.

Empatia, está aí a resposta do mundo pra mim. Apesar de tão escassa, escondida, ela ainda está aí. Aqui. E soa como música para os meus ouvidos, certeza de esperança, ponte pra paz.

E sobre tudo o que anda estranho, tão absurdamente estranho por aí; sobre todos os assombros e perguntas ainda sem respostas, lá vem ele me dizer: “Let it be”, deixe estar, tudo vai se resolver.

Amém, Paul. Thank you so much.

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<![CDATA[Carta ao Mundo]]>https://rfeldman.web.app/carta-ao-mundo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affefSun, 03 Dec 2023 23:01:16 GMT
Carta ao Mundo
Carta ao Mundo

Belo Horizonte, 03 de dezembro de 2023.

Querido Mundo,

Há algum tempo venho pensando em escrever para você. Abrir meu coração, dizer o que se passa dentro dele. Espero que me compreenda, me ajude a entender o que também se passa com você.

O que aconteceu? Tenho te achado um tanto quanto estranho. Te vejo nos noticiários, nas ruas, no consultório. Lá, então, entre quatro paredes e o reforço de uma porta dupla acústica, você tem surgido bem machucado pra mim: doído, decepcionado, perplexo, fragmentado, adoecido; triste, exausto, banalizado, ansioso, com falta de ar e sem dormir. Tem dias que você chega de perna bamba e taquicardia sem que isso signifique necessariamente paixão, essa palavra que tanto me move. Você chega a desfalecer diante de mim.

Tenho escutado algumas coisas preocupantes a seu respeito: “O mundo está perdido.” “Que loucura.” “Onde esse mundo vai parar?” “Para esse ônibus que eu quero descer.” “O mundo vai acabar. “Meu mundo acabou.”

Às vezes tenho a sensação de que andam maltratando você; que o ar que a gente respira anda denso; que um dia você ainda vai explodir, sumir do mapa, deixar de existir. Pessoas brigando e matando no trânsito, cada vez mais caótico. Racismo. Violência. Xenofobia. Manchetes e mais manchetes rodopiando no celular, sem cessar. É tanta notícia ruim que eu já perdi a conta, não sei como você dá conta. Minas negligentes afundando gente. Gente perdendo casa, perdendo sonhos, perdendo uma vida inteira. Gente deixando de ser gente – se desumanizando bem ali à nossa frente. Gente escorregando na gravata e na própria língua, dando nó na cabeça da gente. Gente desdenhando de gente. Gente importante, de uma responsabilidade imensa, pronunciando graves equívocos a partir de um conflito que anda aterrorizando o mundo. O que aconteceu, minha gente?!

E aí eu abro um capítulo, um parágrafo dos mais tristes e tenebrosos para falar do pesadelo que você anda vivendo. Sim. Não, não é possível. Vi com os olhos atônitos e encharcados que em uma antiga terra sagrada o amor foi pisoteado pelo terror. Terror. E a partir daí fiquei olhando catatônica para você, tentando catar os cacos, tentando inutilmente te entender. Em pleno século vinte e um, Mundo?! Depois de tanta dor, tanto sofrimento, tantas atrocidades já vividas?!

Mais uma vez sequestraram o sol, apagaram a luz, apagaram vidas. Surto. Susto. Escuridão. Onde foi parar a paz? Onde jaz?

Responde, Mundo. Não fique mudo, pelo amor de Deus.

]]><![CDATA[Errata]]>https://rfeldman.web.app/errata/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affedThu, 12 Oct 2023 19:29:43 GMT

Errata
Errata

E amor é amor. E ponto. Qualquer que seja a forma, a configuração, seja como for, estamos falando de amor. AMOR, com toda a força e todas as letras.

Amor de um homem com uma mulher. Amor de um homem com outro homem. Amor de uma mulher com uma mulher. “Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar”, entoemos juntos a canção de Milton e Caetano.

Senhores deputados, façam-me o favor: usem a cabeça, a caneta e o posto que assumiram para fazer jus à responsabilidade que carregam. Projetos de lei consistentes, edificantes e necessários, SIM. O mesmo sim que é dito em alto e bom som, dito com o coração e olhando nos olhos, quando um pedido de casamento é feito. Sim.

]]><![CDATA[Diante do muro]]>https://rfeldman.web.app/diante-do-muro-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affecSat, 07 Oct 2023 21:09:25 GMT

Diante do muro
Diante do muro

É de pedra, emoção, tijolo e terra o meu lamento.

Pelas notícias que explodiram feito bombas em um sábado sagrado.

Pelos homens que não aprenderam a amar. Pela paz que tarda a chegar.

Pela falta de humanidade. Pela maldade que arde.

Pela falta de trégua. Falta de amor. Estilhaços de dor.

Pela falta de entendimento. Falta de tudo. Falta.

Pela crueldade. Pesadelo. Tortura. Vidas no escuro.

Pelo diálogo surdo. Grito mudo.

Pelo choro de um mundo quase inteiro. Despedaçado.

Arruinado. Assombrado.

Pelo amor de Deus, que lê os bilhetes do mundo.

É de letra, luz, rascunho e fé o meu intento.

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<![CDATA[Amor e Angústia]]>https://rfeldman.web.app/amor-e-angustia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affebSat, 16 Sep 2023 22:36:43 GMT
Amor e Angústia
Amor e Angústia
Amor e Angústia

E aí então você tira uns dias de férias, ladeada de amigos queridos. Muito especiais e queridos.

E se esses dias acontecem em Miami, em pleno mês de agosto, você logo pensa: sol, praia, coqueiros, calor, muito calor, compras, mais calor, areia branca, mar quentinho, revoada de gaivotas pra arrematar a beleza do lugar. Sonhou?

E aí surge um domingo no meio do caminho. E um convite despretensioso para você conhecer o Memorial do Holocausto. E de repente os seus olhos param.

No meio de um lago habitado de paz, uma mão quase alcança o céu. O antebraço carrega figuras humanas em profunda expressão de dor e desespero. Carrega também um número tatuado, marca inconfundível dos prisioneiros de Auschwitz.

Escultura do Amor e da Angústia, este é o nome do monumento de mais de 12 metros idealizado pelo arquiteto Kenneth Treister com a colaboração de um grupo de sobreviventes do terror. Logo na entrada, a célebre frase de Anne Frank nos amortece: “Apesar de tudo, eu ainda creio na bondade humana.”

Nos arredores, mais esculturas. De bronze. Tormenta. Reflexão. Lamento. Esculturas de crianças, velhos, homens, mulheres. Gente de carne e osso. Esculturas de dor, angústia, esperança, amor.

Não guardei o nome da senhorinha judia que gentilmente nos conduziu pelo Memorial, sem nada pedir ou cobrar. Mas vou guardar para sempre a ternura e emoção dos olhos dela ao nos receber naquela manhã de sol escaldante.

– Todo domingo eu venho até aqui com o meu marido e me ofereço para explicar um pouco do Memorial, buscando traduzir em palavras o que vocês estão vendo aqui; para que as pessoas não apenas circulem, e sim apreendam com profundidade a dimensão do que foi construído e vivido.

Minha mão toca a dela, gratidão pela disponibilidade e troca. Olho uma última vez para o grande braço de bronze estendido para o céu, clamando por socorro. Agradeço à Deus, e aos seus grandes braços acolhe-dores, pela capacidade maravilhosa que a vida tem de transformação.

Deixo o lago e vou em direção ao mar, amar essa Miami que num tocante instante de um domingo ficou ainda mais bonita.

Amor e Angústia

]]><![CDATA[Barbies também choram]]>https://rfeldman.web.app/barbies-tambem-choram/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affeaTue, 15 Aug 2023 23:10:21 GMT

Barbies também choram
Barbies também choram

Eu nunca fui de brincar com Barbie. Sou do tempo da Susi, mas o que eu gostava mesmo era do “Meu Bebê”. Como num ensaio à maternidade que eu viveria anos mais tarde (não só como mãe mas também pesquisadora do tema no mestrado), adorava passear com esse boneco vestido com as roupinhas que já não cabiam mais na minha irmã, e bem aconchegado no carrinho que também foi dela. Algumas pessoas chegavam a me parar, achando que o menino era de verdade. Sucesso na praça.

Como professora de redação publicitária que fui, levei um dia para a sala de aula um texto de Rubem Alves tecendo uma crítica ferrenha à Barbie e comparando-a a uma bruxa, além de fazer menção aos bonecos de vodu. Ui. Vale a pena a leitura.

E foi assim que eu fui hoje – com um pezinho atrás e look azul, diga-se de passagem, assistir ao comentado filme da boneca estrelada pela linda e estonteante Margot Robbie.

Saí de lá feliz, missão cumprida. Gostei de ver uma Barbie se assumindo estereotipada (e quebrando estereótipos) no seu icônico mundo cor-de-rosa. Uma Barbie que se depara com pé chato, pensamentos de morte, celulite e uma boa dose de enfrentamento para lidar com a sua crise existencial. Bem-vinda à vida, querida Barbie. Aceita água, café, chá, cappuccino? A caixa de lenços está bem aí ao lado.

E assim ela chora. Medita. Pratica a sororidade, envolta de amigas leais e que compõem um real cenário de diversidade, como a vida é. Tem Barbie de tudo quanto é jeito, inclusive negra, acima do peso e dançando em uma cadeira de rodas.

O filme traz um olhar crítico a temas como patriarcado, machismo, padrão estético. E ainda perpassa a adolescência e o processo de envelhecer, acendendo luz sobre o lugar da mulher na sociedade.

Quanto ao meu lugar na sala de cinema, eu estava bem servida: filho de um lado, filha do outro; ela com o namorado, ele com uma amiga e sua calça branca que foi sendo lentamente tingida pela cor rosa do pacote de pipoca. Viva as imperfeições da vida.

]]><![CDATA[Volta ao mundo]]>https://rfeldman.web.app/volta-ao-mundo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe9Tue, 18 Jul 2023 12:25:51 GMT

Volta ao mundo
Volta ao mundo

Férias de julho, ponto de exclamação. Operação descobrir um pontinho no mapa, fazer o roteiro, desbravar se Deus quiser um dia o mundo inteiro.

Meu filho foi pra Israel, na viagem mais impactante da sua vida. Viajamos juntos: norte da Galileia, Safed (a cidade sagrada da cabala), Jerusalém (onde nasceu o meu querido avô Zé), Museu do Holocausto, Muro das Lamentações, Mar Morto, Tel Aviv. Fomos juntos pelo coração, pelas mensagens do WhatsApp, pelas fotos que me fizeram chorar de emoção. (Muita emoção.) Como disse a minha mãe, que já esteve mais de uma vez nesse lugar abençoado, “a gente fica em estado alterado de consciência. Não dá pra descrever. Tem que ir.” Vou. Já estou sonhando, mãe.

Tem gente que sonha com cachoeira. Praia. Montanha. Florença. Fernando de Noronha. Balões na Turquia. Polônia. Cataratas do Iguaçu. Retiro espiritual. Terra batida. Cidadezinha do interior.

Seja qual for a sua praia, nada como sair uns dias e voltar restaurado, reenergizado, Feliz Ano Novo em pleno julho.

Eu fui pra casa da Tia Sara. Logo ali, aqui mesmo em Belo Horizonte, fui num pé e voltei no outro. Ah, mas que energia. Que emoção trocar tanto, mas tanto, com essa senhora de 98 anos que anda de pantufa no meu coração. Voltei de lá com uma energia que não sei se vou saber explicar. Levei pra essa minha tia-avó querida uma das coisas que ela mais gosta na vida, assim como eu: um livro. Valter Hugo Mãe, “As mais belas coisas do mundo”, história de um avô que encanta o neto ao mostrar o poder transformador da vida.

Encontrei-a deitada na cama, pijama quentinho, grandes fones de ouvido para ouvir o noticiário político. E, na palma da mão, fotos da bisnetinha deslizando pelo seu celular em êxtase e encantamento, foi eu que vi nos olhos dela.

Ah, tia, quero ser igual você quando eu crescer. Alegre, risonha, cercada de amor, viajando sem sair do lugar a cada página que lê. (Que meus olhos cheguem lá também.)

E como se não bastasse ler, Tia Sara também escreve. Um diário, quase caí pra trás, que ela fez questão de tirar do armário e me mostrar. Tintim por tintim, o registro de uma imensidão de dias transcorrido em tinta azul, até quando Deus quiser.

Saí de lá com o passaporte carimbado e o coração cheio de emoção pra contar, convicta de que ter uma Tia Sara na vida é tirar o bilhete premiado da loteria. Dei a volta ao mundo em meia hora.

]]><![CDATA[À luz de velas]]>https://rfeldman.web.app/a-luz-de-velas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe8Mon, 19 Jun 2023 22:22:00 GMT

Um estouro. Um apagão. Alarme de incêndio disparado. Coração disparado. Panturrilhas em dia. Um prédio inteiro no térreo, aguardando os bombeiros chegarem. Chegaram.

Conectados somos, conectados estamos. Um transformador estoura na rua e cada sala é afetada (impactantemente afetada) de um jeito. Cai a energia, para o ar-condicionado, escurece o computador, sai fumaça no aparelho de som. Uma cadeira do décimo andar começa a pegar fogo. Socorro.

Depois de um início de tarde de segunda-feira extraordinariamente atípico, tumultuado, turbulento, nada como pegar o elevador de volta, apertar o oito, encontrar meu refúgio em ordem. Na velha paz que eu amo e conheço.

O dia terminou bem, obrigada. Mil vezes obrigada, não canso de agradecer. Ser, estar, transformar. Ver que tudo não passou de um susto.

A tarde caiu, o interruptor continuou impassível ao toque, a sala escureceu. (Escuro também estava o coração à minha frente, escuro de tanto doer.)

O último atendimento foi iluminado de velas, e elas também pareciam conversar. Chorar, palavra por palavra. Aconchegar emoção, silêncio, fala, escuta.

Terapia à luz de velas, nem preciso dizer o quanto foi lindo.

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<![CDATA[Gol contra]]>https://rfeldman.web.app/gol-contra/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe7Wed, 24 May 2023 21:35:37 GMT

Eu não entendo muito de futebol. Entendo de gente; de dor que atravessa coração de gente. Tristeza, decepção, pesar, lamento. Profundo lamento.

A humanidade já caminhou tanto, já aprendeu tanto . (Será que aprendeu?) E ainda assim anda trocando vitória por bola fora, falta, gol contra.

O que será que falta? Amor? Consciência? Solidariedade, compaixão, empatia? Ou será que falta humanidade?

Mais uma vez (até quando?) o preconceito invade o campo e a vida. Levamos todos um chute no estômago. Somos todos agarrados pelo pescoço. Vestimos todos a camisa de Vini Jr.

O que mais será que falta? Conversar com as nossas crianças em casa e na escola, onde tudo começa? Falar (de novo) de amor, alteridade, respeito? Lembrar que há uma lei universal de causa e efeito atuando a todo instante?

Não é a primeira vez que escrevo sobre preconceito por aqui. Gostaria muito que fosse a última. Cartão vermelho para os incitadores de tamanha dor e vergonha.

Será que não passou da hora de mudar as regras do jogo? Transformar o olhar, anular toda e qualquer manifestação de racismo, falar aquilo que nos toca. Tocar as pessoas como um toque de bola, suave e certeiro em direção à rede.

Quem sabe um dia (não perco a esperança) o placar vire. Na raça. Sete a zero para a paz, apita o juiz. A torcida vibra emocionada, o grito é de gol, a alegria contagia.

Está pontuado, cuidadosamente registrado. É preto no branco. E não se fala mais nisso.

]]><![CDATA[Fada dos Dentes]]>https://rfeldman.web.app/fada-dos-dentes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe6Sun, 09 Apr 2023 20:07:23 GMT

Fada dos Dentes

Aposto que você já dormiu no sofá vendo TV. Ou no cinema, um desperdício. Lendo na cama, 90 por cento de chance. Sala de aula? Quem nunca?

Pois eu já dormi de boca aberta. Na cadeira do dentista, acredita?! Ou melhor, da dentista: da fofa, linda, cativante, competente Dra. Júlia Garrides, preciso lhe apresentar.

Cheguei ao consultório dela encaminhada por outra dentista pra lá de especial que me acompanha há mais de 30 anos: Dra. Flávia Almeida, Fada dos Dentes titular. Cheguei logo depois de viver uma infeliz experiência como paciente, dessa vez da área médica, em um hospital. O caso envolveu um profundo descaso, compartilhei no post anterior.

Vida que segue, sigo acreditando no ditado: “Depois da tempestade vem a bonança”. A vida foi generosa comigo e me compensou com uma Dra. Júlia no meu caminho: muito mais que competente e técnica. Muito mais que Cirurgiã-Dentista especialista em Ortodontia e Ortopedia Dento-Facial com foco em Odontologia Restauradora. Uma Júlia Humana. Acolhedora. Cuidadosa. Atenta. E com um brilho nos olhos que sorriam pra mim por cima da máscara de proteção.

Fui lá para cuidar de um desgaste e sensibilidade nos dentes e encontrei uma dentista cheia de sensibilidade e encanto. Que já na primeira mensagem de WhatsApp terminou dizendo: “Obrigada pela oportunidade de cuidar de você”; que deixa na sala de espera livros de reflexões como “Minutos de Sabedoria”; que me anestesiava ao som de mantras melodiosos ao saber que eu ia para as consultas direto da aula de ioga; que pedia à “Alexa” para tocar as novidades da MPB depois de me perguntar qual o meu estilo favorito.

Quanta luz. Quanto cuidado, harmonia, leveza, sintonia. Quanto amor encontrei ali.

Nunca tive medo de dentista. Mas também nunca fui fã daquele cheirinho característico e do ruído da broca, acredito que você também. Pois lá no consultório da Júlia o cheirinho era de aromatizador de ambiente e a música cobria o barulho do motorzinho. A cadeira obviamente descia, o pescoço ganhava um pequeno travesseiro para se acomodar, os óculos de proteção cerravam meus olhos. Como num passe de mágica.

Ando suspeitando que algum daqueles instrumentos odontológicos era uma varinha de condão. Eu ia lá para relaxar, quem diria. E ainda saía com o sorriso mais bonito.

]]><![CDATA[Cuidado]]>https://rfeldman.web.app/cuidado-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe4Sat, 18 Mar 2023 23:59:47 GMT

Cuidado
Cuidado

Ando cuidando do meu coração. Um histórico genético envolvendo colesterol alto premiou quase que a família inteira. Meu pai comemora todo ano o aniversário das suas 4 pontes de safena, já contei por aqui. Um tio-avô pianista (também da linhagem paterna) teve um infarto em pleno recital, não dá mesmo pra descuidar.

Meu cardiologista pediu ecocardiograma, ergométrico e uma angiotomografia coronariana. Foi além do triglicérides, LDL, HDL. Foi cuidadoso. Foi nota mil. Dei a ele prontamente um lugar no meu coração. Obrigada, Dr. André Chuster.

Já do hospital que escolhi para realizar o exame não posso dizer o mesmo. Falharam comigo na comunicação, na atenção, no atendimento. A história é longa e indigesta, prefiro não entrar em detalhes por aqui. Prefiro deixar ir.

Mas o resumo da ópera (bem desafinada, inclusive) é que depois de quase 2 horas de atraso, estando há 4 em jejum, toda uma agenda reprogramada, o médico simplesmente não apareceu. Mandou dizer que estava almoçando e que ficaria a meu critério remarcar o exame. Reportei o caso à ouvidoria, compartilhando minha profunda decepção. Recebi de volta um profundo e desagradável silêncio.

Exame reagendado, é claro que dessa vez em outra instituição. Não poderia ter sido melhor acolhida, e ainda comemorei o resultado. Artérias tinindo, deu vontade de emoldurar a imagem. Não sabia que o meu coração era tão bonito.

E assim vamos vivendo. Pulsando alegria e gratidão quando o cuidado nos toca; sentindo muito – peso, lamento, indignação, decepção, raiva, tristeza – quando a negligência toma a cena.

Para além das relações profissionais – em que o cuidado se faz tão importante quanto a competência, prezo isso desde sempre – convido você a pensar na dimensão que essa palavra preciosa anda ocupando na sua vida. Nas suas relações. A começar pela relação com você mesmo(a): corpo, mente, alma, coração. (Vai bem, obrigado?) Sono, rotina, casa, descanso, autoestima, alimentação. (Vai um açaí aí?)

E sua relação amorosa, como vai? Positivo operante? Cuidado presente nas palavras, nos detalhes, no olhar, nos gestos mais simples? “Quem sabe isso quer dizer amor”, evocando nosso querido Milton Nascimento para esta conversa. Ou Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, em “Cuide bem do seu amor”.

Das relações amorosas para as familiares, afetivas, interpessoais, é um pulo. Ou uma alegre batida de coração quando se tem cuidado. Eita palavra linda, especialmente quando colocada em prática. Só discurso adianta não.

Seja caminhando, cantando, dormindo, acordando, trabalhando, amando, qualquer gerúndio vale a pena quando a gente cuida.

Termino essa conversa deixando um abraço para você e uma frase que vivo dizendo, quase um mantra para quem convive comigo: Cuide-se bem. 🌷

]]><![CDATA["O pior vizinho do mundo"]]>https://rfeldman.web.app/o-pior-vizinho-do-mundo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe3Sun, 29 Jan 2023 23:59:58 GMT

"O pior vizinho do mundo"
"O pior vizinho do mundo"

Quem nunca teve uma relação difícil pra contar? Um vizinho chato, sistemático, rabugento?

Fui ao cinema (feliz da vida, um dos meus programas prediletos) achando que iria assistir a uma comédia leve e divertida sobre o assunto, tão comum e clichê. Acertei.

Mas “O pior vizinho do mundo”, estrelado pelo talentoso Tom Hanks, foi muito além da leveza e da diversão. Que filme lindo. Tocante, profundo, emocionante. Saí do cinema com a alma quentinha.

Costumo dizer que algumas situações da vida são como pontas de iceberg. É o que aparece, o que se mostra; superfície, tão passível dos nossos julgamentos. Mas é lá na fundura, se mergulharmos bem, que vamos enxergar a dimensão real (e tantas vezes complexa) daquele bloco de gelo que um dia afundou o Titanic.

Otto se mostra como uma pessoa bastante difícil de conviver. A questão é que para ele é difícil (extremamente doloroso e difícil) viver depois que a sua querida Sonya se foi. É como se a morte da esposa o convocasse a ir embora também, situação não rara na vida real. (Haja terapia e constelação familiar para desmanchar os nós e emaranhados que causam tanto sofrimento, tanta paralisia.)

Fato é que a gente acaba se encantando por esse homem ranzinza, e pelo rumo que a vida dele vai tomando especialmente depois que uma família cheia de energia se muda para a casa em frente. (Em frente, que é para onde a vida deve andar.)

Não vou dar spoiler. Mas há uma frase de Sonya (nas tantas voltas ao passado que Otto faz através da memória e do pensamento) que é um prato cheio pra nós da psicologia, no que concerne a nomear sentimentos e cultivar a resiliência: “Eu sei que você está triste. E com raiva também. Mas temos que continuar a viver.”

Outra preciosidade do filme é quando Otto percebe que se importam com ele, e isso passa a fazer toda a diferença no desenrolar da história: na forma como ele também passa a se importar com o outro e com a própria vida.

Quanta beleza permeia as relações humanas, não me canso de dizer. Dá vontade de ser vizinha dele também. Ou de uma vez por semana abrir a porta da sala 804 e um sorriso, e lhe oferecer: “Água, café, chá, cappuccino?”.

Foi uma linda sessão de 120 minutos, Otto. Obrigada por confirmar algumas coisas tão importantes que carrego comigo.

]]><![CDATA[Caminhos]]>https://rfeldman.web.app/caminhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe2Fri, 06 Jan 2023 20:09:30 GMT

Caminhos
Caminhos

E então o ano virou. Você pode ter sonhado com isso. Ou não. Pode ter tido o o réveillon do século. Fogos de artifício. TV ligada. Luau na praia. Ou um simples jantar de Ano Novo regado a bom vinho e amigos de verdade.

Pode ser que tenha rido. Dormido. Chorado. Rezado. Amém.

Pode ser que tenha feito alguns pedidos. Namorado muito ou quase nada. Sentido saudade. Voltado pra casa às seis da manhã.

Qualquer que tenha sido o seu ritual ou programa de sábado à noite, é fato que amanheceu um 2023 para chamar de seu. De nosso. Feliz Ano Novo, aqui vamos nós. Vivos, graças a Deus, para continuar a história. Recomeçar logo numa segunda-feira, é pra já.

E enquanto o ano vira, Dona Vida segue firme no propósito de trilhar o seu caminho. Que pode ser de pedras. Flores. Sol. Chuva fina, bons auspícios. Estrelas. Silêncio. Música. (Ninguém fica de fora da festa.)

E você, como pretende seguir o seu caminho? Que paisagens já anda percorrendo o seu coração? O que aprendeu? O que decide deixar para trás? Qual o sentido? O que leva com você daqui pra frente? Para um segundo e sente.

Pode até ser que ainda não haja respostas ou um roteiro certo. Pode ser que você ainda esteja tentando entender o mapa. Pode ser até que você empaque bem ali naquela curva, e tudo bem. Mas só de se colocar a caminho – qualquer que seja ele – você já se torna via, vereda, trilha, ensejo, ponte, possibilidade, travessia.

Boa caminhada! É muito bom seguir com você.

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<![CDATA[Partidas e chegadas]]>https://rfeldman.web.app/partidas-e-chegadas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe1Fri, 30 Dec 2022 11:58:55 GMT
Partidas e chegadas
Partidas e chegadas

Malas prontas. Peso enorme para alguns, incluindo tarifa por excesso de bagagem; leveza para outros, dependendo do que foi vivido e sentido. Destino certo, sem escala. Data e hora marcada, sem direito a atraso, cancelamento ou mudança de planos.

Boa viagem, 2022. Obrigada por tudo. Até nunca mais.

Bem-vindo, 2023. O mundo te espera no grande saguão da vida. E como bons anfitriões que somos, erguemos placas personalizadas para te nomear e de imediato identificar: Paz, Alegria, Leveza, Amor, Saúde, Equilíbrio, Fartura, Esperança, Bonança. Que assim seja.

Em todas as línguas, crenças e credos, festejamos sua chegada. Te esperamos de braços abertos para um abraço cheio de emoção. Para o que der e vier. Recomeço, ponte, travessia, realização. Paz, especialmente. Como o mundo anda precisando disso.

Está pronto? Vamos?

Com você a gente vai percorrer trilhas, oceanos, cachoeiras, mirantes cheios de nascer do sol; mesas de trabalho abarrotadas de projetos, mesas de domingo cheias de aconchego. A cada novo dia um mapa mental (e emocional também, não tenha dúvida). A cada trecho escuro uma lanterna pra clarear lá dentro de nós, onde habita nossa criança de velhos outros anos atrás. (Esses aí já se foram mas insistem em voltar, tantas e tantas vezes.)

Com você, 2023, a gente dá um respiro. Cria pausas. Abre janelas com vista pro amar. Inventa novos passos de dança. Inaugura o calendário. Conversa com o travesseiro. Adormece em paz. Sonha. Realiza. Dá bom dia pra alegria. Enche a casa de harmonia. Rega a autoestima como jardim em flor. Segue o coração. Cuida do corpo. Alimenta a alma. Vive um dia de cada vez. Ilumina o caminho. Põe sentido.

E abre um sorriso ensolarado ao dizer Feliz Ano Novo para pessoas queridas, assim como você, que acaba de ler o meu último post do ano.

Sinta-se abraçado(a). Feliz Ano Novo!

]]><![CDATA[Chá-revelação]]>https://rfeldman.web.app/cha-revelacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affe0Tue, 01 Nov 2022 12:11:31 GMT

Chá-revelação

Na minha época não tinha essa história de chá-revelação. A esperada descoberta do sexo do bebê era feita no momento do ultrassom e comemorada ali mesmo, no calor e na simplicidade de uma emoção que aos poucos ia sendo compartilhada com a família inteira.

Foi assim no ultrassom do Léo. Foi maais ou menos assim no ultrassom da Bella. Depois de um ano e meio tentando engravidar pela segunda vez (“esterilidade psíquica“, já contei por aqui), a grande revelação veio no resultado do beta hcg, que por si só foi uma festa.

Menino ou menina, o essencial eu já tinha: um coraçãozinho batendo junto do meu, sinfonia de alegria. Não conseguia parar de agradecer. Se viesse mais um menino, Rafael. Bom demais um irmãozinho pro Léo. Se viesse uma menina, Isabella (nome sonhado e escolhido desde sempre, a forma mais linda que eu encontrei de homenagear a minha avó.) De um jeito ou de outro ia ser maravilhoso, essa era a única certeza que eu tinha.

No ultrassom de 12 semanas, de olho na telinha, arrisquei um palpite:

– Doutor, parece que tem um menininho aí. Acertei?

-É, sua percepção está boa… 70% de chance.

Saímos de lá com a família em polvorosa. “Rafa pra lá”, “Rafa pra cá”. Meu marido me deu mais um pingente com carinha de menino pra eu colocar no pescoço, não coloquei. “Vai ficar guardado até o próximo ultrassom. Até termos certeza. Minha intuição diz que é a Bella que está por vir.”

No ultrassom seguinte, segurei na mão da madrinha e não segurei a emoção quando o médico anunciou sem titubear: “Temos uma bailarina por aqui!…”

Ah, minha menina. Bailarina, peixinha, aprendiz de krav magá, jardineira, craque de futebol. Quinze anos se passaram e a vida anda se revelando para você: generosa, ´ética, humana, divertida, incrível. Bonita de se ver. E a cada revelação, a confirmação de que tinha mesmo que ser você; de que um sonho tem sua grandeza e razão de ser; de que a esperança faz andança no coração da gente.

Vira e mexe ainda te pergunto por que você demorou tanto a vir, Bella. Vai ver tinha casa de vó lá em cima. Bisavó, aliás, duas vezes mãe com açúcar.

Sorte de quem convive de perto com a sua doçura, filha. E também com a sua luz, seu sorriso, sua emoção, seu jeito especial de ser, sua sensibilidade e personalidade forte. (Signo de escorpião, o famoooso signo de escorpião.)

Feliz de quem tem em você um jardim inteiro pra cultivar, pra amar esse primeiro de novembro que nasceu poema. Muita emoção te ver florescer a cada dia, a cada nova primavera. Feliz nascer, filha. Feliz de mim que tenho você na minha vida.

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<![CDATA[O homem (ou mulher) da sua vida.]]>https://rfeldman.web.app/o-homem-ou-mulher-da-sua-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affdfWed, 05 Oct 2022 15:18:06 GMT
O homem (ou mulher) da sua vida.
O homem (ou mulher) da sua vida.

Eles namoraram por três anos. Viveram momentos bons, tropeçaram em alguns momentos ruins, compartilharam a vida no que ela tem de melhor: afinidade, cumplicidade, graça, leveza, sintonia, amor, alegria. Bom dia, boa noite, “almoça comigo?”, segunda, terça, “te amo”, quarta, “sonhei com você”, quinta, sexta (“sextô!), sábado, domingo, “já tô com saudade”.

Até que um dia o namoro acabou. Do nada. Do tudo. Luto. Tortura.

Afora os pequenos desgastes ao longo do caminho, um grande abismo se abriu entre eles. Desconfiança. Quebra. Ausência. Falta. Abstinência de respeito, carinho, conversa, entendimento. Uma lenha na fogueira colocada por um suposto amigo incendiou tudo. Inveja? Maldade? Paixão? Interesse? Sem explicação, o namoro terminou numa noite de São João. ´”Olha a cobra!… É mentira!…”

Cada um seguiu (ou pelo menos tentou seguir) seu caminho, a partir das cinzas em que se transformou aquela relação. Ele caiu na vida, passou a configurar em todos os aplicativos, fez do passado ironia.

Ela fez terapia. Ioga. Entrou para a faculdade. Aula de canto. Academia. Levantou peso para aliviar o fardo, misturou suor e lágrima, fez do passado presente.

Há alguns dias, chegando ao final da sessão, ela me disse que estava tudo muito difícil.

– Eu ando, ando, ando. Vou longe, dou alguns passos, realizo algumas conquistas, conheço gente bacana, mas parece que acabo voltando sempre pro mesmo lugar: o lugar que ele ocupa no meu coração. Lugar de homem da minha vida, entende? E eu não sei se quero tirar ele desse lugar. Porque se eu deixar alguém entrar no meu coração, ele vai acabar ganhando o título de ex-namorado, e eu acho que isso é muito pouco pra ele. Ele é o homem da minha vida, Renata.

O tempo já havia acabado. A caixa de lenço também. Fim da sessão, tão mais simples que o fim de uma relação de amor. (Haja dor.) Olhei com ternura nos olhos da minha cliente e disse:

– Entendo, minha querida. É muito amor e muita dor dividindo espaço aí no seu coração. E, sim: ele foi o homem da sua vida naqueles três anos em que ele fez parte da sua história, da sua travessia… Pensando bem na sua linha do tempo, você ainda tem um longo chão pra caminhar, pra encher de amor cada trecho do caminho. Ainda há de chegar alguém que ocupe a parte mais iluminada do seu coração; na hora certa, quando tiver que ser… E por falar em tempo, infelizmente o nosso acabou, leve essa pergunta com você como “para-casa, para-vida”: onde foi parar a mulher da sua vida? Aquela que aprendeu (a duras penas, eu sei) a se amar em primeiro lugar? E que justamente por conta dessa escolha decidiu terminar um namoro que já não fazia mais sentido, pela forma abusiva e destrutiva como ele passou a existir? Olhe para o seu coração, faça uma busca cuidadosa, amorosa, gentil. Traga de volta a mulher da sua vida. Essa que está bem aí na minha frente, com os olhos embaçados, olhando pra mim.

]]><![CDATA[A criança que nos toca.]]>https://rfeldman.web.app/a-crianca-que-nos-toca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affdeTue, 06 Sep 2022 13:59:05 GMT

A criança que nos toca.
A criança que nos toca.

Teatro lotado. Silêncio instaurado. Músicos a postos.

No programa, Trio em si bemol maior, op. 11, de Ludwig van Beethoven. No palco, um violoncelista, um clarinetista e uma pianista de aproximadamente cinco anos de idade emocionavam o público com o seu talento.

Eu disse cinco anos, mas é brincadeira. (E num sentido quase literal, você vai entender logo adiante.) O consagrado violoncelista Antônio Meneses acaba de completar 65 anos, e veio justamente celebrar a data no Brasil. (Quem ganhou o presente fomos nós, com esse Oitavo Festival de Maio intitulado “Antônio Meneses & Amigos”, primorosamente dirigido por Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini.) O clarinetista Iura de Rezende e a pianista Elisa Galeano são casados, gente grande faz tempo, reconhecidíssimos também pelo seu trabalho.

E por que eu fui brincar com a idade desses gigantes da música? Porque foi isso o que eu vi na expressão deles: espontaneidade, empolgação, encantamento, leveza, “distração”, êxtase, alegria; uma concentração absoluta e lúdica de quem está fazendo algo muito importante, e nem vê o tempo passar; nem ouve a mãe chamar; nem se dá conta de que são apenas “três crianças”, cada qual com seu brinquedo favorito, juntas em um mesmo quarto, felizes por uma eternidade. (Dizem os especialistas que isso se chama felicidade.) Pois lá estavam eles, completamente imersos, o semblante cheio de graça; como se estivessem montando lego, allegro e adagio, na mais perfeita sintonia. Amigos, não foi esse o tema do festival?

E foi ali, naquele concerto de encher a alma, que eu também acordei a minha criança. E ela chorou de emoção com a peça Nina, de Francisca Aquino, lindamente tocada por Meneses ao lado da filha da compositora, Janaína Salles (para quem a mãe dedicou a música), e da brilhante pianista Rosiane Lemos, por quem tenho um carinho e admiração especial. (Ela pisa no palco e ilumina tudo com o sol que nasce dentro dela, mesmo já sendo noite.)

A primeira peça, também de Beethoven, infelizmente não consegui ver. A gente grande que vive em mim saiu direto do trabalho, pegou um trânsito pesado e teve que esperar a hora certa de entrar. (Eu e meu marido ficamos de castigo lá fora, misto de frustração e ansiedade, até os aplausos anunciarem que poderíamos finalmente adentrar o recinto e também fazer parte da festa.)

Ah, isso deve mesmo se chamar felicidade. Feliz de quem cresce sem deixar morrer a criança que foi um dia. Feliz de quem vira gente grande e continua a brincar de amar o que faz, tocando as pessoas por esse mundo afora. Pra mim faz todo o sentido. E pra você?

Tem colocado sua criança para brincar?

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<![CDATA[Um hipocampo inteiro pro meu pai.]]>https://rfeldman.web.app/um-hipocampo-inteiro-pro-meu-pai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affddSun, 14 Aug 2022 00:38:02 GMT
Um hipocampo inteiro pro meu pai.
Um hipocampo inteiro pro meu pai.

Tem certas memórias que a gente apagaria se pudesse. “Uma pílula da amnésia, nada mal”, ouço com frequência no consultório. Mas outras, ah!… Que bom que o nosso cérebro tem dois lobos temporais, um direito e outro esquerdo, e em cada um deles uma estrutura preciosa chamada hipocampo. É lá, nesse verdadeiro porta-joias cerebral, que estão guardadas as memórias mais valiosas que guardo do meu pai, resgatadas hoje como presente nesse segundo domingo de agosto:

  • Ele já separado da minha mãe, tocando a campainha de casa pra me ver, e eu correndo em direção à porta, memória maaais que remota.
  • Ele me tirando do banho na casa do vovô e me aconchegando no colo com aquela toalha de capuz e orelhas de urso.
  • Ele me me vendo dançar quadrilha na festa junina.
  • A gente se divertindo na roda gigante do Parque Municipal. E também no trem-fantasma e no minhocão do Parque Guanabara.
  • Eu fazendo xixi de tanto rir com um caso engraçado que ele contou.
  • Ele me levando no circo, inesquecível.
  • Nossa viagem de Araxá para BH, ele dirigindo e eu dormindo no banco de trás do carro.
  • Ele me esperando na porta da escola, com a melhor cara do mundo e uma sacola cheia de guloseimas.
  • Ele comprando biju e bala chita no sinal de trânsito.
  • A gente tentando adivinhar o formato das nuvens.
  • Ele me pedindo para pôr data em cada cartão que eu escrevia pra ele. (E não foram poucos…)
  • A gente brincando de esconde-esconde no clube.
  • Ele me flagrando dançando música lenta com um namoradinho ao me buscar na festa.
  • Ele conhecendo o namoradão que acabou se tornando pai dos netos dele.
  • Os irmãos (fofoooos!…) que ele me deu de presente.
  • Ele me levando pro altar, quase tropeçando de emoção.
  • O sorriso que ele abriu quando os netos nasceram.
  • Os WhatsApps nossos de cada bom dia.
  • A deliciosa troca de livros.
  • Os caramelos de chocolate que fazem sucesso no consultório.
  • Os cafés da manhã de domingo, sempre uma alegria.

Que a gente continue armazenando memórias as mais lindas no nosso hipocampo, pai. Obrigada por fazer parte da minha vida uma vida inteira, muito antes de eu dar o ar da graça nesse mundo.

Feliz Dia dos Pais! Te amo infinito. ❤️

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<![CDATA[Da porta pra fora.]]>https://rfeldman.web.app/da-porta-pra-fora/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affdcSun, 31 Jul 2022 21:52:44 GMT
Da porta pra fora.
Da porta pra fora.

Algumas pessoas costumam estranhar. “Duas portas?” Sim, e com revestimento acústico, para que nada que se fale aqui dentro seja ouvido lá fora. Nem por uma mosca, costumo dizer.

Sim, segredo é sagrado. Basta uma pequena mudança de vogal para expressar a dimensão que é se assentar diante de alguém e escutar o que o seu coração, tantas vezes espremido e abarrotado, traz. Seja o passado, o presente, o futuro tão cheio de incertezas. Seja a dor, o amor, a culpa, o medo, a tristeza, o desespero, o dissabor. Seja não saber ainda quem se é, ou o que se quer. Seja simplesmente olhar para o chão e chorar, sem nada precisar dizer.

É nessa sala cheia de almofadas, segredos, flores, livros e potes de sentimentos na estante que transformações profundas começam a se processar, muitas vezes de forma silenciosa e imperceptível.

De uma semana a outra, não é raro que eu escute:

– Você falou uma coisa na sessão anterior que não saiu da minha cabeça…

– Você acha que eu vou dar conta? Que eu posso mesmo ter esperança?

– Tive um insight. Daqueles!…

– Ainda não estou vendo mudanças… Eu queria tanto que as coisas acontecessem mais depressa… Que um milagre acontecesse.

– Aqui fica tudo claro pra mim, simples de entender… mas na hora de colocar em prática é tão difícil…

Terapia é um processo fluido. É dia e noite, um dia de cada vez, tempestade e calmaria, rio a desaguar no mar. É encontro consigo mesmo. É descobrir aos poucos quem você é. É se implicar com as suas questões mais internas, mais escondidas, para lidar melhor com as questões que a vida te convida a viver: relacionamentos, conflitos, buscas, vazios, interrogações, abismos, encontros e desencontros.

Da porta pra dentro, refúgio. Janelas abertas para o sol entrar. Da sala pra fora, trabalho. Trabalho árduo, mãos à obra, é da porta pra fora que a terapia realmente começa.

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<![CDATA[Banalizanão]]>https://rfeldman.web.app/banalizanao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affdbSun, 17 Jul 2022 20:38:45 GMT
Banalizanão
Banalizanão

Não, você não leu errado. Nem eu cometi alguma falha de digitação por aqui. A troca da cedilha por n traz de imediato um apelo, um “acorda”, uma recusa à banalização que tenho visto acontecer de tantas maneiras por essa vida afora.

Coisas preciosas têm entrado no rol da banalização: amor, sexo, morte, a própria vida. E como parte da vida os problemas, as relações, as escolhas, o cuidado, (a falta de cuidado), a comunicação.

Vai-se vivendo no automático muitas vezes. E de forma narcísica também: eu, eu, eu. Vai-se perdendo de vista a dimensão de alteridade que nos cerca, a noção de empatia que nos habita – ou pelo menos deveria nos habitar.

O eu é precioso, de uma importância singular. (Mas não é só, está longe de ser uma ilha. Vira e mexe esbarra na singularidade do outro, tire o t e vira ouro. Valioso também.)

Escuto casais banalizando a própria história; se perdendo num bom dia (péssimo dia), se desgastando em discussões vazias; cotidianamente se desencontrando, se machucando, silenciosamente se desamando.

Escuto pais sem saber o que fazer com os seus filhos, numa total quebra de hirerarquia. Os pequenos gritam, batem, xingam. Imploram por socorro, clamam por limites.

O sexo acontece e desacontece, muito prazer. E viva a indústria farmacêutica que inventou a pílula do dia seguinte.

Crianças rebolam ao som de funk para papai e a mamãe filmar. A erotização precoce é viralizada e aplaudida nas redes sociais.

Alguém morre, no velório choram sua partida. Lá fora um pouco de ar e muito barulho, conversa jogada fora, quem sabe até uma piada para descontrair.

Fora as questões mais delicadas e imensas, as pequenas ocorrências do dia-a-dia: banalização do respeito no trânsito, falta de educação do vizinho, falta de retorno no WhatsApp. Até cartas de amor – tão raras nos dias de hoje – quem diria, têm ficado sem resposta. Como se não existisse relação de causa e efeito. Como se não existisse relação.

“Paciência”, é o que nos pede Lenine no título de uma de suas canções que traz como refrão: “A vida é tão rara”.

Pois que ela seja, Lenine. Que continue sendo, preciosa e rara. A despeito de tanto banalização que ando vendo e ouvindo por aí.

]]><![CDATA[Dor de filho]]>https://rfeldman.web.app/dor-de-filho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affdaSun, 29 May 2022 22:00:14 GMT

Dor de filho
Dor de filho

Esse texto seria para o Dia das Mães, mas a mãe que o escreve chegou atrasada por aqui. O rascunho guardado na gaveta deu o ar da graça hoje, lembrando que alguns assuntos prescindem de datas comemorativas. São atemporais.

Filhos não vêm com manual, você certamente já ouviu esse clichê. Mães também não. É na prática que elas vão aprendendo a dar o peito, curar o umbigo, dar a raça, reconhecer o choro de fome, fralda, frio, dor.

Ah, a dor. De barriga, ouvido, dente, escola, tombo, luto. Dor de negociar a chupeta com o Coelhinho da Páscoa, de ouvir que a avó virou estrela, de lidar com a ausência do amigo que mudou de escola. Dor de crescimento, não detectada no raio-x do ortopedista.

E aí eles crescem, vão ficando fortes e autônomos, como deve ser. Mas não imunes a algumas dores que se infiltram no coração como água de chuva abrindo trincas na parede.

Barbra Streisand, em sua canção “If I could” (Se eu pudesse), traz alguns versos que aludem à dor de ver um filho sofrer: “Se eu pudesse, te protegeria da tristeza em seus olhos. Te daria coragem em um mundo de compromissos. Sim, eu o faria. Se eu pudesse. Te ensinaria todas as coisas que nunca aprendi. E te ajudaria a atravessar as pontes que queimei. Tentaria proteger sua inocência do tempo. Mas a porção de vida que eu te dei não é minha. Te vi crescer, então poderia te deixar ir. Se eu pudesse te ajudaria a superar os anos difíceis. Mas sei que nunca poderei chorar em seu lugar. Mas eu o faria. Se eu pudesse.”

Quantas mães não se juntariam para entoar esse canto? Hino de amor e pranto. Empatia doída que ao mesmo tempo esbarra na impossibilidade de uma ação prática, concreta. Nem remédio, bolsa de água quente, mertiolate ou antibiótico. Pretérito imperfeito do subjuntivo, o “se eu pudesse”. Dor de filho lateja nas quinas do coração. Ai. Como dói.

As noites em claro dos primeiros anos tomam outra configuração a certa altura da vida. No silêncio da casa, o abajur aceso dá conta de outras demandas. Ilumina o percalço dos dias, abençoando os caminhos difíceis. Mãe tem o poder da bênção, essa é outra canção linda que a gente pode entoar. Ao lado da dor mora também o amor, em quartos conjugados.

O que machuca também ensina, direciona, faz crescer. Filhos precisam voar, mesmo que de asas quebradas. Até alcançarem o sol, depois de tantos dias nublados. Esse é o melhor presente que uma mãe pode ganhar, independente do dia: felicidade de filho.

]]><![CDATA[Elton John me tocou]]>https://rfeldman.web.app/elton-john-me-tocou/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd9Sun, 17 Apr 2022 19:12:28 GMT

Elton John me tocou
Elton John me tocou

Eu nunca fui muito fã de Elton John, confesso. Nenhuma paixão, nada contra também. Já tive a oportunidade de ir a um show dele, não fui. Também não assisti a “Rocket Man” no cinema quando o filme estreou há três anos atrás. (O do Queen, Bohemian Rhapsody, lançado um ano antes, não só assisti como escrevi sobre ele aqui, tomada de forte emoção.)

Até que um dia, numa troca de mensagens por Whatsapp, me deparei com uma sugestiva indicação do filme. Quem me deu a dica foi a jornalista Solange Calvo, que é uma das co-autoras do “O Livro das Cartas”, do qual também faço parte.

Na ocasião, mandei a ela uma mensagem parabenizando-a pela carta linda – de doer – que ela escreveu para a mãe que estava morrendo. Ao me agradecer, ela disse: “Foi uma libertação. Fiquei emocionada com a sua mensagem. E se tem pais vivos, não deixe para depois qualquer ajuste.”

“Imagino, Solange. Tive essa sensação de libertação por você, acho que captei seu coração. Sim, tenho pais vivos e agradeço todos os dias por isso. São muitas as linhas e entrelinhas, não é? Cada pai e mãe daria um livro.”

Uma hora depois, veio dela um retorno lindo sobre a minha carta. (E é aí que entra Elton John na história):

“Amei a sua carta também, e o seu estilo de escrever. Ler uma carta endereçada a uma terapeuta, escrita por outra terapeuta, confesso que me deu um arrepio. Corro de terapia faz tempo. As poucas que fiz eu sabotei cada encontro. Escondi o medo de tirar do baú aquela menina assustada que tranquei lá. Escondi de mim, da terapeuta e do mundo. Primeiramente, porque era difícil e confuso por um bom tempo. Depois porque passei a culpá-la de muitas coisas. Deixei quieto. Até que fui assistir ao filme do Elton John, que começa justo com uma terapia em grupo. Não é roteiro criado. É fato. Nessa terapia, no final, ele perdoa o garotinho frágil e assustado que ele foi. Foi isso que aconteceu comigo ao escrever essa carta. Revisitei meu passado aprisionado. Resgatei aquela menina, conversei com ela, dei colo e a perdoei, de verdade. E então me libertei.”

Ontem assisti ao filme, e as mãos já foram coçando para escrever. (Da mesma forma que as mãos de Elton John devem coçar para tocar, só pode.)

Antes de dar vazão ao coração, mandei uma mensagem para a Solange pedindo a ela autorização para reproduzir aqui a nossa conversa.

Obrigada, Solange. Pela dica preciosa do filme. Pelas trocas tão especiais e lindas. Pela compaixão que senti por Elton John ao conhecer a sua história; por sua capacidade de transformação, cura e ressignificação da própria vida. Pela vontade que tive de pegar aquele menino no colo e levar pra minha casa. Pela confirmação de amor à minha profissão e pela certeza de que todos nós carregamos conosco a criança que fomos um dia. E o quanto é maravilhoso saber que podemos ir ao encontro dessa criança, abraçá-la com ternura e dizer: “Passou, minha querida!… Passou.”

Um dia depois de assistir ao filme, e com o livro já encomendado, continuo ouvindo Elton John enquanto escrevo para você. São com outros olhos que o vejo agora, e outra escuta também. Fiquei profundamente tocada. Fiquei fã.

]]><![CDATA[Guerra e paz]]>https://rfeldman.web.app/guerra-e-paz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd8Sun, 20 Mar 2022 19:37:40 GMT

Guerra e paz
Guerra e paz

Arrume suas coisas. Rápido. Apenas o essencial. Deixe seus pertences pra trás. Travesseiros, xícaras, plantas, livros, porta-retratos, fins de tarde, fim de uma vida inteira. Leve com você urgente – corra! – seus amores, suas dores, sua esperança de que um dia haja uma volta pra casa. Haja coração. Aja. Corra.

Poderia ser você. Na Ucrânia. Poderia ser a sua família, exercício de empatia. Foi meu tataravô, há muitos e muitos anos atrás, nascido em Kiev, fugindo não da guerra, mas da perseguição dos czares russos. (E isso não seria uma guerra?)

Rússia versus Ucrânia, século 21, fevereiro de 2022. Eu juro que achei que a gente fosse parar na Segunda Guerra Mundial. Que os livros de história teriam apenas que voltar no tempo, e não prosseguir com ele nestes termos: bélico, belicoso, combatente, beligerante. Atacar, fogo. Bombas. Destruição. Dor. Destroços. Guerra.

Dia desses liguei o jornal na hora do almoço. Filé ao molho de lágrimas acompanhado de consternação. Velamos no horário nobre a paz dando seus ´últimos suspiros. Depois de um vírus que matou milhões de pessoas em todo o mundo, esse era definitivamente o tipo de notícia que a gente não precisava.

Termino o almoço, desligo a TV, volto para o meu refúgio. E é paradoxalmente na escuta de outras tantas “guerras”, dores, conflitos – com o outro e consigo mesmo – compartilhados comigo na sala 804 que ela, a minha paz, finalmente se refaz.

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<![CDATA["A filha perdida"]]>https://rfeldman.web.app/a-filha-perdida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd7Sun, 30 Jan 2022 22:23:10 GMT
"A filha perdida"
"A filha perdida"

Sim, a maternidade pode não ser nada cor-de-rosa. Nada de “bebê Johnson”, mãe coruja, nada de paraíso. Muito de padecer. Despedaçar-se. Nada de flores. Tudo de dores. Muitas. As mais diversas. As mais profundas.

Vi um pouco disso no meu mestrado, quando fui pesquisar “As várias faces da mãe contemporânea”. Vi um muito disso no belíssimo filme “A filha perdida”, adaptado do livro de Elena Ferrante.

As várias faces da mãe contemporânea? Culpa, dedicação, esgotamento, normas a serem seguidas, transformações a serem vividas, conflitos e ambivalências. Muitas ambivalências. “Maternidade é a melhor coisa do mundo. E a mais difícil também”, palavras de uma das minhas entrevistadas.

“A filha perdida”? Ou seria “a mãe perdida”? Perdida, confusa, sufocada, aprisionada, impaciente, exaurida, tensa, irritada, enlouquecida, angustiada, fragmentada, mergulhada no seu mais profundo desespero. Ela ama, ela odeia, ela clama por liberdade. Ela abandona as duas filhas.

Restou-lhe brincar de boneca, talvez. Cuidar de boneca é mais fácil que cuidar de filho. Restou-lhe brincar ou brigar com as suas memórias. Reconciliar-se com elas, talvez.

Das telas para a realidade, dois lados. Como tudo na vida.

Refugiadas entre as quatro paredes do meu consultório, ouço mães que choram. Que falam. Que engasgam, emudecem, enternecem de amor por seus filhos. Que abrem sorrisos largos. Que gritam a sua dor. Que tecem a maternidade com poesia. Alegria. Lamento. Dor. Dissabor. Que buscam apenas se encontrar, perdidas que estão.

Sua vida daria um filme.

]]><![CDATA[Beijo de cinema]]>https://rfeldman.web.app/beijo-de-cinema/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd6Sat, 08 Jan 2022 08:08:32 GMT

Beijo de cinema
Água benta
Bem-querer
Bem-nascer

Deus sussurra baixinho
Para quem quiser ouvir
Para quem quiser sentir 
Paz 
Faz

Fartura
Abundância 
Vinho di Manduria 
Canto de esperança 

Céu e mar se encontraram 
Se harmonizaram
E no entardecer se despediram 
Com um beijo demorado. 

















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<![CDATA[Breve reflexão para um Feliz Ano Novo.]]>https://rfeldman.web.app/breve-reflexao-para-um-feliz-ano-novo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd4Thu, 30 Dec 2021 23:44:45 GMT
Breve reflexão para um Feliz Ano Novo.
Breve reflexão para um Feliz Ano Novo.

“Tudo bem?”

“Não. Mas estou em paz, Renata. E talvez isso seja o mais importante.”

Colhi essa resposta de um cliente ao recebê-lo à porta do consultório, seguindo o cordial protocolo de cumprimento que aprendemos desde sempre, e gostei do que ouvi. Primeiro pelo sentimento que ele trouxe junto à resposta: paz é palavra linda de ouvir e sentir, sempre; segundo pela verdade (realidade) que a frase carrega, a partir do “não” que a principia. “Tudo” é muita pretensão, preciso concordar com ele. A vida não é perfeita, disso já sabemos. É feita de tantos territórios – saúde, família, trabalho, relações amorosas, amizade – que seria muita ilusão responder que sim a um “Tudo bem?” logo na entrada de um consultório de psicologia. (Especialmente lá, onde as verdades mais nuas e cruas, pra lá de profundas são compartilhadas).

Quando meu cliente finalmente se assenta, já de posse de um copo d´ água ou café (ou quem sabe uma caneca de chá, para alimentar a paz que vai ao coração), olho bem nos seus olhos e pergunto: “Como está você?” (…)

Dessa pergunta nascem as respostas mais incríveis, mais doídas, mais lúcidas ou confusas, mais fascinantes e angustiantes, mais cheias de entusiasmo ou desesperança, conforme a vida e o olhar de cada um. E é este mesmo olhar que faz com que o copo esteja meio cheio ou meio vazio, como dita o bom e velho clichê.

Por outro lado – e isso poderá soar um pouco paradoxal – há um “tudo bem” no afirmativo que ando dizendo com naturalidade e convicção, aconchegada pela verdade que ele também por sua vez carrega. Comecei a pensar nisso desde que a minha filha assistiu ao Toy Story 4 e chegou em casa aos prantos pelo final nada feliz. Ao pesquisar um pouco mais sobre o filme, encontrei a seguinte manchete da Folha de São Paulo: “Em Toy Story 4, amigos se separam. E tudo bem.”

E é aí que um “tudo bem” se encontra com o outro. Justo quando a vida se mostra imperfeita, “desmargarinizada”, tal qual ela é, com todos os seus desencontros e desapontos, frustrações e impossibilidades, vem a aceitação pra nos dizer que “ok, é assim, acontece, faz parte, o mundo não vai acabar, toca o barco, tudo bem”.

Para e pensa. O que anda acontecendo na sua vida em que caberia muito bem um “tudo bem” ao fim da frase?

O Natal não foi exatamente do jeito que você queria. E tudo bem.

Aquele moço bonito não te procurou mais. E tudo bem. (Apesar de doer muito ainda.)

Aquela encomenda não chegou a tempo. E tudo bem.

Você não conseguiu se despedir da sua mãe. E tudo bem. (Apesar do coração que se despedaça um pouco a cada dia.)

Estando tudo bem ou não, dependendo do ponto de vista, volto para você a pergunta lá de cima: “Como está você?”

Desejo que em paz, especialmente nessa contagem regressiva que nos levará a todos para um mesmo lugar chamado 2022. Que seja esse o nosso número da sorte, nosso talismã, senha segura para o afeto, alegria, esperança, leveza, humanidade e realizações as mais especiais.

Foi muito bom dividir mais um ano com você. Será também.

Feliz 2022!

]]><![CDATA[Amor. Amém. Mazal Tov!]]>https://rfeldman.web.app/amor-amem-mazal-tov/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd3Mon, 20 Dec 2021 21:17:19 GMT

Amor. Amém. Mazal Tov!
Amor. Amém. Mazal Tov!

O ano vai dando seus últimos suspiros e a gente acaba confirmando, com unanimidade e propriedade de causa, a frase estampada na primeira página do meu calendário: “O tempo passa. Feito passarinho.”

Arrumo as gavetas, guardo caixas de memórias, faço minha retrospectiva particular. Ao preparar o ninho para mais um ciclo, pouso minha emoção em um dos momentos mais lindos que vivi este ano: o Bat Mitzvá da minha filha, adiado em função da pandemia e pelo mesmo motivo realizado em uma cerimônia pequena, intimista, mas guardada pra sempre no coração.

Este post é para você, minha Bella. E para a posteridade também. Antes de me despedir de 2021, deixo aqui o discurso que li para você, celebrando não só a sua maioridade judaica como também todos aqueles que vieram antes.

Daqui a alguns anos, quando você estiver preparando o Bat Mitzvá da minha neta, quem sabe, o meu texto estará aqui para te inspirar. ❤️



Filha querida,

Escrevo para você ouvindo Chopin, compositor preferido da sua bisa Bella, nossa amada e eterna pianista, razão especial do nome que você carrega.
A música me inspira… a nossa ancestralidade me guia. Quanta saudade. Quanta emoção.




Olho para você e vejo um tanto de mim, do seu pai; seu irmão, seus avós, família: sinfonia de amor sem fim. Olho para você e te vejo no meu colo, aqui nesta mesma sinagoga, há treze anos atrás, quando celebramos o seu Brit Lebat. Olho para Deus, tão bem guardado aqui dentro de mim, e agradeço pela dádiva que foi (que é) ter você na nossa vida, depois de muito mais de nove meses de espera. Ahh, como eu te esperei, Bella!… Como eu conversei com Deus e pedi por você, meio que sem entender essa sua demora. E como eu agradeci pela sua chegada, quase um milagre, tanto tempo depois. Essa história eu já te contei várias vezes, no doce ritual da hora de dormir, naqueles minutos abençoados de conversa, afeto e ternura que antecedem o apagar das luzes e o Shemá Israel. Eu sempre terminava a história com a tradicional pergunta: “Por que você demorou tanto, Bebella?” (Como se você pudesse me responder, me contar os mistérios dessa
vida.) Mas melhor que a pergunta era a conclusão que até hoje eu não canso de dizer: “Ahh, valeu a pena esperar!…”

E por falar em espera, aqui estamos nós, juntos na emoção de finalmente celebrar o seu Bat Mitzvá, adiado por motivos de força maior. Parodiando Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tinha uma pandemia”. Fico imaginando seu biso Jaime, sentadinho na sua mesa do escritório (que é pra onde ele ia religiosamente todos os dias, até o fim de sua vida), debruçado sobre os jornais, lendo a notícia de um vírus que parou o mundo. O que ele diria? E seu biso Zé, pneumologista de mão cheia, pioneiro no tratamento da tuberculose, que estudos faria? Quantos pulmões ele ajudaria a curar, se aqui estivesse?

Que alegria podermos nos reunir aqui hoje com saúde para te ver trilhar um caminho permeado de significado, tornando-se hoje uma legítima filha do mandamento. Mandamento de amor, Bella. É isso, em resumo, que o Eterno nos ensina e nos convida a colocar em prática, todos os dias da nossa vida, do amanhecer ao anoitecer. Ser: uma pessoa boa, do bem, de coerência e verdade; amar, honrar seus pais e todos aqueles que vieram antes, levar seus valores adiante. Amar, nunca é demais dizer.

Olho para você (não me canso de olhar) e vejo luz. Olho para o céu e vejo, entre tantas estrelas, uma de nome Estela, outra bisavó que você também não teve a alegria de conhecer. Dela veio a melhor torta de morango com suspiro do mundo. Deve ser de lá também que veio a sua doçura.

E nessa conjugação de estrelas e raízes floresce você, Bebella. Mistura de paz, amor, alegria. Menina de personalidade forte, segura de suas escolhas e extremamente justa nas suas posições; sensível, dedicada, gentil, generosa e humana. Amiga de todos, conciliadora e apaziguadora de conflitos; dona de um lindo jardim de suculentas, cactos, barbas de moisés, entre outras plantas que você cuida com todo o carinho; dona de uma estante colorida de livros que representa bem o nosso povo; dona de um par de chuteiras que te move a fazer gols, tendo ao seu lado o melhor técnico do mundo; e de um All Star que é seu companheiro invicto nos melhores momentos da caminhada.

Termino por aqui minhas palavras de amor a você, minha menina-flor, certa de que o ponto final se transforma em reticências, assim como a noite se transforma em dia. Te abençoo, filha, na continuidade de uma história que agora ganha ainda mais sentido com o que estamos vivendo aqui hoje.
Que o Eterno te ilumine e te abençoe a cada passo dessa grande travessia. Amém. Amor. Mazal Tov!

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<![CDATA[105 anos]]>https://rfeldman.web.app/105-anos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd2Fri, 10 Dec 2021 12:45:23 GMT
105 anos
105 anos

Hoje meu avô faria 105 anos. Faria, conjugação do verbo fazer, futuro do pretérito indicativo, terceira pessoa do singular. Ahh, e tão plural ao mesmo tempo. Como caber no singular alguém que foi (que é) tão importante assim? E eu não estou falando só do médico pneumologista, antitabagista ferrenho, pioneiro no tratamento da tuberculose, colunista do Jornal Estado de Minas, professor catedrático da UFMG. Não, eu estou falando do avô que comprava Toblerone pra mim quando eu ia dormir na casa dele, sexta sim sexta não. Aquele que jogava dominó comigo depois do Jornal Nacional (e ai de mim se conversasse nessa hora, ouvia um belo de um “shhh!”). E – sim – estou falando do avô que me levava na extinta Sorveteria Touché aos domingos, e por lá tecíamos nossa cumplicidade de neta e avô. E que também me buscava no seu voyage branco com cheirinho de novo (quase não saía da garagem) para irmos ao Palácio das Artes, ouvir Nelson Freire. (A essa hora os dois devem estar trocando ideias sobre música, ao lado da pianista polonesa mais linda que ele já conheceu na vida: minha avó. E ele deve estar repetindo, como incansavelmente repetia: “Eu acredito em Deus e em Bach!”).

Há o tempo verbal e o tempo do coração. Este não cessa nunca, é rio corrente que jamais muda o curso, torrente de emoção desaguando em mim e em todos aqueles que vieram depois. (Ah, meus filhos, uma pena vocês não terem conhecido o Biso Zé. Pelo menos ganharam essa foto com eles, montagem da vovó Clara que quase me matou de emoção.)

Passei hoje na rua onde você morou tantos anos, vô. No lugar da casa, um prédio alto. Desmanchei andar por andar no meu pensamento e lá estava eu, de volta, do alto dos meus 12 anos, dependurada no portão doida pra te ver. (Muitas vezes voltava frustrada pra casa, porque você religiosamente desligava a campainha quando ia dormir.)

Passei hoje na Clínica (passei e fiquei, o expediente hoje vai até às oito!) e fiquei olhando para a placa que leva seu sobrenome, homenagem mais linda que a gente podia prestar não só a você, mas a cada um dos nossos clientes. Com amor à psicologia, às pessoas, ao cuidado e ao acolhimento, a Feldman segue de vento em popa por aqui, vô. O que não falta é trabalho.

Pois hoje vai ter festa no céu. Orquestra de Bach, fettuccine a carbonara, picolé Chicabon de sobremesa. E a gente vai repetir a música e o cardápio por aqui, presenteando você com essas pequenas coisas da vida que são tão grandes e tão preciosas. Pequenos momentos de grande felicidade, sempre digo por aqui.

Parabéns, vô. Te levo sempre comigo.

]]><![CDATA[Saudade]]>https://rfeldman.web.app/falta-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd1Sun, 17 Oct 2021 21:56:19 GMT

Saudade
Saudade

Oi, quanto tempo. Como está você? A quantas anda? Espero que esteja bem.

Pulei setembro, outubro já está de malas prontas, não sei mais o que fazer para acalmar essa ventania dos dias, meses, horas. Quanta pressa em ir embora, não para nem pra tomar um cafezinho. Respira, calma, pausa, alma. Pra que tanta correria, Senhor Tempo? Não quer se assentar um pouco? Faço um cappuccino no capricho, especialidade da casa, só dois minutinhos. Ou prefere um chá de camomila com baunilha e mel, para se acalmar? Acho que vou pôr uma música. Quem sabe um Noturno de Chopin para você adormecer tranquilo? Bons sonhos, Senhor Tempo.

Pronto, dormiu. E agora que estamos aqui, sem hora pra ir embora, me diga: como vai você? Quanta saudade. Do papel, da caneta, dos seus olhos, dos rascunhos que moram em mim.

Fico muito tempo sem escrever e vai me dando uma estranheza. Vou padecendo de falta de vírgulas, pontos, palavras. Vou ficando sem ar, sem mar, sinto falta de mim.

]]><![CDATA[Medalha de ouro]]>https://rfeldman.web.app/medalha-de-ouro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affd0Sun, 01 Aug 2021 21:51:23 GMT

Medalha de ouro
Medalha de ouro

Alguma vez você já experimentou a sensação aguda, pontiaguda, de estar no limite? (Ou para muito além dele?) A sensação de esgarçar a corda, romper as coronárias, vomitar a própria angústia?

Quantas vezes você já gritou por dentro, pediu socorro, chorou no chuveiro, encharcou o travesseiro com sua dor gigante, abissal, imensa?

Quantas vezes você se cobrou demais, foi além da conta, fez de conta que estava tudo bem quando na verdade estava tudo mal?

Espero que esteja tudo bem com você. E se passou perto de algum desses parágrafos acima, torço para que tenha se cuidado.

A ginasta Simone Biles fez este movimento (desta vez não artístico-corporal, como de praxe, mas acima de tudo emocional e ao mesmo tempo racional) ao desistir de disputar a final das olimpíadas. Surpreendendo todas as expectativas, todos os holofotes, todo um passado que a condecorava, ela desistiu. Levou a medalha de ouro por reconhecer, privilegiar e especialmente acolher sua grande porção de humanidade. Essa que sente, sofre, se fragiliza e muitas vezes entra em pane. Essa que é imperfeita por natureza e que nos oficializa seres humanos, muito mais que máquinas.

Ao tomar esta decisão, Simone tomou a si mesma acima de tudo. Compartilhou com o mundo a grandeza e a coragem de se colocar em primeiro lugar. E isso é de uma preciosidade, de um valor que a gente precisa carregar no peito. Feito medalha de ouro.

]]><![CDATA[Respira. É um AVC]]>https://rfeldman.web.app/avc/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affcfMon, 12 Jul 2021 22:16:54 GMT

Respira. É um AVC
Respira. É um AVC

Saber que a minha professora de ioga teve um AVC quase me deixou sem ar. Que susto. E que emoção encontrá-la poucos meses depois, sentadinha no seu “tapete mágico”, me esperando para mais uma aula. Respiração lenta e profunda, suspiro de alívio, quanta alegria. Que bom que você voltou, Helem.

Como eu já contei no post anterior, acabou que quase não teve aula esse dia. Trocamos o silêncio pelas palavras. Eu queria muito saber como ela estava, ouvir o que aconteceu, me conectar a essa emoção. O relato foi tão bonito que veio parar aqui.

Tudo começou numa quinta-feira, com uma notícia ruim: a morte de uma aluna de apenas 30 anos que não sobreviveu a um transplante de fígado. Esse parece ter sido o grande gatilho emocional em meio a toda uma turbulência que Helem já estava vivendo: mudança de casa, muito trabalho (presencial e online), estresse, cansaço. Tudo isso acumulado em um contexto de medo e tensão chamado pandemia. Tudo isso atrelado a um outro contexto anterior (irrompido há três anos mas que já se arrastava há cinco), envolvendo um evento doloroso e traumático na sua vida pessoal. Respira.

Naquela quinta-feira sua cabeça doeu: forte, associada a uma sensação de labirintite. (Muito parecida com a dor física – além da emocional – que sentiu há três anos atrás). Buscou ajuda na homeopatia, tomou remédio, trabalhou normalmente. Na sexta foi para o Sítio Sertãozinho, próximo a Belo Horizonte, onde costuma desenvolver um trabalho terapêutico nos finais de semana.

Chegando lá buscou descansar, mexeu com argila, entrou na caixa orgônica (uma caixa terapêutica que concentra a energia vital da natureza e auxilia no tratamento de diversas enfermidades), e organizou alguns detalhes do curso. Os participantes foram chegando e recebidos com conversa e escalda pés. Helem ainda se sentia um pouco estranha, mas acreditando mesmo se tratar de labirintite. A partir daí uma sucessão de fatos foi confirmando que algo não estava bem. Na hora do jantar, foi se servir e seu prato simplesmente virou, deixando cair toda a salada no chão. Dormiu e acordou com dor de cabeça; a sensação é que sua fronte esquerda borbulhava feito sal de fruta. Helem se percebia estranha, lenta, bamba, sentindo como se o chão estivesse longe. Sem condição alguma de trabalhar, passou as atividades para uma colega e tratou de ficar mais quieta. Domingo pediu para o marido buscá-la, queria ir para casa. Ao insistir na sua hipótese diagnóstica (“Acho que é labirintite”), recebeu a resposta enfática do filho: “Mãe, não dá para você ficar achando mais nada. Agora você precisa é ter certeza. Vamos te levar para o hospital.”

E assim foi. Hospital em tempos de pandemia, seja o que Deus quiser. Para seu alívio o pronto-atendimento estava vazio: ela foi a segunda ser atendida, logo depois de uma moça com síndrome do pânico.

Assim que o médico auferiu sua pressão, encaminhou-a imediatamente para uma ressonância magnética. Mal foi saindo do tubo, ouviu o doutor dizer à enfermeira para preparar um box no CTI, onde ficou por três dias. Saiu do hospital com o diagnóstico de AVC (embora sem uma explicação muito precisa do que pode tê-lo desencadeado) e um encaminhamento para o cardiologista. Fez fisioterapia, acupuntura, seguiu firme com a homeopatia. Nas horas vagas contemplava a vida pela janela e dormia. Muito. Alheia a tudo, não queria saber de conversar. Apenas dormir, restaurar suas forças, sonhar. Restou uma fraqueza no braço direito, e só. A perna do mesmo lado já está normal.

Olhando para trás, Helem consegue perceber leveza – e até beleza – no seu AVC. Para além de todos os fatos, sintomas, desconforto e estranhamento vivenciado em todo o processo, a sensação é que ela entrou meio que em um estado alterado de consciência, que ela chamou de “nuvem”. Por exemplo quando o filho quis levá-la ao hospital; ou quando o médico pediu o exame de ressonância magnética e depois a encaminhou ao CTI: situações que ela naturalmente contestaria, por vezes questionaria, mas apenas e naturalmente resolveu aceitar, se entregar no bom sentido, se deixar levar pelo movimento. Se ela fosse resumir a experiência, seria: “Tudo está do jeito que tem que estar.” Essa postura de neutralidade, de um tipo de mente que a gente aprende na ioga, tem acompanhado Helem nos seus dias, no seu cotidiano, diante de tudo o que acontece como limitação, desencontro, dissabor, imprevisto.

Olhando para trás, ela volta ainda mais lá atrás, no fatídico episódio que marcou sua vida há 3 anos. O susto foi tão grande que parece ter bloqueado sua emoção; o choro ficou guardado, trancado, contido. Ao invés de elaborar a dor, Helem trabalhou como nunca, muito provavelmente para se distrair do problema. Os neurologistas não conseguiram explicar o que desencadeou seu AVC, mas talvez ela mesma saiba. Quem sabe a dor foi tanta que se acumulou nos vasos sanguíneos, e eles acabaram se rompendo. Rompendo para não acumular mais nada, desatar, desaguar, deixar ir.

E foi lá, “na nuvem”, que ela avistou o sol. Aquele mesmo sol com que ela evoca o fim de cada aula, de onde eu saio leve e restaurada para mais um dia de trabalho: “Que o eterno sol te ilumine, que o amor te envolva, que a luz pura interior guie o seu caminho.”

Termino o post e respiro fundo. Pulmão, cérebro, coração. “Tudo está do jeito que tem que estar”.

Obrigada, Helem. Por te guardar aqui comigo, por compartilhar sua história com o mundo, por nos ensinar tanto. Sat Nam, cuide-se bem.

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<![CDATA[Respira]]>https://rfeldman.web.app/respira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affceSun, 27 Jun 2021 21:49:06 GMT
Respira
Respira

A ioga foi uma daquelas resoluções de Ano Novo, na virada de 2015 para 2016, que eu tive a alegria de realizar. Saí da primeira aula sentindo uma coisa boa, uma sensação de que estava “de volta pra casa”. Não que eu estivesse fora, mas foi muito importante lembrar que eu também tenho uma casa aqui dentro, com janela aberta pra alma, e que se ilumina sempre que eu fecho os olhos.

Em um mundo cada vez mais denso, automatizado e acelerado, nada como parar um pouquinho para respirar, “apenas” respirar. Nada como terminar a aula ouvindo a professora dizer: “Que o eterno sol te ilumine, que o amor te envolva, que a luz pura interior guie o seu caminho.” Amém, Helem. Ou Sat Nam, numa reverência à nossa verdadeira identidade.

E assim, num rito de pausa e movimento, a ioga foi fazendo parte de mim. Gosto tanto que um dia fui pra aula sem ter que ir. A Helem tinha me avisado na semana anterior que estaria fora, mas quem disse que eu lembrei? Simplesmente levantei da cama e fui, feliz da vida, como sempre vou.

No início do ano também dei com a cara na porta, mas dessa vez o coração ficou espremido. Toquei, toquei, toquei a campainha e nada. Liguei, mandei mensagem, nada. Nem sinal de vida.

Fui embora preocupada, e alguns dias depois soube que a Helem estava no hospital. Teve um AVC. Meu coração espremeu de novo. “Como assim, a professora de ioga mais zen do mundo ter um AVC?!”. Respira, Renata. Respira.

Dezoito dias depois ouvi a voz dela (bem pausada) no WhatsApp, me emocionei. “Estou bem, Renata, estou melhorando. Mas preciso descansar.”

Um mês depois chegava uma outra mensagem dela dizendo que iria retomar as aulas, aos poucos. Me perguntou se eu queria. Claro que eu queria. Sat Nam.

Ver a Helem de novo, sã e salva, sem sequelas, sentadinha no seu tapete de ioga, foi um verdadeiro presente pra mim. Esse dia nem teve aula direito, eu só queria saber de escutá-la, saber o que aconteceu, me conectar a essa emoção. O relato dela foi tão lindo que eu não me contive: “Helem, posso escrever? Isso tudo é grande demais pra ficar guardado só com você.”

No próximo post eu conto.

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<![CDATA[Aniversário]]>https://rfeldman.web.app/aniversario/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affcdTue, 08 Jun 2021 12:31:50 GMT
Aniversário
Aniversário

Fazer aniversário em tempos de pandemia é um evento. Sem balões, sem convidados, sem festa. Mas de uma alegria só. Com direito a cachoeira. Cantoria. Sossego. Aconchego gostoso de família. Bolo surpresa. Muitas supresas. E de uma senhora responsabilidade também, acima de tudo: agradecer, mais do que nunca, mais do que sempre, o luxo de estarmos vivos. Oxigenar nossa capacidade de amar, de acreditar, de soprar velas e acender mais luz no caminho. Valorizar cada segundo dessa Dona Vida que é cada vez mais curta, mais serelepe, mais dona de si.
Agradecer, lá vou eu de novo. Como um mantra, ouvindo a música mais bonita, vou repetindo meu muito obrigada. A você que me abraçou com palavras no dia 6 de junho e deixou o meu dia mais feliz. Muito obrigada. ❤️

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<![CDATA[Soul]]>https://rfeldman.web.app/soul/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affccSun, 30 May 2021 22:12:42 GMT
Soul
Soul

Entre o nascer e o morrer, outros tantos verbos se conjugam por aí. Por aqui. Por uma paixão, um momento, um tempo discorrido. Amar, trabalhar, sonhar, sentir, descobrir, sofrer, crescer, aproveitar. Cada segundo da sua vida um sopro, um clique, um encontro. Ontem, hoje e amanhã se reunindo numa grande live.

E então, que pauta temos pra hoje? Quais os seus rabiscos, sua música, seu desatino? O que te move, o que te faz, o que te identifica? Jazz, pintura, sala de aula, poesia? Pausa, correria, desafio, alegria? Ego, alta, alma, paralisia? O que te inspira? O que te acorda? O que enche de brilho seus olhos? (Ou eles estão opacos, quase cerrados, buscando por buracos no caminho? Atenção. Cuidado.)

O que dá sentido à sua vida? O que há para além dela? Quantos estão na fila da despedida, indo embora? Quantos estão por aqui chegar? Todo nascimento abarca uma grande travessia.

Na falta de respostas, abra um livro de filosofia. Ou o coração, numa sessão de terapia. Ou assista ao filme Soul, da Disney, e tente responder à pergunta: “O que faz de você… você?” O filme – muito mais pra gente grande que pequena, a meu ver – vai te fazer pensar, repensar, olhar mais de perto pra sua vida e o que você anda fazendo dela. Vai tocar a sua alma, que em inglês se escreve soul. E que tirando a última letra vira “sou”, do verbo ser. Tudo se transforma, já dizia Lavoisier.

E você? O que anda transformando por aí? Viver por viver, ou viver para de verdade ser? Por inteiro. Por você. Seja o que for.

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<![CDATA[Fazer memória]]>https://rfeldman.web.app/fazer-memoria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affcbSat, 10 Apr 2021 23:57:40 GMT
Fazer memória
Fazer memória

A vida da gente é um grande mosaico. Cenas, palavras, registros, acontecimentos, memórias. Cada pecinha se juntando para formar a história de cada um. Cada um construindo sua singularidade a partir de significados, afetos, escolhas, modos de existir. Movimento.

Quem é você hoje? Como vai? Queira se apresentar. Quem foi você ontem, atrás daquele passado que insiste em te esconder? Quanto tempo, quantas dores, você sumiu. Amnésia. Analgésico. Dor de alma. Calma. Algo se perdeu no caminho? Ou se transformou? O que foi que mudou? Pra sempre?

Perguntas, respostas, mais perguntas, reticências. Aos olhos da psicologia, todo mosaico tem sua beleza de ser. Mesmo sendo dor, falta, tristeza. (Bem-vindo à vida.) Peças arrancadas deixam um imenso vazio, mas que um dia a gente pode voltar a preencher. Nem que seja com lápis de cor.

Vejo lindos mosaicos à minha frente todos os dias. Cada história uma emoção, um enredo, uma travessia. Outro dia ouvi uma cliente ponderar algo importante sobre o seu casamento: “A gente tem que fazer memória, sabe? Sair pra jantar, buscar se encantar de alguma forma com o dia-a-dia, criar novos domingos pela frente…”

Fiquei pensando o quanto essa frase é boa. Fazer memória. Pôr sentido, pôr novas pedras no mosaico, fazer valer cada segundo da sua vida, mesmo que uma pandemia tenha te deixado de castigo. Ou que o seu passado te prenda num poço bem fundo e escuro, outro castigo.

Que bom que palavras libertam, e que a vida tem uma capacidade maravilhosa de transformação. Deixe o seu olhar buscar as boas lembranças e permaneça com elas, firme como coração batendo no peito, caminhando com mais leveza por aí. Fazer memória, não se esqueça.

P.S.: Ontem o blog fez memória, e eu não poderia deixar de compartilhar essa alegria com você: 12 anos de vida, de prosa e muita emoção. Obrigada por fazer parte dessa história e deixar o meu mosaico mais bonito.

]]><![CDATA[Dezoito anos]]>https://rfeldman.web.app/dezoito-anos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affcaSun, 07 Mar 2021 00:30:57 GMT

Dezoito anos
Dezoito anos
Dezoito anos

Incrível como o tempo passa rápido. A frase é clichê, eu sei, mas de uma veracidade confirmada com unanimidade. Quem nunca teve a mesma sensação ou repetiu a mesmíssima fala? Quem nunca discutiu sua relação com o tempo?

Outro dia mesmo eu acalentava esse menino no colo. Tantas memórias, tanto amor envolvido, tanta história. Hoje ele sopra dezoito velas, enchendo a minha vida de luz e alegria. Dezoito anos, não dá para acreditar. Ou dá? Claro que dá. Senhor Tempo não foge ao trabalho: faz o serviço direitinho, com comprovante e firma reconhecida no cartório; mas numa discrição e sutileza, que no dia-a-dia a gente quase não percebe sua presença. Invisível, implacável, o danado está lá, brincando de mágico, de tirar momentos da cartola. E quando a gente assusta, o menino já tem bigode, trabalho, namorada, vaga na faculdade.

Ano passado, em outubro, ouvi a Bella “reclamar”: “Ô, mãe, o Léo não é mais criança mas acho que ele também tem que ganhar presente!…”

Fiquei sensibilizada com o apelo solidário da irmã mais nova e resolvi rapidinho o “problema”: dei um envelope com uma nota de cinquenta reais e um porta-retrato com essa nossa foto de anos atrás, ele bebê e eu babando, misto de aconchego e ternura. Ele amou. Mas amou também as três (três!!!) fotos que a namorada deu pra ele, uma semana depois. Imagina o meu “momento-surpresa” ao chegar no quarto dele e ver que no lugar do porta-retrato que eu dei tinha um combo de fotos da (fofa, tenho que dizer!…) namorada. A mãe foi rebaixada para o alto da estante, c´est la vie, sorrindo para o tempo e para o que ele vive tentando nos dizer, basta querer ouvir: nova fase, novo ciclo, bem-vinda à vida!….

E agora é com você, Léo: bem-vindo à vida adulta. Repleta de desafios, conquistas, maioridade, alegria, projetos, realização, coragem. Afina o violão e canta comigo: se os seus dezoito anos fossem uma música (e são, música para os meus ouvidos!…), seriam um duo: liberdade e responsabilidade no seu refrão mais lindo, desses que não saem da cabeça nem do coração.

Por aqui, muita emoção de ver você crescer, meu filho. Em todos os sentidos. Muita bênção de pai e mãe para que você continue trilhando caminhos cheios de sol, com tudo o que faz brilhar seus olhos. (Assim como você brilha os meus.)

E quando você tiver uma pausinha pra tomar um café com aquele senhor da cartola, prosear sobre “o correr da vida embrulhando tudo”, me chama que eu também vou. Sou amiga dele faz tempo.

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<![CDATA[Em tempo]]>https://rfeldman.web.app/em-tempo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc9Sat, 23 Jan 2021 06:45:11 GMT
Em tempo
Em tempo

Oi, desculpe o atraso. Mais de 20 dias, lá vou eu discutir minha relação com o tempo. Depois de muito conversar com ele, aqui estou. Pronta para finalmente virar a página, encher o blog de boas energias e te desejar Feliz Ano Novo, como sempre costumo fazer por aqui. (Meu desejo é uma ordem, que assim seja: cheio de luz, amor, saúde e paz o seu 2021. Cheio dessas coisinhas tão grandes que fazem todo o sentido na vida da gente.)

Não nos falamos desde o ano passado, e fico me perguntando o que aconteceu com as palavras. Ficaram de quarentena? Resolveram tirar férias antes de mim? Afonia? Rouquidão? Ou será que entraram em exaustão, como tanta gente? Ouvi dizer que foram entubadas, pulmão tomado, falta de oxigenação. (…) Talvez tenham silenciado por solidariedade, emudecidas diante de tantas perdas, tantos números representando nomes que se foram para não mais voltar. Meus sentimentos, mundo.

E agora que talvez haja uma explicação plausível diante de tudo o que nos carece entendimento, dou alta à palavra mais linda que 2021 merece ter: ESPERANÇA, com todas a letras e força que ela é capaz de transmitir. Esperança do verbo esperar, esperançar, derivada do substantivo vacina, invenção melhor não há.

E esperança anda junto da alegria, alívio, aconchego, bonança. Como um cobertor quentinho no frio. Pai chegando na escola para buscar o filho depois de meia hora de atraso. Um lugar na marquise assim que o temporal despenca.

Pois eu espero que você esteja bem. Que siga bem e permaneça bem por este 2021 afora, valorizando a grandeza que vem da miudeza (isso se chama felicidade, como uma vez bem disse a nossa querida escritora Martha Medeiros).


Neste ano recém-nascido, espero que você seja simplesmente você – seus sonhos, seu querer, seus passos, seus voos. Que você seja o melhor que mora aí dentro, de verdade.

Cercada de letrinhas e palavras que se aglomeram por aqui, feito gaivotas em busca de farto banquete no mar, aqui estou. Aqui me vou, assim me voo – revoada de esperança em mim.

Feliz Ano Novo, ainda em tempo.

]]><![CDATA[A dor é um grande professor]]>https://rfeldman.web.app/a-dor-e-um-grande-professor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc8Mon, 30 Nov 2020 22:47:52 GMT

A dor é um grande professor
A dor é um grande professor

“Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.” A canção é dos Titãs, mas bem que poderia ter sido escrita por você, por mim, basta ser humano para sentir.

Da alegria é fácil falar, evocar, cantar. Vem rapidinho deslizando pela memória, como nuvens no céu. Da dor nem tanto: lamento, ferida, pranto. Mais fácil deixar guardada, trancada com tetra-chave e cadeado.

Fato é que dói, eu sei. Algumas dores vêm acompanhadas de susto, outras de uma notícia já esperada; outras vivem de dormir e acordar, basta viver para sentir.

Algumas dores são crônicas. E eu não estou falando de de enxaqueca, fibromialgia, lombalgia. Dor emocional também cristaliza, cronifica, gruda no coração feito piche. Viche.

Dá-lhe terapia. Dá-lhe conversa, choro, chá, leitura, tempo, ombro amigo pra acalmar esse coração doendo.

Um dia passa. (Que bom que passa.) A página vira, a resiliência faz abrigo, a paz pede finalmente pra entrar. Mas melhor do que paz é a força que nasce junto dela. Um novo jeito de responder à vida, olhando bem nos olhos dela e dizendo: “aqui estou. Sobrevivi. Mudei, transformei, cresci. Aquelas pedras que um dia me fizeram tropeçar, cair, machucar, já não estão mais aqui.”

Nessa grande escola da vida, talvez seja esta a lição mais importante: aprender que somos capazes de seguir em frente, apesar “de”: maiores, melhores, ancorados na força e na gratidão por tanto ensinamento. Sem mais nem lamento, assim vamos seguindo: diplomados na dor, engrandecidos de amor. Por nós mesmos, pra começo de conversa. Ou de cantoria, como quiser. Do jeitinho que começou este post.

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<![CDATA[Breve prosa sobre o tempo]]>https://rfeldman.web.app/breve-prosa-sobre-o-tempo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc7Sun, 04 Oct 2020 10:30:22 GMT
Breve prosa sobre o tempo
Breve prosa sobre o tempo

Uma pessoa muito querida, leitora religiosa aqui do blog, esboçou o seguinte comentário: “Renatinha, já faz tempo que você não posta… Pulou o mês de setembro.” (…)

Pulei. Puladinho. “Pulando feito pipoca”, é assim que costumo dizer quando o tempo parece estourar, escorrer, correr de mim, não me esperar.

Logo setembro. Mês das flores, de tantos aniversários importantes, dos meus ipês amarelos (meus e de Rubem Alves), da primavera que vem de longe, dando o ar da graça. Bem-vinda, prima.

Lá foi ele, lá vai ele, nosso bom e velho conhecido tempo. Lembro como se fosse ontem, eu conversando com a minha médica, me sentindo a rainha da fertilidade:

– Dra. Diana, já quero ter o segundo filho. Estou decidida. E se a gravidez vier loguinho, como foi com a do Léo, vai nascer em setembro, num sábado de primavera, signo de virgem…

Simples assim. Só que não. O tempo passou por mim, serelepe, nem deu bola. O segundo filho não veio “loguinho”, já contei num outro post. Mas veio um ano e meio depois (uma menina!), valeu a pena esperar. E agora é ela quem pula da cama (não tão simples assim…) junto com o beijo da mãe, melhor despertador não há.

O tempo acorda cedo lá em casa, e confesso que não é nada fácil tirar uma adolescente da cama. Outro dia o café da manhã foi beeem monossilábico. Eu tentava desenvolver uma conversa, fui perguntando algumas coisas triviais, e ela – com aquele humor clássico de quem efetivamente ainda não acordou me fixou nos olhos e disse:

– Mãe, nessa hora da madrugada eu não dou conta de conversar.

E eu, dando de desentendida, pra ver aonde aquela conversa ia dar:

– Uai. Por quê, filha?

– Porque a minha alma ainda não voltou pro corpo.

– E onde é que a sua alma está, posso saber?

– Na minha cama.

E assim vamos vivendo o tempo. Dormindo, acordando, pulando feito pipoca, fazendo planos, fazendo Deus rir, sonhando. E aí 2020 nos pega com uma quarentena estendida, sacudida, serena ou doída, dependendo do ponto de vista (e do coração). Lá vem o tempo (ou uma força maior) dizendo que nem tudo está no seu controle.

Então já é outubro, quase Feliz Ano Novo, como o danado voa. O que você tem feito? O que deixou de fazer? Que horas são aí no seu relógio? E no pulso, qual a batida do seu coração? Como anda a sua relação com o tempo? Tudo em paz ou nada que uma D.R. não resolva?

Na dúvida, chama o Pato Fu e canta: “Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei pra você correr macio.”

Cantemos, pois.

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<![CDATA[Bateu cansaço]]>https://rfeldman.web.app/bateu-cansaco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc6Fri, 28 Aug 2020 18:22:42 GMT
Bateu cansaço
Bateu cansaço
Bateu cansaço

Perto de completarmos seis meses de quarentena – uma quarentena bastaante estendida, diga-se de passagem – nos sentimos cansados. Exaustos. Das telas, celas, janelas, noticiários, da interdição e da restrição, do confinamento e distanciamento. (Acho que até as palavras ficaram confinadas, custaram a aparecer de novo por aqui.)

Esta é a palavra que mais tenho ouvido no consultório: cansaço. Parece que ninguém achou que essa situação fosse levar tanto tempo. A afirmação que acenou confiante no início da quarentena – “Vai passar” – foi sendo substituída pela pergunta: “mas quando é que vai passar?!…”.

Fora a exaustão, o coração. Esse senhor que abriga o choro, a saudade, o lamento, o susto e o luto, tudo no mesmo compartimento ao lado do amor. Muitas pessoas indo embora, outras tantas permanecendo. Sendo. Heróis, testemunho, força, despedida. Sendo também a vida que continua lá fora, apesar de.

Bateu cansaço, mas bate ainda esse coração valente. Capaz de conter gratidão, esperança, fé, oração. Capaz de desaguar palavras, encontrar respostas, ensaiar abraços (mesmo que através do pensamento).

Para aliviar o fardo, criação de pausas. Invenção de moda. (Minha filha já mudou a disposição do quarto e pintou um copo, a capinha do celular e cinco telas que eu fiz questão de comprar antes que ela resolvesse partir para as paredes. Uma das obras-primas já está enfeitando o meu consultório.) E deixa o som rolar, sextou, transforma a sala em pista de dança. (Vai “Ser feliz na quarentena”, dica do dica, playlist criado pela minha querida Cris Guerra.) Depois, descanso. Dormir e sonhar com o que você quiser, no sono REM tudo pode acontecer. Então vai. Reinventa a roda, o riso, o tempo. Vai pra cozinha, testar um sabor diferente. Vai pra varanda, namorar o céu. Respira, medita, é tempo de se recolher à sua significância. Aproveita e convida o sol pra nascer bonito. Entra no mar sem sair do lugar. Banho de sais, festival de poesia, concurso de gastronomia. Pega um tanto de terra e vai plantar lavanda, jasmim, alecrim, camomila. Escutar música. Se escutar. Mas nunca, nunca mesmo, está me ouvindo? Deixe de prestar atenção à batida do seu coração.

]]><![CDATA[Deus mandou chamar um eletricista.]]>https://rfeldman.web.app/deus-mandou-chamar-um-eletricista/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc5Tue, 18 Aug 2020 12:33:21 GMT

Deus mandou chamar um eletricista.
Deus mandou chamar um eletricista.
Deus mandou chamar um eletricista.

Paulinho foi aquele eletricista que entrou na minha casa pra arrumar o fio, a fiação, o disjuntor, até secador de cabelo ele arrumava. Fazia de tudo um pouco até virar de tudo um muito: virou de casa, o danado do Paulinho. Qualquer problema era ele que a gente chamava. De tão de casa virou que eu passei até a suprimir a segunda letra do nome dele. E era assim que eu o chamava: “Pulinho”! Tamo precisando docê!…” E Num pulo ele aparecia lá em casa, pau pra toda obra. Feliz da vida, dono de uma alegria contagiante, especialmente depois que seus netos nasceram. Virou vô babão, esse Paulinho. E com toda razão. (Carreguei um deles no colo, e continuei carregando no meu celular, fotos lindas que o Paulinho me mandava.)

O último jogo da Copa ele foi assistir com a gente, meu pai estava também. Não me lembro se teve gol, nem quantos. Mas não faltou carne, cerveja, abraço, alegria.

Depois o Paulinho não apareceu mais. Dona Saúde pediu atenção, o fígado não ia bem, um transplante passou a ser cogitado. Cheguei a combinar uma visita no início do ano, mas ô ano conturbado, sô. Veio vindo igual um furacão, acabamos tendo que desmarcar. (Sinto muito, meu amigo. Fiquei te devendo esse encontro.)

Hoje acordo com a notícia de que o Paulinho se foi. Duas paradas cardíacas, haja coração, doído amanhecer assim.

Choro sua partida, Paulinho. Apago as luzes lá de casa, aquele circuito todinho que você fez com tanta competência e carinho. E sei que agora é você quem vai acender as estrelas lá do céu.

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<![CDATA["Óio o mundo"]]>https://rfeldman.web.app/oio-o-mundo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc4Sun, 12 Jul 2020 20:57:15 GMT
"Óio o mundo"
"Óio o mundo"
"Óio o mundo"

Abro a janela e “óio o mundo”. Sou mineira, namoradeira, “escrevedeira”, “fazedeira” de esperança. Sou todo ouvidos, deixe-me apresentar.

Abro a porta e deixo o mundo entrar. E cada um que adentra a sala 804 traz seu quintal, seu pomar, suas raízes pra gente regar; sua falta de chão, seus muros, seu rasgo de emoção. Sou “escutadeira”, alento, refúgio, sou a profissão que escolhi abraçar.

“Óio o mundo” e vejo dor, amor, vazio, mãe, pai, menino. Vejo desigualdade, saudade, busca, choro, impermanência, metade. Enxergo o outro através dos olhos dele, e isso se chama empatia. (Que rima com alegria.) Chego a pegar na felicidade depois de um dia inteirinho de trabalho.

E se a mão coça, tenho que escrever. Assim como o Anthonio canta e os males espanta, escrevo e o bem viceja: pego papel, caneta, emoção e dou vida aos sentimentos que preciso desaguar, feito rio no mar.

Abro a janela, a porta, o coração, o computa-dor. Vejo dor. Ai, como esse mundo dói. Mas ele também se alegra de ver a gente olhando pra ele, por ele, na fé e certeza de que um dia ele vai ser um lugar melhor de se viver. Mais igual. Mais normal. Mais gentil, amoroso, tocante, vibrante, feito as canções de Anthonio. Mais arte, poesia, crença, coragem, paz, esperança. Uma bonança de amor que só vendo.

Muito prazer, eu sou a Renata. Psicóloga, escritora, sonhadora. Mulher, mãe, filha, professora. Fico feliz de dividir um cadinho do meu mundo com você.

P.S: Dedico este post ao meu amigo Anthonio Marra, gente linda que com sua canção “óio o mundo” (e outras tantas) nos inspira a criar também. De voz em voz, quem sabe a gente possa entoar um grande coro – botando os olhos nesse mundo pra ele sorrir bonito.

]]><![CDATA[Toque]]>https://rfeldman.web.app/toque/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc3Sun, 28 Jun 2020 00:48:20 GMT

Toque
Toque

Água. Sabão. Álcool gel. Água sanitária. Desinfetante. Detergente. Água. Sabão. Álcool gel. Água sanitária. Desinfetante. Detergente. TOC.

Lã. Algodão. Cachecol. Couro. Tricô. Moletom. Cheiro. Chamego. Presença. Encontro. Saudade. Abraço. TOQUE.

Toque de tocar, abraçar, sentir. (Lembra?) Traduzir em palavras um afeto que não se basta de longe, não se contenta com telas, não se entrega a estes nossos tempos estranhos e assépticos. (Só um toque. )

Enquanto isso, vamos seguindo, é o que nos resta. Transitando da concretude à finitude, encarando a vida de frente e de máscara, ávidos por um respiro. Assim caminha a humanidade nessa quarentena estendida, buscando explicação e sentido. (Sentindo muito.)

Mais do que nunca é pegar com Deus e seguir em frente, lá vamos nós, um dia de cada vez. Esbarrando na falta, no cuidado, na emoção de uma alta.

Altas. Proponho uma brincadeira, palavras cruzadas, basta trocar as letras. Pegue o TOC; tire o C e coloque o Q, depois o U, seguido de E. E de esperança, conhece? Palavra pra lá de bonita.

]]><![CDATA[Refúgio]]>https://rfeldman.web.app/refugio-3/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc2Wed, 27 May 2020 19:15:47 GMT

Refúgio
Refúgio

Batida na porta. Abraço. Sorriso. Café, chá, cappuccino? Sofá, poltrona, aconchego de almofadas. Caixa de lenços. Flores. Calorzinho humano. Porta acústica deixando um mundo inteiro lá fora. Você se encontrando aqui dentro. 

Há alguns meses esse refúgio chamado terapia foi meio que transferido para a sua casa. Seu computador. Seu celular. Sua poltrona. Seu wi-fi. 

O motivo é de força maior, a causa é nobre e o toque é de acolher: você, suas emoções, sua necessidade de falar, pensar, organizar as ideias, passar a vida a limpo, chorar. 

Se eu não escuto o seu toc-toc na porta, continuo ouvindo a batida do seu coração através da tela do computa-dor. E haja dor, eu é que sei. Viva a tecnologia para nos conectar com a emoção deste encontro.

Seja muito bem-vindo(a), seja na sala 804 ou na chamada de WhatsApp, Skype, Facetime. É sempre uma alegria acolher você.

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<![CDATA[Desembola]]>https://rfeldman.web.app/desembola/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc1Sun, 03 May 2020 00:18:46 GMT

Foi logo ali, em janeiro. “Logo ali”, mas se bem que parece uma eternidade. Tanta coisa aconteceu nestes últimos quatro meses que nem sei. O “Feliz Ano Novo” que desejei e recebi lá atrás parece ter sido engolido por um furacão. No âmbito pessoal, comecei o ano perdendo de forma trágica uma pessoa muito querida. Depois vieram, em outros âmbitos, mais notícias ruins – uma cerveja contaminada, um dilúvio, agora uma pandemia.

Vamos começar tudo de novo? Feliz Ano Novo, salta essa parte ruim da história. Ahh, se fosse possível…

Voltando um cadinho em janeiro, antes do furacão, chego a este post. Foi lá na praia, num dia feliz e ensolarado, que este texto praticamente foi “escrito”. Quem me inspirou foi um casal de amigos de longa data, Luiz e Bia, vizinhos de prédio do início da minha vida de casada. Dois queridos. E foi lá naquela praia linda que esbarramos com eles, num daqueles pequenos momentos de grande felicidade: papo leve, descontraído, contação de casos, riso correndo solto. Quando perguntei do filho de 21 anos, a resposta veio cheia de orgulho, e me encantou:

– Vinícius tá virando gente grande! Foi participar de um processo de seleção de estágio numa grande empresa; vai escutando… Sabe aquelas perguntinhas básicas que vem no formulário de entrevista? A primeira era: “Descreva aqui suas maiores qualidades.” Sabe o que ele respondeu? (…) “Desembolo”.

– Desembolo?!?!, exclamei. Só isso?!

– Só nada, Renata. O diretor da empresa ligou pra ele, marcou uma entrevista e perguntou: “Me explica essa sua resposta. Desembolo?!” Ao que ele prontamente confirmou: “Sim, desembolo. Põe na minha mão que eu resolvo.”

O danado foi contratado, claro. Por dizer tudo, em apenas um verbo, mas o essencial. E naquele instante eu já tinha o post pronto na minha cabeça, além de um grande orgulho por aquele menino que eu praticamente vi crescer.

E você? Como tem desembolado sua vida? No auge dessa quarentena que deixou tanta coisa parada, embolada, no susto… a quantas anda sua criatividade, sua inventividade, sua prontidão em resolver as coisas? Seja um estágio, um emprego novo, um relacionamento, algumas gavetas, uma moda na cozinha, um livro inacabado, uma conversa transformadora, um horário na terapia, um curso à distância, um projeto solidário. Seja cuidar de você, olhar pra dentro, responder às perguntas que a vida anda te fazendo.

Desembola, querido(a) leitor(a). Desembola.

]]><![CDATA[Quarentena]]>https://rfeldman.web.app/quarentena-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affc0Tue, 07 Apr 2020 22:16:29 GMT

Quarentena
Quarentena

Da minha telinha para a sua. Do meu teclado para o seu, agora mais do que nunca higienizado com álcool gel. Da minha emoção para a sua, conexão mais linda, essa aí não pode faltar.

Viva a tecnologia, o Wi-Fi, o meu navegador que me leva a você num rápido e apaixonante dedilhar. Viva o blog que hoje completa 11 anos, uma vida. Quanta alegria escrever pra você.

Aqui estamos, pois, conectados (que bom que estamos). Há 11 anos atrás, nem eu nem você iríamos imaginar essa doideira de coronavírus que estamos vivendo. Coisa de filme, ficção científica, onde fica a tecla pare? (Paramos todos.) O que dirão os meus netos (hei de tê-los um dia!…) quando lerem isso aqui no blog?

Conectada que sou também à esperança, quero acreditar que até lá (beem antes de “lá”, pensamento positivo!) já terão encontrado a cura para este vírus que deixou o mundo todo em quarentena.

E se é pra viver um dia de cada vez, extraindo força e aprendizado disso tudo, deixo registrada aqui talvez a falta mais pungente, dentre tantas outras faltas que esse vírus propagou: a falta que fazem os avós na vida dos netos (e vice-versa.) Os meus estão “de quarentena” há anos – muitas quarentenas – e eu quase morro de saudade por aqui. (…)

[E para você, qual é a falta mais doída, mais sentida?]

Gosto de olhar para o céu, oxigenar os pulmões. Entre uma nuvem e outra converso com os meus ancestrais (quantas dificuldades já viveram?) e peço uma forcinha também a eles: que isso tudo passe logo para que os meus filhos possam abraçar seus avós no abraço mais apertado que o Guinness Book já registrou um dia.

Mas voltando ao “aqui agora” (o bolo está sendo servido!), tão necessário nesses nossos tempos de indefinição, em que o controle nos escapa, acendo minhas onze velas e compartilho desse tanto de luz com você. Obrigada pela companhia, pelo afeto, pelos seus olhos que se juntam aos meus: assim escrevemos uma história pra lá de bonita. Eu daqui, você daí. Um blog pra gente pensar na vida, pausear a vida, sentir a vida. Dessa quarentena não quero sair nunca mais.

Que nesse mundo tão espremido e confinado como o que temos vivido agora, a emoção nos leve longe, nos faça voar e nos conecte cada vez mais. A cada palavra um abraço, a cada post publicado a alegria de ter você aqui comigo.

Mais um cadinho de bolo?

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<![CDATA[Toque de acolher.]]>https://rfeldman.web.app/toque-de-acolher/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affbfSat, 21 Mar 2020 17:00:00 GMT
Toque de acolher.
Toque de acolher.

Seu susto. Seu choro. Seus medos. Pesadelos. Suas noites em claro. Quarentena.

Seu tempo. Seu silêncio. Sua calma. Pensamentos. Palavras. Seus afetos. Sua fé.

Acolher. Amparar. Tocar o que fala nossa alma. Pertencer. Ser. Viver. Abraçar com os olhos, pôr sentido, pôr o despertador pra tocar.

Seguir em frente, permanecer, continuar. Tantos verbos, todos no infinitivo, só pra lembrar que o amor também é: infinito, infinitivo, definitivo porque mora em nós. E nós é mais que eu. E o que eu sinto você pode sentir também, e isso se chama empatia. Que rima com cidadania. Sintonia. Alegria. Energia. Boas vibrações é o que não falta quando se tem um propósito, uma escolha, um caminho inteiro a percorrer. Apesar de tudo o que não se pediu pra viver ao longo da travessia.

E mesmo que a gente percorra esse caminho de longe, distante, nem de longe ausência vai ser.

Um vírus pode rodar o mundo, pode fazer estrago, mas não pode adoecer o que há de melhor em você. Em nós. Nos laços que atam, abraçam, resgatam o nosso ser. Laços de vida. Toque de acolher.

]]><![CDATA[Equilibristas]]>https://rfeldman.web.app/equilibristas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affbdSun, 08 Mar 2020 13:43:50 GMT

Equilibristas
Equilibristas

Cheias de graça. Raça. Vontade. Luz. Fonte de força. Fibra. Ternura. Amor. (Conhece?)
Lá vão elas, perfumadas e com passo firme, dizer ao mundo:
“Oi, aqui estou.”
“Cheguei. Mal posso esperar.
“Muito prazer, esta sou eu.”
“Movida pela paixão”
“Sangrando o tempo.”
“Dando nó em pingo d’água.”
“Profissão? Equilibrista.”
“Sei o que que quero.”
“Não, obrigada’.”
“Tenho pressa.”
“Tenho emoção correndo nas veias.”
“Não posso me demorar.”
“É pra lá que eu vou.”
“Beijos. Fui.”
Cheias de graça. Cheias de si. Sim, mulheres. Simplesmente.















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<![CDATA[Com toda a certeza]]>https://rfeldman.web.app/com-toda-a-certeza/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affbcWed, 05 Feb 2020 23:58:30 GMTCom toda a certeza

Com toda a certeza

Carregamos algumas certezas pela vida afora. E algumas incertezas também.

Sabemos o caminho de casa, que dia é hoje, qual o nosso tipo sanguíneo. Fazemos contas, planejamos viagens, consultamos a meteorologia, marcamos médico, preparamos o jantar.

E dá-lhe planos, rotina, agenda, mochila, terno, gravata, pés descalços, pausas sagradas para oxigenar o batente. A trivialidade da vida nos convida a atentar para os ponteiros do relógio, fazer a lista do sacolão, organizar  gavetas, responder a mil demandas,  colocar gasolina antes que a luz do painel acenda. Antes que a gente pare numa esquina qualquer.

Misturamos nossas certezas com infindáveis mecanismos de controle e defesa. Tudo matematicamente pensado, tecnologicamente testado, tudo na sua ordem e lugar. (Será?)

Brincamos de Deus quando avisamos que o dilúvio será às 16h de uma sexta-feira e praticamente decretamos feriado nacional. Aí a chuva vem e nos pega de surpresa – de com força e com susto – na terça.

Acreditamos que aquela relação será para sempre, mas o “para sempre” muitas vezes fura com a gente.

A vida vem em ciclos, um se fecha para outro abrir. Certamente vamos crescer, com toda a certeza vamos morrer um dia. (O esperado é que seja depois dos 90, de preferência com saúde e missão cumprida, morrer dormindo e feliz feito passarinho, conforme já combinei com Deus.) Antes disso, vamos vivendo. Amando, de preferência, com toda a verdade que habita o coração da gente – certeza maior não há.

Temos pela frente o previsível, o planejado, o combinado, esperado, rotineiramente determinado. Câmbio, positivo operante. E nesta confortável lista do que temos pela frente, buscamos nos distrair da nossa única grande certeza:  a de que esse coração ritmado e certeiro, guardião de muita gente e história pra contar, um dia irremediavelmente irá parar de bater. Não sabemos quando, nem onde, nem como. Que saibamos amar, então. Porque é isso que a gente deixa e leva com a gente.

P.S: E por falar em certeza, eu tinha uma comigo: a de que começaria o ano escrevendo mais vezes para você. Pra mim. E se escrevo com o coração, acho que de alguma forma ele parou de bater. (…) Silenciou por dias, muito mais que o programado, quem sabe por solidariedade a uma pessoa querida cujo coração parou de vez. (Quanta dor, meu Deus.) E aqui estou eu de volta, com as palavras batucando no peito, quase a explodir, certa de que é preciso continuar. É o que a vida nos convoca  a fazer, não é o que vivo dizendo por aqui?

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<![CDATA[A vida pede emoção]]>https://rfeldman.web.app/a-vida-pede-emocao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affbbWed, 08 Jan 2020 16:17:03 GMTA vida pede emoção

A vida pede emoção

Que não nos falte emoção para seguir os dias. Seja o primeiro ou último do ano, segunda ou quarta-feira, sol rachando ou aguaceiro.

Emoção toca, vibra, sopra, chacoalha, aperta, desperta. Emoção coloca o coração em movimento, melhor exercício não há.

Deixa brilhar os olhos, abrir um riso largo, abrir-se para o novo que te espia na janela. Sem medo de ser feliz vai lá e voa, dá uma cantada no sol, vai passarinhar por aí. 

Respira alegria, inspira um tanto de paz,  passa pra frente essa energia que contagia.

Mas não deixa faltar emoção. Nem pimenta no pirão. Livro pra mergulhar. Amor pra enroscar. Música boa. Amigos pra abraçar. Sina pra viver. Descanso pra merecer. Jogo de War pra distrair, conquistar um tanto de paz por aí. Meditação com vista pro mar. Trabalho pra amar. Pé na areia. Pé na tábua. Fé em Deus. Emoção de gratidão, não deixa faltar.

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<![CDATA[Bota-fora]]>https://rfeldman.web.app/bota-fora/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affbaSat, 28 Dec 2019 20:05:29 GMTBota-fora

Bota-fora

Há quem não goste de despedidas. Quem não suporte o peso das malas, o choro doído, o abraço eternizado diante da perspectiva de um “até mais”, “volta logo”, “dá notícias”, “a gente se vê”. Ou “adeus”, “nunca mais”, já vai tarde”, “acabou”, o que acaba intensificando a dor dessa tênue linha que separa a presença da ausência.

Há quem sofra de saudade antecipada, elaborando a falta antes mesmo que ela aponte no coração.

Há quem sofra de saudade crônica, engessada na alma, paralisada naquele “te cuida”, “te amo”, “vai com Deus”.

Mas há também quem viva a sabedoria de deixar ir, deixar partir, com a leveza do desprendimento e a emoção que vem da gratidão.

Que seja assim com o ano que passou e que já está de malas prontas para partir. Partir para nunca mais voltar, deixando apenas o que ficou de afeto, memória, construção e aprendizado, pois isso não se perde jamais. É pra sempre.

Alegria maior não há: estarmos vivos para ver um ano partir e outro chegar. Um milésimo de segundo neste encontro iluminado que sincroniza despedida e boas-vindas: um vai para o outro chegar, se aconchegar dentro de nós, vibrar. Bonito.

Seja como foi o seu 2019, é hora de se despedir. E despedir rima com sentir, só pra lembrar. (A quantas anda o seu coração nesta contagem regressiva?)

Do jeito que foi, 2019 fez parte. Mas o tempo, este senhor implacável, avisa que é hora de ir: deixar pra trás o que não cabe mais, levar adiante o que tem força para continuar.

Seja como for o seu 2020, que seja leve, cheio de luz, amor, esperança e sentido, cheio de chão florido pra gente caminhar.

Feliz Ano Novo!

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<![CDATA[Vire a chave]]>https://rfeldman.web.app/vire-a-chave/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb9Sun, 10 Nov 2019 19:47:50 GMTVire a chave

Vire a chave

É claro que você não pediu um dia escuro, cinzento. É certo que acordou pedindo luz, graça, leveza, good vibes. (Quem não quer um dia assim?) Mas é fato também que nem tudo está  no seu controle, e uma hora o tempo fecha. Dentro de você o sol vai embora, sem nem ao menos avisar. Você sabe exatamente o motivo. (Ou não, ainda precisa descobrir.) Você sabe exatamente qual foi o momento, a fala, a pessoa, o gesto. Seu coração sente, denuncia o que os olhos tentam inutilmente esconder.

Estou falando de banzo, tristeza, decepção, desaponto, desagrado, dissabor, torpor. Uma notícia inesperada. Um pneu  furado. A relação discutida do pior jeito. A falta de esperança. O telefone chamando, chamando, chamando até cair na caixa postal. A expectativa quebrada. A tempestade no copo d´água. A dor que não cura nem com tarja preta. O grito silenciado. A dependência do outro. O morrer em vida.

Se deixar, você acaba anoitecendo assim. O dia passa, o mal-estar não. O expediente acaba, a dor não. Desilusão. Depressão. Não. Este é o kit que você leva pra cama.

E o que você faz para virar a chave, trazer o sol de volta? Pode ser um café. Um livro. Uma música no último volume. Um toque na alma. Uma fotografia que te leva longe. Uma mensagem que emociona. Uma massagem que faz levitar.  Chão para caminhar. Encontro com os amigos. Meditação  oxigenando o pensamento. Uma criança para carregar no colo. Sessão de terapia. Caixa de lápis de cor. Palavras que curam. Chá de camomila com mel e baunilha, quer?

Pronto. O sol voltou, apesar do tempo fechado. Apesar “de”, já é outro dia dentro de você.

Faça sua lista. Vire a chave. Entre noutra sintonia. Bem-vinda, alegria.

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<![CDATA[Pontes no caminho]]>https://rfeldman.web.app/pontes-no-caminho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb8Sun, 20 Oct 2019 18:13:41 GMTPontes no caminho

Pontes no caminho

Dia desses o coração  do meu pai fez aniversário. Dezoito anos de uma cirurgia meio que no susto, “é pra já”, quatro pontes de safena levando a novos caminhos na vida dele: mais leveza, mudanças de hábito, muuita ginástica, cuidados com o corpo e a alimentação. Ganhei um pai atleta.

Estive lá com ele naquele quarto de hospital, nem sei por quantos dias. Apesar das circunstâncias, do dreno e de todos aqueles fios, nunca conversamos tanto. O que não faltou foi assunto para o relógio andar mais rápido e o coração voltar ao ritmo, amorosa e pacientemente.

O momento mais difícil foi no início, alguns dias depois da cirurgia, quando fui visitá-lo no CTI. Ele de coração reestilizado e o meu apertado, fazendo jus à fama terrível daquele lugar. Mas qual não foi minha emoção ao ver que o meu pai, sempre tão avesso à sangue e à hospital, era o único paciente assentado, firme e forte, coluna ereta, olhar sereno enquanto o dreno fazia lentamente o seu trabalho. Nunca vou me esquecer daquela cena: um misto de surpresa, alegria, gratidão e orgulho de ver meu pai daquele jeito, sorrindo timidamente pra mim e dizendo com os olhos: “Conseguimos, aqui estou. Agora é bola pra frente!…” (E com muitos gols do Galo, pai, o que não falta por aqui é torcida.)

Quem diria. Da fragilidade força, da obstrução pontes no caminho. Bem como disse Fernando Sabino em suas poéticas dicotomias, não me canso de evocá-lo: “De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

Sempre que preciso buscar forças dentro de mim, volto naquele CTI e encontro o meu pai. Seu sorriso, sua força, sua prontidão para recomeçar se tornaram uma importante referência pra mim.

E o seu coração, como anda batendo? Quantas pedras ou pontes no caminho? Onde você tem buscado forças para seguir, apesar de?

Avante, é o que costumo dizer aos meus clientes ao final da sessão. É da porta pra fora que a terapia realmente começa.

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<![CDATA[Per-doar]]>https://rfeldman.web.app/per-doar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb7Fri, 27 Sep 2019 15:50:19 GMTPer-doar

Per-doar

Certa vez um jornalista perguntou a uma judia sobrevivente dos campos de concentração:

– A senhora perdoou os nazistas?

– Sim. (…) Eu não suportaria carregá-los dentro de mim.

Perdão é palavra recorrente no setting terapêutico. Palavra-chave, capaz de fechar ciclos ou abrir janelas há tanto tempo emperradas. Entre quatro paredes e duas portas acústicas separando o mundo lá fora, escuto a dor que vem das relações trincadas, quebradas, por vezes desmoronadas. Diante da mágoa erigida como muro, muitos se vêem na impossibilidade de sequer tocar no assunto. “Perdoar como, Renata? (…) Não vou conseguir esquecer o que ele me fez. Foi duro demais pra mim, uma apunhalada no coração.”

Logo no coração, sino de amor que nos toca com a força e delicadeza que esse sentimento pede. Logo ali, onde nascem as emoções mais lindas e também mais difíceis de serem vividas – afinal, de dicotomia também é feita a vida.

Talvez não se trate de esquecer, mas de como lembrar o que um dia gerou tanta mágoa. Há coisas que nem pílula da amnésia – se um dia fosse inventada – surtiria efeito. Talvez nem mesmo uma dose cavalar para apagar os registros do que um dia doeu lá no fundo, imensamente muito.

É preciso deixar lá atrás o que ficou lá atrás, vem a sabedoria gentilmente nos dizer. É preciso ressignificar, destrancar a corrente de chumbo que prende seus pés ao chão e seguir em frente (voar mais leve quem sabe), colhendo paz pelo caminho.

Pode ser que essa colheita se transforme em abraço. Pode ser que esse abraço nunca aconteça de verdade – apenas no seu coração, e tudo bem. (Não deixa de ser de verdade.) O perdão habita duas dimensões, uma prática e outra da alma. Querer perdoar não necessariamente significa promover um encontro, conversar sobre o que passou. Passou. (Se fosse assim, a senhora do início do post marcaria um café com aquele homem que dilacerou uma humanidade inteira, o que seria impraticável e inconcebível.)

Mas o perdão também pode ser um nada, vazio. Para Bert Hellinger, querido mestre das Constelações Familiares que há uma semana nos deixou (gratidão eterna!…), perdoar é um ato de julgamento revestido de arrogância: significa colocar-se acima de alguém e avaliá-lo como um juiz, um Deus que não se é. Se filhos resolvem “perdoar” os pais, então, a desordem se instaura – desequilíbrio na certa. Perdoar nesse sentido não, mas se reconciliar sempre – “sentindo muito”, mudando a postura, tomando o que é para ser tomado, deixando ir o que precisa definitivamente ir.

Qualquer que seja sua ideia sobre o tema, observe que dentro de perdoar há também o verbo doar, o que é no mínimo inspirador. (…) O que você doa quando perdoa? Amor? Compaixão? Empatia? Sentimento? Ensinamento? A própria dor? Um tanto de paz para irrigar o coração?

Beleza no jarro, leveza na alma. Perdoar é é arrancar flores do deserto.

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<![CDATA[Faz parte]]>https://rfeldman.web.app/faz-parte/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb6Sat, 07 Sep 2019 22:22:10 GMT
Faz parte

Faz parte

Diante das coisas que escuto todos os dias (ossos de um ofício que me fascina desde sempre)  – e também para além das portas e janelas que guardam segredos na sala 804 – andei pensando e criei uma certa “trilogia da vida”.  Três frases, quase um mantra que percebo caber para qualquer pessoa – seja ela casada, solteira, engenheira, bailarina, pipoqueiro, pai, mãe, filho, gente simplesmente.

1- Faz parte.

Sim, algumas coisas fazem parte – você querendo ou não, gostando ou não, concordando ou discordando. Faz parte, e ponto. Como o frio ir embora, acordar cedo pra trabalhar, encarar  o chefe, o trânsito, a pia. Faz parte crescer, envelhecer, morrer, sofrer, amar, sentir um milhão de coisas, bem-vindo à vida. “É o que temos”, me confirma uma pessoa querida.  O “faz parte” é clássico e universal, não depende só de nós. Está aí – bem à nossa frente – na política, na economia, na logística, no futebol, nesse sol maravilhoso que nasce e morre todos os dias.

2- Estou fazendo a minha parte?

A pergunta que não quer calar e que deixa o seu travesseiro mais duro ou macio, a vida é feita de escolhas: você está fazendo a sua parte? Diante dessa imensidão do que já faz parte, onde é que você se implica? E como? Anda se escondendo debaixo da cama ou vai lá e enfrenta o que tiver que enfrentar? É um leão por dia e muito pulso pra firmar, caro(a) leitor. Sua parte é fundamental, pra lá de especial. E tem coisas que ninguém pode fazer por você. Sua vida, sua autoria.

3- Fazer o que você dá conta.

Com essa dá pra alargar o coração e respirar tranquilo. Ufa. Prega um post-it gigante no espelho, abre um sorriso (ou chora de alívio) e lembra que você também é filho(a) de Deus. Nada de robô, mulher-maravilha, super-homem. Troca a ficção pela emoção de ser humano, bem assim do jeito que você é.

Resumindo:

1- Faz parte.

2- Você está fazendo a sua parte?

3- Fazer o que você dá conta.

Um abraço carinhoso de quem já não estava mais dando conta de ficar tanto tempo sem escrever para você. Saudade. (Faz parte.)

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<![CDATA[Baixe o aplicativo]]>https://rfeldman.web.app/baixe-o-aplicativo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb4Tue, 16 Jul 2019 14:03:25 GMTBaixe o aplicativo

Baixe o aplicativo

Vivemos tempos pós-modernos, cheios de “ades”: individualidades, efemeridades, “automaticidades”, “celularidades”. (Já inventaram até aplicativo pra você ver como vai ficar em avançada idade, está “bombando” por aí.)

Neologismos à parte, às vezes almoço sozinha e a experiência acaba sendo  um prato cheio. Na pausa sagrada do meu dia também corrido, repouso os talheres para comer devagar, como recomenda a nutricionista, e me ponho a observar as pessoas. Talvez por vício da profissão ou simples curiosidade (típica do meu signo), vou passeando o olhar por entre as mesas, ouvindo o burburinho de  conversas e  risadas, o silêncio entre alguns casais compenetrados no seu arroz com feijão, os inconfundíveis apitos de WhatsApp.

Foi num desses  dias que tive o prazer de conhecer Dona Neide. Tão dona de si do alto dos seus 90 anos, tão  delicada e espontânea na sua maneira de se aproximar de mim e pedir para dividirmos a mesa. “Claro, por favor, fique à vontade!…”

No inusitado desse almoço sem hora marcada saboreamos uma prosa boa, olhos nos olhos, ao vivo e em cores. E aí eu descobri, pergunta lá, pergunta cá, que ela é viúva há 40 anos. Mora sozinha, almoça sozinha, seus filhos vivem em São Paulo e quando vêm visitá-la é uma festa. Perguntei se ela não quis arrumar namorado, a resposta veio ligeira: “Eu não. Namorado só o meu marido, grande amor da minha vida. O jeito vai ser ele me esperar pra gente voltar a namorar. Um dia.”

Parei os olhos na graça que é Dona Neide. Cada palavra, cada ruga, cada fio de cabelo branco; o jeito de vestir, de falar, de conversar com aquela estranha bem ali à sua frente. Do alto dos meus 45 anos, metade do caminho, me senti  privilegiada.

Quer saber? Me deu uma alegria  (nesses tempos de tanta efemeridade) ouvir que algumas coisas nessa vida permanecem. Me deu uma saudade da minha avó, que se foi tão cedo e este ano faria 99 anos. (Ah, eu daria tudo pra almoçar com ela.) Me deu vontade de ser igual à Dona Neide quando eu crescer. (Deus só me livre e guarde da parte da viuvez, como pode um amor ir embora assim tão cedo?)

Coisas assim, bem assim, que o coração sente e aplicativo nenhum é capaz de inventar.

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<![CDATA[Perdi o jeito]]>https://rfeldman.web.app/perdi-o-jeito/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb3Wed, 03 Jul 2019 13:54:16 GMTPerdi o jeito

Perdi o jeito

Antes que o tempo corra ainda mais ágil, serelepe, urgente; antes que minha filha adolesça de vez, migrando da graça da infância para o respiro de novos ares, lá vou eu – catando pérolas e colecionando-as aqui, neste meu precioso colar de contos e memórias.

Momento café da manhã, sagrada correria nossa de cada dia.  Em meio ao tilintar de xícaras e talheres, disputando espaço com a geleia e a cesta de pães, uma prova de geografia salta bem à minha frente, com a dona dela sorrindo pra mim:

– Olha como fui bem, mãe. Assina pra mim? (…)

– E agora essa, de ciências. Não tirei total por um décimo!…

– Agora, teve uuma, de matemática, que eu não lembro quanto tirei… Eu esqueci na escola… E-eu perdi média… Você pode fazer um bilhete pro professor, falando que você está ciente?

Cientíssima. Um olho no relógio, o outro no ovo já quase cozido (paixão matutina da Bella), e olha a tapioca saindo no capricho!, e olha a mensagem do meu pai chegando pelo zap (“Bom dia alegria”!), e assim fui escrevendo  o bilhete enquanto bebericava meu café. (Não sei como ainda não inventaram mãe-polvo ou mulher-elástico, juro que eu ia “levar” uma de cada.)

Como ainda “não inventaram”, acabei deixando a água ferver um cadinho além da conta, e o resultado foi uma gema um pouco mais consiste que o normal. (“Normal”, como dizem os pré-adolescentes que escuto lá no consultório…) Foi quando veio a pérola:

– Mamãe, tô achando que você perdeu o jeito do ovo… (!)

– Ah, menina!… Se apresse porque senão você é que vai perder: a aula!

E lá foi ela, mochila nas costas envergando a coluna, a mãe rindo de mais uma “perolice” pra coleção.

Algumas horas depois, recebo o seguinte Whats´App da Coordenadora da escola: “Bom dia. Comunicamos que Isabella não trouxe a prova de matemática assinada. Favor verificar.”

A mãe respondeu com gosto: “Bom dia! Ela me falou, enviei um bilhete ao professor dizendo estar ciente. Obrigada!”

Mas a Coordenadora continuou: “Ela esqueceu o bilhete. Por isso mandei  zap!!!”

A mãe encerrou a conversa com um emoji de macaquinho envergonhado acompanhado da seguinte explicação: “Hormônios, só pode ser!… Do crescimento e do esquecimento!” (Emoji rindo, só podia…)

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<![CDATA[Emoção]]>https://rfeldman.web.app/emocao-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb2Thu, 20 Jun 2019 19:52:59 GMTEmoção

Emoção

Se tem uma coisa bonita nessa vida – pra lá de bonita – se chama emoção. Dessas que vêm sem a gente pedir, sem marcar hora ou nada insistir. Simplesmente vem. Simplesmente brota, nasce, rompendo com a aridez desse nosso mundo denso e estranho.

Nada de cisco no olho, gripezinha, resfriado. Nada de engolir esse choro que acordou bem-disposto. Deixa vir. Deixa fluir o que ficou aí guardado, escondido, engaiolado, contido. Emoção combina com autenticidade, carece de ser livre. Pode saltar das páginas de um livro. De uma mensagem de WhatsApp. De um chorinho forte na maternidade. De uns olhos encontrando outros olhos. De uma notícia boa. De um momento que não volta mais. (Quem disse que não volta?) De uma lembrança guardada com cadeado. De um insight na terapia. De uma frase que você não esperava ouvir. De um abraço que resume tudo. Da cena de um filme. De um filme rodando uma vida inteira.

Para se emocionar não tem que pagar pedágio, enfrentar fila, fazer inscrição de coisa alguma. Tem apenas que chamar o coração pra uma conversinha bem ali ao pé do ouvido, onde se aconchegam silêncios e palavras. Tem apenas que amar o inusitado, o lugar-incomum, a simplicidade que nos toca. Música, dança, esperança. Acreditar que esse mundo ainda tem jeito.

Chorar é carta de alforria, encontro casual com você mesmo. “Oi, tudo bem? Quanto tempo!…” É lembrar que tem alguém aí. Ô, se tem.

Em um mundo tão racional e ligado no automático, a gente tem que se permitir um cadinho de emoção para lubrificar os olhos e dar um trato na alma – ela também precisa de um banhozinho de vez em quando. De vez em sempre, talvez.

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<![CDATA[Declaração de mãe]]>https://rfeldman.web.app/declaracao-de-mae/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb1Sun, 12 May 2019 18:01:03 GMTDeclaração de mãe

Declaração de mãe

Eu nunca imaginei que um atraso seria tão importante. Logo eu que sempre fui ligada às horas, minutos, segundos, uma lealdade ao relógio que deve ter vinda do meu avô. (Sempre que chegava a um compromisso – seja uma visita, uma consulta, um concerto de piano – o pai da minha mãe tinha por hábito enfiar a mão no bolso, pegar o seu relógio redondo e conferir as horas. Pontualidade britânica desse brasileiro nascido em Israel.)

Aquele atraso mudou para sempre a minha vida. Interrompeu um ciclo, inaugurou outro, me ensinou a paciência da espera. Amorosamente fui regando o tempo, preparando o ninho, colhendo os frutos. Nove meses depois lá estava ele, choro de rebento e cara de homenzinho, saindo de dentro de mim para nunca mais sair, me fitando com uns olhos que eu jamais vou esquecer. Parecia que nos conhecíamos há muito tempo. E quanto mais o tempo passa, mais me encanto por ele.

Quase cinco anos depois um novo atraso, “atrasadíssimo” por sinal. Muita ansiedade, nove exames negativos ao longo de um ano e meio e a máxima que aprendi com a minha médica, depois de todo um planejamento frustrado: “Quer fazer Deus rir? Mostre seus planos a Ele…”

Valeu a pena esperar. Valeu deixar a poeira da ansiedade baixar. (É ela que estava indo lá na hipófise e bloqueando a ovulação, fui estudar o caso.) Pedi altas, dei um tempo, resolvi  tentar o mestrado. Foi quando Deus sorriu pra mim e me presenteou com o segundo atraso mais lindo da minha vida. Do beta hcg enfim positivo ao primeiro instante que a carreguei no colo, foi uma emoção sem explicação. Não dá para descrever. Rostinho rosado, cabelo arrepiado, uma braveza quando a fome quebrava o silêncio da madrugada. E assim ela entrou na minha vida para nunca mais sair, presente precioso que eu pelejei pra ganhar.

O tempo corre, o relógio aponta as horas, a vida vai gerando novos ciclos. A cada segundo de maio, o calendário vem pontualmente oficializar esse ofício marcado pela emoção. Volto no tempo e carrego meus filhos no colo, viro mãe pra sempre, deixo aqui registrada minha declaração de amor. Olho pra frente e me vejo neles, mistura de mãe e pai e uma porção de  raízes, continuidade rimando com felicidade.

Ser mãe é  continuar dando à luz através deles – seus caminhos, suas escolhas, sua maneira de se conduzir por esse mundo afora. Não é fácil, dá trabalho, mas  dá um sentido imenso pra vida da gente. É muito, muito amor envolvido.

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<![CDATA[Sem volta]]>https://rfeldman.web.app/sem-volta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affb0Wed, 01 May 2019 18:06:09 GMTSem volta

Sem volta

Há um tempo que não volta. O tempo do ontem, das memórias guardadas, das palavras não ditas, do beijo interrompido. O tempo do talvez que ficou perdido na própria indagação, das perguntas sem resposta, da labuta vivida, dos registros mais lindos.

Na sala de TV, desviando o meu olhar das quase sempre má notícias, um porta-retrato digital rouba a cena. E ali, naquele álbum vivo, cheio de cores e movimento, vejo resvalar o tempo. Por um instante desço no toboágua com o meu filho, carrego a minha filha no colo, esquento a mamadeira, deixo os dois com a avó e vou namorar em Paris, logo ali. Por um instante sou outono, primavera, semblante sério, rugas de tanto rir. Sou dona de cachorro, sou noiva jogando o buquê, sou dona do meu nariz. Quantos minutos, segundos, quantos calendários já passaram por mim?

Nessa hora já nem escuto o noticiário, apenas me vejo em retrospectiva pelo vidro daquele porta-retrato pós-moderno, “na minha época” eles eram estáticos e de madeira. E nesse tempo que não volta (será que não volta?) sou casa nova, ponte, construção, abraço de pai, bênção de mãe, paz e cantoria, pausa e travessia. Sou dez, vinte anos atrás, sou pôr do sol se pondo em mim.

Há um tempo que fica. Pra sempre. Ad aeternum o afeto desvelado, as coisas verdadeiras, o amor cultivado por mãos de jardineiros.

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<![CDATA[10 anos de blog!]]>https://rfeldman.web.app/10-anos-de-blog/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affafSun, 07 Apr 2019 22:29:16 GMT10 anos de blog!

10 anos de blog!

Foi ideia do meu marido. (Mais uma, entre tantas outras ideias iluminadas que ele já me deu.) A princípio eu meio que torci o nariz, disse que não, que essa história de blog não era pra mim. Paguei língua um tempo depois. E esse “pagamento” virou uma cachaça (ou melhor, um chocolate, faço mais gosto) na minha vida. Você não imagina o prazer que eu sinto em escrever pra você, pra mim, pra quem mais chegar. (Um dia, quando eu não estiver mais aqui, quem sabe meus netos, bisnetos, tataranetos vão me conhecer por aqui?… A cada post vou deixando um pouco de mim.)

Enquanto amamentava nossa filha, Bella, que tanto já apareceu por aqui, eu também ia me nutrindo de temas para escrever. O momento não poderia ser mais especial: era olhar nos olhos dela e me encontrar, me emocionar, misto de amor e encantamento, paixão e ternura, algo que não dá para explicar: só sentir. E assim eu ia me inspirando, rascunhando meus escritos quando a pequena adormecia.

No dia 7 de abril de 2009 tomei coragem e fiz minha primeira publicação: 3 posts de uma vez acompanhados de um delicioso frio na barriga . Comecei com “Tempo fechado“, “Dedo no nariz” e “Ginástica“. Comecei e não parei mais.

O blog passou por mudanças, ganhou um site, parte dele foi parar nas páginas de dois dos meus livros – Refúgio e Amor em Pedaços. Tintim.

Aqui estou, 10 anos depois, pensando no tanto que a vida passa rápido. E sentindo uma porção de coisas que eu queria compartilhar com você: alegria, realização, emoção, gratidão. Mil por cento de gratidão.

Muito obrigada por fazer do blog um espaço de troca, conexão e pausa pra gente pensar na vida. Você faz parte dessa alegria toda.

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<![CDATA[Você sabe dizer não?]]>https://rfeldman.web.app/voce-sabe-dizer-nao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affaeThu, 28 Mar 2019 15:39:50 GMTVocê sabe dizer não?

Você sabe dizer não?

Engraçado. “Não”  é uma das palavras que você mais ouviu na infância. “Não mexe nisso”, “não pode”, “não isso, não aquilo”.  Se lhe soa tão familiar,  tão simples e sonoro de dizer, por que é tão difícil pronunciar essas três letrinhas?

Escuto muita gente confessar essa dificuldade, tanto na clínica quanto na vida lá fora. Bem perto de mim, uma amiga querida vem tentando “largar o vício”: quase sempre (muito sempre) suas respostas giram em torno do sim. (Não tão simples assim.) Mais perto de mim ainda, minha filha é outra que se enrosca toda quando precisa dizer um não. E lá vem eu, não me canso de dizer: “Filha, é importante dizer não quando é isso o que o seu coração tem a dizer. Mesmo que você precise frustrar ou desagradar alguém, faz parte…”

Dizer não para o outro é dizer sim para você, na grande maioria das vezes. Sinal vital de autoestima, primeiro você, “escute a aeromoça”. Inversamente, quem diz sim  pra todo mundo acaba dizendo não para si mesmo. Não é justo.

Voltando à minha amiga, cada vez que ela me conta os pequenos apertos que passa ao não se posicionar como gostaria, eu retruco com um descontraído “diga não.” Repita cem vezes: “Diga não.” Entre risos e refrões, ela  me prometeu que tentaria. Pelo menos tentaria. Até que um dia a  Bella chegou em casa com o seguinte recado: “Mãe, ela mandou te dizer que não está dando muito certo esse negócio de dizer não… Foi falar com uma prima e quase perdeu a amizade…”

É. Acontece nas melhores famílias. Mas num desiste não. NÃO bem grande, ene-a-o-til.

Com toda essa saudável confabulação sobre o não, a Bella acabou aprendendo. Da “pior forma”. (…)

Era dia de cortar a unha. Ela toda espichada no sofá, preguiça absoluta, de olho vidrado na sua série favorita. A mãe com a tesourinha na mão, decidida. A menina enrolou. Resmungou. Fez charme. Rodeio. Reclamou. Negociou. Reivindicou um outro dia, uma outra hora para deixar as unhas rentes. Por fim, olhou pra mim com um olhar seguro, respirou fundo e disse em alto e bom som: “Eu digo não!”

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<![CDATA[Essas mulheres]]>https://rfeldman.web.app/essas-mulheres/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affadFri, 08 Mar 2019 13:50:22 GMTEssas mulheres

Essas mulheres

Ganhou flores pela primeira vez aos treze anos. Do pai. (Parodiando uma clássica propaganda de sutiã, “a primeira menstruação a gente nunca esquece”.)

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Levanta cedo, perfuma a casa de café, prepara a merenda dos filhos, colhe alecrim para saborizar a água e aliviar os hormônios já cansados, se rende ao relógio, sai correndo. Feliz. Ou, na versão de Chico Buarque, “Todo dia ela faz tudo sempre igual; me sacode às seis horas da manhã; me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar e essas coisas que diz toda mulher; diz que está me esperando pro jantar e me beija com a boca de café”.

………………………………………….

Bate ponto, mostra a cara, dá o sangue, brilha os olhos, trabalha a mil por hora, medita pra acalmar a alma, faz um chá de camomila pra entrar no sono REM, sonhar com o bem.

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Cuida do seu jardim, arranca os espinhos, aduba a terra, faz florescer uma vida inteira apesar das erosões no caminho. 

………………………………………….

Dá à luz, acolhe o escuro, dá colo, pede colo, alguns anos de terapia pra entender que a maternidade é a coisa mais maravilhosa que existe e a coisa mais difícil também.

………………………………………….

Chora, silencia, grita, eterniza a sua dor sem já saber mais o que é amor. Vira notícia, viraliza o que não pediu pra viver, reúne forças, manda flores pro seu próprio destino.

………………………………………….

Envelhece, enternece, morre de amor por cada ruga sabendo a história que cada ruga tem. Ri pra vida, endireita a coluna, conversa com o tempo e acena pra morte sabendo que ela é certa, sempre vem.

………………………………………….

Short cuts, long stories, mulheres que enchem de vida a vida da gente. A elas nosso respeito e homenagem sempre, diariamente, especialmente nesse 8 de março, como bem lembra o calendário.

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<![CDATA["Toca o barco"]]>https://rfeldman.web.app/toca-o-barco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affacThu, 14 Feb 2019 16:32:06 GMT"Toca o barco"

"Toca o barco"

Tem pessoas que a gente gosta de graça. Sem fazer a menor força. Mesmo sem conhecer de perto. Mesmo sem nunca ter saído pra tomar um café, como fazem os amigos. Mesmo sem ter o mesmo sangue correndo nas veias ou lugar certo no almoço de domingo. Mesmo sem nunca ter conversado, pode? Pode. Algumas pessoas se fazem gostar (eu diria até amar) naturalmente, por unanimidade, pelo jeito especial que têm de tocar o coração da gente e acender uma afinidade que não tem tamanho nem volta.

Assim era o Boechat pra mim. Parte da minha rotina, do meu bom dia. Ele “ia” comigo no trajeto da escola, levando os meus filhos. Dali “seguíamos” para o consultório, e era como se a gente fosse mesmo conversando através do rádio, uma prosa e sintonia boa. Com ele eu ria, chorava, me indignava com algumas notícias do nosso país. Com ele eu sentia uma força, uma firmeza, uma cumplicidade em pensar do mesmo jeito.

Há 4 anos eu escrevi sobre o Boechat aqui no blog. Foi quando ele teve um surto depressivo e ficou fora do ar por algumas semanas. Em meio à enxurrada de mensagens que chegou à rádio questionando o seu sumiço, uma se destacou: a de uma ouvinte compartilhando a pergunta  da filha a caminho da escola: “Mamãe, o Boechat virou estrelinha?”

4 anos depois, no susto e na notícia que atravessa o peito, o céu nos rouba Boechat para brilhar lá em cima, dessa vez. Ele parte e o que fica é FALTA. Uma imensa e gigantesca FALTA. Perdemos sua voz, seu bom dia, seu boa noite. Perdemos sua presença marcante, sua verdade, sua grande porção de humanidade. Perdemos suas palavras, que tanto falavam por nós.

Obrigada por tudo, Boechat, e descanse em paz. Que a sua luz nos sirva de farol pra que a gente continue “tocando o barco”, como você sempre pedia e gostava de dizer.

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<![CDATA[Brumadinho]]>https://rfeldman.web.app/brumadinho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affabWed, 30 Jan 2019 19:09:45 GMTBrumadinho

Brumadinho

Eu choro, tu choras, eles chora, nós choramos. Choro rompido, doído, afunda meus olhos. Seus. Nossos. Do mundo inteiro.

Quantos olhos mais terão que assistir à mesma cena? Uma vez só já não bastava? Não era suficiente? Cadê o “nunca mais” que eu jurava existir? Quem o tirou de mim?

O “nunca mais” se transformou em “mais uma vez”. Lágrimas de lama, lamento, será que dá pra voltar no tempo? E fazer diferente, direito, com responsabilidade, amor e cuidado, minha gente. Por Mariana, Brumadinho, pelas montanhas de Minas já tão sofridas, já tão despidas. Por mim, por você, por nós que afundamos um tanto também. E sentimos, tanto: susto, dor, tristeza, indignação, pesar, desesperança, lamento. Algo também se rompe dentro da gente. Algo também se rompe dentro da gente. Algo também se rompe dentro da gente, vou ter que escrever mil vezes.

Onde se vê vida leia-se gente, natureza, trabalho, progresso, luta. Só não pode ser “vale-tudo”. Desse jeito não vale, não pode valer. Não pode ser.

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<![CDATA[Um dia inteiro pela frente]]>https://rfeldman.web.app/um-dia-inteiro-pela-frente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affaaWed, 23 Jan 2019 09:51:15 GMTUm dia inteiro pela frente

Um dia inteiro pela frente

Um dia inteiro pela frente. É isso o que você lembra que tem assim que abre os olhos. E assim que fecha também, naqueles minutos sagrados em que agradece por estar vivo, respira fundo, pede. Bênção, Deus.

Para além da rotina diária, perfumada de café coado, cama estendida e sol entrando pela janela; para além do trabalho que te absorve por inteiro, com tudo o que ele traz de responsabilidade e realização; para além de tudo o que você pensa, sente, sonha, por vezes dá nó na cabeça; para além de tudo, tudo, tudinho e que já não é pouco, ela: em forma de bloquinho, caderneta, agenda ou lembrete apitando no celular, sua eterna e infindável listinha.

  • Resolver
  • Pagar
  • Ligar
  • Ir
  • Responder
  • Marcar
  • Levar
  • Buscar
  • Fazer
  • …………………….
  • ……………………
  • ……………………
  • …………………….
  • Ticar, riscar, ok, missão cumprida, mais um dia e você fez seu para-casa direitinho. Dá-lhe endorfina, dizem os especialistas que felicidade é isso: simplesmente chegar ao fim do dia ticando a lista. Só alegria. Sair do mental e alcançar o papel (ou a telinha, ao gosto do freguês), sair do escrito e alcançar o feito, a realização, o dito e o bendito. Fazer, sem deixar em nenhum minuto de ser. Você. Respirar fundo, pôr leveza na correria, amar nas entrelinhas. Amém.
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<![CDATA[As boas coisas da vida]]>https://rfeldman.web.app/as-boas-coisas-da-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa9Sat, 05 Jan 2019 19:38:42 GMTAs boas coisas da vida

As boas coisas da vida

Mergulhar os pés na areia. Pensar em nada. Pensar em tudo. Chamar o mar pra conversar.

Açaí com leite ninho.  (Morango ou manga, o que vai ser?)

Abraço de mil horas. Vista pra descansar os olhos. Inventar de se encontrar. Encantar de se perder.

Salada de frutas no abacaxi. Brincar de polvo. Morrer de rir.

Notícias da cegonha. (Uma menina!) Nascer enfim.

Marcar encontro com o sol. Escapar da multidão. Escutar o coração.

Começar um livro novo. Escrever um Ano Novo. Bonito assim.

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<![CDATA[Janelas]]>https://rfeldman.web.app/janelas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa8Mon, 31 Dec 2018 17:53:07 GMTJanelas

Janelas

JanelasHá um querer. Um sentir. Uma alegria imensa de ter você aqui.

Que o seu 2019 seja leve, arejado, com janelas abertas para o sol entrar.

Feliz Ano Novo, cheio de amor e luz!

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<![CDATA[O que de fato importa]]>https://rfeldman.web.app/o-que-de-fato-importa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa6Mon, 24 Dec 2018 15:40:47 GMTO que de fato importa

O que de fato importa

Para além da correria, do trânsito caótico, das filas e etiquetas de última hora; para além – muito além – do “ter que”, do “tique a lista”, das sacolas, laços de fita, fios de ovos, você pode acessar o que de fato importa: o milagre do abraço, a alegria do encontro, a magia das palavras que se transformam em vibrações as mais lindas, tudo o que a gente precisa nessa vida: amor, alegria, paz, harmonia, esperança.

E nessa doce andança  você segue lembrando que tem um coração batendo aí dentro. E que dentro dele cabe um bocado de gente. E que gente foi feita pra amar, como nos ensinou um dia aquele homem que nasceu numa manjedoura, luz dourada iluminando tudo.

É para referendar o que há de mais humano em nós que o Natal existe. Pra gente evocar a memória,  nascer de novo, pôr sentido, aceitar o convite que a vida nos faz. De amar, “apenas” isso. Nem sempre fácil, nem sempre simples, mas de uma grandeza que diz tudo.

Feliz Natal, cheio de luz, aconchego, sentido e as vibrações mais lindas.

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<![CDATA[Mãe não tem nome]]>https://rfeldman.web.app/mae-nao-tem-nome/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa5Sun, 02 Dec 2018 18:12:28 GMTMãe não tem nome

Mãe não tem nome

Mãe. Apenas 3 letrinhas e um chamamento universal que dispensa maiores explicações. Uma das primeiras palavras que a gente aprende a falar e continua falando a vida toda, mesmo quando essa entidade de amor já não está mais aqui, mas acolá, nos iluminando como as estrelas bem sabem fazer. (Fazer o quê, se elas têm mesmo que ir embora?… Chorar, sentir, amar.  Apesar dos nossos apelos, tão bem representados por Drummond em seu poema “Para sempre”, elas se vão um dia. E ainda assim, enchemos os olhos para falar delas – mãe, mãezinha, mamãe, onde estás que não respondes?…) Mãe é referência de vida pra vida toda, amor que corre nas veias e desagua em memórias as mais profundas e significativas. (Freud que o diga.)

O texto parece propaganda de Dia das Mães, em pleno dezembro, mas não é. Difícil falar de mãe sem tocar na emoção que o tema carrega. Acabei me distraindo um pouco no teor dessa emoção, mas o que me traz aqui hoje é uma questão prática, cotidiana, não menos tocante e reflexiva.

Tenho visto e ouvido alguns filhos – especialmente filhas – no calor da sua pré-adolescência e adolescência propriamente dita, às voltas com seus hormônios, espinhas e indagações –   chamando a mãe não por mãe, mas pelo nome como elas são chamadas pelos  amigos mais próximos, pelos colegas de serviço, pelo gerente do banco – Tatiana, Rafaela, Cláudia, Eduarda, Maria, enfim, qualquer que seja  o nome gravado no seu RG.

– “Tatiana, vamos embora?”

– “Que saco, Rafaela!”

– ” Cláudia, você ainda não entendeu?”

Muitas vezes, ao nome de batismo é seguido um tom de ironia, impaciência, irritação. Ao contrário do sonoro e respeitoso mãe, o que se escuta é uma quebra de hierarquia, inversão de papéis, estranha tentativa de falar de igual para igual com quem jamais se faz igual. Não. Não cabe um nome comum nessas três letras que traduzem um alfabeto inteiro.

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<![CDATA[Emoção]]>https://rfeldman.web.app/emocao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa4Mon, 19 Nov 2018 22:07:17 GMTEmoção

Emoção

Vou tentar descrever aqui. Não sei se consigo.

Falo de emoção. Daquela conhecida sensação fisiológica chamada arrepio. Choro incontido (choro bom, chuvinha fina pra deixar feliz a alma). Estado de graça. Falo (quase canto) de uma batida que estremece o coração. Falo de música, de história, de vida. Falo do filme do  Queen, Bohemian Rhapsody, que desde que assisti continua passando aqui dentro de mim. (Sessão das duas, quatro, seis, “Don´t stop me now“, fui dormir com fundo musical na cabeça e no coração.)

O filme me toca, me atravessa. Bato palmas e peço bis. E continuo falando. De paixão. Talento. Busca. Perseverança. Determinação. Sonho. Sintonia. Cumplicidade. Amizade. Realização. Respeito. Pai. Mãe. Família. Trabalho. Tempo. “Bons pensamentos, boas palavras, boas ações.”

Falo dessas coisas lindas que a gente sente, respira, canta: amor. Poesia. Liberdade. Inspiração. Escolhas. “Somebody to love“. Humildade. Compromisso.”Under pressure“. Começo. Fim. “Who wants to live forever?”. (Não sei se Freddie Mercury quis, mas querendo ou não conseguiu. E lá vai ele, vivendo pra sempre através de nós, da atemporalidade não só da sua música mas também da sua história.)

Emoção, dá pra sentir daí? Impressionante como em duas horas e quinze minutos pode caber uma vida inteira.

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<![CDATA[Turbulência]]>https://rfeldman.web.app/turbulencias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa3Thu, 25 Oct 2018 23:43:38 GMTTurbulência

Turbulência

Tenho ouvido bastante a palavra medo. Bastante. Medo de todas as espécies, formatos, cheiros. MEDO. De dormir, acordar, decidir, sentir, sonhar. Medo de morrer, medo de viver, medo de ser, talvez aí uma razoável generalização de todos os medos.

Clássico e atemporal, esse sentimento paralisa, acorrenta a alma, diz não à calma; como numa turbulência em pleno voo, em que o comandante pede para apertar os cintos e quem fica apertado é o coração: espremido, desenfreado, completamente desassossegado. Uma sensação terrível de que algo escapa ao nosso controle, e que o pior está por acontecer.

Não é preciso estar dentro de um avião para viver a turbulência. Basta deixar a mente entrar numa nuvem negra e pesada, carregada de pensamentos negativos e energias densas para que o medo chacoalhe tudo. Seu mundo ainda nem caiu mas é como se faltasse pouco. Assusta o poder gigantesco que o medo tem de antecipar o que ainda não aconteceu (e talvez nem vá acontecer), mas que dentro de nós já se tornou realidade, a mais pura e catastrófica verdade. E por falar em verdade, aí vai uma boa notícia, colhida na fonte: turbulência não faz cair o avião. Apesar de ser  extremamente temido e desagradável, o fenômeno é tranquilo de enfrentar, palavra de comissário de bordo e demais peritos no assunto. (Que assim seja também com as inquietudes que andam estremecendo o seu coração.)

Para turbulências em terra, há de se buscar possíveis contrapontos ao medo que por tantas vezes nos assola: coragem, confiança, força, firmeza, paz, serenidade. Amor, quem sabe? Talvez aí resida o antídoto para combater essa tormenta de sentimento que costuma fazer tanto estrago dentro da gente. Faz sentido. O amor cobre tudo, é maior que tudo, capaz de nos distrair da adrenalina que jorra do nosso sistema nervoso.

Feliz de quem tem no travesseiro um amigo, privilégio abençoado esse de dormir tranquilo. A noite inteira. Sem o peso assustador do medo, nos resta a leveza de respirar fundo e descansar os olhos nas nuvens, bem lá onde Deus mora, garanta já o seu lugar à janela.

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<![CDATA[Paz]]>https://rfeldman.web.app/paz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa1Sat, 06 Oct 2018 20:15:04 GMTPaz

Paz

De repente (não tão de repente assim), tudo o que você quer é um copo d´água e um tanto de paz. Só isso, nada mais, mais que suficiente. Bebe um gole e sente.

Paz pra matar a sede de dormir tranquilo, uma noite inteira. Acordar e ter pra onde ir, o que sentir, antes mesmo de saber o que vestir.

Paz pra se desnudar, dizer a que veio, se apresentar: “olá, este sou eu, muito prazer.” Mostrar quem você é sem fazer segredo ou rodeio, sem receio de que porventura  torçam o nariz por aí.

Paz pra conversar sem apontar o dedo, sem perder a estribeira, sem deixar que palavras se transformem numa terceira guerra mundial.

Cultivar a vida sem culpa, sem medo, sem pressa. Fazer uma prece. Colocar sentido. Colher flores. Acalmar o coração.

Sentir alento depois da tormenta, derramar os olhos noutros olhos que te querem bem; que te enxergam com esse amor maior do mundo e dizem tanto, e tanto – e mais tanto – sem nada precisar dizer.

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<![CDATA[Ocupada demais]]>https://rfeldman.web.app/ocupada-demais/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017affa0Sun, 23 Sep 2018 20:27:39 GMTOcupada demais

Ocupada demais

Antes que ela cresça de vez. Antes que o tempo e as espinhas reconfigurem seu modo espontâneo de ser, tão típico das crianças, tão cheio de graça e delicadeza nessa minha menina-flor. Antes que a minha mente (tão cheia de listas, afazeres e neurônios falantes) esqueça, me dou o direito a este breve recreio, rendendo-me à delícia de registrar aqui mais uma perolice da Bella.

Mochila nas costas e animação além da conta, lá foi ela passar o fim de semana fora. Ela e a turma da escola, alegria coletiva para comemorar o aniversário de um amigo num hotel-fazenda em Cordisburgo, ao tema de Harry Potter. Programação  intensa, você pode imaginar: quadribol, piscina, teatro, gincana, atividade de terror, tobogã de sabão…

Com beijos, abraços e muitas recomendações, me despedi dela numa sexta às 7 da manhã. E veio o meio-dia. E veio a sexta à noite. E veio o sábado de manhã, o sábado à tarde, o sábado à noite. Nem sinal de vida, nem uma mensagenzinha de bom dia. Sabia que ela estava bem, se divertindo, feliz da vida, feliz também fiquei. “Só pra constar, vai que ela pega o celular e dá uma olhadinha”,  mandei um alô no sábado de manhã (sem resposta) e outro às onze da noite, dizendo que estava com saudade.

Cinquenta minutos depois, já quase domingo, meu celular apita breve e sucinto, mais parecia um telegrama: “Oi mamãe! Desculpa pela demora ando muito ocupada manda bjs pra todos! Amanhã nos falamos”

(!)

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<![CDATA[Achou?]]>https://rfeldman.web.app/achou/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff9fTue, 11 Sep 2018 18:16:15 GMTAchou?

Achou?

Tem gente que procura emprego. Namorado. Sarna pra se coçar. Alegria pra dividir. Motivo pra brigar. Colher de chá. Passagem em promoção, muito além da imaginação, apenas ida.

Tem gente que procura os óculos (bem ali no seu nariz), o celular, a chave do carro, “onde é que eu pus mesmo?”

Refresca a memória e continua procurando: um marceneiro bom de serviço, um presidente decente (escreva  cem vezes), receitinha pra agradar a sogra, autoestima pra amar a si mesmo, resposta pra mil perguntas, ombro certo pra aliviar a dor, um cadinho de ar para tomar. Respira….

A paz está cotada, anda bem procurada. Tem ouro quem leva um tesouro desse no coração.

Tem gente que olha pro céu à espera de uma estrela cadente, um recado de Deus, um meteorito pra ficar na história. Tem gente que olha pro chão e encontra  pés cansados, sombra amuada, quem sabe um bilhete premiado. E se a busca não para, há  também quem procure calma, leveza, gentileza, um pouco de silêncio pra se ouvir melhor.

Tem gente que não sabe o que quer, e aí nem procura. Tem gente que procura, procura e quase desiste de encontrar. (Desiste não!).

Tem gente que já encontrou mas continua procurando: pelo em ovo, medalha de ouro, sentido pra continuar, trabalho pra amar, uma vida com um pouco mais de emoção.

E você? Já bateu um papo com São Longuinho? (Não esquece dos três pulinhos.)

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<![CDATA[Carta à Freud]]>https://rfeldman.web.app/carta-a-freud/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff9eFri, 24 Aug 2018 14:50:44 GMTCarta à Freud

Carta à Freud

Carta à Freud

Meu caro Freud,

Sinto muito, muitíssimo, mas infelizmente não poderei comparecer à nossa próxima sessão. Sua Viena é linda (acho que posso dizer “nossa”, a mesma terra por onde nasceu e andou minha tataravó materna), já me sinto pertencente e com enorme dificuldade de ir embora.

Mas, você sabe, tenho que ir. O trabalho me chama, os filhos sentem falta (e eu também, imagina, saudade de mãe judia, você me compreende bem…), enfim, a rotina precisa voltar ao normal. (E o que é “normal”?, você poderia me perguntar.)

Os dias que passei aqui ficarão para sempre na memória, muito além do meu hipocampo ou lóbulo frontal, mas na memória do coração. Afetivamente me despeço de você, deixando registrado o quanto fiquei encantada (hipnotizada, eu diria) por cada canto da sua casa – cada cômodo, cada carta, cada adorno, cada lembrança. (Quanta emoção.)

E como você sempre explica tudo, meu caro Freud, por favor: explica também  esse amor imenso que eu sinto pela psicologia; pelos labirintos infindáveis que permeiam a mente humana, tão repleta de pensamentos, ideias, impulsos, traumas, memórias, histórias. Me ajuda a entender essa emoção que me toma quando escuto uma pessoa falar daquilo que a faz sofrer; quando enxergo o outro através dos olhos dele e ajudo a desatar os nós que fazem chorar, sentir, adoecer, crescer.

Deixe-me falar de um sonho. Aquele, de anos atrás, quando eu ainda era uma menina e as minhas amigas de escola vinham me contar algum problema.  Eu gostava de ouvir, e era com uma certa desenvoltura que eu respondia àquela clássica pergunta dos adultos: “O que você vai ser quando crescer?”

Aquele sonho virou realização, meu caro Freud, e você tem um tanto de culpa nisso. (Ah, culpa… Uma das palavras que mais escuto na clínica…)

Culpa boa, a sua. Obrigada por abrir caminhos, acender a luz, respaldar essa profissão que eu tanto prezo e amo. Aquele sonho antigo me faz acordar para trabalhar todos os dias com uma alegria e uma gratidão que acho que nem você dá conta de explicar.

Até a próxima, meu querido Freud. Obrigada por tudo, sempre.

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<![CDATA[Pai]]>https://rfeldman.web.app/pai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff9dFri, 10 Aug 2018 13:27:12 GMTPai

Pai

Semana passada recebi um convite inusitado pelo whatsapp, vindo de uma pessoa muito querida: “Ei, tá boa? Gosta do Fábio Jr? Tô com um lugar na minha mesa, pro show desse sábado, quer ir?”.

Estava em atendimento, só fui ver um tempo depois. Quando pude responder, já havia outra mensagem dela: “É brega, eu sei.”

Nunca me ocorreu ir a um show do Fábio Júnior (não sou fãããã…, muito menos desvairada, como duas cunhadas lindas que eu tenho), mas achei o convite uma delícia. Primeiro pela companhia, pela farra, pelo evento em si. Depois porque o moço tem charme, carisma, amor correndo nas veias e um repertório que a minha geração conhece bem. (Se você faz parte dela, conhece bem “Felicidade”, “Alma gêmea”, “O que é que há?”, “Quando gira o mundo”.)

Pois lá fui eu, feliz da vida. A plateia, majoritariamente feminina, deu um show à parte: beleza, leveza e alegria em uma cantoria afinada acompanhando com os braços cada refrão. Do alto dos seus 64 anos o danado do moço ainda en-canta, é preciso reconhecer, cada letra um monte de suspiros. Saí um pouco de cena, pus pra conversar a redatora publicitária que fui  com a psicóloga que sou e fiquei pensando no quanto os homens precisavam ouvir mais Fábio Jr. Brega ou romântico por natureza, ele sabe dizer o que uma mulher quer ouvir. Elas se desmancham, use isso a seu favor, querido leitor.

Contei tudo isso para chegar no “Pai”. No dele, no meu, no seu. Quando essa música começou a tocar, olhei para a minha amiga e disse: “Ai.” (Quantos ais cabem nessa palavra que a gente aprende a falar tão cedo… Quanto amor, quanto colo, quanta história, gratidão, ensinamento e afeto resumem essas três letrinhas. Quanta saudade e emoção também, é o que sente quem já atravessou a dor de perder quem jamais deveria ter ido embora.)

O tempo passa e essa música continua linda. Uma conversa de filho pra pai, quase uma declaração de amor, nó na garganta abordando o tempo, o sentimento, o afeto, a relação dos dois, enfim. E aí não tem jeito: essas três letrinhas vibram dentro da gente, cada um a seu modo, pela história que tem pra contar. (Ou cantar).

E aí eu te chamo, pai. Te encontro dentro de mim, fora também, a cada bom dia e boa noite, a cada abraço e café da manhã de domingo, a cada riso, prece e alegria que vem dessa nossa composição, dessa nossa sintonia. Que privilégio poder amar você, com todo amor que cabe dentro de mim – letra, rima, ritmo, melodia. Melhor não aparecer nenhum microfone na minha frente. Senão eu juro que canto pra você.

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<![CDATA[Aos "nossos" meninos]]>https://rfeldman.web.app/aos-nossos-meninos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff9cWed, 11 Jul 2018 20:19:45 GMTAos "nossos" meninos

Aos "nossos" meninos

Não conheço nenhum dos doze meninos tailandeses que ficaram presos na caverna inundada de Tham Luang, por mais de 15 dias. Mas sei que são bons de bola e esperança, essa palavra que escuto muita gente pedir – quase implorar – para sentir. (Parece que andam anestesiadas de fé.)

Sei também que eles fazem parte de um time chamado “Javalis Selvagens”, e que no período em que estiveram presos se comunicaram através de cartas: “Queridos mamãe e papai, não se preocupem comigo, posso cuidar de mim.”; “Queridos mamãe e papai, estou bem, um dos mergulhadores me trouxe frango frito para comer. Amo vocês.”; “Querida avó, estou bem, não se preocupe muito por mim. Por favor, cuide-se.”

Sei – posso falar de cadeira e de coração – da minha emoção ao vê-los serem resgatados, ambulância por ambulância, até chegarem ao hospital. Ainda sem poderem abraçar seus pais, assistir à final da Copa na Rússia ou comerem chocolate (um dos pedidos feitos, e eu assino embaixo…), “nossos” meninos conseguiram finalmente se libertar, sãos e salvos. Digo “nossos” porque, mesmo tão longe, tão perplexos e impotentes, de alguma forma estivemos lá com eles também. Em uma conexão linda de compaixão, mergulhamos fundo dentro de nós, torcendo, rezando, acreditando. (Está aí um gerundismo com toda razão de ser).

Diante de tantas notícias ruins, o resgate desses meninos foi um presente, um alento, um time inteiro voltando pra casa carregando a taça.

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<![CDATA[Fazer acontecer]]>https://rfeldman.web.app/fazer-acontecer/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff9bFri, 29 Jun 2018 14:35:39 GMTFazer acontecer

Fazer acontecer

Tem uma coisa danada de linda chamada coerência. Tão linda que poderia ser uma ciência, Prêmio Nobel da Paz para  quem costuma alinhar pensamento, crença, sentimento e vontade com algo muito simples (às vezes não tão simples) chamado ação. (Conhece?)

De nada adianta encher a cabeça de ideias, planos, filosofias. Ou abarrotar o coração de fé se não se firma o pé na tábua. De nada adianta morrer de vontade de encontrar os amigos, marcar um rapel, chamar aquela moça bonita pra sair e “morrer na praia”. Liga pra ela logo, vai.

Quantos sonhos vão parar na gaveta porque não foram levados adiante? Quantas promessas se esvaziam, quantos discursos evaporam como perfume lançado ao chão? (Quebra, nosso querido povo brasileiro que o diga.) Quantos rascunhos, esboços, boas intenções envelheceram sem você nem perceber? (Ou você percebeu e resolveu deixar por isso mesmo, como a resolução mais frustrante e “desimportante” da sua vida?)

“Ser ou não ser”,  meu caro Hamlet, eis a boa e velha questão de sempre. Ser de verdade, ser inteiro, afinando o coração com a música que você quer ouvir tocar. Não dá pra dançar forró ao som de Vivaldi. Ou meditar ouvindo um rock no último volume. Ou trocar “Palavra Cantada” por funk na festinha de aniversário do seu filho. (Absolutamente não dá.)

E também não dá pra ficar só na fala, só no blablablá. Às vezes é muito “da boca pra fora” e pouco “do coração pra dentro”. Sente?

Para um pouco, silencia e pensa, se escute. Quais os arranjos você anda fazendo na sua vida? Como anda a sua sintonia com o mundo? Compasso ou descompasso? Marcha à ré ou um passinho à frente, por favor? Mais amor, meu caro, mais amor. Primeiramente por você mesmo, é o que recomenda a aeromoça em caso de despressurização. Autoestima nunca esteve tão em voga, nunca saiu de moda. Suas escolhas, suas relações, seus pontos de mutação e ação – tudo isso diz muito a seu respeito; pertence a você, e se pertence tem que tomar conta.

Então vá, chame a coerência pra te acompanhar. Dançar um tango ali na esquina, quem sabe? Passar naquele concurso que já passou da hora. Fazer aquela torta de limão prometida pra filha, sem demora. Levar o namorado pro altar, é pra já. Obedecer a voz que vem do coração.  (Acredite, na maioria das vezes é ele quem tem razão.)

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<![CDATA[Receita pra arrumar namorado]]>https://rfeldman.web.app/receita-pra-arrumar-namorado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff9aTue, 12 Jun 2018 20:09:01 GMTReceita pra arrumar namorado

Receita pra arrumar namorado

O amor está no ar. No zap. Num esbarrão ali na esquina. Num convite repentino.

O amor está num perfume adormecido no cachecol. Nesses seus olhos cheios de sol. Num pedido à moda antiga. Numa mistura perfeita de morango com chocolate. (Aceita um cadinho?)

Lá está ele, esse nosso velho conhecido: nos signos ascendentes acendendo a noite, virando a lua pelo avesso, redonda e parideira, cheia de amor pra dar. (Tem que enxergar.)

E dá-lhe música, bilhete, Dia dos Namorados, dia-e noite-noite-e-dia, viagens pra colecionar, estrelas pra apanhar; cobertor, travesseiro, sessão de cinema e tantas outras de terapia. (Vai entender o amor…) E dá-lhe abraço, beijo, amasso, códigos cheios de criptografia. E dá-lhe queijo com cereja, velas acesas,  aroma de alecrim alegrando a alma. Abre uma garrafa de vinho porque lá tem um tanto mais de amor. E tem “eu te amo”, tem cumplicidade, tem sintonia, tem um jeito de amar que é de cada um. (Invente o seu.)

O amor está aqui, ali, acolá. Se não está, não desanime, bote fé: ele ainda há de chegar, Feliz Dia dos Namorados antecipado e com muita alegria, por aqui a torcida é grande. [Mas antes se apronte, se aprume, se enamore muuito – mas muito mesmo – de você mesmo(a). Esta é a receita.]

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<![CDATA[De volta à normalidade]]>https://rfeldman.web.app/de-volta-a-normalidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff99Fri, 01 Jun 2018 10:08:06 GMTDe volta à normalidade

De volta à normalidade

Tem gente que reclama da rotina, desse quase sempre tudo sempre igual: segunda-terça-quarta-quinta-sexta, arroz com feijão pimenta não, casa-trabalho-casa, dia-e noite-noite-e-dia.

Eu não. Nunca morri de tédio ao acordar e olhar pra mesma montanha, pros mesmos olhos que iluminam os meus, pro mesmo Deus que me escuta atento, gratidão-pedido-ou lamento.

Amo coar café. Pedir bênção. Sair pra trabalhar. Amar esse meu bate-ponto, sem chefe ou burocracia, alegria alegria. Pausa pra almoçar, pimentinha no feijão. Mais trabalho, vamos que vamos, depois voltar e encontrar tudo no lugar: abraços de urso, roupa lavada, comida quentinha, banho relaxante, livro e abajur. (Ou quem sabe um tour?)

Depois de um maio um tanto quanto turbulento, nada como voltar à normalidade, mesmo que aos poucos. Colocar gasolina, ir às aulas, pegar o voo, fazer a feira, encontrar ovos, mamão, limão. Fazer do limão uma limonada. Tudo funcionando bem, cada qual na sua rotina, cada música na sua sintonia, coisa melhor não há. Movimento. Todo mundo com saúde, todos bem e inteiros.

E o que precisar fugir da rotina, que seja em nome da alegria: uma surpresa. Um convite. Um pote de pralinê em frente à TV. Uma mensagem pra ler sorrindo. Uma viagem aqui e acolá. Um presidente digno da  sua confiança. Um novo país pra gente se orgulhar. Um encontro inusitado. Um filme, um show, um tanto de querer bem. Velas pra soprar.  Projeto novo pra amar. A vida de vento em popa, sem grandes novidades ou tensão no noticiário, apenas uma rotina deliciosamente previsível pra viver.

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<![CDATA[Perdas no caminho]]>https://rfeldman.web.app/perdas-no-caminho-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff98Thu, 24 May 2018 11:35:06 GMTPerdas no caminho

Perdas no caminho

Onde é que a gente se perdeu? (…) Qual foi o ponto mutante dessa relação que parecia jamais mudar, jamais ter fim? Quem colocou reticências, quem foi que fechou a janela, que antipasse de mágica foi esse que transformou primavera em deserto do Saara, assim sem avisar?

Ou o aviso aconteceu, datado e registrado em cartório, você é que não viu? Você é que não quis perceber? A vida vai dando sinais, mas muitas vezes é mais fácil recusar, fechar os olhos para o que está bem ali à sua frente, fazer de conta que está tudo bem. Ou não. (…)  Tem gente que vê tudo, faz da intuição porta-voz, capta nas entrelinhas o que não estava no script, emudece por dentro. E sente. Como sente…

Isso vale para uma relação amorosa. Uma relação familiar. Uma amizade de anos a fio. Um trabalho conquistado a duras penas. Uma sociedade com juras de amor eterno. Ou aquela parceria líquida e certa (não tão certa assim).

Tantas perguntas, muitas vezes sem resposta, não me canso de ouvir. Faz parte do meu ofício acolher o que desata a doer, o que definitivamente não se pediu para viver. E é nessas horas que os olhos precisam desembaçar para enxergar um ponto de luz no caminho: alguma forma de entendimento e aceitação, por mais distante que isso possa parecer.

Como tudo na vida, as relações também se transformam. Mudam de configuração, se atualizam para uma versão mais moderna, param no tempo, se reinventam ou simplesmente esfriam, congelam. Brrrrr.

Algo se perdeu, mas onde? Se você olhar pra trás, pode ser que enxergue aquela partícula de poeira onde a quebra aconteceu. Onde o corte se fez, inevitável e cirúrgico, cicatriz pra vida toda. Entender a raiz do desencontro pode acender uma luz, trazer de volta a esperança que um dia entrou em coma.

Se você olhar pra frente, pode ser que ainda dê para seguir, ainda que com outro olhar, ainda que com outro chão pra caminhar. Algo se perdeu mas o caminho continua ali, esperando pelo andarilho: árido ou florido, longe ou logo ali, a direção é seu coração quem dá.

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<![CDATA[Mães também são filhas de Deus]]>https://rfeldman.web.app/maes-tambem-sao-filhas-de-deus/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff97Sat, 12 May 2018 18:30:43 GMTMães também são filhas de Deus

Mães também são filhas de DeusMães também são filhas de Deus, importante lembrar. E com essa filiação abençoada, tinha mesmo que vir delas essa coisa imensa que costumamos chamar de amor. Um amor que chega a doer, eu sei. E por mais que se tente explicar, ainda falta explicação. Sobra espaço, tamanho, colo, entendimento, emoção. Transborda. Os estudiosos do assunto que me perdoem, mas amor de mãe é algo que se sente, simplesmente. Que habita a fundura do alma e do coração, atravessando cada célula desde sempre.

Com as devidas e raríssimas exceções (que também fazem parte), começa-se por amar um pedaço de papel saído do laboratório, quatro letrinhas e um valor aumentado que fazem do bhcg o hormônio mais especial do mundo. E por aí se segue amando cada mudança, cada “grãozinho de arroz” mostrado no ultrassom, cada azia e cada enjoo, cada indefinição e cada senão. O nome, o berço, o chá de fraldas, a babá, a sogra, o pediatra, o casamento que também abre um novo capítulo (ou seria um livro?), o cansaço, a liberdade, a euforia, o medo e cada porção de alegria, também se aprende a amar.

Depois que o rebento nasce, não deixa nunca mais de nascer. Continua se transformando sempre, bem embaixo dos nossos olhos. É o dente que cai, a febre que cessa, a queda no judô, o salto no balé, as dificuldades na escola, o nariz cheio de espinhas, a primeira menstruação, a crise da adolescência, o crush, a formatura, o tempo que escapa, o abraço que nunca falta. Até que um dia a história se repete, e quando você vê já virou mãe com açúcar, coração de novo a postos para amar aqueles que serão uma linda continuidade sua.

O post poderia terminar por aqui, Feliz Dia das Mães, mas vou voltar na primeira frase que é pra você não esquecer: mães também são filhas de Deus. E como boas filhas Dele que são, também podem errar, tropeçar, cair, chorar, desabar se for preciso. Também necessitam de colo, copo d’água, ar puro, música pra acalmar a alma. (Calma, mais uma importante palavrinha mágica.)

Nessa toada, mães não têm que dar conta de tudo, não têm que fazer mágica nem resolver o que não é possível. São humanas, apenas. É que essa sua capacidade de amar é tão grande, tão imensa e tão bonita que a gente costuma achar que elas não são deste mundo.

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<![CDATA[Dando à luz]]>https://rfeldman.web.app/dando-a-luz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff96Sun, 22 Apr 2018 22:18:58 GMTDando à luz

Dando à luz

Minha bisavó materna veio da Polônia, deixando para trás tempos difíceis. Muitos familiares e amigos que por lá ficaram acabaram enfrentando o pesado destino de morrer nos campos de concentração.

Dona Regina fez sua vidinha no Brasil com um homem bom, amor da sua vida, também polonês. Quando estava grávida de alguns meses deixou o marido aqui trabalhando, pegou um navio e regressou à Polônia somente para dar à luz ao lado de sua mãe, conforme rezava a (sua) tradição. Voltou algum tempo depois depois com a minha avó aconchegada em seus braços, cruzando um oceano inteiro. Guerreira essa minha bisa.

Três anos depois, grávida de novo, lá se foi ela outra vez, acompanhada agora da filha, mar à vista, seguir mais uma vez a tradição e o coração. Trouxe com ela o rebento no colo e a primogênita agarrada à saia, mazal tov, missão cumprida!…

Graças também a ela, estou aqui. Fazendo florescer minhas raízes, continuando uma história que começou bem longe, grata pelo amor que de tantos lados me atravessa.

Eu não precisei pegar um navio para dar à luz junto da minha mãe. (Diz a constelação familiar que a tendência é que cada geração tenha um destino mais leve. Ou, numa das frases que eu costumo repetir, “nossos ancestrais carregam o piano pra gente tocar.” Que bom que é assim. E isso aumenta o nosso dever em reverenciar e agradecer àqueles que vieram antes.)

Minha mãe se tornou vó bem pertinho de mim, chorando de emoção por cada chorinho que estava por vir. Perto dela eu dei à luz não só na maternidade, mas na vida profissional também. Passou para mim, de mãe para filha, o amor pela profissão, a honra e alegria de ajudar as pessoas. O brilho que eu sempre vi em seus olhos serviu de inspiração, farol iluminando o meu caminho.

Depois de muito chão seguindo os seus passos, tenho agora a alegria de ver nascer, junto dela, a Feldman Clínica de Psicologia. Mais possibilidades de atendimento, mais profissionais trabalhando a favor da vida, mais luz na travessia.

Obrigada, mãe. (E vó. E bisa. E tata. E todos aqueles que vieram antes, dando à luz e abrindo caminhos para que chegássemos até aqui.)

P.S.: Se a bisa estivesse aqui, iria preparar uma daquelas suas receitas tipicamente judaicas para celebrarmos a novidade. E, ao “rasparmos o prato”, é assim que ela diria, com o seu acentuado sotaque polonês: “Gostou? Repete!”.

(É, bisa… De uma forma ou de outra, estamos sempre repetindo…)

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<![CDATA[Detalhe extra]]>https://rfeldman.web.app/detalhe-extra/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff95Sat, 07 Apr 2018 23:04:04 GMTDetalhe extra

Detalhe extra

Hoje o blog completa 9 anos e eu só fui me atentar para a data depois que coloquei o post no ar. Se escapuliu esse detalhe importante, é porque sobressaiu a grandeza da felicidade que é escrever para você.

Pensar no tema, escolher cada palavra, colocar as vírgulas no lugar, pensar e sentir um monte de coisas, viajar nas imagens e finalmente publicar o post me traz uma sensação indescritível de alegria, realização, missão cumprida.

Aproveite cada detalhe, cada cantinho do blog como se ele fosse seu. (E não é?!)

Obrigada pelo presente que é ter sua presença por aqui.

 

Um abraço carinhoso,

 

Renata.

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<![CDATA[Cada detalhe sabe a grandeza que tem]]>https://rfeldman.web.app/cada-detalhe-sabe-a-grandeza-que-tem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff94Sat, 07 Apr 2018 21:04:15 GMTCada detalhe sabe a grandeza que tem

Cada detalhe sabe a grandeza que tem

Você pode pensar grande. Alto, longe, asas foram mesmo feitas para voar.

Você pode realizar sonhos, conquistar o mundo, promover uma revolução.

Pode casar, comprar uma bicicleta, escalar montanhas, virar gente grande, descobrir Urano.

Pode entrar na correria, viver de poesia, respirar noticiário, matar um leão por dia.

Mas não se esqueça nunca – nunquinha – de que a vida é feita de detalhes. Essas coisinhas assim bem simples e pequenas, mas de um significado gigantesco.

Olhar nos olhos. Escutar de verdade, palavra por palavra, conectar com a alma.

Perguntar se “está tudo bem” querendo realmente saber a resposta. Seja ela qual for.

Abraçar por inteiro, coração com coração, nada de tapinha nas costas.

Respirar fundo, raso, bonito, mas respirar. Sempre.

Oferecer colo, pipoca, prece, copo d´água, calma, cafuné.

Regar as flores, pedir notícias, se despedir.

Dizer “eu te amo” sem nada precisar dizer.

Fazer companhia, tocar a campainha, colocar um jazz para o jantar.

Jogar conversa fora, reciclar o tempo, dizer “presente” sem ter chamada para responder.

Dar as mãos e atravessar se preciso um deserto inteiro, compartilhando o primeiro oásis que aparecer.

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<![CDATA[De que lado você fica?]]>https://rfeldman.web.app/de-que-lado-voce-fica/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff90Wed, 28 Mar 2018 10:50:23 GMTDe que lado você fica?

De que lado você fica?

Ora a gente é abajur aceso, noite que não quer dormir, pensamentos quebrando o silêncio, problemas se fazendo ouvir. Ora a gente é aconchego de travesseiro, paz adormecendo o coração, leveza que nos ensina a dançar. Bonito.

Turbulência ou calmaria, medo ou coragem, culpa ou liberdade, somos todos dicotômicos. Pluralmente dicotômicos. Ora isso, ora aquilo, ora Cecília, ora Meireles, ora rascunho, ora poesia, ora anjo, ora leão. (Um por dia, vamos lá, missão cumprida.)

Somos dois, três, somos vários:  frutos e raízes, folhas e flores, de uma complexidade que filósofo nenhum ainda conseguiu explicar. (Será que Freud explica?)

Ora passado, ora presente, ora labuta, ora descanso, ora prosa ruim, ora notícia boa. E a lista não para por aí: ora inferno-astral, ora céu de brigadeiro, ora solitude, ora multidão, ora desespero, ora oração. É pegar com  Deus ou largar de vez a esperança. (Larga não.)

De um jeito ou de outro, a gente está sempre buscando, sentindo, pensando. Às vezes chega a doer de tanto pensar, de tanto colocar neurônios pra brigar. Carece não, coloca eles pra brincar.

Às vezes o peito parece explodir de tanto sentir, coisas que a gente nem supunha existir. Ora alegria, ora tormenta, ora minuto, ora eternidade, ora vazio, ora saudade. Só sei que dói. Muito.

Não importa o lado que pesa mais. Ou menos. O que importa é transformar o impasse em passo de dança, dois pra lá um pra cá, bota os dois pra namorar. Aquela sua velha mania de excluir o “feio” acaba deixando tudo meio dividido, nada muito bonito, ao contrário do que você gostaria. Acolher as coisas do jeito que elas são, aceitar que todo jardim tem espinhos e ervas daninhas pode ser um caminho bem mais leve de percorrer.

Mas se você insiste em ficar no lado denso e sombrio, lembra que é daí que muitas vezes surgem as transformações mais lindas:  da escravidão à liberdade, da doença à cura, do susto à serenidade, do morrer ao renascer. Basta voltar no tempo, na história, seja do mundo ou a sua própria, e ver que é possível fazer luz na escuridão.

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<![CDATA[É seu]]>https://rfeldman.web.app/e-seu/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff8fSun, 25 Feb 2018 12:05:51 GMTÉ seu

É seu

Toma, é seu. Pegue, fique à vontade. Por que a cerimônia? Avante, em frente. Agarre, abrace, se aproprie do que é seu.

Um travesseiro macio. Um livro de cabo a rabo. Seu domingo. Seu marido. Sua liberdade. Sua porção imensa de saudade.

Bênção de pai e mãe. O suor do seu trabalho. Uma mente descansada. A namorada que por um triz já ia embora, vai lá e traz ela de volta. Corre.

Um porquinho pra quebrar. Uma família pra amar. Sua música favorita. Seu talento, sua vontade. Seu senso de loucura e responsabilidade. Sua fé. Seu amor. Sua verdade. Sua alegria mais completa e genuína.

Faça valer o que é seu, meu caro: seu caráter, seu trabalho, as estrelas que você prometeu contar. Toma, vai. Seu sonho, seus projetos, sua participação nessa vida que você chama de sua. (Ela é, alguém disse que não?!) Vai lá, você e essa sua mania de querer abraçar o mundo, mesmo que ele não te devolva o abraço. Tá valendo.

Não estou falando da posse que sufoca nem do apego que machuca. Mas da capacidade mais linda de ser quem você é, se apropriando daquilo que você tem ou já conquistou. O que é seu é seu, pronto, acabou. Sorria, se aprume, coloque-se a caminho. Tome posse.

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<![CDATA[Acredita?]]>https://rfeldman.web.app/acredita-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff8eMon, 12 Feb 2018 23:11:23 GMTAcredita?

Acredita?

“Acreditar. Ter fé.” Você pode ler isso com um sorriso, em sinal de concordância. Ou franzindo a testa, demonstrando que o assunto não desliza tão fácil para você. Vai depender muito do seu olhar, da sua história e do que anda carregando o seu coração. (Pedra ou flor? Tijolo ou aquarela? Cimento ou vela?)

Para alguns, acreditar soa tão natural e corriqueiro quanto comprar pão na padaria, colocar as roupas no varal, andar de bicicleta, conversar com Deus (a hora e do jeito que for). Para outros, o verbo acaba esbarrando em uma pergunta aparentemente sem saída: “como é que eu faço para acreditar? Como é que eu faço para ter fé se a minha vida anda tão escura, tão árida, tão difícil?” “Fé? O que é isso? Como se fala ou escreve? Que dialeto seria? Desconheço.”

Tenho ouvido esta pergunta de algumas pessoas. Fé tem sido palavra falada, debatida, pouco sentida. Principalmente quando a vida parece tirar o chão e mostrar o seu lado mais doído, parece inevitável perder a esperança (mais uma perda, há de se registrar). Nessas horas, tenho ouvido, parece inevitável brigar com Deus, mesmo quando ele continua com os braços firmes e estendidos para o abraço mais acolhedor que eu também já ouvi contar.

Aproveitei o Carnaval para assistir a um filme indicado por uma pessoa muito querida, e li a frase “Acreditar. Ter fé. Ir até onde suas crenças te levam” na legenda de uma das cenas clímax, surpreendentemente linda. O filme – “O mistério da libélula” –  é de 2002, e traz Kevin Costner (tão novo, tão brilhante!…) no papel principal como um médico que fica viúvo de forma abrupta, e começa a receber mensagens da sua esposa através de crianças com câncer e pacientes à beira da morte. (Prepare o coração.)

Mistério? Suspense? Transformação? Amor? Muito amor envolvido. Muito foco em não deixar escapar a fé  por nenhum segundo, por mais estranhas as formas em que ela se manifeste.

Da dor aguda do luto à inconformidade da perda, da raiva à culpa, da tristeza profunda à busca desenfreada por respostas, “O mistério da libélula” vem confirmar que a fé pode, sim, terminar em um sorriso no rosto e a confirmação de que ela tem força,  sentido e asas capazes de nos libertar. Aqui estamos nós para voar, pois.

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<![CDATA[Filhos dão um filme]]>https://rfeldman.web.app/filhos-dao-um-filme/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff8dSun, 04 Feb 2018 21:15:56 GMTFilhos dão um filme

Filhos dão um filme

Quem tem filho adolescente tem também um filme (vencedor do Oscar!) que vira e mexe passa na telona do coração. “Vale a pena ver de novo”, se emocionar de novo, tantas e quantas vezes for preciso.

Ontem mesmo você alisava a barriga, colecionava sapatinhos de tricô, frequentava curso de gestantes (“Como dar banho”, “como curar o umbigo”, como aprender coisas que só se aprende mesmo na prática. Coisas que o amor ensina sempre, diária e incansavelmente, como bom e velho professor que é).

Outro dia mesmo você estava amamentando. Achou a coisa mais fascinante do mundo. Achou a coisa mais difícil do mundo. Outro dia mesmo você estava lá na escolinha, primeiro dia de aula, cordão umbilical se rompendo mais uma vez, de forma exposta e oficial. Você com o coração apertado, a criança com o coração largo de alegria, pronta para descobrir o mundo. E quando ela se foi de mãos dadas com a professora, sem ao menos olhar pra trás, sem ao menos dar tchau, você descobriu que era você quem precisava de adaptação.

O flashback é gigante, deliciosamente nostálgico e cheinho de efeitos especiais. Noites em claro, choro, birra, para-casa. Pediatra, curva do crescimento, limites, irmãozinho. No meio de tudo isso casamento, carreira, trabalho, individualidade. (Ufa. Dá trabalho.)

Num infinito de temas e enredos, a maternidade corre antagônica: dores e delícias, alegria e preocupação pra vida toda. As mães se doam, se culpam, se esgotam de tanto amar, pude confirmar na minha pesquisa de mestrado.

É, mãe. O tempo passou como num passe de mágica, você nem viu. O rebento esticou, aprumou, encheu o rosto de espinhas e a cabeça de indagações. Quase sem perceber, com a sua espontaneidade de sempre, você foi sendo promovida  de mãe coruja a exímia fabricante de micos, para pânico do seu(ua) querido(a) adolescente.

Minha filha “pré-bem-vinda ao clube” me chamou para assistir “Fala sério, mãe!”, baseado no bestseller da Thalita Rebouças. Brinquei com ela: “Ih, você vai sair do filme falando ´Fala sério, mãe!´”. Rimos juntas e lá fomos nós para a fila da pipoca.

Saímos os três do cinema – pai, mãe e filha (o adolescente-mor estava viajando) —com a alma leve, fígado desopilado, algumas identificações feitas e (eu, claro) com algumas lágrimas pra contar a história.

Quem inicialmente não deu muito pelo filme (confesso) agora está aqui para recomendá-lo carinhosamente a você. Mesmo com todos os clichês, está aí um filme delicioso, leve e divertido que vai te conduzir, por associação e experiência própria, ao longa-metragem mais especial que você já produziu ou viveu um dia.

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<![CDATA[Aumente o volume]]>https://rfeldman.web.app/aumente-o-volume/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff8cWed, 17 Jan 2018 07:33:12 GMTAumente o volume

Aumente o volume

Lá vem ele. Cheio de luz, força, inspiração. Cheinho de amor pra dar. Como um post it amarelo gigante pra te lembrar o tanto de vida que corre lá fora. (Bora?) Chegando pra te abraçar.

Lá vem o sol, tocando música dos Beatles na sua vida. Iluminando tudo, dourando tudo, antidepressivo melhor não há.

“Lá vem o sol, está tudo bem.” Lá vem você, está tudo sol. Solamente você, na sua autenticidade e inteireza, na sua capacidade de amar um mundo inteiro, sol na mente que tudo vai dar. Certo? “It´s all right”. “Here comes the sun.”

Quantas vezes você já não esperou por ele? Sorrindo. Tinindo. Onde se vê sol, leia-se sorte, praia, alegria, vitamina D, violão, notícia boa, namorado novo, coração batendo forte, realização, projeto pra botar fé. É. Valeu a pena esperar.

Mas se por acaso chover, choveu. Chama a moça da meteorologia pra sair e está tudo certo. Deixa cair, deixa molhar, deixa regar de emoção o que você já plantou. “It´s all right”, decora bem o refrão. Tudo certo, no lugar certo, mesmo quando as coisas parecem nem de longe estar. Faz parte. Um dia vão ficar.

Só não deixa nunca, nunquinha, morrer esse sol que um dia nasceu com você. All right?

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<![CDATA[Passando de ano]]>https://rfeldman.web.app/passando-de-ano/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff8aSat, 30 Dec 2017 20:32:42 GMTPassando de ano

Passando de ano

Cada ano é um grande professor. Alguns marcam mais, outros menos. Alguns te cansam. Outros te enchem de alegria e esperança. Uns deixam a desejar, outros te ensinam a sonhar. Voar alto, se a alma assim quiser e deixar.

Cada ano uma lição, um ensinamento, algumas provas-surpresa no caminho. Nem sempre a teoria é colocada em prática. Nem sempre a prática corresponde ao que se aprendeu. (Se você pelo menos  tentou, está valendo.)

E assim lá vamos nós, colecionando matérias novas, esbarrando no que nos é difícil, enchendo a mochila de aprendizado.

Você pode até cometer os mesmos erros, ficar agarrado(a) às mesmas questões, sofrer com o que ainda não entra na sua cabeça. Mas repetir de ano você não vai. Um ano novo é sempre novo, página em branco para você escrever cada linha, por mais torta que ela às vezes possa parecer.

Para virar a página sem se perder de vista, nada como saber o quanto de sim e o quanto de não você ainda precisa aprender a dizer.

Não para o que não te faz bem, para o que não faz sentido, para o que não faz diferença, nem cosquinha. Nãããão, ene-a-o-til, diga em alto e bom som. (Se precisar grite.)

Sim para o amor, para a paz e muita leveza; para o brilho nos olhos, abraços de verdade, encontros abençoados, trabalho realizador, gente interessante cruzando o seu caminho. Sim para a vida, para a poesia, roupas dançando no varal, cheiro de café enchendo a casa de bom dia, música da hora, malas prontas para dar a volta ao mundo. (Vai fundo.)

Sim para você, a começar por você, que sempre tem tanto a sonhar, querer, buscar, realizar, fazer. Então faça: mãos à obra, papel e caneta, a aula está quase começando.

Em 2018, faça acontecer o melhor de você. Seja feliz. Sim?

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<![CDATA[Presente]]>https://rfeldman.web.app/presente-3/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff89Sun, 24 Dec 2017 08:51:30 GMTPresente

Presente

Não adianta procurar nas lojas. Nas ruas. Nos shoppings nem nas prateleiras nem nos sorteios de amigo-oculto. Não precisa procurar longe. Não carece inventar moda. Nada de reinventar a roda.

Não há embalagem de presente que contenha esse mar ora manso, ora revolto que habita o interior da gente: suas inquietações mais profundas, seus segredos tão seus, sua porção imensa de dilemas existenciais. (Ais.)

Mas adianta pedir, buscar, rezar, botar fé: entrar em sintonia com a maior referência de amor que a humanidade já conheceu.

Tanta gente fazendo listas, rascunhos, roteiros embolados. Tanta gente sem dormir, sem sentir, sem sonhar. Tanta gente perdida, sem se encontrar.

E aí você descobre, por um instante iluminado, que a paz está dentro de você. Descobre que, apesar de tudo o que falta ou parece afundar, ainda somos mergulhadores nesse oceano de possibilidades, em busca de estrelas do mar.

Espero que você encontre a sua. Num silêncio. Numa música. Num abraço. Num encontro, pedido ou prece. No meu desejo de que não falte luz na travessia, porque luz é o que torna a busca um pouco mais fácil.

Se te vejo bem, quem ganha o presente sou eu. Feliz Natal, cheinho de paz se aconchegando feito estrela no fundo do coração.

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<![CDATA[Extraordinário]]>https://rfeldman.web.app/extraordinario/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff88Wed, 13 Dec 2017 09:34:14 GMTExtraordinário

Extraordinário

Algumas coisas são extremamente comuns, mas causam um efeito especial na vida da gente: o nascimento de um filho; a possibilidade de respirar, ouvir, enxergar; o tanto infinito de amor  que vem da família; o primeiro dia de aula; uma amizade verdadeira; um pedido sincero de desculpas; uma sessão de cinema pra fazer a gente pensar, chorar, sentir, amar: esse foi o efeito que “Extraordinário” causou em mim.

O filme nos coloca frente a frente com Auggie, um menino de 10 anos que tem o rosto deformado (sequela de uma síndrome genética) e a incumbência de enfrentar a escola pela primeira vez. Na sua singularidade, ele aprende – não sem angústia ou sofrimento – a se colocar no mundo, exatamente do jeito que é – com todas as marcas que carrega na face e no coração, depois de 27 cirurgias realizadas. Aprende que não adianta se esconder em um capacete de astronauta, mas que é possível flutuar de alegria a cada superação vivida. E assim ele faz. (Flutuamos nós também.)

Com esse belo ensejo de se pensar as diferenças, o filme nos convida a pensar também sobre tantas outras questões que impactam a vida da gente: crueldade  (as crianças sabem bem como fazer isso)gentileza, bondade, compaixão, amor, família, aceitação, amizade. E mostra que toda história tem sempre dois lados, muitos capítulos e várias versões do mesmo fato; nós é que às vezes julgamos demais, “legendamos” demais.

“Extraordinário” registra, com emoção e delicadeza, alguns pedidos simples de se fazer: “quero um irmãozinho”; “quero voltar a ser seu amigo”; “quero um dia inteiro só com a minha mãe”. E por falar em mãe, como elas sofrem. Por amarem tanto, por se dedicarem tanto, por saberem que nem tudo está no seu controle, nas suas mãos.

E foi assim, Auggie, que por duas horas eu entrei na sua vida. Ao final do filme, quem estava com o rosto deformado era eu, de tanto chorar. Você me encantou tanto, mas tanto, que conseguiu transformar estranheza em familiaridade; feio em bonito, confirmando que o amor é o sentimento mais extraordinário que a gente pode sentir nessa vida.

Vai assistir e depois me conta. Mas só um alerta: é bem provável que você acabe confundindo ficção com realidade e saia do cinema querendo levar o Auggie pra casa. Eu levei.

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<![CDATA[Vácuo]]>https://rfeldman.web.app/vacuo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff87Sun, 03 Dec 2017 19:10:41 GMTVácuo

Vácuo

Em tempos de crush, Happen, Tinder, encontros virtuais e relações cada vez mais efêmeras, busca é substantivo concreto. Concretamente se quer amar, independente dos avanços tecnológicos, da escassez de vínculo ou das decepções vividas. Concretamente se quer encontrar alguém para dividir o tempo, a garrafa de vinho, o roteiro de viagem, a sessão de cinema, quem sabe os planos e também os sonhos. Quem encontra, tintim: da novidade se passa à rotina (e essa rotina ganha um encanto diferente), da rotina à labuta da relação e, se tudo der certo, do namoro ao altar, a partir de onde outros substantivos serão oficial e concretamente divididos: alegria, tristeza, saúde, doença, entre outros tantos antagonismos mais. (Faz parte.)

Quem ainda não encontrou, bota fé e vai. Apesar de todos os tropeços, percalços e desilusões, a busca continua para quem acredita que amar é possível, verbo transitivo direto, um dia de cada vez.

Nessa busca, as mulheres parecem saber bem o que querem. Trocaram o sapatinho de cristal pelos pés no chão, a torre pelas ruas,  o “felizes para sempre” pelo “que seja infinito enquanto dure”. “Descinderelizaram”, acordaram, trocaram os contos de fadas por outras histórias. Querem amar, apenas. (E isso não é pouco.)

Os homens, apesar dos rótulos que costumam carregar, também querem conjugar o verbo transitivo na primeira pessoa, compartilhando seu mundo, seu tempo, seu amor e sua presença na vida de outro alguém. Simples assim.

Mas por que o simples fica às vezes tão complicado? Por que tanto desencontro, tanta expectativa quebrada, tanto desaponto no meio do caminho?

Tenho visto relações sendo deixadas no vácuo, especialmente pelo gênero masculino. Até ontem tudo era lindo, maravilhoso, quase perfeito. No dia seguinte, cadê? Sem nenhuma explicação, o moço que você descobriu no Tinder e te levou para jantar por duas semanas seguidas, fazendo juras e declarações de amor, some do mapa. Nem um telefonema, nem um zap, nem um tchau pra fechar a história. Até ontem o namoro ia bem, obrigado: almoços de domingo, as duas famílias apresentadas, muita cumplicidade e envolvimento, uma viagem dos sonhos: foi só o avião pousar que a relação acabou, a moça está até hoje sem entender.

No Programa “Papo de Segunda”, da GNT, alguém mandou por e-mail a pergunta: “Por que os homens têm tanta dificuldade de pôr fim a uma relação? Ao invés de sinceridade, optam pelo esfriamento, vão se distanciando, às vezes somem de vez. Vácuo, com todo o impacto que esse vazio deixa. Leo Jaime, um dos apresentadores do programa e também autor do livro “Cabeça de homem – um manual de fábrica para entender o que se passa”, respondeu que, para um homem, é muito ruim magoar uma mulher. Por isso é que ele acaba meio que se escondendo, desaparecendo, sem ir direto ao ponto. O que eles não sabem (será que não sabem?) é que, dessa maneira, acabam magoando muito mais.

Amar é verbo transitivo direto, lembra? Tudo bem que não caiba mais amor, acontece. (E onde se lê amor leia-se também paixão, sintonia, atração, compromisso, desejo, ligação.) Mas que possa caber um “obrigado”, “estou confuso”, “não estou pronto”, “cuide-se bem”, “um dia talvez a gente se esbarre de novo”. Amorosamente assim.

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<![CDATA[Por quê?]]>https://rfeldman.web.app/por-que/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff85Wed, 15 Nov 2017 23:16:45 GMTPor quê?

Por quê?

Andei conversando com Carlos Drummond de Andrade e me juntei a ele nesta doída pergunta:

“Por que Deus permite que as mães vão-se embora? (…)

Mãe, na sua graça é eternidade.

Por que Deus se lembra – mistério profundo – de tirá-la um dia? (…)”

Se para todos os filhos do mundo esses versos traduzem  emoção e verdade, o que dizer daqueles que perdem suas mães muito cedo? Quando os braços ainda são curtos para abraçar e os olhos ainda não viram tudo o que essa vida tem para ensinar; quando voltam da escola ávidos por tagarelar as notícias, contar como foi a prova, mostrar o joelho ralado no futebol; quando começam a nascer as primeiras espinhas, o primeiro amor, os problemas que vão muito além da matemática.

Mãe é especialista em amar, ad aeternum, não importa a idade dos filhos. Mas quando eles são pequenos, mais presente e rotineiro esse amor se mostra. É bom dia, boa noite, cobertor para proteger do frio; é colo, acolhida, para-casa, para-vida, livro de histórias, reza antes de dormir; é sim, não, limite; é remédio, leite morno,  despertador, médico, dentista;  é ensinamento, puxão de orelha, cinema, cafuné. Hora do banho, cortar a franja, cortar as unhas e as asinhas. É emoção na formatura, torcida pra vida inteira, amor que não tem tamanho.

Pai também merecia um poema à parte, eu sei. Seu lugar é nobre, de uma preciosidade igual. E que bom que ainda tem ele quando uma mãe parte cedo demais. Pai é grandeza, amor e força, tudo o que os filhos precisam para continuar apesar do pedaço que falta.

Chamei Drummond pra conversar depois de uma notícia triste assim. Difícil de receber. Cheguei ao velório tentando buscar, em meio à dor conjunta, coletiva, alguma explicação que pudesse me dar um pouco mais de entendimento. Não encontrei. O cortejo seguiu em silêncio, um silêncio arranhado. Atrás dos homens que carregavam honrosamente o caixão, um menino e uma menina seguiam como podiam, nenhum braço a lhes envolver os ombros, nenhuma mão a segurar as suas. Olhei para eles com especial compaixão e carinho e, quase me faltando a lucidez, pensei: “Meu Deus, cadê a mãe desses meninos?”

Era por ela que estávamos ali, reunidos. Ela dela que nos despedíamos. Seu filho, amigo do meu, menino querido que quando adentra a minha casa é pura luz e alegria, tinha os olhos afundados de tanto chorar.

Por quê? Por quê? (…) Algumas perguntas ficam sem resposta, mas os filhos jamais ficam sem mãe, tenho certeza. Muda a rotina, muda a vida, muda tudo. Mas como bem disse o poeta, “Mãe, na sua graça é eternidade.” Permanece viva, para sempre, no coração, iluminando lá de cima, cobrindo de amor – feito cobertor – quem aqui ficou.

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<![CDATA[Legendas]]>https://rfeldman.web.app/legendas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff82Thu, 26 Oct 2017 22:39:44 GMTLegendas

Legendas

Nove da noite. O casal está sentado na sala, o noticiário dando as piores notícias, força do hábito. Ele tenso, calado, uma long neck ao alcance transpirando gelada. Ela reticente, distante, um olho na TV e outro no marido, olhando de soslaio.

Cada um no seu quadrado, cada qual com suas mentes inquietas, perturbadoramente falantes.

Se fosse possível ler pensamento, seria isso o que você leria:

“- Ele está estranho… Nem me olha, não conversa, não notou que eu cortei o cabelo… Tá diferente!… Acho que ele tem outra. Acho não. Tenho certeza.”

Na cabeça dele:

“- De hoje não passa, decisão importante, coração vai explodir!…  Não me decepciona, timão, não me decepciona, hoje é tudo ou nada! Vamos ganhar de virada!”

Essa historinha é clássica, você já deve ter visto circulando por aí nas redes sociais. E é mais real do que você imagina. Não necessariamente esta história, mas tantas outras em que “ler o pensamento” acaba acarretando muitos desencontros. É fato.

Quantas cenas como essa você já assistiu na vida? O marido tenso com o futebol; a mulher irritada com a sua dança agitada de hormônios; o chefe explodindo porque a conta não fecha; a amiga sumida porque o trabalho acumulou; o vizinho deprimido que passa por você e não te cumprimenta; o zap não respondido; entre tantas outras cenas que você acaba não apenas percebendo, mas interpretando, e na grande maioria das vezes a seu desfavor. (Faça-me o favor!…)

Como num filme, você vai lá e acaba colocando precipitadamente a legenda. Ponto. Só que muitas vezes essa legenda não corresponde à  verdade dos fatos, mas à SUA verdade. E essa verdade equivocada te faz sofrer, por antecipação ou em vão. (Essa não.)

Quer saber realmente o que se passa? Vai lá, compartilha a long neck, olha nos olhos e pergunta. Conversa. Dá um beijo. Pergunta o que houve (se é que houve…). Aproxima. Exterioriza. Diz um oi. Bom dia. Te amo. Tô com medo. Tô te achando estranho. Tô te achando linda. Mais emoção e menos interpretação. Mais simplicidade e menos complicação. Vai lá, sô. E torce pro timão fazer gols, muitos gols.

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<![CDATA[Horário de "ah, nãão!..."]]>https://rfeldman.web.app/horario-de-ah-naao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff81Mon, 16 Oct 2017 11:53:38 GMTHorário de "ah, nãão!..."

Horário de "ah, nãão!..."

Hoje acordei no pulo. No protesto. Já sei, já sei, isso não vai me levar a lugar algum. Mas vale o desabafo. (Sempre vale.)

Contra a maré, no sentido contrário a um país inteiro, me recusei a acertar o relógio. O digital, pelo menos. Esse aí foi pra caixa, descansar por quatro meses, férias-prêmio, em fevereiro ele volta a trabalhar. (Imagina, ia me tomar  um bocado de tempo ficar ajustando os pinos, já basta o que o horário de verão me tomou.)

Os amantes do amanhecer escuro e do anoitecer ensolarado (essa parte até que não é tão mal assim) que me perdoem, mas sou mais o horário de gente. Normal. Natural, certinho, cada ponteiro acompanhando o ritmo do meu relógio biológico. Sono, fome, vigília, tem hora pra tudo nessa vida. Essa história de ciclo circadiano não é brincadeira, deu inclusive o Prêmio Nobel de Medicina aos cientistas americanos Michael Rosbash, Jeffrey Hall e Michael Young. E os especialistas vem alertando: horário de verão faz mal à saúde.

Protesto feito, vida que segue, adiantadamente segue. Como costuma dizer minha mãe (que adora o horário de verão, viva as diferenças, o sol é para todos), ” a gente tem que aprender a conviver com o que tem”. Ou não, como diz o Léo: “Quem inventou esse horário de verão, hein? Foi o presidente? Vou escrever uma carta pra ele.”

Escreve, meu filho. Aproveita que o Natal está chegando e manda logo  pro Papai Noel. Deve ser mais fácil de resolver.

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<![CDATA[Crianças...]]>https://rfeldman.web.app/criancas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff80Tue, 10 Oct 2017 14:54:56 GMTCrianças...

Crianças...

 

Minha criança anda crescidinha. Alguns brinquedos já largou faz tempo. Princesas perderam o encanto. Roupas com apelo muito  infantil estão fora de moda e cogitação. Programas com os amigos causam agito, euforia e “amnésia de pai e mãe”. Livros são devorados como se fossem barras de chocolate ao leite, causando os melhores efeitos colaterais possíveis. Bichos de pelúcia ainda têm algum lugar ao sol, especialmente quando ele vai embora e já é hora de dormir. Festas do pijama são as mais esperadas, ibope garantido. Micos causam constrangimento, e a culpa (claro) é sempre das mães. Quarto bagunçado é marca registrada – tênis, mochila, shorts, cadernos,  tudo junto e misturado.

Dia desses a mãe chamou a mocinha na responsa:

– Bella do céu, que bagunça é essa? Você já está grandinha!…

– Tô não, mãe, tô ficando… Isso é hormônio do crescimento!…

– Hormônio do crescimento?!?!

– Sim! E se chama preguiça!…

••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Domingo teve Show de Talentos na escola. Ela tocou e cantou o último sucesso de Ana Vilela, “Promete”, que traz um pedido especial de mãe para filho:

“Promete que não vai crescer distante
Promete que vai ser pra sempre assim
Promete esse sorriso radiante
Todas as vezes que você pensar em mim

Promete aproveitar cada segundo
Desse tempo que já passa tão veloz
Me lembro quando você chegou nesse mundo
Sorrindo aos poucos quando ouvia a minha voz”.

(“Freud explica”, foi o comentário da professora.)

Sofia, amiga inseparável, cantou “I am not a robot”, e emocionou a plateia.

Chegando em casa, fui pedindo ajuda:

– Bella, põe a mesa, atende o telefone, arruma seu quarto?…

– Mãe, I´m not a robot! (…)

••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Outro dia chamei a pequena para o “momento faxina e  pequenos cuidados”: cortar as unhas, checar orelhas, dentes, passar pomada nos roxos, creme hidratante, etc e tal. Ao final da última unha cortada, missão  cumprida, ela me solta essa:

– Tô te dando trabalho, hein, mamãe?

– Desde que você nasceu, Bebella. O melhor trabalho que eu podia ter na minha vida.

••••••••••••••••••••••••••••••••••••

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<![CDATA[Tão longe, tão perto]]>https://rfeldman.web.app/tao-longe-tao-perto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff7fSun, 01 Oct 2017 22:04:47 GMTTão longe, tão perto

Tão longe, tão perto

São tantos os lugares deste mundo. Melbourne, Viena, Joinville, Varsóvia, Porto Alegre, São Paulo, Berlim, Barcelona, Telaviv, Belo Horizonte e mais tantos outros horizontes pra gente abraçar. (Será que dá tempo?)

Tantos os cenários, rotas, línguas, rostos, janelas, fusos um tanto quanto confusos. Tantas as possibilidades profissionais e amorosas, conexões e escolhas, partidas e chegadas. Em que pé ou ponte aérea você está?

São tantos os tantos, e apenas um(a) de você. Que ainda não teve a sorte de ser clonado(a), apesar de todos os avanços tecnológicos que os cientistas andam produzindo por aí.  Que está feliz da vida em uma outra cidade ou país, se aprumando feito gente grande, mas que também sofre de falta, saudade e culpa por estar  longe. (Ai, como dói essa dicotomia. Corte quase profundo.)

Ah, se você pudesse ser clonado(a). Apresentar o projeto de marketing para a diretoria e ao mesmo tempo encher o seu pai de abraços pelo 65º aniversário dele, do outro lado do mundo. Fazer bonito com o doutorado e ainda cuidar da irmã doente, longe mais de 1500 km. Fazer a prova de alemão e ao mesmo tempo pegar um cineminha com o bem, distante um oceano inteiro. Matar um leão por dia e ainda encontrar a mãe na cozinha,  abraço e sopa quentinha. (Mas a mãe já dormiu faz tempo, deve estar sonhando com a filha que não vê há 3 meses…)

Acostumados que estamos com as dualidades da vida – dia e noite, sol e chuva, tristeza e alegria (o velho e bom “Ou isto ou aquilo” de Cecília Meireles), vamos nos cindindo por dentro, como se a geografia não bastasse. Ficamos bem de um lado e mal de outro, como se esta fosse a única alternativa possível. Ao invés de somar e multiplicar, subtraímos e dividimos, numa matemática que traz dor e inevitavelmente não nos deixa inteiros. Fragmentados vamos, como linhas pontilhadas deste vasto mapa-múndi.

Aí alguém te diz que vida foi feita para voar. Abrir asas, desancorar medos e receios, se encontrar no meio do caminho ao invés de se perder em meio a tantas indagações.  Com tudo o que aperta o coração, ele ainda é grande o bastante para caber um tanto enorme de gente. (Sente.)

O amor (como sempre, o amor) é capaz de transpor montanhas, fronteiras, alfândegas. Num instante, é como se a Oceania fosse logo ali, colada na América do Sul. Foi pra lá que partiu uma moça bonita, cheia de brilho nos olhos,  carregando malas e a dicotomia de viver longe de casa, rimando felicidade com saudade.  (Outro dia nos reencontramos no Instagram, tão longe tão perto, e ela meio que me soprou o tema.)

A encomenda foi aceita com alegria, Natália querida. Foi um jeito bom e inspirador de matar saudade e desejar a você toda inteireza do mundo. Este post é dedicado a você.

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<![CDATA[Cumplicidade]]>https://rfeldman.web.app/cumplicidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff7eFri, 22 Sep 2017 12:34:01 GMTCumplicidade

Cumplicidade

“Como foi seu dia?”

O que fez, por onde andou, o que realizou? Alguma novidade? Ou tudo do mesmo jeito, nada de extraordinário, o  velho e bom arroz com feijão de sempre? Tudo bem de verdade, ou só da boca pra fora? Para, pensa, sente. Compartilha olhando nos olhos, deixa o celular no modo descanso, faz conexão ao vivo e em cores. Se você não se lembra, é tempo de olhar as flores.

Pensa por um instante no seu mundo. Sua correria, suas paixões, sua rotina, seu trabalho, seu riso, suas metas a cumprir, suas pausas necessárias, seu fazer mais singular e genuíno. E a lista não termina: sua música, seu esporte, sua dança, seu amor, sua agenda, sua saúde. Bem, obrigado(a)?

Quando alguém se interessa pelo seu mundo, esse alguém acaba entrando dentro dele. De um jeito gostoso,  que estreita o laço e justifica o vínculo. A troca é bonita e a cumplicidade está feita: o outro sente junto, sofre junto, ri junto, engrossa a torcida para que as coisas deem certo. Ou simplesmente escuta o que o outro tem a dizer, e isso basta – já é muito. (Ah, a escuta, nesses tempos de tantos ruídos… Como já disse nosso querido Rubem Alves, hoje adormecido na poesia de um ipê amarelo,  “Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.”)

Agora olha pro lado. Espia os outros mundos que fazem parte da sua vida e entra. O mundo dele, dela, do pequeno e do grande, de quem está ao seu lado, dessa pequena alteridade ao seu redor. Entra sem cerimônia, sem pedir licença, faz valer a sintonia. Pergunta simplesmente como foi o dia, se a reunião deu certo, se a prova foi difícil, se o timão joga hoje, se a dor passou, se a poeira baixou, se já dá pra comemorar,  se tudo correu como tinha que ser. Simples assim, próximo e amoroso assim.

O mundo que te cerca,  longe de ser um mundo à parte, é seu também. E esse pertencimento faz a vida mais bonita, mais florida, mais cheia de #tamojunto, #tamoperto, #tamoquetamo.

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<![CDATA[Oratória]]>https://rfeldman.web.app/oratoria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff7dTue, 05 Sep 2017 13:48:56 GMTOratória

Oratória

Você aprendeu várias regras de boa educação. Como falar, como se comportar, como agir. Como ser uma moça bem-educada, um moço gentil, alguém que segue à risca o protocolo.

Aprendeu a seguir o certo, o convencional, uma boa dose de cerimônia e certa formalidade que convém ao mundo. Fez o dever de casa direitinho, passou de ano, passou no teste. Ganhou estrelinha, acumulou incumbências, um tanto de lombalgia também, na ilusão de que conseguiria (ou deveria) carregar o mundo nas costas.

Foi aos poucos se esquecendo da criança que adormece em você. E que muitas vezes acorda, pede colo, espreguiça, faz birra, quer sorvete.

Estou enganada ou foi assim que você foi seguindo pela vida afora? Carregando uma tonelada de “ter ques” ao invés dos mil “porquês”  que inundavam seus olhos outrora…

Pensa comigo se  você não foi entrando no automático, cada vez mais no automático, num jeito bem robótico de levar a vida. Muitas vezes sem se perguntar, sem se permitir, sem ouvir o que o coração tem a lhe dizer. Logo ele, que é mestre em oratória: pulsa palavras, se você deixar. Pulsa vida, se você souber ouvir. Escuta.

Calma, respira. Ainda está em tempo de corrigir a rota e se encontrar de novo através daquela criança que ficou aí perdida. Aquela que sabe o que quer. Que fala o que sente. Que dá abraços de verdade. Que pega o telefone e esmaga a saudade. Que chama pra sair, como quem não quer nada: só morrer de rir.  Que compra presentes com alegria, fazendo careta pra correria.  Que coleciona missões cumpridas com o mesmo prazer de quem acabou de raspar o brigadeiro da panela. Que faz as coisas de coração, com emoção, muito mais que da boca pra fora. Sim senhor. Sim senhora.

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<![CDATA[Penso, logo...]]>https://rfeldman.web.app/penso-logo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff7cTue, 29 Aug 2017 19:15:25 GMTPenso, logo...

Penso, logo...

A reunião. O projeto. O conflito. O serão. O senão. A bomba de gasolina. A prova. O time. O término. A amiga. O casamento. A lista. O relógio. A culpa. A dieta. O vestido. O vestígio. A taquicardia. O parto. A insônia. A sangria. O WhatsApp. A discussão. O vazio. Cacofonia.

Pensa comigo: será que você não anda pensando demais? Exagerada e intensamente demais? …………………… Matutando, remoendo, antecipando, lembrando, controlando (ui!), doendo de tanto pensar?

Nisso, naquilo, naquilo outro.

Da hora em que acorda à hora em que vai dormir mais parece uma fábrica de pensamento, liquidificador mental de última geração. Sim ou não?

Lá vai você queimando fosfato, fritando neurônio, voltando atrás naquele episódio que não volta mais, até dar nó na cabeça. (Vai aí um banhozinho de sais?)

Puf, acabou, vida que segue, vira a página, vira a folha, reaprende a torcer, solta a corrente de chumbo que te prende lá no ontem.

Passado passou, já foi, pretérito perfeito. Futuro nem chegou e você já está lá na frente, na fila do gargarejo, se deixar invade o camarim. Só sabe pensar, pensar, pensar, uma hora acaba sentindo falta de ar.

Pensamento, tormento, tormento de pensamento, triturador de emoção. Só que não.

Apaga a luz, acende a lua, irriga de amor esse coração em estágio avançado de erosão.

Medita. Contempla. Esvazia a caixola. Você também é filho(a) de Deus, esqueceu? Então lembra. Olha pra dentro e enxerga o tanto de si que há para amar, sem raciocínio lógico, sem teses delirantes ou pensamento mutante.

Sem pestanejar, apenas por um instante, sente. Sentimento é o que põe sentido na vida da gente.

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<![CDATA["O filme da sua vida"]]>https://rfeldman.web.app/o-filme-da-sua-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff7bSun, 20 Aug 2017 18:06:31 GMT"O filme da sua vida"

"O filme da sua vida"

Encantada que sou por Selton Mello, especialmente depois do seu aclamado filme “O Palhaço” (já retratado aqui no blog), fui “obrigada” a assistir “O filme da minha vida”, lançado seis anos depois.

O filme é um prato cheio para psicólogos, apaixonados pelo comportamento humano e pelo emaranhado de relações, afetos e emoções que rege a nossa vida. Na verdade é um prato cheio para todos nós, seres humanos, gente de carne e osso: pai, mãe, filho, filha, homens, mulheres, você simplesmente. Amor de onde a gente veio, amor pra onde a gente vai. Em sete letrinhas, uma das palavras mais importantes da sua vida: família. Do jeito que foi, do jeito que é, não há como negar o impacto desses laços na sua existência, desde sempre.

“O filme da minha vida” nos lembra o quão nada matemática é a vida, ou quantas vezes o desenho sai fora do contorno, e o trem, dos trilhos. Encontros, desencontros, alegrias, desapontos, sustos, surpresas, dores, amores, partidas, chegadas,  bem a essência aqui do blog, com todos os antagonismos que fazem parte deste grande filme chamado vida. (Que também caminha ao lado de um grande antagonismo chamado morte. (…)  Já ouvi dizer que quando essa “dona” chega, no momento da grande passagem, temos a oportunidade de assistir ao filme da nossa vida, nos deparando com os momentos mais marcantes, mais significativos e tocantes. Será?)

Todo mundo tem uma história digna de filme. Olhe para trás e faça uma pequena grande retrospectiva, do dia do seu nascimento até agora. Cenas, paisagens, cortes, atores coadjuvantes. Trilha sonora, enredo, plasticidade, efeitos especiais e todos os acontecimentos que não estavam no script. É, eu sei. Algumas coisas nunca estão. Haja terapia pra tentar entender. Haja espiritualidade pra botar sentido.

Enquanto o fim está longe e as luzes ainda não se apagaram, há muito ainda o que roteirizar e viver.

A quantas anda o filme da sua vida?

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<![CDATA[De filha pra pai]]>https://rfeldman.web.app/de-filha-pra-pai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff7aSun, 13 Aug 2017 00:33:10 GMTDe filha pra pai

De filha pra pai

Meu pai nunca ligou muito para essa história de Dia dos Pais. “Invenção do comércio, minha filha, bobagem.”

Outros momentos simples, por outro lado,  sempre tiveram o maior valor pra ele. Como me ligar diariamente, três vezes no mínimo, fizesse chuva ou sol, para se fazer presente com um carinho que era sua marca registrada: “Bom dia, princesa; boa tarde, Renatinha; boa noite, minha querida.” Como me buscar na escola com um sorriso largo e o meu chocolate favorito, me ensinando cedo o sabor da felicidade; como brincar de esconde-esconde sem jamais me perder de vista; como me levar ao circo, ao clube e ao parque, colorindo de aquarela meus finais de semana; como me enviar flores quando veio a notícia da menarca; como me ajudar na matemática (“paciência, pai, não sou boa como você”), me buscar nas festas, me pegar dançando lento e falar até hoje no assunto.

Eu cresci como filha de pais separados, mas sempre tive o meu pai junto de mim, zero de distância e um afeto que propaganda nenhuma dá conta de traduzir. Aliás, aprendi mais tarde, em um curso de constelação familiar, que essa história de pais separados não existe. Quem se separa é o casal, homem————mulher; dentro do coração de um filho, os pais jamais se separam: seguem juntos, unidos, inteiros, em uma conexão de amor que abençoa e conduz. Pra vida toda.

E assim a gente segue: com WhatsApp de bom dia todo dia; telefone pra não perder o costume; pãozinho quente no domingo; pipoca com futebol; reza, abraços, fotografias, chocolatinhos, papos variados e papos-cabeça, risos (muitos risos). Além de pai do ano todos os anos, ele ainda levou o título de sogro excepcional e um avô que não tem explicação.

Você tem razão, pai. Um dia é pouco – muito pouco –  pra gente comemorar tudo isso que “o comércio inventou”. Obrigada por existir na minha vida, e por cada presente especial que veio de você.

Feliz Dia dos Pais. (Feliz de mim.)

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<![CDATA[Escambo]]>https://rfeldman.web.app/escambo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff79Tue, 01 Aug 2017 20:25:49 GMTEscambo

Escambo

Se você quiser,

é possível trocar deserto por mar,

desatino por paz,

aridez por jardim florido.

(Doído, mas não menos possível.)

 

Se você quiser,

o tempo fecha,

a conversa encerra,

a fonte seca.

(Nenhuma gota mais pra matar sua sede de amor.

Somente dor, semente sem flor.)

 

Mas se você quiser,

o riso acorda,

o sol chama,

a gratidão se aconchega,

a leveza te põe asas e ensina a voar.

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<![CDATA[Reunião extraordinária com Deus]]>https://rfeldman.web.app/reuniao-extraordinaria-com-deus/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff78Wed, 26 Jul 2017 17:30:25 GMTReunião extraordinária com Deus

Reunião extraordinária com Deus

Andei conversando com Deus. Fiz um tanto de perguntas, muitas sem respostas. Apenas colo, amor, acolhida. (E isso não é nada pouco, muito pelo contrário.)

Perdoa minha falta de entendimento, meu Deus, e minha imaginação um tanto quanto fértil. Mas, se não for muito atrevimento da minha parte, gostaria de trocar uma ideia. Apenas uma ideia, vaga e solta, coisa de gente de carne e osso que vive esbarrando nos mistérios dessa vida.

Longe de mim intervir nos Seus planos, longíssimo de mim. Mas, se houver jeito, lê essa minha sugestão, apenas uma sugestão. (Ou seria um desabafo? Um pedido? Enfim, tomei coragem e aí está a pauta da nossa reunião, não me leve a mal.)

1- Pessoas boas deveriam ser “proibidas” de ir embora. Mãe, então, nem pensar, faço de Drummond minhas palavras: “Por que Deus permite que as mães vão-se embora?”

2- Pai também não tinha que ir, simplesmente não tinha, reivindico ao poeta (que também é filho de Deus) essa complementação importante.

3- Um filho ir antes dos pais? Tenha piedade, Senhor, inversão total do ciclo natural da vida, não tenho competência para entender.

4- Perder o amor da sua vida? É de doer, meu Pai. Além da conta. Haja força para seguir pela metade quando a dor é proporcional ao amor. Coração fica amputado.

1.1 – Já que tal proibição não existe (tenho fé de que existirá um dia), que pelo menos as pessoas de luz e de bem não se vão tão cedo, meu Deus. Tanto para viver, amar, trabalhar, realizar, sonhar.  O sol ainda nem se pôs, é cedo.

1.1.1 – Sei que deve haver algum sentido para ser do jeito que tem sido, mas… desculpe a intromissão, não poderia ser de outro jeito? Sem dor, sem susto, sem sobressalto ou falta de ar, sem nos tirar abruptamente o chão? Proponho a criação de uma nova lei divina: a partir de hoje,  pessoas lindas só vão embora depois de uma certa idade. Uns 99, talvez, desde que gozando de boa saúde, é claro. Morrer dormindo, feliz, feito passarinho. Pode?

Obrigada. Amém.

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<![CDATA[Saudade]]>https://rfeldman.web.app/saudade-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff77Thu, 20 Jul 2017 11:39:27 GMT
Saudade
Saudade

Quem é que nunca sentiu o coração apertar de saudade?

Aperta, arde, salga, espreme, esperneia.

Saudade tem cheiro de mar, olhos parados lá longe, tontura de uma lonjura que parece não acabar.

Ai. Que bom que acaba. Que bom que a gente pode se perder na quentura boa de um abraço, até ninguém mais te achar.

Achou? Então vai lá e dá mais um. E outro. Mais um, mais um. É tanta saudade que já virou terapia do abraço.

Saudade com prazo de validade é a melhor coisa que existe. Afeto curtido, carinho estendido na ausência que se faz presente de maneira leve, gostosa. Já saudade ad eternum aperta tanto que quase para a circulação, chama o doutor, dor coagulada pode causar trombofilia no coração.

Tem gente que morre de saudade. Tem gente que vive de saudade.

Na impossibilidade de um reencontro concreto, resta a possibilidade de outros abraços. Abstratos, mas não menos carregados de um amor que atravessa o tempo e a dor. Chama o pensamento, acorda a memória e vai. É fechar os olhos e abraçar a lembrança, o sorriso eternizado,  tudo que foi história, o vínculo jamais perdido. No silêncio de um abraço, o coração vai desapertando pra caber quem já se foi; e que na verdade nunca irá. (Saudade a gente sente de quem está longe, lembra deste outro post meu?)

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<![CDATA[Perolices matutinas]]>https://rfeldman.web.app/perolices-matutinas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff76Wed, 12 Jul 2017 06:52:16 GMTPerolices matutinas

Perolices matutinas

Seis horas da manhã. Faz frio. Brrrrr. Um frio congelante, como há 42 anos não fazia em Belo Horizonte, assim registra o noticiário.

Um beijo carinhoso e um pouco de música basta para fazer o Léo levantar da cama. “Perfect”, “Happier”, “Give me love” são o melhor despertador que  Ed Sheeran poderia ter inventado. Ah, Ed Sheeran. Também sou sua fã. Você me poupa tempo, insistência, trabalho. O menino acorda numa disposição só, vai direto pro chuveiro. E como canta.

Já a Bella não é muito fã de acordar com música. Aliás, ela não é muito fã de acordar.  Se ligo o rádio, a pequena reclama que esse horário só tem música velha. Se programo o despertador, o coitado toca até cansar, “ignorado com sucesso”, como costuma dizer o  irmão.

E assim correm as manhãs. Filho no chuveiro, filha no vigésimo sétimo sono. E que sono, meu Deus. Irmãos são mesmo do avesso.

Acendo a luz do corredor, adentro o quarto, abro a cortina e espio a pequena no seu restinho risonho de sonho. Cavalgadas divertidas em um unicórnio? Festa do pijama estendida? Uma piscina cheinha de chocolate ao leite? Porcos fofos e rosados? (Pelo menos em sonho dá pra ter o animal predileto de estimação.)

Depois de muita claridade, beijos e cosquinhas, anuncio oficialmente a realidade do novo dia.

– Bom dia, Bebella! Pula da cama, se não  a gente vai se atrasar!

A pequena se enrosca toda debaixo da coberta, feito gatinho encolhido, até desaparecer por completo.

Quando aviso que é a última chamada, ela põe a carinha pra fora  do edredom e reivindica da forma mais doce e inusitada possível:

– Mamãe, por favoooor!… Tenha piedade!…

(!)

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<![CDATA[Tem alguém aí]]>https://rfeldman.web.app/tem-alguem-ai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff75Wed, 05 Jul 2017 16:47:40 GMTTem alguém aí

Tem alguém aí

Esta cena você já viveu algum dia: a pessoa perde alguém muito querido, no susto ou na notícia  já esperada, não menos doída; chora, muitas vezes desaba, morre um pouco também; vive o luto (muitas vezes não vive), segue o rito, se perde em mil abraços, busca alento na palavra, se despede sem querer jamais se despedir. (Quem é que inventou esse verbo? Ele tinha mesmo que existir?)

Essa pessoa pode ser um amigo, um parente, um vizinho; pode ser você, que um dia já sentiu na pele e no coração a dor funda, maior do mundo, que é perder alguém que ama muito, de um jeito que só o amor dá conta de explicar. (Dá?)

E aí os dias passam, inevitável que passem. O sol continua nascendo, o despertador  nunca perde a hora, a rotina anda e desanda, a vida te convoca a continuar. E aí você encontra essa pessoa numa esquina qualquer e constata que ela está ali, inteira, bem na sua frente, obedecendo (ou pelo menos tentando obedecer) dona vida. Numa das poucas palavras trocadas, não é raro ouvir: “A gente encontra força. De onde nem sabia que tinha.”

Agora esquece a morte, o luto, a despedida que deveria ser desnecessário conjugar. Volta pra vida. Aquela, do dia-a-dia, que sem convocação ou motivo de força maior naturalmente te convida a viver. Onde os ritos são outros: trabalho, casamento, almoço, família, reunião de condomínio,  missa de domingo, consulta com o dentista, café com as amigas, oito horas de sono por dia, “o que você vai ser quando crescer”, “o primeiro namorado a gente nunca esquece”, roupa pra lavar, mágoa pra esquecer, para-casa para ad eternum fazer. (Haja para-casa.)

Quando a vida corre sem sustos e sobressaltos, na leveza que ela pode e merece ter, ainda assim há de se arregaçar as mangas. Ninguém te disse que seria fácil, disse? (Se disse estava mentindo, lhe asseguro.) E é aí que você precisa descobrir a sua força, seu poder especial e invisível que te deixa de pé mesmo que ninguém tenha morrido. Força em vida, é disso que estou falando. Independente dos lutos no caminho, luta é o que não falta. Seja para tomar um ônibus. Pegar o elevador. Se declarar de amor. Tomar uma decisão. Se despedir daquela pessoa que não cabe mais na sua vida. Fechar a boca. Abrir a empresa. Encarar o medo. Ensinar seu filho a crescer. Tomar coragem de ser. Você, lembra? Tem alguém aí.

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<![CDATA[Urgente]]>https://rfeldman.web.app/urgente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff74Tue, 27 Jun 2017 15:00:24 GMTUrgente

Urgente

Um passarinho te contou que a vida é curta.

Urge criar asas, bater coragem,

trocar o não pelo sim.

(Tintim.)

 

Urge ser você nessa multidão de gente,

espantar serpente,

ganhar canto iluminado no coração.

(Você ainda tem muito chão pela frente. Avante. Rente.)

 

Corre, moço, voa.

Vai até onde a realização alcança,

experimenta sonhar de verdade,

tira a saudade pra dançar.

 

Se der falta de ar,

respira um tanto de alegria,

veste a lua mais bonita,

cata estrelas pro jantar.

 

Mas não demora, moça.

Se apronte, se aprume, se vá,

não perca a hora.

A vida tem pressa e não pode esperar.

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<![CDATA[Filhos crescem, fazem greve, dão saltos]]>https://rfeldman.web.app/filhoscrescem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff73Tue, 20 Jun 2017 16:35:06 GMTFilhos crescem, fazem greve, dão saltos

Filhos crescem, fazem greve, dão saltos

Quem acompanha o blog há mais tempo já está familiarizado com as “perolices” do Léo e da Bella: frases inusitadas, tiradas cheias de graça, espontaneidade que só mesmo as crianças sabem fabricar.

Pra não esquecer nenhuma pérola no baú da memória, fui registrando por aqui um pouquinho dos meus filhos  no seu cotidiano cheio de perguntas e respostas, pequenos aventureiros na sua deliciosa missão de descobrir o mundo.

Lançar âncoras, emoção à vista: as crianças vão crescendo e as perolices também se transformam. Gentil e amorosamente vão dando lugar a outras preciosas coleções de risos, indagações, espinhas na testa, questionamentos, segredos, música, silêncio, resmungos, caça-palavras, conversas de gente grande, minutos-felicidade. Ah…, e como é bonito vê-los crescer,  desbravar oceanos, zarpar rumo à travessia singular de cada um.

A pequena Bella não só cresceu como também tomou um gosto enorme pela leitura (inclusive do blog). Como eu esperava, amou ver seu nome protagonizando histórias tão suas, das quais muitas vezes nem se lembrava. Empolgada, veio me pedir para escrever mais perolices (como se dependesse de mim fabricá-las).

Seu pedido, é uma ordem, Bebella. Lembra da paralisação do último dia 28 de abril, que dividiu o país entre aqueles que foram às ruas e os que foram trabalhar? Você teve aula no dia, e quando eu fui te acordar você deu um jeito de se esconder inteirinha debaixo do cobertor e do travesseiro. Aí eu “te achei’ e você fez um apelo bem preguiçoso, quase histórico:  “Ah, mamãe, deixa eu fazer greve?!…”

E teve também perolice no último fim de semana, quando nós duas fomos fazer uma caminhada ao ar livre, dividindo o sol e os fones de ouvido, e eu te disse:

– É, Bebella, bora caminhar, porque ontem a gente exagerou no chocolate!…

Respostinha imediata:

– Você ficou feliz, num ficou?!

– (?!) Fiquei, ué. Feliz da vida!…

– Então, uai! É isso que importa!

E por falar em felicidade, o que dizer da sua carinha quando tem ovo e presunto no café da manhã?! Banquete de alegria. Mas aí vem “a sua mãe” pra te lembrar de um tal de colesterol, ai ai ai, e fica te regulando, preocupada com a saúde, blablablá… Até que um dia você me solta um belo de um desabafo, indignada:

– Quem é que inventou o colesterol?!? Eu quero a minha infância de volta!!!

Ah, Bebella, sua linda. Ainda bem que você ainda tem muito feijão pra comer e perolice pra colecionar, mesmo que do alto da sua pré-adolescência (não é assim que você se autointitula?). Independente da idade, que a sua essência seja sempre flor a perfumar a casa, mensagem de paz, poesia em plena luz do dia. Você é minha alegria, minha fábrica de chocolate, minha fadinha, minha perolice, minha pérola preciosa.

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<![CDATA[Namoradeiros]]>https://rfeldman.web.app/namoradeiros/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff72Mon, 12 Jun 2017 20:09:48 GMTNamoradeiros

Namoradeiros

Tem gente que sonha em namorar. Faz pedido pra Santo Antônio, capricha na promessa e na simpatia, faz figa até com o pé. (Bota fé que uma hora vai.)

Tem gente que já se arranjou mas não dá o braço a torcer. Dá abraço, beijo, manda zap de bom dia, boa noite, manda flores,  “tô passando aí”, “quero te ver”, quero namorar mas sem essa história de nomear. Pode ser? (Vai entender.)

Tem gente que tem medo de amar. Medo de se amarrar, de se entregar, de ver “onde é que isso vai dar”. (Medo de se machucar.)

Tem gente que “tá namorando!” Tá namorando! Tá namorando!” E dá-lhe torcida pra que essa notícia chegasse, assim tão sonora e certeira, até que enfim ela disse sim.

Tem gente que namora escondido. Tem gente que precisa se namorar muuuito antes de partir para um amor de alteridade. (Verdade.) Tem gente que  tem “namorido” pra chamar de seu. Tem gente que casou e esqueceu de namorar, tirou o “na” e ficou só com o morar. (Ahhhh…)

Tem gente que casou e não cansa de namorar. Vive de chamego pra lá, aconchego pra cá, na delicada “labuta” de continuarem se enxergando e se sentindo como aqueles dois namorados de teempos atrás. “Hoje quero te roubar.” “Cineminha?” “Vou te levar pra jantar. Na sala lá de casa, que tal? Mexido com crisp de couve e linguiça toscana, vinho italiano pra completar. Posso preparar?”

E tem namoradeira na janela. Tem namorado enrolado. Tem promessa de casamento. Namorado apaixonado. Tem namoro que acaba pra voltar mais forte. (Misto de peleja, felicidade e sorte.)

Feliz Dia, Feliz Noite dos Namorados para você que respira amor, do jeito que ele é. Do jeito que ele vem. Do jeito que vier.

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<![CDATA[Alegria]]>https://rfeldman.web.app/alegria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff71Mon, 05 Jun 2017 20:10:50 GMTAlegria

Alegria

Alegria é um estado de espírito. Um show do Ed Sheeran. Um sorriso inédito do filho. (Impagável, indizível, imperdível.) Um vale-massagem da filha. (Vale-bis?! Biiiis.) Um pé pra lá, outro pra cá em plena cozinha às 10 da manhã de sábado, deixa a louça pra depois.

Alegria é um brilho que a gente carrega nos olhos. Um mergulho no seu “melhor de si”. É  amar sua profissão. É o sopro da leveza quando tudo fica mais pesado. É um tanto de problema pra ouvir sorrindo, acendendo luz no caminho. Um tanto de gratidão pra beber na caneca. (Hortelã ou camomila?) É dizer sim pra vida, mesmo que ela te dê o maior trabalho. (E dá mesmo, não se iluda, ninguém está aqui a passeio.)

Alegria é uma sessão de cinema no meio da tarde. Um Ano Novo Particular. Um livro de cabeceira. Uma viagem que continua dentro de você, mesmo depois das malas desfeitas, tanto tempo depois. É uma varanda pra descansar os olhos. Um mar pra sonhar acordado. Uma música que toca a alma. Uma lista toda ticada ao fim do dia, gosto bom de missão cumprida.

Alegria é deixar o sol entrar. Céu-de-brigadeiro, lampejo de emoção, bênção de pai e mãe. É ver flores em você. É juntar os amigos pra cantoria, caprichar no desafino, rir da barriga doer. É juntar palavras, encontrar sintonia, ser alguém na multidão.

Alegria é ter você aqui, parando um cadinho pra pensar na vida, prosear comigo. Alegria, alegria.

  1. ___________________________
  2. ___________________________
  3. ___________________________ …

Complete a lista. Viva um muito num cadinho. Do seu jeito. No seu tempo. No seu mais legítimo carpe diem. Na sua capacidade de amar cada gota de alegria.

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<![CDATA[A dor que te move]]>https://rfeldman.web.app/dor-que-te-move/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff70Tue, 23 May 2017 23:59:01 GMTA dor que te move

A dor que te move

Todo mundo sabe a dor que tem. Lá de trás ou de agora, não importa. Escondida ou escancarada, recorrente ou velada, há dores capazes de afundar o peito e arranhar a alma, até escurecer tudo. Até as estrelas.

Todo mundo sabe também o Deus que tem. Ou que não tem, se por acaso resolveu brigar com Ele.

Sim, há quem brigue com Deus. Há quem jogue fora toda espécie de crença e esperança e sentido, exausto de tanto sofrer. Há quem entre em coma, quase, de tanto doer.

Mas aí vem Deus e te manda uma carta, um bilhete. Dizendo que está com saudades. Que quer te ver. Que te espera na Cabana.

Você vai?

Eu fui. Assistir ao filme. Chorar do primeiro ao último minuto, a emoção simplesmente toma conta da gente.

Coisa mais linda ver a ternura nos olhos de Deus, te amando de um jeito tão especial e único. Coisa mais linda enxergar a luz e leveza de um espírito que é santo, sagrado, sopro de vida, percorrendo suas veias, seus olhos, seu jardim. E trocar ideias com o homem que foi a maior referência de amor no mundo? Te convidando a entrar, acender a lareira, retirar a neve que impede de respirar o coração? Misto de serenidade e força, ombro que só amigo de verdade pode dar, abraço apertado quando falta tudo. (Como não se emocionar?)

Minha vontade era ir pausando o filme e anotando as falas no meu bloquinho. Como esta, em que Deus – na figura de uma mulher gorda, negra e de uma doçura encantadora – diz ao protagonista, Mack:

“- Quando você só enxerga a sua dor, você me perde de vista.”

E quando a gente perde Ele de vista, a gente perde tudo. O oxigênio, o chão, o rumo, o prumo. Perde uma vida inteira tentando entender o que nem de longe tem explicação.

Por mais lacerante que seja a sua dor, há algo que se mostra para além dela. Por mais espinhos no caminho, há flor de fé pra regar com choro e pegar com Deus.

Enxuga os olhos, acende as estrelas, põe-se a caminho.

O encontro precisa acontecer pra essa dor imensa parar de doer.

Vai.

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<![CDATA[Despatriados]]>https://rfeldman.web.app/despatriados/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff6fThu, 18 May 2017 18:14:53 GMTDespatriados

Despatriados

Despatriados

O primeiro whatsapp do dia veio do meu pai, às cinco e quarenta da manhã. Junto do carinhoso bom dia de sempre, uma foto linda do meu avô, pai dele, que hoje faria 111 anos.

Como esquecer, pai?

Dia 18 de maio é dia do olhar terno, da barba sempre feita, do perfume inconfundível, da paz contagiante, do jeito encantador de me chamar de Renatinha, repetidas vezes, como se o meu nome fosse música pra ele.

Dia 18 de maio é dia de lembrar do homem que aos 15 anos de idade pegou um navio na Rússia, sozinho, cruzou o oceano e veio descobrir um Brasil cheio de paz e esperança. Homem de bem, batalhador, que começou a vida vendendo rolos de tecido de porta em porta e foi abrindo janelas de realização pela vida afora. Abraçou com afinco o trabalho, pediu em casamento uma das mulheres mais doces e cheias de bondade que esse mundo já viu, virou pai, avô, bisavô, e aqui estou para continuar a história, atravessada pelo amor que veio de lá, dessas raízes que florescem um tanto de grandeza em mim.

Nunca vou me esquecer dos últimos anos de vida do S. Jayme. Já tão velhinho, escutando pouco, respirando mal, ainda assim acordava cedo, tomava banho, fazia a barba e ia para o escritório, junto do meu pai. Ali passava a manhã “derramando” o jornal sobre a mesa e lendo notícia por notícia, manchete por manchete, até manchar as mãos de tinta. Qualquer assunto ele era capaz de debater: política, economia, música, futebol. Impressionante como suas antenas captavam o mundo. Vez por outra levantava a sobrancelha como se indagasse: “Onde é que esse país vai parar?”

Esse país parou, vô. Estancou na vergonha (ou na profunda falta dela), na tristeza, no lamento, na ausência de tantas coisas que são essenciais a um país. Nosso hino desafinou, nosso solo secou, cadê “o sol brilhando no céu da pátria nesse instante”? A sensação é de luto, orfandade, parece que fomos todos despatriados. Você se foi e parece que o nosso Brasil também.

Tenho a convicção de que ir trabalhar cedo todos os dias te deixou lúcido. Te deixou vivo por 92 anos, sorte nossa.  Mas se você tivesse acordado aqui hoje,  sentiria uma enorme tristeza ao abrir o jornal. Haja estômago, pulmão, coração, pra dar conta de tanta notícia ruim. É de fazer qualquer um perder a lucidez. A esperança então, nem sei.

Vou aproveitar seu aniversário, seu 18 de maio tão cheio de emoção e saudade, pra fazer um pedido, quase um apelo: junta seus anjos, sua luz, sua força e sopra, além das 111 velas, boas energias aqui pra gente. Estamos precisando.

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<![CDATA[AF e DF]]>https://rfeldman.web.app/af-e-df/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff6eFri, 12 May 2017 16:51:31 GMTAF e DF

AF e DF

Já que inventaram o Dia das Mães, a gente comemora. Chora de emoção com cada cartão feito na escola, faz hora pra esperar o café na cama (digno de minichefs), se esparrama em apertados abraços de urso, faz escândalo quando desembrulha o presente, chora de novo lembrando o primeiro chorinho, o primeiro contato visual (ah, essas janelas da alma onde o sol nunca se põe…); e vai rememorando o aconchego de sempre, o eterno útero de mãe, a lindeza e a dificuldade de amamentar, o primeiro sorriso, a primeira papinha, os primeiros passos, a dor do crescimento que dói também na gente, o primeiro tombo, a primeira recuperação, o flagra da Fada do Dente, os ensinamentos pra vida toda, um tanto de amor que não cabe no calendário. Simplesmente não cabe.

Além de CPF, RG, CRP, sou feita também dessas duas siglas, Antes dos Filhos e Depois dos Filhos (AF e DF), divisor de águas que deságua  feito cachoeira no coração.

Quem falou que precisa de Dia pra lembrar dessa emoção que me acorda e me adormece todos os dias? Quem falou que precisa de um domingo para oficializar todos os outros domingos, segundas, terças, …, sextas (…)?

Mas, já que “precisa”,  a gente segue à risca e obedece o figurino. Faz desse dia especial um resumo de todos os outros dias indizíveis da minha vida, antes e depois e sempre, de janeiro a janeiro, rima de amor inteiro. E faz também o melhor arroz do mundo pra comer na cumbuca, antes do almoço ir pra mesa, como reza a deliciosa tradição de todos os outros domingos. Simples assim.

Ah, meus filhos. Desde que saíram daqui de dentro (nunca vão sair), impossível não me enxergar em vocês, metade da extensão mais linda de mim. Vocês são o meu presente, meu passado, meu futuro, minha história, meu rotineiro Dia das Mães.

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<![CDATA[Papo em dia]]>https://rfeldman.web.app/papo-em-dia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff6dTue, 09 May 2017 10:43:18 GMTPapo em dia

Papo em dia

É… A vida andou mesmo pausando por aqui. Devo ter emudecido de emoção, só pode.

As palavras me faltam, me fazem falta, quase passo mal sem elas. Acho que ficaram lá na Polônia, perdidas em meio ao cheiro adocicado de vó que também me faz tanta falta. (Ô.)

Fiquei em falta com você, querido(a) leitor(a), me perdoe, tanto tempo sem um “post novo para você”. Fiquei em falta comigo, você não imagina como minhas mãos coçam para escrever e a alma se agita aqui dentro. (Quase um oceano de ideias, insights, pensamentos. Todos resolvem conversar comigo de uma só vez.)

A gente volta de uma viagem tão maior, tão melhor, como se um Feliz Ano Novo acabasse de acontecer, mesmo fora de época. Mal pousamos e a rotina já nos espera no saguão do aeroporto, placa erguida com o nome e sobrenome em letras garrafais, muito bem-vindo(a). De volta ao seu fuso, sua terrinha, suas temperaturas amenas (de ventos não tão frios e cortantes),  sua cama, seu chuveiro, sua comida preferida, sua correria, seus rostos tão familiares e queridos, sua rotina abençoada de trabalho.

E como é bom voltar. Lar doce lar, abraço apertado dos filhos, malas desfeitas, despertador tocando, trabalhar muito para desbravar outros destinos lá na frente. (Essa minha coleção acho que não vou completar nunca, só se viver 200 anos.)

Se as palavras andaram em falta por aqui, na labuta do dia-a-dia elas foram rapidamente dando o ar da graça, se aconchegando no silêncio da sala 804. Palavras entremeadas de choro, tristeza, angústia, emoção. Palavras que eu devolvo juntando percepção e coração, ah, como eu amo esse meu ofício. Cada escuta um roteiro, um mapa, uma história especial para juntar os pedaços. (Como é gratificante ver o poder transformador que as palavras têm de tocar as pessoas, desatar os nós, calar o medo e fazer cantar a esperança. Como é bonito esse movimento.)

As palavras também prosearam um bocado no meu artigo de mestrado, finalmente aceito para publicação. Em breve ele vai estar aqui no site contando um pouco do que descobri na minha pesquisa sobre Mulheres e Maternidade, esse universo  tão fascinante e plural.

De prosa em prosa, fiquei feliz também de contribuir com o Jornal Estado de Minas  em uma matéria sobre depressão infantil: o que andam sentindo nossas crianças e adolescentes em tempos de “Baleia Azul” e “13 Reasons Why.” Minhas palavras se juntaram a de outros especialistas no assunto, e o resultado foi um debate cheio de reflexão.

E você?

Em que pé parou? Quantas montanhas escalou? Para onde foi ou voltou?

Trabalhando a todo vapor ou precisando de uma boa e merecida pausa?

O que te move? O que te falta? O que te toca?

Trace o roteiro e vai, inventar felicidade por aí.

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<![CDATA[O que você coleciona?]]>https://rfeldman.web.app/o-que-voce-coleciona/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff6cWed, 05 Apr 2017 19:04:44 GMT
O que você coleciona?

O que você coleciona? O que você coleciona?

Tem gente que coleciona selos, moedas, poemas, rótulos de vinho. (Há quem também colecione gols do Galo, acabo de saber.)

Quando eu era pequena, meu hobbie era colecionar papéis de carta para trocá-los com minhas amigas na escola.

Um deles, tempos depois, acabei tirando da pasta (santa audácia!) para escrever uma carta para aquele que viria a ser meu namorado (causa nobre!), 26 anos atrás, numa época em que ainda se postavam cartas pelo correio.

Hoje coleciono lugares. Guardo na pasta do coração uma geografia inteira de praias, estradas, montanhas, praças, castelos, museus, trilhos de trem.

Tiradentes, Rio, Iriri, Trancoso, Cafofo, Disney, Fazenda Santa Marina, Chile, Nova York, Madri, Toledo, Munique, Salzburgo, Varsóvia, Praga, Cracóvia.

Guardo também a pasta dos lugares sonhados, ainda não pisados – Itália (bota sonho nisso!), Holanda, Portugal, Israel, Rússia, Viena, Monte Verde, Campos de Jordão, Barcelona, Grécia, Floripa.

Me dê um bilhete premiado que dou a volta ao mundo, sem pestanejar.

Acabo de voltar da Polônia, coleção especial de emoções, raizes, judaísmo, ancestralidade, família.

Ouvi alguém dizer: “Esta terra tem um cheiro doce, não sei ao certo identificar o que é.” (…) Eu sei: é cheiro de vó, bisavó, tataravó, adocicado de amor e história e força e vida. Le chaim!

Acabo de voltar de lá, não sem antes me sentir em casa; não sem antes me encantar por Varsóvia e Cracóvia; não sem antes passar por Auschwitz e me emocionar com um passado que jamais poderemos esquecer. E – engraçado: diferente de outros lugares por que já passei, desta vez não senti a peculiar nostalgia que costumo sentir quando deixo cada destino. Ao entrarmos no táxi rumo à estação central, malas prontas para Praga, tendo acabado de visitar a famosa Fábrica de Shindler, não senti o coração apertado. Não desta vez.

Pela Polônia – minha Polônia querida – não senti dó de ir embora, nem nostalgia ou saudade antecipada. Talvez seja porque, na verdade, eu nunca tenha saído de lá.

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<![CDATA[Sim]]>https://rfeldman.web.app/sim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff6bWed, 22 Mar 2017 00:15:04 GMTSim

Sim Sim

Algumas decisões não são fáceis de tomar. Principalmente quando dúvidas e incertezas se colocam como pedras (muitas vezes avalanches) no caminho.

Casamento ou bicicleta, Praga ou Budapeste, especialização ou pedido de demissão. Gato ou cachorro, valsa ou viagem, conversa ou silêncio, adoção ou fertilização in vitro. “Ou isto ou aquilo”, como já disse Cecília Meireles num dos livros mais lindos que a minha infância conheceu.

Como quem toma uma decisão nada difícil – como tomar um café, viajar para o leste europeu, escolher o melhor lugar na orquestra sinfônica -, resolvo que vou me casar. De novo. No mesmo lugar de vinte anos atrás, com o mesmo sino tocando as seis badaladas, com as mesmas estrelas encerrando o Shabat, com a mesma khupá a nos acolher e abençoar. Amém.

Lá vem a noiva, toda de branco, “A missão” de Ennio Morricone lindamente cumprida, o “oboé de Gabriel” fazendo céu e terra se encontrar. (Segura firme, pai, há um longo corredor a caminhar.)

Caso de novo com o mesmo noivo de vinte anos atrás, ansiosamente esperando a noiva ao pé do altar, olhos chuviscando emoção e alumbramento, sol se pondo num sorriso iluminado.

Caso de novo com aquele que, alheio ao padre e ao amigo celebrante, ficou a olhar a noiva de cima a baixo, reparando cada detalhe do vestido, agora finalmente revelado; aquele que acabou esquecendo o documento para os padrinhos assinarem (mera distração, seu padre, repara não), mas que jamais esqueceu o tanto que o amor tem força – e é mesmo sagrado.

Sim, o mais sonoro sim da minha vida. A decisão mais certa e delicadamente tomada, como se toma um vinho francês há seis anos guardado. (Tão esperado.)

Em goles suaves, decantando passado e presente, tomo a decisão de deixar vir o tempo, o vento, as panelas descascadas, as rotas programadas (outras nem tanto), as taças quebradas, as revoluções tecnológicas, as inquietações dos filhos, os fios de cabelo branco, o caminhão de mudanças, as conchas adormecidas na cama, o bom dia de cada dia, a emoção de voltar a fita e casar de novo, tantas e tantas vezes, quantas vezes precisar.

Sim, o amor não precisa envelhecer com o tempo.

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<![CDATA[Faz de conta]]>https://rfeldman.web.app/faz-de-conta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff68Sun, 05 Mar 2017 23:35:46 GMTFaz de conta

Faz de conta

Ontem mesmo você estava aí brincando de faz de conta. Fez de conta que era pirata, odalisca, baiana, avestruz, Banana de Pijama. Ou usou de um pouco mais de discrição e fez de conta que era pescador, cozinheiro, amante, viajante, descobridor dos sete mares. Teve gente que colocou a fantasia de Soneca da Branca de Neve e não tirou mais,  aderência total ao Bloquinho da Fronha e do Travesseiro.

Mas aí o carnaval acaba e o faz de conta continua. Faz de conta que está tudo bem; que o seu trabalho é a melhor coisa do mundo, e que o seu chefe é expertise em te motivar a ser alguém melhor na vida.

Faz de conta que o seu casamento é feliz, tão feliz como no dia em que você disse sim e prometeu juras de amor ao pé do altar. (Falta de ar.)

Faz de conta que a sua família é perfeita, quase propaganda de margarina, e que ninguém nunca entra em conflito nem comete equívoco nem nunca se desencontra. Nunquinha.

Faz de conta que aquela amizade de longa data continua intacta apesar da distância e da falta de cumplicidade. Saudade.

Faz de conta que o seu filho está bem, obrigado, e que por trás daquele bom dia lacônico se esconde uma dor que você prefere ainda não enxergar. Faz de conta.

Algumas relações se desmancham como quarta-feira de cinzas. Algo acaba, termina, no mínimo se modifica, quer você queira quer não. O que sobra, de resto, é uma tristeza, uma ressaca, uma sede que nem água mata.

Para tempos cinzentos assim, a constatação de que a vida tem seus ciclos para abrir e fechar, vide as primaveras risonhas que sucedem os invernos mais ranzinzas.

Depois do brilho e do sol do carnaval (até mesmo debaixo d´água, se São Pedro decidir), vem as cinzas para confirmar, sem maquiagem ou disfarce, o quanto a vida é feita mesmo de contrapontos. “O que ela quer da gente é coragem“, já dizia meu amigo Guimarães Rosa. E um tanto de autenticidade também, acrescento, nada melhor pra gente seguir inteiro por aí e ser o melhor que cada um consegue ser.

É das cinzas que se renasce.

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<![CDATA["Permissão para ser pai"]]>https://rfeldman.web.app/permissao-para-ser-pai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff66Wed, 15 Feb 2017 11:30:21 GMT"Permissão para ser pai"

"Permissão para ser pai"

Um casamento, uma filha, uma traição, um divórcio.

A mãe despeja sua dor sobre a filha, lhe (re)apresentando um pai malvado, injusto, cruel.

Alienação parental estabelecida, a menina de apenas 7 anos se fecha para o pai, e a palavra de ordem é recusa: não para o fim de semana, não para o parque, não para o Natal, não para o abraço. Nem pensar.

Diante de um pai arrasado, a resposta da menina nasce pronta:

“- Você passou a mamãe pra trás, ela ficou muito magoada, eu não vou passar o Natal com você.”

Simples e direto assim. Complicado e doído, sem direito a conversa ou sim.

Esta cena – comum, infelizmente tão comum na vida real – eu assisti no filme Beleza Oculta, inspiração do meu último post. E uma das partes mais lindas, mais tocantes, foi o que o Amor (no papel da bela Keira Knightley) disse para o pai no momento em que ele contemplava o porta-retrato da filha, afundado em uma dor que só quem já passou por isso sabe explicar.

Misturando delicadeza e firmeza, rima tão perfeita, o Amor afirmou:

“- Você não tem que pedir permissão para ser pai.”

Tomado pela força e impacto dessas palavras, quase uma chacoalhada, o homem se pôs em movimento, mudando significativamente sua postura e a rota da sua vida. Passou a esperar a filha na porta da escola todos os dias, com um sorriso iluminado e a convicção de que nada, absolutamente nada poderia subtrair ou anular o que ele era: pai, com todas as letras e a grandeza que este nome traz.

Me lembrei de uma frase de Bert Hellinger que ouvi uma vez em  um seminário: “Não são os pais que se separam, mas o homem e a mulher que existiam antes de se tornarem pai e mãe. No coração de um filho, os pais jamais se separam. Jamais.”

Me lembrei do meu pai também, que tantas e tantas vezes me buscou de surpresa na escola, sempre com um abraço apertado, um pacote cheio de guloseimas e disponibilidade infinita para brincar de esconde-esconde, a gente era craque em fazer parar o tempo. Ele nunca pediu permissão para ser pai, nunca precisou. E lá estava ele na porta da escola, e em tantos outros cenários que compartilhamos juntos, e sempre do outro lado da linha, umas três vezes por dia: bom dia, boa tarde, boa noite, dorme bem, sonha com os anjos, amo você, minha princesa.

E eu ali no cinema, muitos anos depois, dividindo a pipoca com o meu marido e meus dois filhos, fui tomada de amor e gratidão. Assistindo à cena do pai e da filha na porta da escola, os olhinhos dela brilhando e dizendo um sim! que as palavras não dão conta de dizer, voltei no tempo e chorei de emoção.

Como me encontro em você, pai. Sempre me encontrei, sempre te encontrei, até mesmo quando você se escondia nos lugares mais difíceis.

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<![CDATA[Respostas]]>https://rfeldman.web.app/respostas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff65Thu, 02 Feb 2017 23:02:54 GMTRespostas

 

Respostas

– Amor, estou te esperando. Há anos.

– Tempo, sinto sua falta. Por que tanta pressa?

– Morte, morro de medo de você.

Três frases, três cartas, três destinatários inusitados, que você conhece bem. Essa é a tônica de “Beleza Oculta”, um filme que nos convida à reflexão desde a primeira cena, com a “simples” pergunta: “O que te faz dormir, acordar, levantar da cama, comer o que você come, trabalhar na profissão que escolheu, enfim, o que te faz estar aqui hoje me ouvindo?”

No lugar de respostas, silêncio. Emoção. Brilho nos olhos. Quem faz a pergunta é o talentoso Will Smith no papel de Howard, um publicitário entusiasmado que reúne a agência para uma palestra e mobiliza toda a equipe com o impacto de suas palavras:

“- Estamos aqui para nos conectar. Amor, tempo, morte. Estas três coisas ligam todos os seres humanos na terra. Temos ânsia de amor… queríamos ter mais tempo… e tememos a morte.”

Três anos depois, essas palavras ganham ainda mais força quando Howard perde sua filha de 6 anos e acaba se deixando morrer um pouco também, ainda que com o coração batendo.

Afundado em uma grave depressão, o publicitário começa a escrever cartas para as “três coisas que nos conectam”, e começa a receber respostas as mais lindas.

E você? Se tivesse o endereço do Amor, do Tempo e da Morte, para quem iria escrever? O que iria pedir ou dizer?

Encha os pulmões de ar, inspiração e coragem. Os envelopes já estão na mesa.

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<![CDATA[A paz que ele me traz]]>https://rfeldman.web.app/paz-que-ele-me-traz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff63Fri, 20 Jan 2017 10:59:34 GMTA paz que ele me traz

A paz que ele me traz

Não é a primeira vez que falo de você por aqui.

Por mais que a geografia nos separe e impossibilite uma convivência diária, de uma forma ou de outra a gente acaba se encontrando.

Você está na minha rotina de trabalho, nos olhos de quem chora; você está bem ali, na esquina entre o pensamento e o coração, quando essa mesma rotina precisa naturalmente – merecidamente – se quebrar. (“A vida necessita de pausas”, já dizia Drummond, sempre é bom lembrar.)

Depois de algum tempo longe de você, finalmente te reencontro, ao vivo e em cores.

Abraço, converso, troco ideias, peço benção. Me vejo pequena, quase grão de areia, diante da imensidão de amor que reside em você.

A respiração muda, mergulho dentro de mim, me ponho a pensar. Gratidão pelo tanto de energia boa que você nos traz,  só de olhar, só de te namorar. Leveza de ver você levar tudo o que não faz mais sentido pra bem longe, outro continente talvez.

Amo a paz que você me traz, amo a capacidade que você tem de nos transformar.

Seu nome é mar, sobrenome abundância, rede infinita onde Deus descansa. Uma vogal  na frente e substantivo vira verbo intransitivo, amar não poderia ter grafia mais bonita.

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<![CDATA[Rotineiramente]]>https://rfeldman.web.app/rotineiramente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff62Tue, 10 Jan 2017 23:23:59 GMTRotineiramente

Rotineiramente

Há quem não goste da rotina. Que reclame da segunda, terça, quarta-feira; que leia tédio onde se vê casa, casamento, trabalho. Zero de emoção no relógio que toca sempre à mesma hora, na lista de afazeres que não se reinventa, no velho e bom pão com manteiga de sempre.

Há, no entanto, quem sinta gosto de alegria a cada novo e repetido dia. Oxigênio entrando, gás carbônico saindo; cheirinho de café perfumando a casa e acordando os neurônios mais dorminhocos; noticiário religiosamente no mesmo horário, o que não falta é notícia. Bate ponto, bate o sino, batidão que não acaba mais. Tudo do mesmo jeito, mas sempre com uma batida diferente. Ah, se o seu coração falasse… com certeza iria cantar.

E assim você vai fazendo rotina, rotineiramente. Levanta  cedo, escova os dentes, reza, pede, agradece. Lava a louça, lava a roupa, lava até a alma tem hora. Bora que  o dia está só começando. 100 gramas de presunto, por favor. Bem fininho.

Beija, abraça, manda um zap, mata saudade. Abre a porta, abre um sorriso e convida gente especial pra entrar. Água, café, cappuccino? Especialidade da casa.

Paga conta, enche o tanque, gruda no livro, perde a hora, fecha pra balanço. Quem ama rotina também ama mudar de ares, respirar igual peixe, fazer montinho de monotonia na areia. Olha a onda!…

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<![CDATA[Segredos de última hora]]>https://rfeldman.web.app/segredos-de-ultima-hora/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff61Sat, 31 Dec 2016 14:21:20 GMTSegredos de última hora

Segredos de última horaUm passarinho me contou que você vai ter a melhor virada de ano da sua vida. Com direito a beijos, abraços, alegria e sintonia, comidinhas gostosas, taças se encontrando, lista de pedidos, muita dança e cantoria, fogos de amor e artifício.

Contagem regressiva. Regressivíssima.

Vira a página, vira pelo avesso, acredita no que virá.

Sim. Aceite. Comemore. Abra os braços. Festeje.

Que venha um 2017 especialmente lindo, cheio de luz e leveza, trazendo tudo de bom que você já sonhou um dia.

Falta pouco.

Abençoa, inspira, bota fé, faz figa até com o pé.

Seu pedido é uma ordem.

Feliz Ano Novo!

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<![CDATA[Salva-vidas]]>https://rfeldman.web.app/salva-vidas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff60Thu, 29 Dec 2016 11:37:44 GMTSalva-vidas

Salva-vidas

Há exatamente um mês eu chorei aqui, segurando sua mão, pela queda do avião da Chapecoense. “Cai o avião, caímos todos nós”, este foi o melhor jeito que encontrei de definir essa dor imensa e conjunta.

Ontem assisti “Sully – O Herói do Rio Hudson”, e chorei também. Mais uma história real, só que dessa vez com final feliz: 151 passageiros e 4 tripulantes a bordo, todos de volta pra casa, milagrosamente, depois de um pouso forçado nas geladas águas do Rio Hudson. Pelas asas do avião, pelas asas de um anjo, estas pessoas nasceram de novo.

Há um provérbio judaico que diz que “Quem salva uma vida salva toda a humanidade.” Verdade absoluta. Diante da grande tela, segurando forte a mão do meu marido, me senti renascida também.

Obrigada, comandante, pela decisão mais certa, tomada em apenas 35 segundos, e pelo maneira cuidadosa e humana de olhar para cada um de nós. Muito obrigada.

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<![CDATA[Esconde-encontra]]>https://rfeldman.web.app/esconde-encontra/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff5fWed, 21 Dec 2016 16:36:55 GMTEsconde-encontra

Esconde-encontra

Presentes, anseios, sonhos, abraços, lampejos.

Dezembro aconchega a gente e nos convida a olhar pra dentro. Longe dos shoppings, da fila de carros, do cansaço acumulado e da poeira dos dias, aqui estamos. Vivos, graças a Deus.

Pausa, altas, respira.

Onde está você? Preso no engarrafamento? No lamento do que poderia ter sido e não foi? Na escuridão dessa tristeza que nem mesmo estrela cadente consegue acender?

Livre pela missão cumprida, pelas decisões tomadas, pela beleza de cada mudança realizada?

Engenheiro de si, perito em transformar muros em ponte? Atravessado por uma força que simplesmente te conduz?

Parado na dor que arrancou pedaço, no amor que não se define, na saudade que congela o tempo?

Cantata de Natal, é lá que você está?

Fazendo hora-extra, serão, quem será você daqui pra frente? (Tente.)

Onde estás que não responde?

Esvaziando gavetas, enchendo a casa de música e alegria, entrando em sintonia?

Carregando sacolas, embrulhos, o mundo inteiro nas costas?

Olha você aí. Abraçando a leveza de mais um tanto de chão percorrido, flores no caminho e um sol generoso a guiar seus passos.

Tá frio? Tá quente?

Te achei. Foi se esconder bem dentro do meu coração, naquele cantinho mais iluminado, só pra deixar o meu dezembro ainda mais bonito.

Feliz Natal, cheio de amor e luz, encontros e mais encontros, abraços de verdade.

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<![CDATA[Somos todos chapecoenses]]>https://rfeldman.web.app/somos-todos-chapecoenses/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff5dTue, 29 Nov 2016 20:24:20 GMTSomos todos chapecoenses

Somos todos chapecoenses

Há algo que nos torna iguais. Profundamente iguais.

Num instante temos todos o mesmo credo, raça, religião, identidade, gênero.

Temos as mesmas artérias a pulsar no peito, a mesma pressão a despencar no chão, as mesmas vias lacrimais em perfeito funcionamento.

Num instante somos igualmente homens, mulheres, torcedores, jogadores, filhos de Deus. Humanamente choramos a máquina derrubada, o luto coletivo, o estádio vazio. Derrubados ficamos também.

Somos ascensão e queda, alegria e tristeza, amor misturado a um tanto imenso de dor.

Cai o avião, caímos todos nós.  Morre um sonho, uma conquista, um time. Morre um pouco de você, de mim, de uma multidão sem fim.

Hoje somos todos chapecoenses.

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<![CDATA[Perdas]]>https://rfeldman.web.app/perdas-no-caminho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff5cTue, 15 Nov 2016 14:11:47 GMTPerdas

Perdas

Ninguém acorda um dia sonhando em perder algo ou alguém.

“- Meu Deus, me ajuda a perder muitos amigos hoje.”

“- Muito dinheiro.”

“- O amor da minha vida.”

“- Minhas fotos, meus planos, minha casa.”

“- Meus pais, minha paz, meu chão.”

“- Muitos pontos em matemática, me ajuda a perder.

“- Aquele namorado que eu custei a arrumar.”

“- Meu emprego de vinte anos.”

“- Minha lucidez, minha liberdade, minha energia, me ensina a perder.”

Não. Perder é verbo derradeiro, doído, sofrido. Se a gente pudesse cortava ele do dicionário, da gramática, da vida. Mas não é assim que as coisas funcionam, você sabe.

Mesmo não sonhando em perder, mesmo não pedindo maluca e estranhamente para perder, às vezes acontece. E aí a gente chora, desmorona, quase some. (Mas sobrevive também, você pode dizer isso de cadeira.) Lutos em morte e em vida, é preciso saber vivê-los.

Mas há outras perdas que, pegando carona no título da clássica obra de Judith Viorst, são “Perdas Necessárias”. Vão doer, claro que vão, mas também vão nos ensinar algo que estamos precisando muito aprender. Vêm para abrir crateras na alma ou tsunâmi nos olhos, mas também para pôr a casa em ordem, nos libertar, nos trazer de volta. (Ah, nada como a casa da gente.) E aí vem Lya Luft, nossa querida Lya Luft, para nos acalmar o coração: “Perdas e Ganhos”, de dicotomia é feita a vida, a gente precisa aprender a perder para depois ganhar.

P.S.: Dedico este post a uma pessoa muito querida que faz aniversário hoje, desejando a ela os ganhos mais lindos, floridos e perfumados que houver nesta vida.

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<![CDATA[Pelos cotovelos]]>https://rfeldman.web.app/pelos-cotovelos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff5bThu, 27 Oct 2016 17:53:39 GMTPelos cotovelos

Pelos cotovelos

Fala sem parar, por falar, se esqueceu (?) de sentir.

Frio? Abandono? Medo? Tristeza? Alegria? Sentimento ainda não descoberto, não nomeado?

Coração tomou anestesia, paralisado de taquicardia, amordaçado ficou, relógio parou. Insônia.

Fala do tempo, do vizinho, do político, do padeiro, da labuta.

Fala da certeza que não tem, do ônibus que não vem, do trampo e do santo, dos milagres tão escassos. Em falta.

“Calor danado, precisando chover.”

Distância doída, cansou  de sofrer.

Sobe morro, desce morro, ladeira e ladainha, “quase morro”.

Que bom que fala. Palavra guardada vira gaveta emperrada dentro da gente.

Gente que é gente ama, sofre, chora, de vez em quando entala pra mais tarde desentalar.

Alívio, orvalho nos olhos, abraço que já nem sonhava mais existir.

Pra alma não ter hemorragia, verborragia. Com todas as letras, dores, pingos, reticências e vírgulas.

Não é pelos cotovelos não. É pelo coração que ela fala, canta, recita, desagua emoção de uma vida inteira.

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<![CDATA[Eternos recomeços]]>https://rfeldman.web.app/recomeco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff5aWed, 05 Oct 2016 10:43:24 GMTEternos recomeços

Eternos recomeços

Quarta é dia de aula. Vou pra “minha” FUMEC feliz da vida, me encontrar com uma das turmas mais adoráveis que já tive na vida: a turma do NEETI (Núcleo de Estudos Escola da Terceira Idade). Este semestre a minha disciplina é “Emoção em Prosa e Verso”, você pode imaginar o quanto “me divirto”.

Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Adélia Prado, Rubem Alves, Lya Luft, Cecília Meireles são alguns dos nossos convidados de honra. Colocamo-nos diante deles, olhos iluminados e alma emudecida, para aprender o que a sua poesia ensina. (Ô. E como ensina.)

Na última aula nos transformamos em jardineiros, doceiros, sensíveis aprendizes. Cora Coralina nos pôs no colo, avental de cozinheira, regador na mão e soprou um segredo: “Recria tua vida, sempre sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”

Recomeçar, verbo pra lá de bonito. A gente está sempre recomeçando. Uma semana, uma quarta-feira, uma emoção de vida inteira.

A gente recomeça quando cai, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Quando faz as pazes. Quando deseja um Ano Novo doce para alguém em pleno outubro. Quando arregaça as mangas e encara um trabalho novo. Quando descobre que aquele nódulo não passou de preocupação e alguns fios de cabelo perdidos. Quando deixa a barriga crescer de novo pela terceira vez, tanta coisa já esquecida. Quando gruda num livro e recomeça de onde parou, de onde aquela página deixou saudade. Quando sai da terapia se sentindo um caco, mas o caco mais lapidado do mundo, quase diamante. Quando muda de casa e embala até a alma, caixas e caixas de significado e história. Quando atravessa a rua de peito erguido, lembrando que o pior já passou. Quando ri da barriga doer, a mesma barriga que um dia já curvou de dor. Quando encontra um moço bonito e ele te fala verdades que você quer muito acreditar. Quando deposita numa caixa de remédio toda a esperança de cura que houver nessa vida.

A gente recomeça sempre, todo dia. E sem se dar conta vai “removendo pedras, plantando roseiras, fazendo doces”, escrevendo poesia.

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<![CDATA[Para o dia começar bem]]>https://rfeldman.web.app/para-o-dia-comecar-bem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff59Tue, 20 Sep 2016 12:07:40 GMTPara o dia começar bem

Para o dia começar bem

Acordo cedo, um pouco antes do despertador. O dia bem começa e o relógio já quer conversar comigo, autoritariamente me ditar ordens.

Fecho os olhos, respiro do jeito que a ioga me ensinou,  escuto uma sinfonia de de bem-te-vis  na janela. Voo junto com eles e deixo pra trás meu notebook mental de última geração,  o botão de power já ligado e a tela de descanso tomada por uma lista de afazeres, descanso mesmo só lá pelo item 59. Inspiro profundamente e de longe espio suas luzes se acenderem em meio às minhas milhares de sinapses nervosas, ainda calmas pela brisa que sopra de cada pulmão.

Respiro fundo e Te chamo. Antes que a rotina derrame, antes que o relógio infarte, antes que  a alma reclame, Te clamo.

Antes de fazer o café, acordar às crianças, pôr sentido, Te encontro poema dentro de mim. Sua presença tem rima, semântica, métrica e melodia de sol maior no meu bom-dia.

Abre as janelas, areja meu interior, põe sentido em cada segundo vivido.

Coração responde com gratidão pelos Seus olhos que enchem de luz o meu caminho.

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<![CDATA[Lembrete]]>https://rfeldman.web.app/lembrete/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff58Wed, 31 Aug 2016 23:09:00 GMTLembrete

 

Lembrete

Só pra lembrar:

  • crianças crescem rápido.
  • abraços encurtam distâncias.
  • beijos  provocam uma revolução.
  • mudanças fazem parte.
  • pedestres têm preferência.
  • filhos pedem limite.
  • preces iluminam o dia.
  • luto é pra ser vivido.
  • raízes florescem.
  • desencontros acontecem.
  • você não é perfeito(a).
  • amigos pra sempre não se perdem com o tempo.
  • um ciclo se fecha pra outro se abrir. (Feliz Ano Novo, em pleno setembro, cheio de pôr-do-sol virando poema na sua varanda.)
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<![CDATA[O melhor de mim]]>https://rfeldman.web.app/o-melhor-de-mim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff57Sun, 21 Aug 2016 22:54:15 GMTO melhor de mim

O melhor de mim

As Olimpíadas se despedem, deixando pra nós suas medalhas, batalhas, abraços, percalços.

Volto ao dia da abertura: luzes, efeitos, cores, coreografias, músicas e – pra completar (pra brilhar os olhos e paralisar todos os músculos faciais) – os passos majestosos da nossa garota de Ipanema, “poetizando seu balançado e fazendo o mundo inteirinho se encher de graça”.

Não sei você, mas dentro de mim percebi transmutar sentimentos de descrença, receio e vergonha em orgulho. É como se, naquele instante, todos os brasileiros sentissem uma medalha de ouro ser colocada no peito. “Levantamento de autoestima”, ouvi muitos dizerem.

No decorrer do grande evento, cenas bonitas, marcantes, doídas, muito além da técnica e fortemente vinculadas à emoção. Michael Phelps beijando o filho, Yohann Diniz passando mal em plena marcha atlética, o tenista Djokovic deixando a quadra chorando, “em uma das derrotas mais duras da sua vida”.

E foi justamente uma derrota que me inspirou a escrever este post: a do nadador brasileiro Bruno Fratus, que ficou em sexto lugar e foi abordado por uma repórter assim que saiu da piscina. Diante da pergunta redundante: “Está chateado?”, o atleta respondeu com ironia: “Não, estou felizão, né?”.

Fazendo prevalecer a emoção sobre a razão (atletas também são filhos de Deus, especialmente sob efeito de adrenalina), Bruno foi reativo para depois ponderar sua resposta e de alguma reforma se refazer. Procurou a repórter, pediu desculpas, disse que estava de cabeça quente. Terminou agradecendo todo o apoio que recebeu, dizendo o mais importante: “deixei tudo na água hoje”.

Em outras palavras, nosso nadador deixou o corpo, a alma, o melhor de si dentro da piscina. Essa constatação vale ouro, vale o esforço, vale a dignidade de perder a batalha sem se perder de si.

Terminam as olimpíadas, a vida continua. Amanhã cedo tem levantamento da cama, ginástica prum dia inteiro, trabalho sincronizado, saltos ornamentais, maratona suada, tiro de um leão por dia.  A luta não é fácil não, mas a emoção de cada vitória – com todos os obstáculos do caminho – se transforma em prece de gratidão ao fim do dia.

E você? O que está deixando de melhor na sua vida?

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<![CDATA[Onde Vander Lee possa me ouvir]]>https://rfeldman.web.app/onde-vander-lee-possa-me-ouvir/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff56Sun, 07 Aug 2016 22:59:20 GMTOnde Vander Lee possa me ouvir

Onde Vander Lee possa me ouvir

Te conheci há alguns anos, na piscina, e chorei de emoção. A aula de hidroginástica chegara ao fim e a professora colocou uma música sua para tocar.

Fazer o alongamento ouvindo “Onde Deus possa me ouvir” foi como fazer uma prece, presente pra alma depois que o corpo (missão cumprida!), já sorria agradecido.

Cheguei ao consultório com a sua música na cabeça e no coração, querendo dividir com o mundo cada palavra sua. Num intervalo entre um atendimento e outro, fiz um café, entrei no facebook, abri aspas e compartilhei a emoção prolongada desde manhã cedinho:

Sabe o que eu queria agora, meu bem?
Sair, chegar lá fora e encontrar alguém…

Que me oferecesse um colo ou um ombro
Onde eu desaguasse todo desengano
Mas a vida anda louca
As pessoas andam tristes
Meus amigos são amigos de ninguém

Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Pra entender porque se agridem
Se empurram pro abismo
Se debatem, se combatem sem saber

Meu amor
Deixa eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir

Minha dor
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui, pode sair
Adeus”  (Vander Lee)

Foi também pelo facebook que soube da sua partida, Vander Lee. Tão cedo, tão nosso, tão sempre. Li que você passou mal numa aula de hidroginástica, bem lá onde com o seu canto me encantei, seu coração não aguentou.

Levei susto. Lavei os olhos. Levo agora, mais do que nunca, sua poesia dentro de mim.

P.S: Li sobre a sua história, me emocionei de novo. Pus “Onde Deus possa me ouvir” pra tocar e reparei bem na última frase: “Adeus”. (…)

Me refugiei “no interior do meu interior”, rezei por você, pedi a Deus para preparar uma orquestra inteira de anjos pra te receber.

Descanse em paz, meu poeta.

 

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<![CDATA[Você e o tempo]]>https://rfeldman.web.app/voce-e-o-tempo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff55Tue, 26 Jul 2016 12:32:26 GMTVocê e o tempo

Você e o tempo

Andam caçando pokémons por aí. Esbarrando em quinas, esquinas, miragens, vertigens. De caçador a caça num clique, hipnose hightech, a aventura está só começando.

E aí você me diz que prefere catar flores, conchas, amores. Que o seu tempo é muito escasso pra ir pro espaço, em busca de monstrinhos coloridos.

Cada um sabe o que faz do seu tempo. O mesmo ponteiro que corre no seu relógio corre aqui no meu. Um pôr do sol é sempre um pôr do sol, independente de quem o contemple. Os bancos de praça estão lá. Os pokémons também. Um casal de namorados idem: se olhando, se curtindo, se enamorando como se fosse a primeira vez.

A vida acontece lá fora. “Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta, seu correr embrulha tudo”, já dizia meu amigo Guimarães Rosa.

E também tem gente brigando. Dormindo. Suando.  Sarando. Lendo. Rindo. Sendo. Catando os cacos que restaram. Gerúndios os mais variados, leve três e pague dois, basta viver para escolher.

E dentro de você, o que é que há? Vazio, vontade, medo, coragem? Sonhos, desejos, temores, cidades, ponteiros desembestados por aí? Ou rio manso, calmaria, ioga, alegria? Pé no chão, asas pra que te quero, banho de duas horas, inspiração-minuto?

Tem gente que briga com o tempo. Tem gente que nem vê o danado passar. Tem gente que corre atrás. Tem gente que está lááá na frente. Tem gente que nem sente. Teje preso. Teje livre. Teje tempo.

Meio-dia e dezenove, lá vem o tempo prosear comigo. É hora da fome, de uma pausa, de um respiro.

E já que o relógio me apressa, chamo Caetano para fechar o post. Meu tempo precisa de música para correr leve, bonito, solto. Como eu acho que cabe. Como eu acho que deve ser.

“És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo

Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo

Por seres tão inventivo e pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo és um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo…”
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<![CDATA[Espelho, espelho meu]]>https://rfeldman.web.app/espelho-espelho-meu/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff54Fri, 15 Jul 2016 09:37:15 GMTEspelho, espelho meu

Espelho, espelho meu

Fechou a janela, tomou ar, foi se olhar no espelho. Vidro trincado, nudez revelada, algo se quebrara dentro dela.

Não se reconheceu ali, parada, ensimesmada, sem saber o que pensar a seu próprio respeito.

Chorou. Derramou sua dor sem música ou silêncio, sem maquiagem ou coragem, apenas chorou. Até embaçar o vidro.

“Espelho, espelho meu”, nem sequer te sinto como meu. Não me aproprio de mim mesma, muito menos de você, pare logo com essa mania de me plagiar.

Tudo o que ela queria era se olhar no espelho e parar de brigar com ele. Fazer as pazes, fazer graça, rir de si mesma um riso solto. Ajeitar o lado de fora porque o de dentro, só lamento.

Queria abrir um sorriso mas a alma estava fechada pra balanço. Ranço.

Ferida, moída, doía de tanto pensar. Sobrevivente de uma semente que não deu flor, catou o cobertor e tomou um copo de leite.  Fome. Sede. Inanição.

“Espelho, espelho meu”, há neste mundo alguém mais triste
 do que eu?”

Socorro, desse jeito eu morro.  Chama a fada do dente, do cabelo, do coração, do corpo todo. Chama, urgente, um tanto de amor pra curar essa estima que caiu doente.

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<![CDATA["Como eu era antes de você"]]>https://rfeldman.web.app/como-eu-era-antes-de-voce/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff53Thu, 30 Jun 2016 18:32:47 GMT"Como eu era antes de você"

"Como eu era antes de você"

A gente corre de um lado pro outro, faz um milhão de coisas, sai da academia e continua fazendo ginástica, corre mais um pouco, cria asas, voa, respira, pausa, poesia, continua, corre atrás, vira artista de Circo de Soleil sem saber.

Mexe o corpo, cuida da alma, atravessa a rua, a dor, os sete mares. E aí um dia, distraído que estava falando ao celular, agenciando com certeza uma reunião muito importante, inadiavelmente importante, você é pego de supresa por uma moto que vinha costurando o trânsito, a um tanto assim por hora.

Crash. Silêncio. Sirene. (Isola.)

Essa cena praticamente abre o filme “Como eu era antes de você”. Atleta, dinâmico, aventureiro, romântico, era assim o jovem Will antes daquela moto. Um desses reveses que a gente nunca espera viver na vida, quando vem ela própria mudar o curso, desviar a rota, virar o avesso pelo avesso. E aí ele vai parar (literalmente) numa cadeira de rodas. Pára o mundo, pára tudo, brilho  nenhum nos olhos pra contar a história. Até chegar a alegre Lou, tão cheia de encanto e luz, contratada para cuidar desse homem que perdeu o movimento, a graça, a ternura, o sentido de viver.

Sem ter sofrido nenhum acidente, nenhum imprevisto no caminho, nenhuma rota interrompida (graças a Deus!), como é que você anda cuidando de você? Do seu movimento (e suas pausas) diante da vida? Sua rotina, sua graça, seu trabalho, sua ternura, seu amor, seu brilho nos olhos, suas relações mais próximas e afetivas? Como é que você anda cuidando de você, mesmo quando o mundo parece parar lá fora, e quando aí dentro o sol se põe pra “nunca mais” voltar? Qual é a sua postura, o seu olhar, o seu modo de acolher até mesmo aquilo que você não pediu para viver?

Nunca vou me esquecer de uma palestra que dei há alguns anos no Dia Internacional da Mulher, quando fiz à plateia a seguinte pergunta: “Qual é o sentido da sua vida?”

“Amar, “ser feliz”, “minha família”, “evoluir como ser humano”, foram algumas das clássicas respostas. Até que uma cadeirante levantou as mãos e o auditório em peso se voltou para ela.

“- O sentido da minha vida é acordar todos os dias e sentir entusiasmo.”

Não sei descrever a emoção que senti, compartilhada com aquelas mulheres que por um instante se calaram, se olharam e com certeza receberam ali, naquela simples resposta, toda a grandeza de uma homenagem.

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<![CDATA[Flor de fé]]>https://rfeldman.web.app/flor-de-fe/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff52Thu, 23 Jun 2016 22:58:56 GMTFlor de fé

Flor de fé

Outono morreu.

Primavera ainda não é.

O sol já foi, nem se despediu.

Faz frio lá fora.

Neva aqui dentro.

Torrente de sentimento, campanha do agasalho, arrecadação de amor. Um passo pra frente e um abraço bem quente, por favor.

Quando tudo parecer ausência, abismo, aridez,   pega um tanto de terra. Pega com Deus, rega com lágrima e intento, planta flor de fé que dá.

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<![CDATA["Quer namorar comigo?"]]>https://rfeldman.web.app/3632/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff51Sat, 18 Jun 2016 16:23:12 GMT"Quer namorar comigo?"

"Quer namorar comigo?"

Sou do tempo do bilhete dobrado às pressas, quando o coração se fazia ouvir mais que qualquer explicação de álgebra ou geografia. Do tempo em que as meninas trocavam papel de carta, trocavam olhares, contavam seus segredos a uma folha de papel.

“Querido diário, hoje eu senti de perto o perfume do Thiago. Quero sentir de novo. E de novo. E de novo, cruze os dedos.”

Não muito longe daqui, os meninos tiravam as meninas pra dançar. Música lenta, rosto colado (meu pai foi me buscar numa festinha e presenciou a cena, fala dela até hoje) ,  “salada de frutas”, jogo da verdade.

Hoje os jogos são muitos. E outros. E tantos. Voláteis, descolados, desromantizados,  absurdamente práticos. “Tô pegando.” “Tô ficando.” “Tô dando um tempo.” “Enrolando”.  “Experimentando”. “Curtindo.” “Tô vendo o que é que dá”.

Nessa nossa atual era hedonista, em que o prazer fala alto e os vínculos andam roucos, um tanto quanto escassos, são estes os gerúndios e imperativos da vez.

“Querido Tinder, busque  alguém do meu número. Gata, malhada, 20 a 25 anos, de preferência a 100 metros da minha casa.”

O velho e bom pedido – “Quer namorar comigo?” – soa quase  como um bilhete premiado em tempos de relacionamentos fugazes.  Em alguns casos a relação já configura namoro, é fato, mas é melhor que não seja nomeada assim. (Assusta.) Eles se falam todos os dias, mandam mensagem, se vêem a cada final de semana, não conseguem desgrudar um do outro mas deixa como está. Sem nomear, sem nada oficializar, nenhum status no facebook.

Em alguns casos, o clássico amor à primeira vista acontece. Vem acompanhado de uma energia diferente, uma emoção nada racional, uma química que vem antes mesmo do primeiro beijo. Vai explicar. E lasque logo o pedido, é claro que a resposta é sim, tudo o que a moça quer é namorar com você.

Tenho ouvido gente cansada de esperar. Gente exausta das baladas, dos beijos mecânicos,  “desculpa, foi engano”.  Por outro lado, vejo pessoas que não se cansam de tentar.  Tentativa e erro, uma hora o acerto vem, quem espera sempre alcança.

De uma forma ou de outra, entre um caso e outro, com todas as mudanças que vieram e que fazem parte; com todos os recursos tecnológicos, amorosos e os diários que mudaram de lugar; com tudo o que já não mais é, tudo o que já foi um dia e tudo o que ainda virá, uma coisa é certa: no fundo no fundo, todo mundo tem uma necessidade imensa, intrínseca, inevitável, de amar.

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<![CDATA["O que ela quer da gente é coragem"]]>https://rfeldman.web.app/o-que-vida-quer-da-gente-e-coragem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff4eMon, 30 May 2016 23:19:04 GMT"O que ela quer da gente é coragem"

 

"O que ela quer da gente é coragem"

Isso aqui está mais parecendo um sarau.

No último post “conversei” um bocado com Fernando Sabino (prosa pra mais de hora), hoje chamo Guimarães Rosa pra dançar.

Que coração nunca desacelerou ao som de “O correr da vida embrulha tudo”?

Um passo pra lá, outro pra cá, é tanta emoção que quase piso no pé do moço. Respira, “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

E como quer, Guimarães. A vida quer, pede, implora coragem nesses nossos tempos de medo paralisante. Pára a música, pára tudo, deixa o salão no escuro, acaba com a festa. Medo medonho.

Cheia de esperança me volto para você, querido escritor. Dois pra lá, um pra cá, me conceda a honra dessa dança.

Coragem para acender a luz. Esvaziar gavetas. Fazer as malas. Começar um trabalho novo. Mudar de cidade, estado, planeta. Saltar de pára-quedas. Arrumar a casa. Levantar da queda. Fazer aquele exame codificado por letras estranhas, letra de médico, jejum de horas que não passam. Dar o sangue, a raça, o tempo. Dar o melhor de si. Ir ao encontro dele pela primeira vez, camisa azul xadrez. Ir à luta. Sair do luto. Dizer a ela que não é mais dela (nunca foi, afinal). Pôr o pé na lua. Pular da cama quando a depressão te chama. Encarar a pilha de louça, o pneu furado, o tsunâmi. Ser quem você é, sem maquiagem ou estiagem, sorrir de alma inteira. Assistir ao noticiário. Fazer careta. Assentar na frente do terapeuta e chorar suas dores, verdades, segredos. Amar, sofrer, cair, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. A volta ao mundo, de preferência.

Ninguém te disse que seria fácil. (Olha eu aqui pisando no pé do moço pela terceira vez.) Mas se faltar coragem, lembra do amor. A palavra é pequena mas nunca reuniu tanta força, bravura e grandeza de uma só vez. Sarau perfeito.

Vai voar, vai. A música já está tocando.

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<![CDATA["No fim dá certo"]]>https://rfeldman.web.app/no-fim-da-certo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff4dThu, 19 May 2016 19:19:39 GMT"No fim dá certo"

"No fim dá certo"

Sábio Sabino. Deixou de herança pra nós um pensamento que carrego sempre comigo, quase uma carteira de habilitação pra dirigir essa estrada enorme que chamamos de vida: “No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.”

Mas esse “fim” não podia vir logo ali?, alguém sempre pergunta. E como pergunta. A ansiedade derrama quando o assunto é a festa de aniversário, a prova do mestrado, o fechamento da loja,  a venda do apartamento, o resultado da tomografia, a apresentação de dança, a entrevista de emprego, o casamento na praia, a fertilização in vitro, a família do intercâmbio, a inauguração do restaurante,  o cuidador da mãe, o “passeeeeeei” no concurso, as agruras e mais agruras de quem vive de sonho, esperança e labuta.

Não, infelizmente não tenho bola de cristal. Juro que adoraria ter. Mas tenho comigo que Sabino estava certo, e levo essa certeza comigo. Tente se lembrar de um dos vários momentos da sua vida em que a dor de barriga, a tensão muscular e as unhas roídas deram lugar a um ok de todo tamanho no fim da história. Lembrou?

Gastamos muito tempo e energia roendo as unhas, acelerando o pensamento, espremendo o coração. E assim vamos desviando o foco do sim para o não, da coragem para o medo, da fé para a descrença, da realização para o boicote.

Ok, nem sempre as coisas vão acontecer do jeito que você gostaria. Entre o ideal e o real há uma distância imensa, às vezes um abismo inteiro. Mas que o pé no chão é possível de ser trilhado, ah isso é. E, se por acaso não der certo, chama o Sabino de novo: “Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

E depois de se encontrar com ele, encharca a alma de poesia e experimenta mudar a rota, acreditar em estrelas, sonhar de olhos abertos, fazer dar certo o que é possível. O fim é logo ali.

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<![CDATA[De mãe pra filha]]>https://rfeldman.web.app/de-mae-pra-filha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff4cSat, 07 May 2016 23:22:23 GMT
De mãe pra filha

De mãe pra filha

Minha mãe nunca me ensinou a cozinhar. Psicóloga de mão cheia (minha mestra, minha luz, minha guia), saía cedo de casa para ouvir problemas e traduzir sofrimento em palavras. Sua maior especialidade? Afeto, emoção, cuidado, ternura, muitos beijos e abraços, ingredientes que nunca poderiam faltar. Ah, e sempre conectada ao lado prático da vida, quanto mais praticidade melhor.

Quando me casei, foi a ela que recorri  para preparar um “jantarzinho especial” pro meu marido:

– Mãe, estou pensando em fazer um cachorro quente pro Dé, ele ama. Como é que eu faço o molho?

– Ah, filha, será que não é melhor pegar um já pronto  na carrocinha? Leva um tupperware.

E foi com essa mesma praticidade que ela me ensinou a andar de ônibus para ir ao inglês, me lembro como se fosse ontem. “Do alto” dos meus nove anos, subi num azulzinho e fiquei olhando pela janela a minha mãe me acompanhar de carro, pareada com o ônibus, sorrindo e dando vários tchauzinhos pra mim. Dei o sinal para descer me sentindo a pessoa mais bem-resolvida da face da terra, alcancei a Praça Tiradentes e lá estava ela, me esperando com o melhor abraço do mundo. E lá fomos nós aprender o caminho de volta. Ela de carro, eu sacolejando no 2001, céu já escuro, hora do rush. Acabei passando do ponto e não vi mais o carro dela, o coração quase pulou. Desci assustada e quem estava lá, piscando o farol, sorrindo um riso tranquilo, desses que falam “Está tudo bem, querida. Estou aqui.”?

Ah, mãe, você sempre esteve lá. Sempre esteve aqui. Me ensinando a virar gente; a ser gente; a amar gente. Me ensinando a sonhar, a viver, a acreditar.

Com você aprendi a amar as palavras, a escuta, a música, os livros, a estrada, o céu, o mapa-múndi. Aprendi que o amor é a coisa mais importante do mundo. Que família é pertencimento, aconchego, raiz. Que é preciso ter compaixão, dignidade, autoestima. Que o trabalho dá um sentido todo especial à nossa existência. Que a felicidade existe, e está nas coisas pequenas da vida.

Com você aprendi a agradecer, a merecer, a ser eu mesma. Aprendi a alegria que é estar sozinha em nossa própria companhia. Aprendi que algumas coisas são como são, e apenas são, ponto final. Aprendi que pra tudo tem um jeito, nada de se afobar. Aprendi que é possível transformar dor em amor, angústia em serenidade, torcida em realização, filha em mãe. Ah, como sou grata por tanta transformação. Inclusive a do leite condensado que, junto do Nescau e algumas pelotas de manteiga (pra não agarrar)  se transforma no melhor brigadeiro do mundo. (Quem  é que disse que você não me ensinou a cozinhar?)

Obrigada, mãe. Feliz Dia que é tão seu. Todos os dias, a cada segundo domingo de maio, e sempre. Amo você.

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<![CDATA[Fantasmas]]>https://rfeldman.web.app/fantasmas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff4bMon, 02 May 2016 11:43:23 GMTFantasmas

Fantasmas

Eles estão por aí. Invisivelmente te rondando, te assustando, roubando o seu sono.

Fantasmas não existem, passou da hora de você desacreditar deles.

Existem sim. Sua criança morre de medo de revisitar os porões escuros da alma, onde traumas repousam em teias de aranha, memórias  vivem sendo desenterradas, ruídos estranhos arrombam o pensamento. Haja coragem para voltar lá.

A mulher; o homem que vive em você vira e mexe sente o suspiro frio de fantasmas que há muito jazem, em vão te invadem, já vão tarde. Buuuu.

Quando fui a Nova York conheci um fantasma de carne e osso que me deixou fascinada. Eu e algumas mais de 100 milhões de pessoas, coisinha à toa. Recorde de permanência na Broadway, O Fantasma da Ópera faz jus ao sucesso que faz há tanta tempo. Música, produção, figurino, orquestra, enredo, tudo para nos encher os olhos com uma história de amor lindíssima. Bravo, bravíssimo.

Resumo da ópera: Erik (o fantasma) ama Christine que ama Raoul que ama Christine. O duo de amor correspondido  vive no musical um idílio marcado pela clássica canção “All I Ask Of You”, muitos já se casaram com ela. Cumplicidade, liberdade, porto seguro, verdade e amor inteiro, é tudo o que um pede e reafirma para o outro. (Se existe receita de longevidade amorosa, anote essa.) Mas aí vem o fantasma, Erik, para promover um desvio de rota e levar a moça para as profundezas de um outro amor que atrai, seduz, encanta, inebria. Fantasmagoricamente falando.

Dividida entre o amor verdadeiro e o fascínio das brumas de Erik, a moça vai sendo gentilmente, amorosamente conduzida para a morte. Até conseguir fazer o corte e romper, coisa que muita gente não tem dado conta de fazer nos dias de hoje. “Acabou. (?)“, vai lá nesse post se quiser aprofundar o assunto.

Despertada pela vida, fazendo prevalecer o que realmente fazia força e sentido pra ela, Christine se despede de Erik com um beijo e em seguida um tapa na cara. Tomada por um choque de realidade, coloca um fim no que nunca poderia ser um começo.

Conheço algumas Christines que ainda não deram conta de fazer o mesmo. Não têm um Raoul pra contar a história (o que torna tudo mais difícil), mas têm um “amor-fantasma” pra viver. (Viver?) E assim elas se aprisionam, se arrastam para dias escuros sem coragem de encarar a claridade do fim. Precisam ouvir a música e se emocionar com ela: “No more talk of darkness, forget these wide-eyed fears; I’m here, nothing can harm you, my words will warm and calm you. Let me be your freedom, let daylight dry your tears; I’m here, with you, beside you, to guard you and to guide you.” Precisam, acima de tudo, ouvir a si mesmas e encontrar o amor que carregam. É ele, prioritariamente ele, esse amor genuíno e primeiro,  que nos liberta.

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<![CDATA[Obrigada!]]>https://rfeldman.web.app/obrigada/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff4aFri, 22 Apr 2016 09:58:51 GMTObrigada!

Obrigada!

A gente leva um tempo aprendendo – e outro tanto ensinando – a importância de se dizer “obrigado”, palavrinha mágica que nos concede o título de gente bem-educada, gentilmente conectada ao mundo que nos cerca. E vamos seguindo pela vida descobrindo que, para além da formalidade, há algo de mágico em se agradecer.

Quantas vezes você faz isso por dia?

Agradecer porque abriu os olhos e enxergou um tanto de vida correndo dentro e fora de você. Porque hoje é um novo dia. Porque Deus “bem-te-viu” pela janela. Porque o amor está ali e te move, desde sempre. Porque sua família é o melhor lugar do mundo. Porque o trabalho te chama, e você responde cantando, apaixonadamente se encontrando. Porque a comida está na mesa, e é sagrada. Porque os amigos estão sempre ali, para o que der e vier. Porque você conseguiu um horário na massagem, depois de uma semana intensa de labuta e nódulos latejando na cervical. Porque – viva! – você passou no doutorado. Porque passou pela ciclovia, a salvo, minutos antes dela desabar no mar. Porque o exame deu positivo. Porque o moço mandou mensagem. Porque você acaba de chegar da ioga e está respirando um tanto de paz. Porque a oportunidade bateu na porta e entrou pra tomar um cafezinho. Porque você é cercada de gente abençoada – quanta luz no seu caminho! Porque a matemática já não é mais uma pedra no sapato. Porque você veio de um tanto imenso de amor chamado pai e mãe, e isso tem uma força enorme que te conduz.

Gratidão é sentimento nobre, postura de vida, capaz de encher o coração de alegria e nos conectar à felicidade mais real e inteira, já comprovaram os cientistas. Dizer “obrigado” ganha ainda mais força quando você sente, de verdade, esse “obrigado” correndo nas veias. Dizer, sentir, pedir, pontos diferentes da travessia. Muita gente se esquece de agradecer, mas não se esquece de pedir.

E por falar em agradecer, preciso me retratar. Deixei passar batido o aniversário do blog, que no dia 7 de abril fez 7 anos. Mas se esqueci da data (dona memória foi ali pegar uma prainha, já voltou), nunca me esqueci, nem por um minuto sequer, de agradecer meu encontros diários com a inspiração, com as palavras, com a emoção. Nunca me esqueci de você que me lê com os olhos e com o coração, passando por aqui como quem passa para tomar um cappuccino (especialidade da casa), ganhar um abraço, arejar as ideias, quanta alegria te receber por aqui.

Obrigada, obrigada, obrigada de novo, muito obrigada.

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<![CDATA[Mulher de 40]]>https://rfeldman.web.app/mulher-de-40/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff49Mon, 11 Apr 2016 23:07:33 GMTMulher de 40

Mulher de 40

Algumas mulheres não gostam de contar a idade que têm. Contam casos, sapatos, contam os dias mas não contam a verdade que vai estampada no seu RG.

Já algumas mulheres têm 40 anos e muita – muita emoção pra contar. A emoção de ter encontrado o seu próprio amor. (E quando digo “seu próprio amor” estou me referindo ao amor-primeiro, amor-oxigênio, prioridade, inteiro, que algumas mulheres deixam lá no fim da fila ou esquecido num banco de praça qualquer.) A emoção de saber quem se é, de dizer o que se quer, sem rodeios ou silêncios improdutivos. A emoção de reconhecer que se caminhou muito para chegar até aqui, apesar de todas as pedras no caminho, e – boa notícia: com atestado de sobrevivência, sã e salvas, inteiras.

Mulheres de 40 costumam dar uma repaginada no próprio sofrimento. Colocam outro olhar na dor, não choram mais pelos motivos de tempos atrás.  Picuinhas, ladainhas, blablablás e mimimis dão lugar a saudáveis e interessantes conversas internas – e consequentemente com o mundo que as cerca. E são justamente essas conversas que parecem deixar a mulher de 40 mais bonita, mais bem-resolvida e cheia de graça, apesar dos sinais que o tempo insiste em enviar, pedindo como resposta apenas um sim. (Aceita?)

Algumas dão peso extra aos quarenta, transformando-o  em quase mito, amargo rito, pula esse “desaniversário” pelamordeDeus.  Acabam se colocando de quarentena, castigo, como se fazer 40 anos fosse doença. Outras, por outro lado, elegem a leveza para significar cada ruga, cada rusga, tudo que se conquistou e também o que não se conquistou. Sabem que a vida não é perfeita e é feita de dois lados. Buscam, sempre que podem, viver o melhor deles. E dá-lhe carpe diem que a vida é curta e merece ser vivida. Ô, se merece.

Adeus óculos cor-de-rosa, deslumbres rasos, traumas de infância, contos da carochinha. A mulher de 40 não se contenta com pouco e quer sempre mais da vida. (Onde se vê “mais” leia-se amor, realização, plenitude, autenticidade, segurança, emoção, alegria. Sem deixar de ser dona de si nem por um segundo.)

E chega de cobrar, comparar, se amuar diante dos acontecimentos que não estavam no script. “Se não estavam deve haver algum sentido, aceita que dói menos”, é o que costumam compartilhar amigas reunidas em um café. Açúcar ou adoçante? Riso, endorfina, colheres cheias de cumplicidade, bem-vinda ao clube.  E como são produtivos esses encontros…. Deveriam ser religiosos, sagrados, prioridade absoluta nessa sua agenda tão cheia.

Algumas correm contra o relógio biológico. Não sabem se esperam, se congelam ou se desmancham seus sonhos. Algumas correm contra o relógio da cabeceira, da academia, do ponto, da escola dos filhos, da reunião que não espera, do supermercado que está quase fechando, do sinal que já vai abrir. Corre, ginasticaliza o dia, respira, olha pra dentro, medita. A mulher de 40 não quer perder o sol que se põe na alma, nem as estrelas que de olhos fechados se permite contar, em noites de amor indizíveis. (Nem o melhor tradutor intérprete seria capaz de decifrar.)

E de novo amanhece, enternece, lá vai a mulher de 40 correr com os lobos, se distanciando cada vez mais dos cativeiros que a abrigaram um dia.

Sua identidade? Felicidade, rima tão bonita.

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<![CDATA[Inanição]]>https://rfeldman.web.app/inanicao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff48Fri, 01 Apr 2016 10:27:12 GMTInanição

Inanição
Cadê você?

Que se escondeu atrás do mundo,

bem lá no fundo

de um poço sem chão?

Debaixo do cobertor,

coberto de dor,

lanterna sem pilha na escuridão.

Cadê você

que perdeu o rumo de casa,

quebrou a asa,

desaprendeu a voar?

Sem mais querer,

sem mais amar,

sem mais sonhar.

Falta de ar,

de mar,

de tudo.

Inanição.

Mudo está.

Vazio ficou.

Nem fiapo de esperança restou.

Cadê você que se escondeu

atrás do sol dos olhos seus?

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<![CDATA[Um minuto de silêncio]]>https://rfeldman.web.app/um-minuto-de-silencio-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff47Fri, 25 Mar 2016 20:18:24 GMTUm minuto de silêncio

 

Um minuto de silêncio

Semana passada Adélia Prado veio a Belo Horizonte através do Sempre Um Papo e emocionou uma plateia inteira com um simples pedido: “Eu queria que nós fizéssemos um minuto de silêncio, uma experiência de encontro conosco mesmo, e nesse minuto de silêncio eu queria que a gente pedisse pelo Brasil.”

Esse um minuto de silêncio – não só acatado como aplaudido – veio acompanhado de uma linda oração do Pai Nosso, começando de forma cantada e terminando com um emocionado apelo da nossa amada poetisa: “Olha pelo nosso Brasil!…”

Ah, Adélia, quanta força nesse seu pedido. Quanta luz e energia no seu silêncio-prece!…

Neste momento conturbado  em que vivemos  as palavras brigam, saltam, saem arranhadas e muitas vezes cheias de cacofonia. Precisam falar, precisam gritar, precisam despejar o que já não damos conta de compreender, muito menos aceitar.

Mas muitas vezes é no silêncio, é no movimento de olhar para dentro que descobrimos o tanto de esperança que adormece em nós, e que uma simples oração é capaz de acordar. Seja nas crises políticas ou emocionais, na correria do dia-a-dia, na reflexão de uma Sexta-feira Santa ou em meio a problemas que parecem não ter fim, um minuto de silêncio para constatar que você também é filho de Deus. Pode chorar, pode pedir, pode transformar letras confusas e ilegíveis em poesia.

Na toada de Adélia Prado, deixo aqui o meu silêncio e também um Pai Nosso que encontrei adormecido entre os meus escritos, lápis fino e folhas amareladas, já se vão anos.

Pai Nosso que estais no céu, olhai por mim.

Cuida dos meus medos para que eles não se transformem  em temores, abismos, terrores sem fim. 

Acende a sua luz, encontra o seu olhar protetor nos olhos meus cheios de dor. 

Clareia o escuro, faz-se ponte em meu caminho. 

Transforma o choro, a falta de compreensão em sinal de entendimento. 

Leva embora o que não é meu, tira de mim o que eu não pedi pra viver. 

Toma conta de mim, seca essas lágrimas que embaçam  os olhos, me envolve no seu manto de energia purificadora e divina. 

Faz do desencontro encontro. Do grito palavras que falam de amor. 

Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

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<![CDATA[Manifestação]]>https://rfeldman.web.app/manifestacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff46Thu, 17 Mar 2016 22:51:22 GMTManifestação

Manifestação

Resolveu se casar. De novo. Sem pedido, sem vestido, sem padre ou buquê.

Simplesmente tomou essa resolução. Acordou numa terça-feira nublada e resolveu que seria dele pra sempre. Veemente. De coração, de corpo inteiro, de lua e de lei.

Pulou da cama e foi pra rua, fazer manifestação. Declaração de amor, versos cantados no megafone, protesto ensaiado caso ele ousasse fugir do altar.

Casa comigo. De novo e de novo e de novo. Bôdas de prata, água marinha, ouro. Chuva de arroz, alegria de alecrim, flor de sal. Um sim e te dou uma joalheria inteira. Um não e faço uma revolução bem debaixo da sua janela.

Sim, eu prometo. Amar-te com todas as minhas forças; com toda ternura, delicadeza e peleja que rege os antagonismos nossos de cada dia: na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, no futebol e na orquestra sinfônica, na ação e no drama, no real e no virtual, no silêncio e na palavra, no seu sorriso mais iluminado e no seu lado mais sombrio.

Caso de novo com você do jeito que você é. Sem photoshop, testemunha, ilusão de ótica ou subterfúgios. Sem jamais renunciar ao amor que um dia se manifestou no casual encontro de nós dois. Pois, pois.

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<![CDATA[Amor. Amém. Mazal Tov!]]>https://rfeldman.web.app/3414/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff45Mon, 07 Mar 2016 10:18:13 GMTAmor. Amém. Mazal Tov!

Amor. Amém. Mazal Tov! Amor. Amém. Mazal Tov!

Parece que foi ontem. O beta hcg positivo, a barriga crescendo, o ultrassom colorindo a vida, o primeiro chorinho nos fazendo chorar em conjunto, emoção que palavra nenhuma consegue traduzir.

13 anos depois, mais choro de emoção, alegria, amor.

Hoje o post é para você, Léo, que este ano fez coincidir a alegria do aniversário com a emoção do seu Bar Mitzvá, nos presenteando de maneira especial.

Deixo registrado aqui para você e também para as gerações vindouras (amor a florescer nos meus netos, bisnetos, tataranetos (quanta emoção nesse florescer!), o discurso que li para você em um momento que jamais vou me esquecer.

Filho querido,

 Toda travessia carrega a força de um movimento, de um colocar-se a caminho.

Guiado pelo sol de um amor maior, em busca de sentido e sintonia, você chegou até aqui. Percorreu toda uma grandeza de ensinamentos, abraçou valores, imprimiu uma marca especial à sua identidade.

Você não chegou aqui sozinho, guarde para sempre esta certeza. Deus fez-se luz, farol no seu caminho; seu pai e eu acompanhamos com emoção e alegria cada passo dado, cada trecho da travessia, cada pedra transformada em poesia; sua irmã também seguiu com você na cumplicidade e torcida; seus avós (ah, seus avós!…. Me faltam palavras…), sua família inteira, seus amigos, todos – de um jeito ou de outro – fazem parte desta realização que hoje brilha os olhos e acende velas no coração.

Sua dedicação também te trouxe até aqui, para colher (e continuar a plantar) os frutos de um estudo que é para a vida toda, ad eternum.

Suas raízes são muitas, meu filho. Olho para você e enxergo meu avô Jayme, minha avó Estela, meu avô Zé, minha avó Bella, e todos aqueles que vieram antes, abrir caminhos para você. Seus bisavós com certeza estão aqui hoje, através da genealogia e da imensa saudade, sendo honrados por você. Seus nomes estão inscritos nas cadeiras desta sinagoga, na placa dos fundadores, no fundo mais quentinho do coração. Toda uma ancestralidade trazendo luz, sentido e uma ressonância profunda de amor na sua vida.

A travessia está só começando, Léo. Um ciclo se fecha e outro ainda mais importante se abre, em um rito de passagem que faz de você um Bar Mitzvá, filho da lei, filho dos mandamentos. A partir de agora, você alcança a maioridade religiosa como quem alcança as estrelas, tornando-se ao mesmo tempo livre e responsável por suas escolhas.  Seus valores, seu comprometimento, suas ações; sua lealdade, seus amigos, seu senso de justiça; seus anseios, suas buscas, sua reza e seu canto fazem de você um ser humano melhor.

Volto alguns anos no tempo e te encontro pequeno, ensaiando seus primeiros passos, com um carrinho na mão e a entusiasmada frase que se repetia a cada sábado, por volta das sete da manhã: “Papai, o céu já tá azulzinho. Acorda, vamos brincar.”

E assim você foi crescendo e descobrindo o mundo, despertando para a necessidade quase urgente de aproveitar cada segundo do seu tempo, cada gota de felicidade, seja diante de uma pilha de lego, de uma pilha de livros, de uma piscina olímpica, de um mar aberto, de uma barca de sushi ou de uma temporada “irada” na machané.

Você foi descobrindo também que nem só de dias ensolarados é feita a vida, meu filho, e que por vezes há pedras no caminho, já dizia o poeta. Conflitos, desencontros, dificuldades, problemas de matemática, dor de crescimento. Mas, como você mesmo escreveu no status do seu “what´s up”, “Para ser feliz não importa a falta de problemas, mas sim o jeito que você lida com eles.”

Você tem um jeito especial de lidar com os dias nublados, Léo: com humildade, esforço, vontade e disposição para recomeçar, mesmo que muitas vezes triste e contrariado. Mas logo o sol aparece: sua alegria afina o violão, convida o riso, mistura a aquarela, faz voar seu carrinho de rolimã.

A relação bonita que tem com a sua irmã é outro capítulo especial da sua história. Tão amigo, tão presente, tão próximo. Sempre caminhando juntos, o seu braço sobre os ombros dela, numa mostra de proteção e cuidado que só faz fortalecer esse importante laço de vida.

Nesses 13 anos, muitas passagens marcaram a sua vida. E hoje o céu acordou azulzinho (ou nublado, chuvoso, pranto de alegria) pra gente se emocionar vendo você carregar a Torá.

Que as leis de amor sejam seguidas por você com passos firmes e leveza no coração, encontrando em Deus seu maior guia, seu norte e seu sul.

Que você possa amar e colocar em prática a conexão que existe entre pensamento, sentimento e ação, trilhando seu caminho com coerência.

Que este talit que te cobre hoje possa revestir a sua vida de transparência, boas ações e comprometimento com o bem.

Eu e seu pai olhamos para você hoje, cheios de emoção e orgulho, e enxergamos Deus; no seu olhar, nas suas buscas, no seu caminhar. Nosso amor é sagrado, e é com ele que te abençoamos a cada amanhecer, a cada anoitecer, a cada passagem, sempre e tanto e sempre.

Que o Eterno se faça sempre presente na sua vida, filho querido, derramando bênçãos e tornando sua travessia cada dia mais bonita.

Que o Eterno te ilumine e proteja sempre. 

Amém. Amor. Mazal Tov!

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<![CDATA[Acabou. (?) ...]]>https://rfeldman.web.app/3395/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff44Sun, 28 Feb 2016 12:45:46 GMTAcabou. (?) ...

Acabou. (?) ...

Muitas coisas são simples de terminar: aquele bolo cheiroso que acabou de sair do forno, só esperando pela calda de chocolate; aquele relatório parado na gaveta há algum tempo; aquela arrumação que você prometeu fazer desde o ano passado; aquela música que ficou faltando um pedaço; aquele curso pendente, urgente, que ficou agarrado por causa de um ponto; aquele papo-cabeça que um imprevisto qualquer não deixou descer pro coração.

Sobe o nível de complexidade. Vínculo. Hábito. Amor. Desencontro. Desânimo, preguiça, desamor.

Como é difícil, doído, colocar um ponto final naquela história que começou sem nenhum rabisco e agora precisa de um curso de caligrafia para se fazer entender. Terminar o namoro, romper a relação, dar um tempo, pedir a separação. Gosto amargo que esse assunto tem. Fim de linha, não te amo mais, adeus, foi bom enquanto durou, acabou. The end.

Tenho visto algumas pessoas se queixarem do amor. “Destemperou, esfriou, perdeu o sal.” Foi mal. “Ao invés de alegria, dor de cabeça, insônia, distância. Não tenho mais esperança”. “Perdemos a liga, o timing, o encanto.” Pranto. Paradoxalmente, muitas vezes a queixa não precede o fim: se perde em si mesma, atônita e catatônica, sem energia para seguir adiante. Dá-se voltas  no mesmo lugar, dois passos pra frente e vinte para trás.

Num desses momentos de paralisia, talvez se descubra a força que o amor tem de se colocar em movimento, resgatando o que parece ter sido perdido. E aí o tempo é de conversa, redescoberta, reforma: muito barulho, pó, poeira, desconforto e trabalheira para se chegar, enfim, a uma casa mais bonita, sem goteiras e infiltrações, com rede pra descansar a alma na varanda.

No entanto, talvez a fraqueza se confirme, ainda não tão firme, mas certa do fim. Entre a decisão e o ponto final, a angústia de dizer não e se despedir. Mesmo com a certeza de que o melhor caminho é terminar, muitas pessoas ficam agarradas a uma relação árida e estéril, que há muito já não dá flor. Ou porque não querem magoar o outro; ou porque têm medo de ficarem sozinhas. Ou porque não concebem a ideia de renunciar ao tanto de amor que vem do lado de lá: “Ele diz que sou tudo pra ele, que faz tudo pra me ver feliz… Como posso jogar esse amor fora?”

Interrogação, reticências, vírgulas, ponto final. Como você anda pontuando sua relação com o amor?

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<![CDATA[Eu sou uma só!]]>https://rfeldman.web.app/3382/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff41Tue, 09 Feb 2016 21:03:57 GMTEu sou uma só!

Eu sou uma só!

Tarde gostosa pós-clube, quase fim de Carnaval. Eu resolvo dar um banho de gato na cachorra. O Léo resolve pegar uma máscara antiga de homem-aranha e transformar em uma máscara pós-moderna de Darth Vader. Haja tinta, pincel e lambança.

Sem nos darmos conta, a todo instante um de nós demandávamos a Bella para fazer mil coisas:

– Bella, pega o shampoo da Jessie pra mim, por favor?

– Bella, me dá o pincel?

– Bella, agora o secador…

– Bella, abre o potinho de tinta preta pra mim?

– Bebelluca, pega o perfume pra mim aí dentro do armário?

– Bella, me dá um pote com água?

De repente, a pequena estoura:

– Ô, gente, eu sou uma só! Desse jeito vocês vão ter que me clonar! É muita coisa pra minha cabeça!

Ao que o irmão prontamente responde:

– Ué, Bella, você é a mais nova… E os mais novos têm que fazer favores para os mais velhos.

– Exatamente! Eu sou a mais nova e o meu cérebro é pequeno demais pra caber tanta coisa!

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<![CDATA[Prescrições]]>https://rfeldman.web.app/prescricoes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff40Sun, 07 Feb 2016 23:05:03 GMTPrescrições

Prescrições

Se nada mudar até o final deste post, abre aspas, cada dia a lista aumenta mais: chá de hibisco reduz a gordura abdominal; café expresso previne Parkinson (mas complica a gastrite e mancha os dentes…); chocolate amargo faz bem pro coração (mas é o ao leite que cura dor de cotovelo); açaí reduz o colesterol; cenoura é bom pras unhas; romã é antioxidante; suco verde, um ótimo desintoxicante; repelente, urgente; hortelã é digestivo; gengibre aumenta a pressão mas cura dor de garganta; alecrim alivia a TPM (vai um pacotinho aí?); água morna com limão é ótimo pra começar o dia; alface acalma; ovo faz bem pros olhos; pimenta acelera o metabolismo; salmão causa câncer. (Causa?!!!)

Fecha aspas.

Em caso de dúvida, contradição ou polêmica, tome (com prazer) vários copos de água por dia. Medite. Reze. Cante. Espante seus males. Pega o violão e vai tocar “nos bailes da vida, onde muita gente boa pôs os pés na profissão.” Plante flores. Enche a taça de vinho. Vai sentir tremedeira de paixão. Fazer arrumação. Fazer as malas, pegar um barquinho, cair nas graças de Bonito. Vai assistir o pôr-do-sol. Chorar de emoção. Envelhecer com maestria. Chamar os amigos para um sarau. Nada mal.

Só pra lembrar: sol é antidepressivo; riso contagia; música faz bem pra alma; livros transformam; ginástica produz endorfina; trabalho engrandece; criança enternece; amigos colorem a vida; namoro faz bem pra pele; abraço recarrega; beijo conecta.

Entra num bloquinho de carnaval e sai por aí desfilando a alegria de ser quem você é, mesmo que disfarçado de polvo, pirata, louco, pierrô, salva-vidas ou chapeuzinho vermelho.

Vai amar, vai. Esse amor que não tem contraindicação e jamais prescreve.

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<![CDATA["Festa estranha, com gente esquisita"]]>https://rfeldman.web.app/3342/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff3fWed, 27 Jan 2016 21:43:23 GMT"Festa estranha, com gente esquisita"

"Festa estranha, com gente esquisita"

Imagine que você está em uma festa. Várias bandejas circulam pelo salão e a todo momento uma diversidade de iguarias é oferecida a você. Canapé ao funghi, casquinha de siri, carpaccio de abobrinha, crocante de frango com gergelim, só para citar alguns pequenos momentos de grande felicidade. E como não poderia faltar, a melhor parte: amor em pedaços, bombom nevado, bombom trufado, bombom de nozes, cereja, morango; brigadeiro de pistache, amêndoas, limão siciliano, cachaça. Aceita mais um?

Que coisa estranha. De repente a música acaba, o papo emperra e as iguarias mudam de nome: empada de jiló, trouxinha de bacalhau com zero sal, croquete de marimbondos, papelotes de limão (capeta). “Festa estranha, com gente esquisita. Eu não tô legal”, cantaria Renato Russo.

C´est la vie. De bandeja (nem sempre), a vida nos oferece momentos deliciosos (alguns simplesmente divinos) de alegria, farra, riso, encontro, boas energias, prazer. (Mais um brigadeiro, por favor, vou cometer essa heresia.) Eu quero, eu posso, eu mereço.

Outros momentos, fazer o quê, nem sempre nos apetecem. Aquela vizinha amarga que não te dá bom dia no elevador. Aquele namorado sem sal que (não me leve a mal) só te desanima a cada encontro. A irmã que cospe marimbondo quando você simplesmente faz uma pergunta. O professor que não aprendeu a sorrir, muito menos ensinar, e acaba azedando o seu dia. Quebra de sintonia, fim de festa, sinto lhe dizer.

O menu é básico e bem desagradável de se ler: irritação, mau humor, azedume, impaciência, cólera, emburramento. Quem nunca se sentiu assim que dance um chá-chá-chá bem no meio do salão.

Quer você goste ou não, faz parte da vida se aborrecer de vez em quando. O problema é quando o de vez em quando vira de vez em sempre. O preocupante é quando você acha normal se empanturrar de jiló ao invés de degustar um canapé de queijo brie. Dá uma reciclada no gosto e vai provar outros sabores por aí. Faz terapia, teatro, careta, poesia, encontro de amigos pra trocar ideias e se conhecer um pouco mais.

Agora, se você está de boa como diz o outro e começam a te empurrar bandejas estranhas por aí, despejando comidinhas que não fazem sua alegria muito menos uma boa digestão, num aceita não. Rebata com um simples e simpático “muito obrigado(a)”.

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<![CDATA[E por falar em amor]]>https://rfeldman.web.app/e-por-falar-em-amor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff3eSun, 17 Jan 2016 20:24:12 GMTE por falar em amor

E por falar em amor

Uma judia, um árabe, um romance em Nova York. A história ganhou as páginas de um livro, o livro foi adotado em várias escolas de Israel pela disciplina de literatura hebraica e depois banido pelo Ministério da Educação.

Como resposta, uma revista de Tel Aviv convidou vários casais para se beijarem diante das câmeras. O único requisito é que os pares fossem formados por árabes e judeus, sendo eles hetero ou homossexuais. O resultado foi um vídeo lindo, tocante, polêmico e inspirador da paz, que também acabou desaparecendo das redes sociais.

No mesmo dia em que vejo esta notícia na TV recebo um whatsapp com um outro vídeo emocionante, dessa vez do Papa Francisco. Nele, diversos representantes religiosos – uma monja budista, um padre, um rabino e um dirigente islâmico proclamam sua fé:

– Confio em Buda.

– Creio em Jesus Cristo.

– Creio em Deus.

– Creio em Alá.

Depois de cada depoimento, o Papa nos abraça com uma constatação simples, humana e verdadeira, dessas que deveriam virar lei no coração do homens: “Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente, procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza: somos todos filhos de Deus.”

E o vídeo termina com uma música linda, com cada um dos representantes religiosos olhando para a câmera e dizendo:

– Eu creio no amor.

– Eu creio no amor.

– Eu creio no amor.

– Eu creio no amor.

 

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<![CDATA[Alguém para amar]]>https://rfeldman.web.app/alguem-para-amar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff3dMon, 11 Jan 2016 09:28:59 GMTAlguém para amar

 

Alguém para amar

Entro o ano falando de amor,  esse tema que jamais envelhece, perece ou cai em desuso. O amor que continua numa meia-noite de Ano Novo, entremeando emoção e convicção em meio aos pingos de artifício. (Chuva de amor, arroz, esperança.) O amor que recomeça depois de prenúncios dolorosos de fim. O amor que nasce quase que por acaso, num acaso que na verdade nunca existiu. O amor que se procura, o amor que se diz em falta, o amor que não se acha. O amor que não se explica, não se entende, não se fabrica da noite pro dia. O amor atropelado, interrompido, perdido num trilho de trem. (É fato, é pena, mas o coração não costuma se ater aos encantos do calendário.) Outro parênteses: o amor que quebra, que desencanta, que chora.

Amor: substantivo simples (não tão simples assim), abstrato, subjetivo, tantas vezes pronunciado nos desejos, abraços, telefonemas e mensagens de um Feliz Ano Novo. Nunca sozinho, mas sempre bem acompanhado de paz, alegria, saúde, luz, esperança para você e toda a sua família. (Quer desejo mais completo?)

Vou correr, suar, desintoxicar o ano que passou. Coloco os fones de ouvido e a música que me serve de combustível é trilha sonora para este post:  “Somebody to love”, Queen. A letra fala de um encontro que ainda não aconteceu, de uma busca que não se concretizou, mas de uma sede desesperadora de amar: “Each morning I get up I die a little… Can anybody find me somebody to love?”

A música é linda e a busca procede. Falar de amor é falar da hashtag mais usada. Da figa mais bem feita. Do pedido mais doído e sonhado. Da necessidade mais urgente. Da melodia mais afinada, embora tantas vezes em desafino.

Alguém para amar, seja qual for o seu amor. E que assim seja: inteiro, genuíno, verdadeiro, na acepção mais transbordante de amar.

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<![CDATA[Virando a página]]>https://rfeldman.web.app/virando-a-pagina/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff3cThu, 17 Dec 2015 16:02:28 GMTVirando a página

Virando a página2015 vai ficando para trás. Num sopro de tempo se despede,  se despe, au revoir. Nos seus últimos respiros  vai deixando pegadas, um abraço, algumas taças, percalços no caminho.

Virar a página nem sempre é fácil. Para outros inevitável, necessário, urgente: a vontade é que o livro acabe logo, já vai tarde, tantas páginas emboladas. Rascunhadas. Manchas de café ou chuva, folhas acidentalmente (?) rasgadas. Para outros tudo bem, que pressa é essa?, ainda resta um pouco de 2015  pra viver. Alegria alegria, tudo vale no que foi vivido. Cada um com a sua história, seu quadrado, sua estrela apagada ou acesa.

Muitos se realizaram. Registra-se o casamento do ano. O doutorado de uma vida inteira. As chaves do apartamento nas mãos. A promoção tão sonhada. A formatura suada. E teve declaração de amor. Viagem de balão. Prêmio Nobel da paz. O cachorro que finalmente entrou pra família. A emoção do terceiro filho. O namorado que chegou que nem bilhete premiado.

E vamos aos percalços. Divórcio assinado. Sociedade desfeita. A doença que chegou no susto. O fim do que poderia ser começo. O tapete puxado no solavanco. Uma vida inteira na lama. A demissão sem justa causa. O rompimento sem eira nem beira. A dor crônica. O luto agudo. Perdas, perdas, tantas perdas que a gente até perde a conta.

Para além das conquistas (e “desconquistas”) mais concretas, restam ainda as realizações que você andou sonhando aí dentro, no silêncio de suas meditações e pedidos mais íntimos, num esforço árduo de se tornar uma pessoa melhor nessa vida: mais paciência. Menos ansiedade. Mais leveza. Menos apego. Mais serenidade. Menos picuinha. Mais paz. Menos desassossego. Mais amor. Menos rancor.  Mais jogo de cintura. Menos cabeça dura. Mais vida como ela é. Menos expectativas. Mais abraços. Menos distância. Mais poesia. Menos teimosia. Mais encontros. Menos desencontros. Mais você voando leve, entrando pela janela, cantando feliz feito passarinho. É este o Natal que eu desejo a você, acompanhado de um Ano Novo cheio de luz e os vôos mais lindos que você puder alcançar.

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<![CDATA[Nem tudo está perdido]]>https://rfeldman.web.app/nem-tudo-esta-perdido-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff3bSun, 06 Dec 2015 22:52:52 GMTNem tudo está perdido

Nem tudo está perdido

Diante de um mundo denso, árido e adoecido, a poesia nos toca e ao mesmo tempo nos falta. Foge-nos ternura e sobra susto (quando não banalizado) perante a notícia, o descaso, o terrorismo, a política, o cotidiano arranhado (arame farpado) de cada um. Tenho dito que, se  não criarmos nossos recantos de paz; se não olharmos pelo nosso mundo interno e habitá-lo de luz, fé e coragem, fica tudo muito difícil. Vazio.

Escuto dores, descrenças, abismos de amor todos os dias. Mas na semana passada escutei duas histórias (autorizadamente reproduzidas por aqui) que me fizeram pensar, com os olhos molhados, que esse mundo ainda tem jeito; que, diante de toda a desumanidade que sangra o jornal e a alma, há ainda uma porção de humanidade capaz de curar o mundo.

Na primeira história, uma menina americana de 4 anos pede à sua mãe para escrever uma carta a Deus  pedindo a Ele para cuidar bem da sua cachorrinha que morreu. A carta é escrita, selada e colocada na caixa de correio com o seguinte destinatário: “Deus. Endereço: Céu.” Para surpresa da remetente, a resposta chega alguns dias depois, assinada por um Deus acolhedor e amoroso, tranquilizando a menina de que sua cachorrinha está bem, e que Ele ainda brinca com ela de bola por entre as nuvens. (Abençoada seja essa boa alma dos correios americanos que se deu ao trabalho de abraçar uma criança através de papel, caneta, palavras. Simples assim.)

A segunda história aconteceu bem aqui, na Santa Casa de Belo Horizonte. Clarinha, uma criança com câncer em estágio terminal, começou a dar trabalho aos médicos, opondo resistência em receber a medicação necessária. Muita dor, muito incômodo, muito choro e cansaço, tudo misturado. Ao ficar sabendo do caso, o Dr. Marcos procurou saber o que fazia essa pacientezinha feliz. Pintar, ela adorava pintar.

Numa das intervenções mais lindas que eu já ouvi contar (um legítimo doutor da alegria), Dr. Marcos foi até o quarto da menina, se apresentou e fez um pedido:

– Você pode pintar o meu rosto? Eu tenho uma festa à fantasia para ir hoje, preciso de ajuda.

Quebrando completamente a rotina dolorosa das seringas, termômetros e estetoscópios,  Clarinha pegou o pincel e pintou, encantada de poder viver esse pequeno momento de grande felicidade.  Ao final de sua obra de arte, o doutor a colocou em uma cadeira de rodas e pegou uma para ele também. Saíram juntos pelo corredor do hospital, deslizando o inusitado, interpelando quem passasse por eles:

– Oi. Foi ela que me pintou. Você acha que estou bonito? (!…)

A partir daí, nem precisa dizer que ele conseguiu aplicar o medicamento que fosse preciso. Confiança, sintonia, habilidade afetiva: o vínculo estava feito.

Depois de alguns dias, Clarinha acordou de madrugada e pediu à sua mãe para escrever uma carta ao “ursão” (era assim que ela chamava o Dr. Marcos, de tanto pelo que ele tinha nos braços).

– Mas agora, minha filha? Tente dormir, está tarde, amanhã você escreve…

Clarinha insistiu, escreveu, e no dia seguinte morreu, virou anjo oficialmente falando. A carta foi entregue, lindamente entregue. Um dos trechos eu reconto aqui, do meu jeito, ainda tocada pela ternura que se faz canto e recanto no mundo que habita o interior da gente:

“Ursão, você corre demais. Se parar um pouco, como eu, vai ver o tempo que uma formiga leva para caminhar pela parede, indo e vindo. E se chover, vai poder ver o desenho que uma gota faz na janela. Pare e observe. Você corre demais, Ursão.”

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<![CDATA[Perolices em série]]>https://rfeldman.web.app/perolices-em-serie/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff3aSun, 29 Nov 2015 22:41:19 GMTPerolices em série

 

Perolices em série

As crianças vão crescendo e as perolices vão se tornando ligeiramente escassas. Começa a entrar ponderação onde antes a espontaneidade corria solta, a vergonha entra em cena e o senso crítico acena, meio que de soslaio, transformando a configuração dos pensamentos e porquês.

Ainda assim há o que contar, que bom que há. A gente cresce mas a nossa criança permanece, risonha e faceira, pedindo altas em um mundo por vezes sério e carrancudo demais.

Nas últimas semanas minha Bella andou colecionando pequenas pérolas que eu não poderia deixar de registrar por aqui, numa tentativa de eternizar a pureza da criança que já não quer mais usar franjinha e se recusa a ganhar beijo no dedo machucado: “Não sou mais neném, mãe.”

Um dia pedi a ela para distrair a Jessie:

–  Joga o osso bem longe pra ela pegar e fecha a porta correndo, se não a gente não consegue sair de casa.

– Ai, mãe, isso parece traição.

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E como se não bastasse a cachorrinha que corre alegre pela casa, a pequena ainda queria um outro animal de quatro patas, paradoxo perfeito com as suas raízes judaicas:

– Ahhh, eu também queria tanto um porco de estimação (!).

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Quando da tragédia de Mariana, acordou impressionada:

– Sonhei que toda aquela lama era de chocolate, mamãe. Ninguém morreu, o rio ficou mais doce e a gente ainda conseguiu levar aquele chocolate todo pra escola. Ele ficou guardado dentro do bebedouro, era só encher a garrafa (!).

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E por falar em chocolate, outro dia ela estava apresentando o chocotone pra amiga Sofia (outra “mestre em perolices”), que dormiu lá em casa:

– Olha isso, Sofia:  massa fofinha, cheia de gotas de chocolate! Eu espero o Natal o ano inteiro pra comer chocotone!…

Ao que a mãe teve que fazer uma pequena intervenção:

– Devagar, Bella, não pode comer demaaais… Muita caloria, colesterol…

Ao que a amiga reforçou:

– É… Isso te transforma num Papai Noel.

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– Vovó, quantos anos você tem?

– 65, Bebella.

– 65?!?!! Isso tudo?!! Eu achava que fosse 61! Quando eu tiver a sua idade, vou estar coroca (!).

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– Esse horário de verão é terrível, vocês estão custando a acordar! Acho que vou colocar o despertador para tocar 15  minutos mais cedo, não quero vocês se atrasando pra aula.

O Léo, que adora chegar pontualmente na escola (quanto antes melhor), foi logo dizendo:

– Pode me chamar às cinco e meia, mãe!

A Bella, que deve ser mesmo parente da Adormecida, não deu ponto sem nó:

– Pode me chamar às nove (!).

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<![CDATA[Quem me viu quem me vê]]>https://rfeldman.web.app/quem-me-viu-quem-me-ve/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff39Thu, 19 Nov 2015 21:30:20 GMTQuem me viu quem me vê

 

Quem me viu quem me vê

Eu nunca fui alucinada por cachorro, já contei aqui no blog. Há três anos – movida pela insistência dos filhos, a resignação do marido e a opinião favorável, fervorosa (quase uma torcida organizada) dos internautas que me lêem – amoleci o coração e adotei (adotamos, segunda pessoa do plural) um vira-lata. Não tive coragem de contar aqui (o trauma foi grande), mas acabamos tendo que devolver o Luckie Sky Walker. O bichinho era da pá virada, mais parecia um Darth Vader: mordia, rosnava, rugia, não dava sossego, quase destruiu o apartamento. Já  viu cão com desvio de comportamento? Pois é. Fiquei sabendo, tempos depois, que uma família o adotou e ele foi o morar numa mansão, com direito a grama verdinha e ar livre. Notícia bombástica: foi devolvido de novo. Coitado do Luckie. Se houvesse divã para cães, o tema da rejeição seria largamente explorado.

Mas se cãezinhos vivem a dor do abandono, crianças também sofrem com o fato de não terem um “melhor amigo do homem” pra chamar de seu. Como se não bastasse a experiência traumática (para sempre lembrada pela pequena cicatriz da mordida que levei na mão esquerda), os meninos voltaram a bater na tecla do “eu quero um cachorro”. “Por favooor, é o que a gente mais quer nessa viiida. Por favor, por favor, por favor…”

Até que um dia a gota d´água derramou numa reunião de escola, quase um desabafo da professora:

“A Bella não fala de outra coisa, chega a dar dó. Vocês nunca pensaram em dar um cachorrinho a ela?”

Pensamos. Ô, se pensamos, querida professora.  Afinal, nada mais didático, pedagógico e humano do que dar aos filhos a alegria de ter um bichinho de pelúcia vivo, que dispensa pilha, correndo pela casa.

E como tudo na vida merece uma segunda chance, lá fomos nós, felizes com a ideia de fazer uma big surpresa no Dia das Crianças, bem assessorados pela minha super irmã veterinária, perdidamente apaixonada por esse mundo cão.

Bom, surpresa acabou não sendo, graças a uma avançada tecnologia bluetooth que disparou a voz da minha sogra pelo viva-voz do celular, animadíssima, bem na hora em que os meninos estavam dentro do carro:

– Meu filho! Que notícia boa, essa do cachorrinho! Os meninos vão amar!

Eles amaram mesmo, minha sogra. E eu – quem me viu quem me vê – estou tomada de encantamento por essa cachorrinha que os meninos batizaram de Jessie. Descobri que – mais do que pelo branco e dourado, raça Shih Tzu, dentes afiados e uma espuletice que é dela – essa cachorrinha tem o dom de derramar amor pelos olhos. Um amor cativante, doce, incondicional e singelo.

Feliz Dia das Crianças pra mim também.

Quem me viu quem me vê

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<![CDATA[Insônia]]>https://rfeldman.web.app/insonia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff38Fri, 13 Nov 2015 23:36:21 GMTInsônia

Insônia

Há quem feche os olhos e não consiga dormir.

Há quem feche os olhos para nunca mais acordar.

Dormiu fora de casa. A casa desmoronou. Vidas enterradas, negligência enlameada, o rio que era doce salgado de choro virou.

Foi a um show de rock. A música acabou. Tocaram sirene de ambulância, vazio de melodia.

Pausa no estádio de futebol. Explosão de consternação. Falta de chão.

Intensifiquem as buscas, fechem as fronteiras, chamem os especialistas: engenheiros de barragem, cientistas políticos, professores de relações internacionais. (Ais e mais ais.) Convoquem uma reunião extraordinária com Deus.

Afora as grandes tragédias, dores particulares também não conseguem dormir. A mãe doente. O casamento desfeito. O olho da rua. A angústia nua e crua.

Doutor, um tranquilizante por favor. Para adormecer a família que despedaçou. Curar dor de cabeça.  Calar travesseiro prolixo. Jogar o indizível no lixo. Transformar decepção em perdão. (Te prometo não.)

Posição de ioga, faz meditação, entoa uma prece de paz. Pra irrigar de amor o fundo do poço. Restaurar o sonho quebrado. Acender luz onde a escuridão mete medo.

Acende o abajur. “Bonjour, tristesse.”

O sol já vai acordar. Ainda é cedo.

Remédio pra pesadelo, doutor.

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<![CDATA[Mamografia e outras ias]]>https://rfeldman.web.app/mamografia-e-outras-ias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff37Wed, 04 Nov 2015 12:40:36 GMTMamografia e outras ias

Mamografia e outras ias

Saiu atrasada para o exame de mamografia, Freud explica. De todas as investigações que uma mulher deve fazer a seu próprio respeito, essa é uma das mais delicadas. Não é à toa que criaram logomarcas, camisetas, campanhas publicitárias e outubros rosas. Somos nosso próprio alvo quando o assunto é prevenção do câncer de mama.

Chegou atrasada e ainda por cima sem o pedido médico, que cabeça. (Quer que chame Freud ou não precisa?) Graças à boa vontade da recepcionista teve a chance voltar em casa, 10 minutos gritados no relógio. Haja tensão, respira fundo, vai dar tudo certo. (No final sempre dá, já dizia Sabino.)

Momento sala de espera. A cada gole d´água, o olhar  daquela mulher passeava discreto pelo sofá, indo ao encontro de outras mulheres ressabiadas, ombros retesados, silêncio cúmplice de quem estava no mesmo barco, à espreita de uma boa notícia ou um tsunami qualquer.

– “Patrícia Fernandes*”! Ouviu seu nome e levantou num pulo,  coração disparado. Seguindo as instruções da simpática  atendente, tirou o sutiã,  vestiu a batinha básica e foi encarar a grande máquina. O ar-condicionado gelou até a alma mas a moça parecia ter mão de fada, só podia. “Doeu nada”, pensou Patrícia. Só um incomodozinho, era de se esperar. E o pensamento seguiu otimista: “A primeira mamografia a gente não esquece. Uhu, missão cumprida,  não foi nada: nada daquele bicho de sete cabeças que estava grunhindo dentro da minha cabeça.”

Próxima etapa: subir as escadas, tirar a blusa de novo e esperar o doutor pro ultrassom. Serviço completo. Pelo menos agora a posição era mais confortável: deitada, só os braços pra cima e o transdutor deslizando um gel morninho (morninho, viva a tecnologia!)  em busca de glândulas, cistos, tecidos, alterações benignas, nódulos malignos não, bate na madeira.

Silêncio mortal, o doutor era uma seriedade só. À frente da paciente, uma tela cinza indecifrável com alguns pontos mais escuros, outros parecendo manchas em movimento e alguns xizinhos que o médico ia marcando como medida. “Hora da verdade”, Pensou Patrícia. “Eu por dentro, funcionando bem, se Deus quiser.”

Mas ali naquela hora, nem mesmo sua fé impediu que as mãos suassem e o pensamento buscasse o pior.  Já tinha “se comportado” tão bem em outros exames – endoscopia, colonoscopia, densitometria, cintilografia, tantas ias – mas esse era diferente, “toca fundo na alma da gente, alma feminina. Será que aquela mancha é alguma coisa que não tinha que estar ali? Ai, meu Deus.”

Lembrou da mãe, se emocionou. Lembrou dos filhos, quase chorou. Lembrou da terapeuta na última sessão dizendo: “Quando vier um pensamento ruim à sua cabeça, deixa o mar levar. Entrega, confia e substitui o pensamento negativo pelo positivo. É daí que nasce serenidade e leveza, de uma boniteza só. ”

Foi quando os pontos escuros da tela se transformaram em brigadeiro, cajuzinho, língua de sogra. Patrícia começou a fazer uma retrospectiva de todos os aniversários da filha, do primeiro ao nono, uma festa só. Estava quase no parabéns quando sentiu um papel-toalha sobre os seios, exame encerrado.

– “Tudo bem, doutor?”

– “Tudo certo. Só um cistozinho, coisa sem importância.

E volta pro cajuzinho, quindim, casadinho. Enquanto uns pensamentos vão naufragar no mar, outros vêm pelo ar num respiro de vida, alegria, energia. Igualzinho abraço apertado pro coração afrouxar.

* Nome fictício.

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<![CDATA[Onde foi parar sua criança?]]>https://rfeldman.web.app/onde-foi-parar-sua-crianca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff35Fri, 16 Oct 2015 11:05:32 GMTOnde foi parar sua criança?

Onde foi parar sua criança?

Onde foi parar sua criança?

“O essencial é invisível aos olhos.” “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” “Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.” “Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo.”  “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.” “Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, teremos necessidade um do outro.”

Parecem conter música, melodia, as clássicas frases do nosso querido Pequeno Príncipe. Quem  nunca arquivou no coração esse tanto de amor que ele nos põe a pensar? E também a sentir, agir, transformar? Saint-Exupéry reside em nós, sem jamais envelhecer ou morrer, por mais que o tempo passe.

E por falar em tempo, chego um tanto atrasada (“É tarde, é tarde, é tarde”, já diria o coelho da Alice) para falar de um filme que está quase saindo de cartaz, lamento. O longa “O Pequeno Príncipe” traz toda essa dimensão de amor pra gente refletir sobre a nossa  existência, mas abarca também um aspecto que  nos toca profundamente: o adulto que nos tornamos um dia. A mãe controladora. O pai ausente. O professor massacrante. O médico desumano. O homem que rouba estrelas para guardá-las na gaveta. O engenheiro que na verdade queria ser desenhista. O aviador que cai no deserto para cair em si. A mãe que liga o dedo na tomada e ainda assim não leva choque. O pai que projeta para o filho os sonhos que ele não conseguiu realizar. O adulto robô, robótico, “um dois feijão com arroz”. A adulta amarga e talvez desesperada para ser feliz, morrendo por um triz. O empresário que tem tudo mas ainda assim não tem o essencial. A paisagista que nem se lembra que foi criança um dia, bloqueio agudo de memória.

Ou então, antes que a gente deprima, antes que você pense que este tornar-se adulto tem apenas um lado, e cheio de espinhos: vai plantar uma roseira. Colher amigos. Contar estrelas. Pensar na vida. Prosear com o vento. Olhar seu filho nos olhos. Ouvir o que o coração gentilmente tem a lhe dizer. Vai afagar um cachorro, fazer cosquinha na filha, fazer xixi de tanto rir. Vai escolher uma profissão pra amar, mas não deixa de amar as pessoas em primeiro lugar. Vai ser poeta, bailarina, astronauta, aprendiz de flauta, adestrador de foca. Larga a régua, o compasso, a espera obcecada, a velha mania de querer tudo no lugar. Troca a responsabilidade exacerbada, milimetricamente calculada, pela alegria de cativar e ser cativado por alguém.

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<![CDATA[O que você quer ser quando envelhecer?]]>https://rfeldman.web.app/o-que-voce-quer-ser-quando-envelhecer/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff34Wed, 07 Oct 2015 00:11:12 GMTO que você quer ser quando envelhecer?

O que você quer ser quando envelhecer?

Depois de alguns anos ouvindo a clássica pergunta “O que você quer ser quando crescer?”, uma hora acontece: você acaba crescendo, quer queira quer não, Peter Pan. Alguns encontram rápido a resposta, outros se perdem no caminho, alguns estão pelejando até hoje. (Bota peleja nisso.)

Por mais difícil que seja se aprumar, um dia você acaba descobrindo que tem asas para voar. Descobre que o céu é o limite e que o mais importante não é exatamente o que ser quando crescer, mas ser inteiramente você: suas escolhas, seus projetos, seus sonhos e sua capacidade mais linda de realização. Como não crescer diante disso? Inevitável.

Depois de um certo tempo, alguns tropeços e muitas horas de voo, o verbo muda e nasce uma nova pergunta: “O que (ou quem) você quer ser quando envelhecer?”: a senhora que passa a tarde jogando paciência, perdendo todos os campeonatos contra si mesma? O senhor que é perito em manejar o copo e o controle-remoto, enquanto a vida derrama lá fora? Ou a escolha é por ser amigo(a) do tempo, buscando viver com leveza, alegria, emoção  e sabedoria sua última porção de vida? Sim, só pra lembrar: zero a 30, 30 a 60, 60 em diante, em três grandes blocos se divide a vida. É fato. Inexoravelmente falando.

Eu, que sempre me peguei pensando no tema (ahh, quero envelhecer trabalhando, viajando, escrevendo e amando muito, quer gerundismo mais apropriado?), agora fico especialmente tocada. Estou tendo a honra e alegria de dar aula para o curso de Terceira Idade da FUMEC com a disciplina Autoestima. À minha frente, senhoras de meia e “inteira” idade, perfumadas e vistosas, algumas acompanhadas de cuidadoras, outras manejando a bengala ou cadeira de rodas; algumas já sem voz ou memória, mas com os olhos cheios de brilho por simplesmente estarem ali, fazendo anotações no caderno e no coração; senhores de cabelo branco e sensibilidade aguçada, atentos a cada troca de slide e de ideias. Independente da idade, mobilidade ou estado civil, estão todos lá cultivando uma bonita amizade com o tempo.

Uma vez por semana me encontro com esses alunos queridos (ah, como tenho aprendido…) e vejo neles a Renata que quero ser amanhã, “quando envelhecer”. Quero trocar o tempo oco, vazio (“ócio descriativo”) por aulas de autoestima, felicidade, emoção, dança, coral, talento, valores humanos, memória pra lá de afetiva.

E você? O que quer ser quando envelhecer?

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<![CDATA[Vai encarar?]]>https://rfeldman.web.app/vai-encarar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff33Thu, 01 Oct 2015 21:37:54 GMTVai encarar?

Vai encarar?

Vai encarar?

Um leão por dia.

Um Everest bem ali na esquina.

Trabalho realizador.

Pedido de casamento.

Sonho de trapezista.

Exame de consciência.

Ideias reviradas na gaveta.

Amor antigo.

Mudança de rota, aperte o cinto.

Jogo da verdade.

Chacoalhar o esqueleto.

Pegar uma prainha em Marte.

Fechar o olho do furacão.

Regar a alma.

Plantar abacate.

Fazer mochilão e ir caçar oásis no deserto.

Carregar um filho, escrever um livro.

Outubro rosa pra encarar a vida de peito erguido.

Suco desintoxicante.

Cante, cante, cante.

O leão é bravo mas adormece se você mudar a sintonia, a toada, nada de monotonia.

Mãos à obra transformar lamento em enfrentamento.

Chhhhh. Dormiu.

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<![CDATA[New York, New York]]>https://rfeldman.web.app/new-york-new-york/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff32Fri, 18 Sep 2015 21:15:50 GMTNew York, New York

New York, New YorkNew York, New YorkFui ali e volto já.

Voltei.

Peguei meu amor e fui dar uma voltinha em Nova Iorque. Coisa rápida, nada programado, dessas oportunidades que a gente não pode deixar passar. Ainda mais se aquele destino sempre esteve na lista dos sonhos grifados com marcador de texto amarelo. Ok, tiquei, let´s go, carpe diem, eu sempre digo.

Um dia antes da viagem eu me vi no sacolão, entre bananas e laranjas, deixando tudo ajeitado para as crianças (ainda bem que inventaram os avós) e pensando no tanto que eu gosto dessa coisa chamada rotina, por mais previsível que seja. E no tanto que eu também amo viajar, essa “desrotina” deliciosa. E foi assim, diante da banca de hortaliças, que eu senti o coração ligeiramente espremido por deixar uma rotina inteira por aqui. Vai entender.

Passou logo a sensação de “estreitamento cardíaco”, assim que o avião alcançou as estrelas. Troquei as bananas pela “Grande Maçã” com direito a uma intensa rotina de pontos turísticos, coloridas linhas de metrô, museus que não me deixavam ir embora. (O Metropolitano foi de tirar o fôlego, acho que fui hipnotizada).

A cidade que nunca dorme acordou dentro de mim com suas luzes, esquinas, Frank Sinatras, quintas avenidas, highlines, liberdade. Ufa. Mãe também tem direito a umas feriazinhas de vez em quando.

Como pode uma cidade tão estressante ser também tão fascinante? “New Yooooork! Concrete jungle where dreams are made of, there’s nothing you can’t do, now you’re in New York”, Alicia Keys não me sai da cabeça.

Vi gente apressada, afobada, culta, hippie, altamente diversificada. Entre um semáforo e outro cheguei a pensar que não rezam, não meditam, bem-vindo à cidade da espiritualidade perdida. (Aí entro no Central Park e refuto a mim mesma, descubro outras cenas e refúgios, gente respirando leveza, remando um barquinho, jogando conversa fora, crianças na grama segurando seus balões coloridos.)

Vi gente louca na rua, fazendo careta e falando sozinha. Vi gente louca nos famosos táxis amarelos, buzinando como se o mundo fosse acabar ontem, em barranco. Vi gente louca de dor no dia 11 de setembro, deixando flores no vazio das torres. Vi “gente” louca de emoção no Museu Judaico e na plateia do Fantasma da Ópera, ouvindo “All I ask of you”.  Nova York é mesmo de enlouquecer. Em todos os sentidos.

E aí acontece o que sempre acontece em roteiros assim: eu saio de Nova York mas Nova York não sai de mim.

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<![CDATA[Ao menino sírio que fez o mundo chorar]]>https://rfeldman.web.app/ao-menino-sirio-que-fez-o-mundo-chorar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff31Fri, 04 Sep 2015 10:01:32 GMTAo menino sírio que fez o mundo chorar

Ao menino sírio que fez o mundo chorar

O mar chora. O mundo chora. Por um instante, quase paramos de respirar também. Morremos um pouco com o pequeno Aylan. Perdemos o ar, a vida e o rumo para talvez, ainda não sem esperança, mudarmos o curso da história.

Que os anjos te carreguem no colo, pequeno menino sírio. Que os nossos olhos, arranhados de emoção e areia, ainda possam enxergar um refúgio seguro para a nossa pobre humanidade. Você, que virou estrelinha tão cedo, estrela do mar, agora ilumina a terra lá de cima, nos lembrando o quanto ainda precisamos aprender a amar.

Adormeça em paz.

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<![CDATA[Por bem ou por mal]]>https://rfeldman.web.app/por-bem-ou-por-mal/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff30Tue, 01 Sep 2015 11:42:49 GMTPor bem ou por mal

Por bem ou por mal

Calma. Respira fundo. Ommmmm.

Não é porque o fim de semana acabou que você tem que plugar na tomada (599 volts) e entrar no modo automático, meio gente meio robô, coisa mais esquisita.

A vida anda corrida, eu sei. 24 horas é pouco e o tempo escorre pelos dedos.  Haja ioga para colocar o coração no lugar.

Mas se a pausa não vem por bem, vem por mal. Boechat que o diga. Fora do ar por quase duas semanas, esse nosso querido jornalista deu o ar da graça na última quinta-feira, com um relato emocionante sobre o seu sumiço.  Emoção, aliás, que começou com a mensagem de uma ouvinte contando a pergunta da filha a caminho da escola: “Mamãe, o Boechat virou estrelinha?”

“Acho que devo uma explicação às centenas de pessoas que me escreveram nos últimos dias perguntando o que eu tinha e desejando minha pronta recuperação: pois bem, queridos amigos, o que eu tive foi um surto depressivo agudo. Minutos antes de começar o programa de rádio eu simplesmente sofri um colapso, um apagão aqui no estúdio. Nada na minha cabeça fazia sentido. Nenhum texto era compreensível. Os pensamentos não fechavam e uma pressão insuportável dava a nítida sensação de que o peito ia explodir. Fiquei completamente desnorteado, em estado de pânico”.

É, Boechat. Além de ser um jornalista de peso você também é de carne e osso e tem um coração batendo aí no peito, é bom lembrar. Seu depoimento nos emociona pela coragem de noticiar algo tão pessoal e ao mesmo tempo universal. Sim, depressão não é frescura nem luxo, muito menos tristeza sofisticada: é  doença séria, a que mais cresce no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde.

Notícia importante: ansiedade, estresse, fadiga, exaustão são atalhos certos para se chegar até a depressão. E se ela for escondida ou negada, o caminho pode não ter volta.

Que possamos entender de política, economia, leis, gente, lombalgia, qualquer que seja  sua praia ou rotina. Mas que não nos falte rede na varanda, caminhada ao ar livre, noites bem dormidas, brincadeira de criança, sorvete na praça, encontro com os amigos, livro de cabeceira, amor pra cultivar, árvore pra abraçar, pausa pra viver.

Abra sua agenda e invente um domingo para cada segunda, terça, quarta, quinta-feira. Fure o olho do furacão e se permita compromissos importantes com você mesmo(a). A vida é curta. E é para ser vivida. Carpe diem.

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<![CDATA[O que passa na sua cabeça?]]>https://rfeldman.web.app/o-que-passa-na-sua-cabeca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff2eWed, 19 Aug 2015 12:38:51 GMTO que passa na sua cabeça?

O que passa na sua cabeça? O que passa na sua cabeça? O que passa na sua cabeça?

O que passa na sua cabeça enquanto desliza os olhos por aqui, respirando uma pequena pausa pra pensar na vida?

E quando se vê diante de situações que não pediu pra viver? A perda do emprego, o término da relação, uma doença grave, a  separação dos pais, o zero na prova de matemática, desentendimentos familiares,  falta de dinheiro, a dor constante e crônica, a traição de um amigo?

Ok, vamos ser um pouco mais otimistas, ninguém merece tanta nuvem negra assim. Feche os olhos, mude de ares e responda: o que passa na sua cabeça quando aquela tão sonhada viagem acontece, quando o seu chefe anuncia que você vai ser promovido, quando recebe um pedido de casamento, quando o timão faz gol, quando a cirurgia  é um sucesso, quando o quinto exame de beta hcg finalmente dá positivo  ou quando aquela velha amiga simplesmente te liga para saber se está tudo bem?

“O que passa na sua cabeça” é a tônica de “Divertidamente”, mais um delicioso filme da Disney Pixar feito para crianças de 8 a 80. Nele, uma menina de 11 anos – Riley – passa por mudanças significativas quando seus pais decidem juntar as malas e morar em São Francisco. Dentro da cabeça de Riley, fazendo alusão a toda uma química cerebral que nos toca, há um verdadeiro painel de controle comandado por algumas emoções básicas, que ganham forma, cor e vida através das personagens centrais do filme: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva, Nojinho.

A Alegria tem sua luz própria, cheia de energia e encanto: serelepe e saltitante, faz malabarismos para ver Riley sorrir. A Tristeza se arrasta num desânimo só, capaz de contaminar o ambiente: é lenta e pesada, uma perfeita desmancha-prazeres. O medo se encolhe, se esconde, mas sempre aparece na hora de proteger a menina de algum susto. O mocinho engravatado que representa a Raiva é vermelho, nervoso e cospe fogo, como não poderia deixar de ser. E a Nojinho é o que faz a menina rejeitar coisas estranhas, intoxicantes e verdes, como o pobre do brócolis.

Mas não é só dentro da cabeça da menina que as emoções se encontram e desencontram. Os adultos também são flagrados no filme pelos pensamentos que vira e mexe passeiam pelo nosso cérebro. Como na hora do jantar, em que a mãe de Riley percebe que a filha está chateada (o primeiro dia de aula na nova escola não foi nada bom) e começa a conversar com ela, tentando ajudá-la. Ham ham… E o pai, onde está essa hora? Na mesa, sentado de frente pra filha, mas com o pensamento looooonge, adivinha onde? No futebol, claro. E nessa hora, sem pestanejar, as coloridas figurinhas que também compõem a sala de comando da mãe emitem um irônico comentário: “Foi esse aí que escolhemos no lugar do piloto carioca?”

Fazendo jus ao fascinante universo da mente humana, o filme nos conduz a uma descontraída viagem por tudo o que rola lá no cérebro: nossas memórias de longo e curto prazo, a terra da imaginação,  o departamento responsável pela produção de sonhos e pesadelos, os amigos imaginários e os pilares que formam nossa personalidade: o pilar da Família, da Amizade, da Honestidade e da Graça que atravessa a nossa infância (as macaquices do pai, as brincadeiras da mãe, o riso do palhaço, o  aconchego gostoso que vem dos domingos em família no parque).

Pra terminar, um parágrafo especial dedicado à Tristeza. Sim, essa emoção que você sente de vez em quando (ou de vez em sempre) e que se pudesse ficaria livre dela de uma vez por todas.  Não é raro ouvir pessoas no consultório dizerem:

– “Renata, hoje estou triste.”

– “O que houve?”

– “Estou triste porque estou triste. Eu queria estar alegre.”

Assim como na vida real, em Divertidamente a Alegria é sempre esperada, valorizada, tem cadeira cativa com almofada de veludo na sala de comando. E ai se alguma coisa sair do controle: ela vai lá e dá um jeito, mesmo que à custa de muita confusão e peleja. A Tristeza, coitada, simplesmente não tem vez: é negada, desprezada, evitada a todo custo.

E aí é que o desfecho do filme nos presenteia com a surpresa mais linda e tocante, mostrando que os roteiristas mergulharam fundo na psicologia e nas emoções humanas não só para nos divertir como também nos fazer pensar. (Se você ainda não assistiu, dê uma pausa por aqui. E volte depois, para prosear sobre o que passa na sua cabeça e também no coração.)

Sim, a tristeza é mais importante do que você imagina. Essa emoção tem vez, tem lugar, tem motivo de ser. Mesmo sendo lenta, pesada, sem graça, é ela que nos acorda para a vida. É ela que nos paralisa e nos move, mostrando que algo está fora do lugar, que a vida não vai bem. É ela que une, desata, explode em choro até ser socorrida por aqueles que mais nos amam e nos querem bem.

Sim, é permitido ficar triste, e é bom que as crianças saibam disso. Assim como o feijão, a tristeza também faz crescer e ficar forte.

Bem-vinda, Tristeza, com todas as letras e recursos invisíveis, embora transformadores, de nos trazer de volta a alegria perdida.

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<![CDATA[Lutas diárias]]>https://rfeldman.web.app/lutas-diarias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff2dWed, 12 Aug 2015 22:47:51 GMTLutas diárias

Lutas diáriasLutas diárias

Não gosto de lutas, nunca gostei. A violência (embora institucionalizada, por muitos apreciada) do corpo-a-corpo em busca de gloriosos nocautes nunca me apeteceu.

Me emociono mesmo com as lutas a que assisto diariamente: gente que luta para ser feliz, para se descobrir, para romper com a dor, para se libertar da escravidão e curar suas feridas. Gente que tem que socar  a almofada mil vezes para não morrer de raiva; que range os dentes, chora e espalha sementes, acreditando que a terra é fértil e nela tudo dá.

Mesmo sem gostar, me peguei envolvida com a luta de UFC entre a americana Ronda Rousey e a brasileira Bethe Correia. A luta me fisgou quando soube do conflito que a antecedia: a brasileira, em uma alusão cruel ao pai de sua adversária, que se suicidou quando ela tinha oito anos, fez uma provocação desumana diante das câmeras: “Espero que ela não se mate depois que eu derrotá-la”.

Minutos antes de o espetáculo efetivamente começar, fiquei “filmando” as expressões de cada uma, tão distintas e claras. De um lado, Ronda Rousey com o semblante de quem carregava a alma ressentida, ferida, visivelmente doída; de outro, com ar de vitória cantada antes da hora, Bethe Correia encarava a adversária do alto de sua mais ostensiva arrogância. Salto agulha atraindo olhares no ringue.

Trinta e quatro segundos após o início da luta, a brasileira estava ao chão. Nocauteada pela sua gigantesca soberba, não percebeu que algumas coisas vão além do peso da luva, do tempo de treino ou da disputa pura e simplesmente, mas dizem respeito às emoções que carregamos no peito.

Mexeu com o pai mexeu com a filha. Completamente desprovida de razão e sensibilidade, Bethe tocou num assunto que definitivamente não lhe pertencia. Perdeu a esportiva, o bom senso, a luta e até a torcida. (O que não faltou foi solidariedade dos brasileiros em relação à Ronda Rousey e à dor que a adversária lhe causou. Ferida exposta.)

Seja qual for a sua luta, por mais pesada e sofrida, o que te mantém de pé é a postura com que você vai pro ringue. Entre em contato com a sua dignidade, seus valores mais nobres e humanos, e a vitória é sua.

Você pode até carregar pedras, mas ganhará asas.

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<![CDATA[Batente]]>https://rfeldman.web.app/batente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff2cMon, 03 Aug 2015 13:01:28 GMTBatente

Batente

E aí você quase perde a hora para ganhar o finzinho daquele sonho inenarrável. Pula da cama, arruma a mesa do café, faz um omelete, esquenta o leite, olha pra montanha, adivinha como vai ser o clima, ensolara o coração, rega a alma, encoraja as crianças, enfrenta o trânsito, carrega pesos na academia, inventa vírgulas, abençoa o batente, atualiza a lista diária de compromissos intermináveis e descobre, por um segundo, que o que você mais precisa fazer nessa segunda-feira de agosto é amar, amar muito.

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<![CDATA[Pergunte às crianças]]>https://rfeldman.web.app/pergunte-as-criancas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff2bFri, 24 Jul 2015 21:43:09 GMTPergunte às crianças

Pergunte às criançasPergunte às criançasPitoresca cena de férias: três crianças no quintal de casa, dentro de um bote, comendo cereais e jogando conversa fora.

As crianças: Bella, sua amiga Maria Fernanda (irmã do João Marcelo, para quem já fiz um post por aqui) e Gabriel, vizinho do condomínio.

O bote: mais nova aquisição do Léo, graças à mesada que ele juntou nos últimos meses e aos pais que não estavam por perto na hora da compra.

Da conversa jogada fora surge uma pergunta:

– Mãe, explica pro Gabriel o que que é alma.

– Eu, Bella?

– É, ué. Você não é médica das almas?

Dou pausa no computador (estava escrevendo um post sobre o Dia do Amigo), assento os neurônios para decidir de onde começar e  me lembro do rabino Nilton Bonder em seu livro “O segredo judaico de resolução de problemas”, que nos orienta a responder uma pergunta com outra pergunta.

Lá vou eu:

– Gabriel, o que é alma para você?

(…)

Depois de pensar uns três segundos, o menino arrisca, com sua alma de criança:

– É o que faz a gente estar vivo? (…)

– Isso, Gabriel, isso mesmo!…

Ao que a Bella complementa:

– É onde ficam nossos sentimentos…

– Nossas emoções…, emenda Maria Fernanda.

– É onde está o nosso coração, diz Gabriel.

Dou um aperto de bochecha em cada um e volto para o computador, a alma cheia, sorridente, mais inspirada do que nunca.

Vê lá se tem que fazer pergunta complexa pra psicólogo?

Na dúvida, pergunte às crianças.

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<![CDATA[Dia do Amigo]]>https://rfeldman.web.app/dia-do-amigo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff2aMon, 20 Jul 2015 20:27:19 GMTDia do Amigo

Dia do Amigo

E quem disse que amigo precisa de dia?

Amigo precisa de ombro, café sem hora marcada, mochilão pra botar nas costas e desbravar o mundo.

Precisa de alguém que o escute sem julgamento ou susto, sem nada e tudo a dizer.

Amigo não tem tempo ruim, diz-que-me-disse, nove horas.

Só precisa de colo, sessão de cinema, violão e conversa pra mais de hora.

E um tanto de abraço, risada, verdade, copos ao alto.

Amigo precisa de encontro, esquina, bola e torcida.

Esquece o calendário. Guarda no coração o que a memória já não consegue mais alcançar.

Amigo precisa de dia-a-dia pra colher e plantar, as colheitas mais lindas que eu já vi contar.

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<![CDATA[Abraços falam]]>https://rfeldman.web.app/abracos-falam/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff29Fri, 17 Jul 2015 10:14:55 GMTAbraços falam

 

Abraços falam

Só pra lembrar:

  • problemas não ficam congelados.
  • olhos transbordam palavras.
  • filhos crescem rápido.
  • mães não nascem prontas.
  • alegria contagia.
  • escolhas mudam todo o rumo de uma história.
  • tropeços fazem parte.
  • o tempo escorre.
  • amor é a religião mais linda que existe.
  • amigos “pra sempre” não se perdem com o tempo.
  • você não precisa dar conta de tudo.
  • grandes revoluções começam com um beijo.
  • a vida é curta.
  • homem também chora.
  • quem a gente ama nunca morre.
  • abraços de verdade  fazem todo o sentido: falam alto ao coração e deixam a alma quentinha.
  • (Esqueci alguma coisa?)
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<![CDATA[O NÃO mais duro de dizer aos filhos]]>https://rfeldman.web.app/o-nao-mais-duro-de-dizer-aos-filhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff28Wed, 08 Jul 2015 06:53:04 GMTO NÃO mais duro de dizer aos filhos

O NÃO mais duro de dizer aos filhos

Não estava no script. Nem no coração, na agenda ou no check-list. Não estava.

Ninguém sonha em se separar um dia. Esvaziar o armário, dividir presentes ao meio, mudar de CEP,  largar as chaves, dizer até mais, até breve, talvez nunca mais.

No engasgo de um choro nunca antes chorado, de uma dor nunca antes doída, você diz adeus e roga a Deus que te carregue no colo, pedindo a Ele (pelo amor Dele)  que te empreste os ombros, sem direito à devolução.

Não, você não sonhou passar por isso. Muito antes que o último suspiro definisse o impensável, conforme as palavras do padre, a vida mesmo se encarregou de mudar o caminho e entortar o destino. Escoliose de alma no mais último grau, mudança de rota e de planos a partir da simples troca de palavras: ao invés do clássico “até que a morte os separe”, o inevitável “até que a vida os separe”.

E se uma separação já é dolorosa entre quatro paredes, chega quase a arrancar pedaço quando esbarra em outras coloridas paredes: as que acolhem abraços de Romero Britto e estantes com pelúcia, gibis, aviões, bonecas e carrinhos.

Estou falando do casal que decide se separar e – como se não bastasse toda a dor que neste momento os une – se depara com um sofrimento à parte: dar a notícia aos filhos, transformando toda uma vida compartilhada – domingos de sol, risos,  bom dia, joelho ralado, despertador, balé, futebol, escola, sofá, pipoca, cobertor quentinho – em guarda compartilhada. Um pra lá, outro pra cá. E no meio desses dois, os frutos de um amor agora quebrado.

Tenho ouvido pais e mães perdidos, moídos,  rasgados por dentro quando esbarram no sofrimento que causarão aos seus filhos quando os pequenos acordarem filhos de pais separados. Por esta dor e todas as outras, pela complexidade e seriedade que regam a aridez do tema, o assunto  deve ser pensado, repensado, ponderado um milhão de vezes. Bom dia, aceita um chá?, respire fundo, conte até vinte. Histórias de amor não são feitas para serem perdidas como se perde a chave de casa. Mas se a separação é inevitável, dolorosamente aguardada, que se ponha a caminho.E que não falte sol no meio de tantas nuvens pesadas, escuras.

Os filhos continuarão filhos, inteiros e não pela metade, é certo que sim. Por mais que sofram, a dor não será maior do que ter os pais  vivendo distanciamento e conflitos incessantes sob o mesmo teto, sustentando a velha tese “juntos porém separados”, numa velada ou explícita guerra fria.

Faça uma enquete e pergunte aos “filhos de pais separados” o que marcariam, se tivessem que escolher:

A) “Meus pais casados e brigando todos os dias, infelizes.”

B) “Meus pais separados e vivendo em paz, felizes.”

É letra B na cabeça e no coração.

“Mas o que dizer a eles?, “, perguntam-se os pais num contínuo de angústia, nó na garganta e dor no peito, como se tivessem que compartilhar  o fracasso maior do mundo.

E é nessa hora que o abraço precisa vir colorido, apertado, aquecido, quase saltando da pintura.

“O papai e a mamãe NÃO são mais namorados, marido e mulher. Somos apenas bons amigos. Mas somos – e seremos para sempre – o pai e a mãe de vocês. Dentro do seu coração, meu filho, o papai e a mamãe estarão sempre juntos, um ao lado do outro, abraçando  você e abençoando cada cantinho da sua vida.”

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<![CDATA[Você tem medo de quê?]]>https://rfeldman.web.app/voce-tem-medo-de-que/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff27Fri, 26 Jun 2015 17:57:36 GMTVocê tem medo de quê?

 

Você tem medo de quê?

O post anterior não fui eu que fiz. A autoria é de uma menininha de 7 anos, do alto da sua sensibilidade e sapequice, às voltas com as sombras que a vida dá. (Ah,Bella, vou te apertar até espremer.)

No quarto dessa menina-poema, quando anoitece, tudo acontece:  maçaneta vira nariz de bruxa, cortina vira fantasma, armário vira espantalho. Quando clareia o dia, clareiam também as ideias. E lá vem a menina-poema, papel e caneta na mão, rimando os sentimentos que passeiam pelo coração. Dizendo que quando crescer vai ser psicóloga, escritora, veterinária e cozinheira. (Lá vem ela, com seus braços ainda tão pequenos, querendo abraçar o mundo.)

E sem saber, sem se dar conta, acaba escrevendo o que anda na alma de muita gente grande por aí: MEDO. Não de maçanetas ou espantalhos, mas de tantas outras sombras que nos assombram por aí.

Medo de amar, errar, não dar conta, fracassar.

Medo do que vai acontecer, medo de envelhecer, adoecer, morrer, doer.

Medo de perder quem mais ama nessa vida.

Medo do escuro que cobre a vista, deixando a gente tonto de tanto remoer pensamentos, lembranças, lutos.

Medo de elevador, avião, lagartixa, trovão.

Medo de florestas densas, noite fria, monstros importados da primeira infância.

Medo de não encontrar o caminho de volta pra casa.

Medo que paralisa, angustia, somatiza.

Medo de ser, pura e simplesmente ser quem você se propôs a ser.

Medo de ________________. (Que mais?, diga você.)

E aí vem o sol para dizer que já é dia. Clareou, meu bem. Pega papel e caneta, enche os olhos de brilho e perguntas. Abre a janela e deixa um tanto de luz entrar. Já amanheceu, menina. Hora de acordar. Enche os pulmões de coragem e transforma escuro em luz,  verso em reverso, rascunho em poesia.

Pega seu amor e vai dançar. Coladinho. Rosto com rosto. Alegria, alegria. Sem medo de ser feliz. Não é assim que dizem por aí?

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<![CDATA[Medo]]>https://rfeldman.web.app/medo-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff26Wed, 24 Jun 2015 22:51:43 GMTMedo

Medo

No escuro nada se vê.

Nada se gosta.

No escuro tudo tem sombra.

Tudo tem medo.

No escuro nada se toca.

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<![CDATA[O velho no espelho]]>https://rfeldman.web.app/o-velho-no-espelho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff25Fri, 19 Jun 2015 10:34:45 GMTO velho no espelho

O velho no espelho

Olho no espelho e me vejo.

Pipa, peão, rolimã.

Olho no espelho e brinco com o tempo.

Bola de gude, avião, catavento.

 Olho no espelho e namoro.

Bem-te-vi, beija-flor, bicicleta.

 Olho nos olhos de mim

e vejo o quanto de chão já percorri.

 Pés cansados,

cabelo branco,

rugas no rosto,

emoção que dá gosto.

 Me olho no espelho e me chamo de velho.

Velho amigo.

Mergulho no espelho

e encontro a criança que fui um dia.

* Inspirado no livro “O menino no espelho”, de Fernando Sabino, para o Sarau Literário da Escola Theodor Herzl.

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<![CDATA[Namorados]]>https://rfeldman.web.app/namorados-3/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff23Fri, 12 Jun 2015 19:16:28 GMTNamorados

 

Namorados

Gato Malhado e Andorinha Sinhá. Popeye e Olívia Palito. Romeu e Julieta. Donald e Margarida. Shrek e Fiona. Princesas e sapos. Rodin e Camille. Eduardo e Mônica. Renata e André. Pedro e Luísa. Marcelo e Aline. Cris e Christian. Luis e Diego. Sara e Amanda. Gustavo e Alessandra. Fernanda e Marcelo. Hugo e Selma. Luciene e Adilson. Ana Carla e Fernando. Thiago e Antônio. Joaquim e Cecília. Mariana e Vanessa. Debie e Robson. Rômulo e Carol. Cláudio e Isabela. Thaís e mistério. Sandra e Sérgio. Ricardo e Laura. Você e ____________. Lídia e interrogação. Lúcia e o tanto de voltas que o mundo dá. Cristina e sua mais linda companhia. Vera e quem chegar.

O amor atravessa o tempo, os costumes, o coração com uma flecha pontiaguda e certeira. E assim é que são escritas as mais lindas histórias  de amor, seja ele romântico, infantil, clássico, vitaminado, fantasioso, dramático, estético, enlouquecedor, melodioso, histórico, encantado, sólido, solitário, consistente, auto-amor, amor por inteiro, amor de verdade.

Encontre-se. Arranje-se. Desencontre-se. Ame muito, cada segundo de todos os dias do seu calendário,  do jeito que der, do jeito que for e vier, sempre.

Feliz Dia dos Namorados.

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<![CDATA[Amanhecer (ser)]]>https://rfeldman.web.app/amanhecer-ser/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff22Sat, 06 Jun 2015 08:17:21 GMTAmanhecer (ser)

Amanhecer (ser)

Deixa nascer o sol.

Amanhecer estrelas.

Rascunho de poesia na areia.

Bem-me-viu.

Bem-querer.

Bem-viver.

O que você vai ser quando crescer?

Derrama vida da janela.

Sinfonia de aquarela.

Repousa Deus nos olhos meus.

Quando amanhecer, vai ser.

Beija-flor.

Rainha em Angra dos Reis.

Safári no fundo do mar.

Travessia longínqua de amor.

Ah, se eu pudesse voltar no tempo…

Nasceria tudo outra vez.

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<![CDATA[Ligação]]>https://rfeldman.web.app/ligacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff21Sun, 24 May 2015 11:59:27 GMTLigação

Ligação

Ligação
O telefone toca, a Bella atende.

– Alô. (…) Ei, vovô!

(…)

– Não, ontem eu não fui num aniversário. Foi só a mamãe que foi, da amiga dela.

(…)

– Mãe, o vovô tá perguntando se você trouxe “lembrancinha” da festa pra ele.

– Não, filha, fala pra ele que foi aniversário de gente grande…

(…)

– Ele tá perguntando se vai ter pipoca hoje no jogo do Galo.

– Fala que vai, doce e salgada.

Fim da ligação. De uma ligação que não vai terminar nunca, eu sei.

E lá vem a Bella filosofando, dessas filosofias que a gente tem mesmo que registrar pra não esquecer:

– O vovô é comilão. (…) E tem alma de criança.

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<![CDATA[A quatro mãos]]>https://rfeldman.web.app/a-quatro-maos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff20Wed, 20 May 2015 23:46:30 GMTA quatro mãos

A quatro mãos
Domingo de manhã, friozinho de maio. Pai e filho acordam cedo para um programa há muito tempo sonhado, trabalhado, curtido: corrida de carrinhos de rolimã! (Disney é pouco.)

Mãe e filha, com um pouco mais de vagareza, própria do dia, mas sem tirar os olhos do relógio, tomam um táxi e vão até a Fundação de Educação Artística assistir a um recital de piano. No programa, obras do talentoso compositor Ronaldo Miranda. No palco, musicistas apaixonados pelo seu ofício, com destaque para uma pianista pra lá de especial e querida, iluminada pela melodia que carrega na alma: Rosiane Lemos, “Tia Rosi”, que “muito antes de ser a irmã do meu marido” era minha professora de piano, com quem aprendi (e infelizmente já esqueci, ossos do ofício) a tocar Bach e Chopin, paixão dos meus avós. (Ai, que saudade. Ai.)

Na plateia, a emoção de respirar suítes, toccatas, tangos, variações sobre um tema. Respiro e suspiro – allegro, allegretto, lento. Deixo a cabeça pausar o pensamento, deixo o pensamento pousar sobre o coração. Bella no meu colo, bem-comportada do alto dos seus sete anos, vez ou outra me olha e sorri com ar de encantamento e cumplicidade.

E aí entra em cena o número que serviu de inspiração para esta crônica: “Variações sérias sobre um tema de Anacleto de Medeiros”, piano a quatro mãos, 1998.

Nenhum romantismo de Schumann. Nenhuma primavera de Vivaldi ou sinfonia de Beethoven. Toda emoção do mundo (desse nosso mundo pós-moderno) através de quatro mãos que se encontram, gentilmente se encontram e por um instante quase se tocam na antagônica delicadeza do ébano e marfim.

Não conheço Anacleto de Medeiros mas conheço Celina Szrvinsk e Miguel Rosseline, os donos daquelas mãos que fizeram emocionar uma plateia inteira.

Pensamento pousa sobre o coração e conversa comigo, me levando do piano a quatro mãos para o casamento a quatro mãos, testemunha que sou de tantas e tantas histórias de amor.

Com direito a trilha sonora de filme, levemente me conduzo para o amor que se faz ouvir na harmonia e agitação frenética do dia-a-dia, nas respirações pausadas e desenfreadas, nas cordas que vibram e desafinam tem vezes. Chovem os olhos quando penso na luz que vem do sol, lá, si, dó; dos sustos e sustenidos que compõem cada acorde, acordando o amor quando ele, insone, teima em adormecer. Ébano e marfim, sol e lua, não e sim.

Penso no amor que não precisa de orquestra, partitura ou regente para acontecer. Simplesmente acontece, anoitece, amanhece a quatro mãos, simples e generosamente. Mãos que em conjunto erguem taças de vinho, carregam filhos no colo, rezam, abraçam, trabalham duro, plantam árvores, colhem frutos, carregam a compra do supermercado, fazem o almoço mais especial de domingo, tocam a peça mais linda e não cessam de nos tocar profundamente.

Se porventura nascer silêncio e faltar palavras para exprimir a força desse amor a quatro mãos, vinda de um duo que é único, nos valemos da exclamação capaz de dizer tudo:
– Bravo! Bravíssimo!

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<![CDATA["Palavrinha mágica"]]>https://rfeldman.web.app/palavrinha-magica/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff1fSat, 09 May 2015 21:19:48 GMT"Palavrinha mágica"

"Palavrinha mágica"Olho para mim e te vejo, mãe. Muito além da porção genética que nos confirma, muito além do jeito, do sobrenome, da escrita, da profissão que escolhi amar; muito além de tudo o que nos torna tão iguais, tão afins, vejo você através do amor que me atravessa. Não é pouco. É lindo e tenro e enorme desde sempre; desde o dia em que você me tomou no colo e seu choro de emoção encontrou o meu, choro assustado de quem acabou de nascer. Impossível não ver.

Daí em diante nasceram tantas outras coisas – afeto, palavras, escuta, torcida;  valores, cuidados, ensinamento, postura; música, poesia, mais um tanto de emoção, travessia. Longos caminhos os seus, diferentes um tanto quanto dos meus. Apesar de tudo o que nos liga (laços de vida para uma vida inteira), cada uma tem a sua história, seu destino, sua estrela pra acender. E no que se fez próximo, comum, continuidade, você encheu de luz e bênção cada pedaço de chão que eu caminhei. Ainda caminho, já não mais no ninho, seu amor é sol na estrada.

Se sou o que sou, se vim de onde vim, é porque há uma porção enorme de você em mim.

Tantas vezes já te disse obrigada (“palavrinha mágica”, lembra?) e você respondeu: “Que isso, minha filha, essas coisas não precisa agradecer.”

Precisa sim, mãe. Todos os dias, todas as horas, cada segundo da minha existência tem um quê (um imenso e eterno quê) de você.

Muito obrigada.

Com todo o meu amor.

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<![CDATA[Problemas caminham]]>https://rfeldman.web.app/problemas-caminham/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff1eSat, 02 May 2015 00:31:33 GMTProblemas caminham

Problemas caminham

– “Hoje foi duro levantar da cama.”

– “Cama, mesa e banho.”

– “Tudo bem?”

– “Zen. Ando meditando.”

– “Uma falta de assunto danado.”

– “Tô correndo atrás.”

– “Ganhou uma rasteira.”

– “Ri da minha barriga doer.”

– “Quando é que vai nascer?”

Parece conversa de doido mas é uma pista de cooper. Diálogos entrecortados, cruzados, arfantes, logo que a vida diz bom dia.

Casais caminhando colados, de mãos dadas. Vizinhos ofegantes. Pai e filha. Bengala e sorriso. Namorados. Futuros amantes. Amigas, irmãs, tias. Cachorros e seus donos. Gente andando só, em busca de sol, esse antidepressivo sem igual.

Antes de ir pro batente coloco o coração para trabalhar. Rápido, acelerado, 150 batimentos por minuto. Passeio os olhos pelo relógio, seleciono a trilha que me faz voar (sem música empaco),  inspiro neblina, acordo a endorfina, torno-me espectadora andante do dia que entorna vida.

Talvez por  força do hábito me pego em posição de escuta. Ossos do ofício. Pesco palavras, risos, cada passo uma sílaba entremeada. Conversas triviais, pequenos desabafos,  fragmentos do cotidiano, a quantas anda (ou desanda) a política. E vai ter gol no futebol, beijo na novela, falta d´água,  macarronada pra mais tarde com amêndoas e molho pesto. Haja calorias pra queimar.

Mas o que mais me chama atenção é o monólogo silencioso daqueles que andam sozinhos, cada qual com uma expressão reveladora dos sentimentos que correm do lado de dentro. Paixão, braveza, alegria, leveza, amargura, determinação, tristeza.

Se fosse um  filme seria “Short Cuts”. Se eu fosse colocar legenda, inspiração não faltaria. Quase leio os pensamentos:

– “Acho que finalmente encontrei o homem da minha vida.”

– ” Não sei mais o que fazer para colocar limite nesse menino.”

– “Férias pra que te quero!”

– “E se eu for mandado embora?”

– “Hoje vai rolar um cineminha.”

– “Obrigada, meu Deus, por estar vivo.”

– “Preciso perder dez quilos.”

– “Às quatro sai o resultado da mamografia.”

– “Vou fazer dar certo.”

– “O casamento acabou.”

Alegria tem pés e tristeza também, o asfalto é que o diga.

Ainda não estou no consultório mas já me sintonizo com os sentimentos e emoções que fazem travessia no interior da gente.

Problemas nos paralisam, é certo. Mas também caminham, e caminhando se transformam.

Que você possa estreitar diálogos lindos com você mesmo(a) neste dia que se inicia.

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<![CDATA[Tristeza, pura e simplesmente]]>https://rfeldman.web.app/tristeza-pura-e-simplesmente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff1dWed, 22 Apr 2015 23:34:58 GMTTristeza, pura e simplesmente

Tristeza, pura e simplesmente

Coisa mais fora de moda essa tal de tristeza.

Hoje em dia o chique é ter depressão, se afundar dez palmos abaixo do chão, cair de cama, fazer greve de fome.

Tristeza a gente sente e pronto. De uma simplicidade que dispensa prontuário médico, bula de remédio, maca ou motivo.

Sem maiores explicações ela chega e se instala calada, fazendo barulho no coração.

Sem ser convidada ela chega de mansinho, sem alarde ou alarme, sem o charme que a alegria tem.

Apenas entra, fica, adormece e se enternece com a dor que venta. Frio.

Sem pedir licença, sem recusar abraço e lenço, a tristeza põe as cartas na mesa.

Quebra o jejum, quebra o silêncio, enche os olhos de goteira.

(E ainda há quem diga que é besteira.)

Menospreza a moça não, faz as honras da casa, põe a louça mais bonita.

Tristeza gosta de tomar ar depois de dar o ar da graça.

Vai passar.

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<![CDATA[Menos, Cinderela]]>https://rfeldman.web.app/menos-cinderela/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff1cSat, 18 Apr 2015 15:47:47 GMTMenos, Cinderela

Menos, CinderelaVem da última produção da Disney minha inspiração para você. Você, que transformaria uma abóbora em um delicioso caldo com alecrim, calabresa e gengibre. (Não esqueça a pimenta.) Você, que trocaria fácil um sapatinho de cristal por uma rasteirinha de swarovski e um creme de massagem para os pés. (Não esqueça de apagar a luz.) Você, que dançaria horas com o príncipe mais charmoso do reino sabendo que ele tem o poder especial de virar sapo. É fato.

Não que eu queira desencantar o conto de fadas, longe de mim. O filme é lindo, de encher os olhos, fidelíssimo à história que te contaram um dia. Mas a vida é mesmo assim, Cinderela. Nem tudo se transforma com uma varinha de condão. (Quem nos dera.)

Se você assistir ao filme com os pezinhos bem no chão, vai perceber que ele também é feito de muitos ingredientes da vida real. A começar pela emblemática figura da madrasta malvada que, na cegueira de sua arrogância e ciúmes, não consegue enxergar e reconhecer o amor que veio antes, muito antes dela.

Pois bem. Antes de a madrasta entrar em cena havia um casamento, um pai, uma mãe, uma filha. Uma família feliz, mas que muito cedo foi se deparando com a dor do luto.

Antes de morrer, a mãe de Cinderela faz um apelo importante:

– “Tenha coragem e seja gentil, minha filha.”

Na lealdade à mãe, a menina segue sua orfandade aceitando com delicadeza e compreensão tudo o que a vida lhe oferece: o novo casamento do pai, as duas irmãs “tortas”, a perda do pai e uma nova convivência marcada pelo abuso, com todas as letras.

– “Cinderela, aquele  quarto está muito apertado para suas irmãs…”

– “Claro, Senhora, posso trocar de aposento com elas.”

– “Não, não troque… Melhor: vá para o sótão.”

E o abuso continua no chão que a enteada tem que esfregar,  no lugar à mesa que passa a não ter, no baile que não pode ir, no vestido rasgado, no frio doído e em toda a humilhação com que ela “se acostuma” a viver.

Diante da madrasta má, a moça foi boazinha demais. Confundiu gentileza com anulação, passividade, submissão. Deu permissão para se transformar, sem nenhum passe de mágica, na Gata Borralheira que conhecemos.

Em pleno século XXI, algumas “drastas” perpetuam com força a partícula inicial que compõe o substantivo que a caracteriza. Outras, para sorte de seus enteados, conseguem ocupar com responsabilidade, afeto e cuidado o lugar que lhes cabe, olhando para a primeira mulher de seu marido com gratidão. Afinal, foi porque um primeiro casamento não pôde continuar é que ela agora ocupa este lugar, e isso merece todo o respeito. Quando se enxerga a história desta forma, a partícula inicial também se transforma, e estas mulheres acabam por vezes ganhando o descontraído neologismo de “boadrasta”. Boa notícia.

O filme ainda nos faz pensar em autoestima e autenticidade, tesouros que muitas personagens de carne e osso vêm buscando nos dias de hoje. No alvoroço de encontrar o “príncipe dos seus sonhos” (quem é que nunca ouviu falar no “Complexo de Cinderela”?),  algumas mulheres se perdem de si, esquecendo-se  que tem seu próprio amor para cuidar em primeiríssimo lugar. É nesse impulso desmedido e impensado que se cortam os dedos para o sapato entrar, literalmente se despedaçando em função do outro.

Quando Cinderela finalmente aparece para calçar o sapatinho de cristal, ela se mostra para o príncipe exatamente do jeito que é, sem maquiagem, artifícios ou vestidos encantados. Essa autenticidade faz toda a diferença em uma relação amorosa, que dessa forma  já nasce inteira.

Mais um final feliz, apesar de todas as pedras no caminho. Apesar de sabermos que abóboras dão um bom caldo, sapatinhos de cristal quebram e príncipes viram sapo, todos torcemos para que cada um se encontre e se realize na sua particular história de amor. Mesmo que isso não nos isente da dor.

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<![CDATA[Pausa para comemorar]]>https://rfeldman.web.app/pausa-para-comemorar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff1bTue, 07 Apr 2015 08:57:40 GMTPausa para comemorar

Pausa para comemorar

Brigadeiro, ele e ela, olho de sogra, bem-casado, sinfonia de chocolate, pão de mel, amor em pedaços.

O blog faz 6 anos e você faz de conta que este post é uma festa.

Aceita uma palavra, uma estrofe, rima ou poesia?

Cadinho de afeto, emoção, refúgio, reflexão?

Sirva-se à vontade. Expresse o que vai aí no coração.

Pausa para  olhar pra dentro, aconchegar o tempo, acender velas.

O blog faz 6 anos e você faz parte.

Sua presença é um presente desde sempre.

Muito obrigada.

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<![CDATA[Mãos ao alto]]>https://rfeldman.web.app/maos-ao-alto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff1aThu, 02 Apr 2015 23:24:19 GMTMãos ao alto

Mãos ao alto

Ela é apenas uma criança.

Sem entender, sem merecer, sem paz, sem infância.

Assustada. Triste. Recuada. Refugiada na aridez da guerra e da dor.

Sem teto, sem casa, sem chão, sem refúgio.

Ela é Hudea, uma menina síria de 4 anos.

Ele é Osman, fotógrafo turco, autor da imagem que comoveu o mundo através da sua lente de telefoto.

Atravessando o medo, obedecendo ao conflito, a criança confundiu a câmera com o cano de uma arma.

Habituada à violência, à ameaça, ao terror e à falta, ela não pôde sorrir para a foto como fazem as nossas crianças no parque, na escola, no quintal e no colo.

Rendidos, absolutamente perdidos, ficamos todos nós. Choramos em conjunto, emudecidos pela cena que instantaneamente se  transformou em viral.

Contagiados por uma dor paralisante, também  levantamos as mãos ao alto. Bem alto, em direção ao céu, onde ainda nos sorri a esperança.

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<![CDATA["A teoria de tudo"]]>https://rfeldman.web.app/a-teoria-de-tudo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff17Fri, 20 Mar 2015 19:25:26 GMT"A teoria de tudo"

"A teoria de tudo"

As luzes se acenderam. O letreiro subiu. O lenço encharcou.

Saí do cinema mas o filme não saiu de dentro de mim.

“A Teoria de tudo” coloca em prática a temática que nos acompanha desde sempre: o tempo, este inexorável e (nem sempre) tenro senhor.

Que horas são? O que você fez hoje? E ontem? Como tem passado?

Quando nasceu? Quando morrerá?  O que fará nos próximos meses, anos, décadas a fio? Vazio. Páginas em branco para você preencher como quiser, puder e sonhar. Não tão simples assim. Mas possível, sim.

Suas escolhas. Suas ideias. Seus projetos, desafios, desatinos. Sua viuvez, seu casamento. Sua lua, sua labuta, seus neurônios já cansados, suas fórmulas brilhantes. Latim ou esperanto?

Astrofísica, termodinâmica, química, sintonia, serotonina, corpo, cosmologia, tantas “ias”. Tantos “ais”.

E se você pudesse voltar no tempo, o que faria? (…)

Impossível voltar a fita, sinto lhe dizer. O que dá é para olhar pra frente e seguir adiante, avante, lá onde a vida te espera.

Stephen Hawking, protagonista do filme e de uma vida absolutamente linda, foi um desses caras. Aos 21 anos recebeu o diagnóstico de  ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), três letras que contém uma doença rara, degenerativa, incurável, paralisante. Literalmente.

Perdeu os movimentos, a  fala, a força para manter a cabeça erguida. Mas só fisiologicamente. Ganhou o amor da sua vida, três filhos, uma cadeira de rodas, uma traqueostomia, um sintetizador de voz, três netos e uma carreira brilhante como pesquisador, professor, astrofísico, descobridor de teoremas, partículas subatômicas, buracos negros e cenas as mais lindas: “- Olha só o que nós fizemos”, disse para sua mulher ao contemplar os filhos correndo pelo jardim.

Os médicos deram apenas dois anos de vida. Deus deu mais 52, e Hawking continua “de pé” até hoje. “Logo Deus”,  tão antagonizado nas suas teorias, tão presente no seu ateísmo e também em uma de suas frases mais lindas: “Enquanto houver vida, haverá esperança.”

Amém, Stephen Hawking. Que através da sua história possamos enxergar o tempo com um olhar mais amoroso, acreditando que até mesmo as teorias mais difíceis podem ser colocadas em prática.

Eu, que jamais imaginei me encantar pela física, muito antes pelo contrário, aqui estou, fascinada por tudo o que aprendi com você nestas duas horas de filme. Muito obrigada.

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<![CDATA[Greve de si]]>https://rfeldman.web.app/greve-de-si/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff16Thu, 12 Mar 2015 11:07:42 GMTGreve de si

Greve de si

Ele cresceu mas continuou com medo de escuro.

Onde se lê “escuro” leia-se exame de rua, homossexualidade velada, entrevista de emprego, hipocondria.

E assim ele cresceu, enxergando monstros na maçaneta e fantasmas disfarçados de cortina.

Faz sol lá fora mas dentro dele neva. Berra.

Céu frio, nublado, concerto fúnebre, auge da hipotermia.

Tantos convites, coloridos cenários, dentro dele goteira: um fio de coragem desbotada.

Se ao menos pudesse voar. Visitar um outro planeta.

Se ao menos pudesse sonhar. Sonhar sem ter que acordar.

Se ao menos pudesse fazer contas de mais. Somar ao invés de subtrair sempre e tanto.

Se ao menos pudesse fazer de conta. (Conta pra ele que o mundo não é esse muro cinza que ele acreditou que fosse.)

Se ao menos pudesse ser ele mesmo. Nome, sobrenome, endereço, RG, uma paixão, um hobbie, uma identidade. Saudade?

Ele cresceu mas ainda não aposentou o menino que foi um dia nem o velho que certamente virá ao seu encontro.

Ele cresceu doído, incompreendido, versos fora de ordem, estranhamente fora de órbita.

Cancelou a agenda, fechou a janela, fez greve de si.

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<![CDATA[Dor de pensamento]]>https://rfeldman.web.app/dordepensamento/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff15Wed, 25 Feb 2015 18:30:08 GMTDor de pensamento

Dor de pensamento“Penso, logo existo.” Hesito. Complico. Devaneio. Desisto.

Com todo o respeito, Descartes, existir é pouco para uma mente pensante. Abundante. Falante.

Ultimamente as cabeças têm doído de tanto pensar, sou testemunha.  Além de todos os neurônios, circuitos e sinapses que já agitam tanto a massa cinzenta; além de todas os números, senhas, registros, listinhas e memórias; além de todas as palavras, frases e vírgulas nem sempre postas que fabricam nosso pensamento acelerado; além de tudo, tanto, tudo, ainda há monstros, fantasmas, bichos de sete cabeças habitando homens de uma cabeça só.

Contrariando sua lógica cartesiana, postulo a tese de que uma cabeça assombrada faz ponte direta com o coração. É fato. E nesse encontro ela quase mata o coitado de susto, de medo, de angústia em estado bruto. (Conhece?) Quase um choque anafilático, cabeça versus coração. E viva o dilema: “você quer ser feliz ou quer ter razão?”

Não tão simples assim. Sufocado, enfraquecido, espremido, é assim que o seu coração passa a bater.

E se o pensamento ainda resolve chamar a imaginação para um “blá”, aí é que a cabeça vira uma enorme tela de cinema. Filme de terror, prepare-se. Com direito a efeitos especiais, ruídos ensurdecedores, baforada de dragão, destroços de guerra, Oscar de pior roteiro. Entre a vida real e a que se passa dentro da sua cabeça, abre-se um abismo sem fim. Sim, nem queira ver. Lá dentro tudo muito maior, mais complicado, mais pesado, à beira do inviável. “Cortem as cabeças”, esbravejaria a rainha de Alice no País das Maravilhas. Acendam as luzes, imploraria um coração cheio de lucidez e medo.

“Penso, logo existo.” “Existo, logo sofro”, se me permite complementar sua nobre e racional filosofia.

Tantos “ses”, tantos “senões”, labirintos e encruzilhadas, esconderijos e estilhaços se ocultam em um sistema nervoso cada vez mais nervoso. Almofadas macias e chá de camomila, por favor.

A cada pensamento seu há um sentimento correspondente, esta é a lógica. E por mais que ele pareça ser o intruso que arromba a porta e faz seu coração de refém, deixando monstros e bichos horrendos de vigília, seu pensamento é você que fabrica. Enredo, cenário, efeitos especiais, tudo é  autoria sua. Nada de ficção científica.

O chá está pronto.

Respira fundo, acende a luz, reinvente o roteiro.

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<![CDATA[Poço dos Desejos]]>https://rfeldman.web.app/poco-dos-desejos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff14Tue, 17 Feb 2015 10:58:12 GMTPoço dos Desejos

 

Poço dos Desejos

Carnaval, rèveillon, Natal. Não importa a época ou lugar, um desejo é sempre um desejo. Silencioso, escondido, segredo materializado em uma pequena moeda que, no instante em que é atirada  à água, se diferencia de todas as outras pela esperança que carrega.

Superstição ou não, passar perto de um poço e não arriscar um pedido é tarefa para os indiferentes. Nem que de brincadeira, atire lá seu desejo, brinque de faz-de-conta, transforme aquela pequena circunferência metálica em um valioso objeto encantado.

Na nossa última viagem de férias havia sempre um poço no caminho. Afinal era  Disney, “where dreams come true”, terra da fantasia, Carnaval todo dia. Sempre um poço no caminho, talvez para lembrar que o nosso desejo era uma ordem, ali tudo podia acontecer. Tudo, inclusive o fascínio de uma menininha pelo tanto de moeda reluzindo no fundo do poço, uma verdadeira mina de ouro.

É claro que estou falando da Bella e mais uma de suas perolices. Mais parecendo “Alice no país das maravilhas”, a pequena se debruçava sobre o poço visivelmente encantada. No riozinho do “It´s a small world” ela não se conteve:

– Mãe, por que que eu não trouxe a minha máscara de mergulhador? Olha o tanto de moedas que eu ia poder pegar!… Ia ser o meu tesouro!…

– Filha… Esse riozinho não é feito para mergulhar… E mesmo se fosse, cada moeda dessa tem dono… alguém que fez um pedido, entende?

– Ahhhh… Mas eu não posso pegar nenhuma moedinha?

– Não, dá azar pegar “o desejo” dos outros…

Foi quando o pai interveio:

– Toma aqui uma moeda, Bella. Agora você joga e faz um pedido.

Com a cara mais sapeca do mundo, ela segurou firme a moeda e ficou pensando, pensando, os olhos brilhando.

– Um desejo? (…)

Meu desejo é ficar com a moeda!

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<![CDATA["Vou casar cedo"]]>https://rfeldman.web.app/vou-casar-cedo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff13Wed, 11 Feb 2015 15:38:24 GMT"Vou casar cedo"

"Vou casar cedo"

"Vou casar cedo"

Ele tem apenas 10 anos e já pensa em casar.

João Marcelo é um desses meninos raros, que reluzem ouro de tanta luz que têm. Filho de amigos queridos, acabou se tornando sobrinho querido também, fiz questão de me “apropriar” desse tesouro.

Se quiser dar um presente a ele, esqueça os jogos e brinquedos convencionais. No último Natal ele pediu um siri. (Vivo, é claro.) Nada como um exótico  bichinho de estimação para se juntar às suas tantas outras paixões: um cachorro, um porquinho da índia, um casal de canarinhos (Graviola e Açaí), uma família inteira de Calopsitas (Quinquim, Lilica, George Washington, Barack Obama e Toinha, todos nomes dados por ele), uma tartaruga, um bambu da sorte e pra completar uma planta carnívora. É vero. Ah! Já ia me esquecendo do Fred, seu querido hamster que faleceu exatamente hoje. Meus sentimentos, João.

Saindo da esfera animal para a humana, João Marcelo coleciona outros presentes um tanto quanto especiais: afeto de pai, mãe, irmã, vô e vó (dos dois lados, o felizardo), tio, tia, papagaio, fora os amigos de uma vida toda. Eu mesma virei “Tia Rê”, coruja e paparicadeira, o “Tia Rê” mais doce do mundo na voz desse menino encantado.

Com os avós, tenho que abrir um capítulo à parte: um grude e um carinho só. Abraço bom de apertar, olhos que dizem tudo, sorriso que mata a gente, amor de alumbramento. (Tem toda razão, João. Vô e vó mereciam prêmio nobel de tudo. Se eles não existissem a gente ia ter que inventar.)

Tive o prazer de passar as últimas férias com ele e deu nisso. Voltei louca para escrever, essas coisas a gente tem que registrar. É história, Joãozinho, história de vida, quem sabe um dia você não vai ler para os seus filhos este pequeno fragmento biográfico que coloquei aqui?

Todo dia antes de jantar me aparecia um João Marcelo impecável, cheiroso e com o pente na mão, sistematicamente dividindo o cabelo de lado, nunca vi tanta perfeição. Diz sua mãe que é assim todo dia, um verdadeiro ritual para ir à escola, ai de quem tirar seu perfume do lugar.

Imagina no dia do casamento, como é que não vai ser… Feliz da noiva dele. E se estou imaginando é porque a avó dele, vó Marly, me contou um diálogo dos dois cheio de graça e emoção:

– Vó, onde você vai assim tão bonita?

– No casamento do Felipe, meu vizinho. Tão novo, João… Só 22 anos e já está casando!…

– Eu também vou casar cedo. (…)

– Que isso, menino?! Por quê?!

– Porque aí você vai poder ir no meu casamento, vó.

…………………………………………………………………

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<![CDATA[Qual é a "sua Disney"?]]>https://rfeldman.web.app/qual-e-sua-disney/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff11Tue, 03 Feb 2015 11:20:29 GMTQual é a "sua Disney"?

Qual é a "sua Disney"?

 

Qual é a "sua Disney"?

Era uma vez um homem cheio de ideias na cabeça e sonhos no coração. Riscando do dicionário a palavra “impossível”, pôs-se a desenhar ratinhos, esquilos, patos, princesas, fadas e castelos. Seus rascunhos ganharam asas e voaram pelo mundo, enchendo de brilho os nossos olhos.

Ah, Walt Disney, como eu gostaria de ter te conhecido. Assentar-me à mesa com você em um  almoço de domingo e cantar “Be my guest, be my guest!…”. Que prazer seria recebê-lo em minha casa e ficar horas ouvindo a sua história, saber de onde tirou tanta inspiração. Como não tem jeito, te encontro de outras formas: em alto-mar, em terra firme, nos filmes e canções, no sorriso dos meus filhos, na menina que fui um dia.

Na minha época a Disney não era tão “logo ali” como é hoje, e costumava-se dizer que crianças muito pequenas  não aproveitariam tanto, pouco se lembrariam. Hoje elas já nascem encantadas, apresentadas desde cedo a este colorido mundo de emoção e fantasia. Geração Mickey Mouse, Montanha-russa, “Where dreams come true”, como não aproveitar? Como esquecer?

Fui rascunhando este post numa fila de setenta minutos, esperando chegar nossa vez na recém-inaugurada montanha-russa dos Sete Anões. Apesar do cansaço, do frio e das refeições nada balanceadas, me realizei através dos olhos deles. De um Léo e uma Bella que não queriam mais nada na vida além de brincar de realizar sonhos, viveriam ali para sempre se pudessem.

E foi ali, naquela fila, que eu parei meus olhos e voltei no tempo. Casa de vó, quintal florido de hibiscos, chinelo azul virando tapete de Aladim, carrinho de enfeite deslizando pelo corredor feito barquinho do “It’s a small world”, neta cercada de mimos e chocolate e paparico, eu era princesa e não sabia. Minha avó deixava de dormir com o meu avô para dormir no quarto comigo, ela na cama e eu na bicama, um aconchego só. Aí um dia eu acordei e ela não estava lá, como de sempre. Pingo de gente que era aos quatro anos de idade, chorei feito gente grande ao ver a cama vazia, talvez já intuindo que ela também havia virado Bella Adormecida, adormecida para sempre.

Ah, vó, que saudade. Molhei meus olhos e abracei o tempo. Sua casa era a minha Disney.

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<![CDATA[A fé que nos move]]>https://rfeldman.web.app/fe-que-nos-move/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff10Sun, 11 Jan 2015 20:55:33 GMTA fé que nos move

A fé que nos move

Num período histórico em que meninos hebreus  tinham por decreto que morrer logo ao nascer, um bebê foi salvo. Aconchegado em uma cesta de junco, o pequeno Moisés foi enviado por sua mãe pelas águas do Rio Nilo.

A história é bíblica, faz parte do Antigo Testamento e foi parar nas telas do cinema. “Êxodo – Deuses e Reis” –  é uma superprodução, envolvente do início ao fim, duas horas e meia que não vi passar.

O menino que foi salvo retribuiu gentilmente o seu destino, libertando os hebreus da escravidão do Egito com perseverança e coragem. De salvo passou a salva-dor, salvo pelo amor de Deus, pela fé que aprendeu a ter.

Antes de se encontrar “oficialmente” com Deus, Moisés encontrou a mulher da sua vida. A sós, logo após o rito de casamento, olharam-se nos olhos e trocaram as palavras mais lindas de amor, comprometimento e vínculo. Belo texto. Terno começo de uma longa travessia.

Êxodo nos lembra a força que tem o verbo acreditar, aliado ao sentir e agir; nos rememora a força de uma identidade que, quando abraça a fé, é capaz de remover montanhas e abrir o mar.

Ridley Scott estava inspirado quando colocou uma criança no papel de Deus. Pureza e força se misturavam a cada diálogo, mesmo quando havia desencontro ou incompreensão:

“-  Vejo que às vezes você discorda de mim, mas mesmo assim continuamos conversando.” (Trecho da fala de Deus para Moisés.)

De uma lindeza comovente, tocante, o filme nos faz pensar nas nossas conversas diárias ou urgentes com Deus. No tanto que às vezes precisamos “segurar forte a mão Dele, quase até gangrenar.” Ouvi essa expressão de uma pessoa  muito querida, que estava com a sobrinha no hospital, em um momento extremamente difícil:

“- Não está fácil, tia. Mas eu não largo nem por um minuto a mão de Deus. Seguro forte, apertado, nem sei como não dá gangrena. Mas a mão Dele eu não largo. De jeito nenhum.”

Achei tão lindo que pedi autorização para escrever isso, minhas mãos já coçando. A resposta veio ainda mais linda:

“- Minha sobrinha disse que não considera esta expressão dela, mas pertencente à humanidade. Mesmo que não verbalizada, é mundialmente adotada. Ela não leu em nenhum lugar, mas saiu do coração em um momento de enorme crescimento pela dor.  Você pode usar como quiser, pois não há direitos autorais.”

Falta autoria mas sobra emoção. (Muito obrigada, queridas tia e sobrinha, por terem me inspirado a escrever este post.)

E assim, segurando a mão de Deus, a gente segue em frente. Olhando pra cima, buscando luz, amando a liberdade que nos tira da escravidão. Mesmo com todas as tempestades, pragas e percalços no caminho, mesmo com tudo que não tem explicação desde sempre, a gente vai. A gente chora e sofre e muitas vezes fica sem entender absolutamente tudo. Mas com fé a gente levanta, ganha força e fica de pé, ainda que com as pernas amputadas.

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<![CDATA[Recém-chegado]]>https://rfeldman.web.app/recem-chegado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff0fTue, 06 Jan 2015 21:21:07 GMTRecém-chegado

Recém-chegado

Ele chegou assim como quem não quer nada, querendo tudo. Podendo tudo.

Desejado, esperado, um certo ar de mistério e fascínio no ar.

Ele: o desconhecido tão conhecido, deliciosamente prometido para você.

Escalou montanhas, mergulhou no mar, te encontrou na areia com os braços abertos, já tarde da noite.

Meia-noite, meia-lua, você jamais tão inteira.

Nenhum minuto de atraso, nenhum senão ou porquê.

Cliques, registros, selfies, flashes.

Lá estava ele: impecável, a postos, feito especialmente para você. En-co-men-da-do. No tempo certo, na hora e no lugar que tinha que ser.

Desnecessário dizer que foi recebido com beijos, abraços, flores, pedidos, fogos de artifício, promessas indizíveis e outras escancaradas.

Ninguém tirava os olhos dele. Cada olhar mais cheio de brilho e emoção num intenso esfoguear de cores.

Teve música, cantoria, mesa farta, sambinha de taças,  universo conspirando a seu favor.

Você chorou diante do céu iluminado,  coração abarrotado de sonho, alegria, paz, esperança. Bonança.

Já não cabia mais tanto amor, tantos planos, tantos nobres desejos. Cabia.

E foi assim que ele chegou: de leve, como quem não quer nada, querendo tudo.

Presenteiro, vivo, alegre, namoradeiro.

Bem-vindo, 2015. Bem-lindo, tinindo, como deve ser.

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<![CDATA[Quando Papai Noel não existe]]>https://rfeldman.web.app/quando-papai-noel-nao-existe/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff0eSun, 21 Dec 2014 21:37:07 GMTQuando Papai Noel não existe

Quando Papai Noel não existe

– Mãe, estou desconfiada que Papai Noel não existe. E tenho quase certeza de que você é a Fada do Dente.

(!…)

Ah, minha filha… Entre dúvidas e certezas, é assim que a vida corre. Ora atribulada, embrulhada com papéis coloridos e etiquetas “De/Para”, ora no balançar dos dentes de leite que demoram a cair.

Eles caem e a gente cresce. A gente cresce e vai deixando para trás os bons velhinhos de barba branca, assim como as fadas que “discretamente” colocam um dinheirinho debaixo do travesseiro.

Mas por mais que a gente vire gente grande, carregando sacos de problemas e sonhos, barba e cabelo branco, expressão de alegria ou cansaço no fim do dia, ainda assim somos capazes de acreditar. Na lua, na estrela, no que os versos do poeta dizem; no ser humano, no profeta, na capacidade de amar de cada um; na força daquele projeto; na cura daquele amigo; naquele amor que amanheceu quebrado; na transformação doída – porém linda – que o seu coração tem vivido já há algum tempo.

Por mais que não tenhamos mais idade para fazer cartinhas de Natal, ainda assim podemos escrever que a felicidade existe, e está logo aí, bem dentro de você.

Com ou sem Papai Noel, ainda assim é possível acreditar nos presentes que podemos trocar todos os dias: amor, alegria, paz, esperança, boas palavras, prosperidade, bonança.  Crença bonita de que o melhor ainda está por vir. Que o homem não desaprendeu a amar. Que o mundo pode ser diferente. Que a emoção de um Feliz Natal pode transformar laços de vida em abraços apertados e quentinhos.

Feliz Natal e um 2015 iluminado para você, cheio das crenças mais lindas.

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<![CDATA[O que você tem feito?]]>https://rfeldman.web.app/o-que-voce-tem-feito/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff0dWed, 10 Dec 2014 09:55:51 GMTO que você tem feito?

O que você tem feito?

Respira fundo.

Se tiver apaixonado suspira.

Leve o tempo que for.

Transforma dor em amor, essa rima tão perfeita. Eita.

Faz balé, alquimia, travessura, poesia.

Faz amor, meu bem.

Fica zen da noite pro dia, pelo menos sonha que fica.

O tempo é o mesmo pra todo mundo, a diferença é o que você faz dele.

Faz rali, cafuné, cera, plebiscito. Faz morrer de rir.

Que horas são aí dentro de você?

Cola um post-it pra lembrar que tem um monte de vida

te esperando lá fora. Bora.

Mostra os dentes, mostra a cara, onde é que você estava?

Transpira cada gota de vida, coloca sentido no suor do seu trabalho.

Mas agora inspira, expira, exista.

Mande notícias.

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<![CDATA[Felicidade em dois tempos]]>https://rfeldman.web.app/felicidade-em-dois-tempos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff0cSun, 07 Dec 2014 20:44:34 GMTFelicidade em dois tempos

Felicidade em dois tempos

Felicidade em dois tempos

 

Convitinho de última hora.

Vasos de flor na janela.

Polenta cremosa com linguiça caramelada.

Doce de leite na colher.

Café expresso pra ir embora. (Roma, por favor.)

Sonhos cultivados, casa perfumada de amor.

Ensaio de marido e mulher.

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Maria-chiquinha trançada.

Óculos escuro.

Maquiagem inaugurada.

Festa de formatura.

Olha a ginga do menino.

Olha o crescer da menina.

Palco virou mar, floresta, ensinamento de amar.

Se estes versos fossem flores, cheirariam a campânula.

Flor da gratidão.

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<![CDATA[Desencontros do amor]]>https://rfeldman.web.app/desencontros-amor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff0aWed, 03 Dec 2014 10:10:26 GMTDesencontros do amor

Desencontros do amorDesencontros do amor

Estou participando do I Congresso Online de Relacionamento Conjugal. Minha palestra traz o tema “Como lidar com os desencontros do amor”, e terá uma reprise hoje às 20 horas pelo link: http://www.onlinemeetingnow.com/seminar/?id=xw6ry5mik3

 Pauta:

* Amor, verbete universal.

* O amor de Hollywood e o amor do copo d´água.

* Casamento.

* “O silêncio de quando nos vimos a primeira vez.”

* O amor não envelhece com o tempo.

* O amor sofre a passagem do tempo.

* Rotina.

* Filhos.

* A síndrome do ninho vazio.

* Envelhecimento.

* Qual é o segredo?

* Do ritual ao vivencial.

* Da dor ao amor.

* Do estranhamento ao entendimento.

* Quando o amor adoece.

* Atitudes destrutivas e construtivas.

* O diálogo nosso de cada dia.

* História de amor.

O convite está feito. Para falar de amor, de começo e de fim, de encontro e desencontro, de  possibilidade e recomeço, com direito a poesia de Adélia Prado e uma crônica do meu livro Amor em Pedaços.

Espero por você.

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<![CDATA[Mágoa de geladeira]]>https://rfeldman.web.app/magoa-de-geladeira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff09Mon, 01 Dec 2014 20:57:09 GMTMágoa de geladeira


Mágoa de geladeira

Mágoa de geladeira

 

Brrrrrrrr.

O sol está rachando lá fora mas dentro de você faz frio. Menos quinze graus. Hipotermia aguda, febre invertida, endurecimento cardíaco.

Alguém te magoou um dia e esse dia não passou. Ficou congelado na sua memória afetiva, arranhando o coração, impedindo você de seguir em frente.

O que torna a mágoa tão pesada é sua composição emocional:  densas partículas  de raiva, tristeza, amargura, decepção. E o mais doído é de onde vem tudo isso: de alguém muito importante para você, na quase absoluta maioria das vezes. Caso contrário não doeria tanto.

Você pode ter tido todos os motivos do mundo para ficar mal com o que aconteceu. Alguém te feriu e você se machucou, não dava para ser diferente. Ou não, de repente o que houve foi uma coisa à toa, uma bobagem, mas você grudou no ressentimento igual piche no asfalto. Viche.

Qualquer que tenha sido o desencontro, o mal-estar, o problema é viver o resto da sua vida carregando essa dor que pesa os ombros e entorta a alma. Se foi com alguém da família, prepare-se para conviver com esta relação de pé quebrado nos almoços de domingo, comemorações de aniversário e encontros de Natal. Elimine a palavra abraço do seu vocabulário e agarre-se à televisão mais próxima. Se foi com alguém distante, torça para nunca mais lhe cruzar o caminho; e, se por acaso isso acontecer, atravesse imediatamente a rua.

Mágoa guardada é como água parada: dá lodo, mal cheiro, dá até dengue nos dias de hoje. Agora imagina isso aí dentro de você, fazendo estrago. Pior ainda quando é mágoa congelada, empedrada, com o prazo de validade vencido faz tempo. Faz mal, menino.  Faz a vida valer a pena, menina.

Feliz de quem sabe deixar para trás o que ficou lá atrás. Das mínimas picuinhas à mágoa maior do mundo, nada disso tem o poder de deixar você atravancado na vida, tropeçando na dor, remoendo esse gosto amargo de rancor.

Perdoar? Sim, o que não significa esquecer. Tem coisas que jamais se apagam, nem se inventarem a pílula da amnésia. Esquece. Mas perdoar para virar a página e encher de leveza a sua escrita, a sua vida, ah, isso não tem preço.

Um dia perguntaram a uma sobrevivente do campo de concentração se ela havia perdoado os nazistas. Ao seu sim veio a indagação surpresa do jornalista:

– Sim?!

– Sim. Eu perdoei por que eu precisava, porque eu merecia. Porque eu não poderia continuar aquela história dentro de mim.

O perdão envolve sempre uma outra pessoa, mas diz respeito essencialmente a você. É disso que se trata: seu bom dia, sua alegria, seu travesseiro, sua capacidade abençoada de seguir em frente.

Foi?

O sol está te chamando.

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<![CDATA[Se essa moda pega...]]>https://rfeldman.web.app/se-essa-moda-pega/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff08Fri, 21 Nov 2014 14:39:15 GMTSe essa moda pega...

Se essa moda pega...

Para-casa de mãe  começa cedo e muitas vezes não tem hora para acabar.

Café da manhã, escola, batente, sacolão, supermercado, ginástica, revisão do carro, palestra, xarope pra tosse, matrícula no futebol, sapatilha de balé, manicure, arrumação de armário, presente de aniversário, prova de geografia, comprimido pra alergia, sofá impermeabilizado, lanchinho da hora, contas a pagar, conserto na costureira, recado para responder, ufas para colecionar, inspiração para escrever.

E não é que ela (a inspiração) veio bem na hora do para-casa da filha? (Para-casa um tanto quanto atípico esse, diga-se de passagem.)

– Ué, Bella, você saltou um tanto de exercício…

– Ichi, esqueci…

– E o colorido, não fez?

– Ó, pulei.

– E essa letra, filha?  Você podia ter caprichado mais…

– Tá bem, me dá a borracha…

– Gente, que desânimo é esse? O que é que está acontecendo, pequena?

– É que hoje eu tô de TPM.

(…)

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<![CDATA[Grades e estrelas]]>https://rfeldman.web.app/grades-e-estrelas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff07Thu, 13 Nov 2014 18:42:49 GMT

Ouvir-Estrelas

Semana passada tive o prazer de participar de uma entrevista de estúdio no MGTV sobre “Pessimismo”.

Como os cinco minutos da programação não foram suficientes para esgotar o assunto, resolvi espichar por aqui um pouco dessa clássica história do copo “meio cheio meio vazio”, fonte de sabor ou dissabor na vida de muita gente.

Mais uma vez, a conversa é sobre esse seu olhar. Que diante dos fatos, tão universalmente fatos, enxerga possibilidade ou recusa, preenchimento ou vazio, sim ou não. “Diga o que pensas e te direi quem és”.

Quem é você diante do trabalho suado, do amor que anda em falta, do tempo fechado? (Em tempos de Cantareira não seria má ideia, abram as sombrinhas, até um  bom pessimista mudaria de posição.)

Quem é você diante das mudanças, dos tropeços, das andanças tantas vezes desencontradas? (Vitória ou derrota, onde é que você se segura?)

Pensamento faz nascer sentimento, simples assim. A cabeça pensa que vai dar errado, o coração sente tudo menos alegria. A cabeça pensa que aquele concurso não vai dar em nada, o coração desanima. A cabeça fica dura de tanto pensar no pior, o coração se sente  um tanto menor. Só.

Pessimismo é marca de nascença, revelam as últimas pesquisas sobre o assunto. Mas isso não é desculpa para você levar uma vida inteira em preto e branco (o que, para muitos atleticanos é sinal de raça, torcida, emoção, alegria. (…)  De novo o olhar, esse nosso olhar que muda tudo).

O pessimismo anda junto do stress e da ansiedade, valoriza o remoer das memórias negativas e faz sofrer um bocado. Nos otimistas o nível de cortisol (hormônio do stress) é mais estável, e eles comprovadamente vivem mais. O que não falta é esperança, bom humor , leveza. Andar na chuva como se fosse o sol que estivesse brilhando. Ou dançar na chuva, você escolhe, “I´m singing in the rain”.

O pessimista esmorece antes da hora, vive o negativo por antecipação, acaba sofrendo duas vezes quando a notícia realmente é ruim. O otimista concentra energia no melhor que há por vir, sofrendo apenas uma vez se tiver que sofrer. Se. Questão matemática.

E ainda tem a força da profecia autocumprida: o pessimista jura de pé junto que a festa vai ser horrível. Por mais que a música esteja ótima, a comida farta e gente bonita, ele não dá o braço a torcer e acaba encontrando um motivo para confirmar sua crença tão fortemente ancorada no negativo. A música estava boa mas a cerveja quente, mais que o suficiente para ir embora. E à francesa, diga-se de passagem.

Mas pior do que enxergar com pessimismo a política, a economia, a meteorologia e tantas ias – coisas que vem de fora – é enxergar com peso e escuridão a si mesmo. Tem gente que briga com o espelho, tranca a alma no sótão e não quer saber de fazer as pazes. Pobre auto-estima.

Linda a metáfora de Santo Agostinho capaz de resumir essa ópera: “Dois homens olham através das grades da prisão; um vê a lama, o outro as estrelas.”

E com um céu prateado, por vezes nublado, a vida nos convida a transformar, a labutar a partir dos olhos que só enxergam cinza. Assim é feito o convite, só nos resta aceitar.

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<![CDATA[Por uma vida mais leve]]>https://rfeldman.web.app/por-uma-vida-mais-leve/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff05Mon, 03 Nov 2014 18:20:45 GMTPor uma vida mais leve

Por uma vida mais leve
Por uma vida mais leve
 Quarenta minutos contados no relógio. Tempo suficiente para assistir ao show do Queen e  pegar onda no Havaí. Uma maior que a outra, quase sou engolida, por um instante desapareço. Mereço.

Entre uma paisagem e outra corro, suo, canto. “Under pressure”, “Don’t stop me now”, “Somebody to love”. A plateia delira. Prazer. Alívio. O vento bate no rosto, a espuma do mar é refresco, meus pés viram asas. Do Queen passo à Rita Lee, outro show esfuziante: “Quero mais… saúde! (…) Se por acaso morrer do coração é sinal que amei demais.”

Quarenta minutos: tempo sagrado para cuidar só de mim, enfim.

Serotonina, endorfina, sintonia, macadâmia, chia. Imagine essa mistura girando dentro de você. Bem-vinda, qualidade de vida.

Eu, que quando menina ia empurrada para as aulas de educação física (se pudesse fugia), quando mulher descobri  o bem que faz ter uma boa relação com o corpo da gente. Sente: esse corpo que habita veias, músculos, sangue, alma, emoção, raça. Lindeza de endereço em movimento.

Entrei para a  academia de ginástica muito mais por obrigação do que diversão, confesso. Mas no fim das contas, a necessidade de controlar um colesterol geneticamente elevado se transformou em um prazer apaixonante. Viciante, no melhor sentido da palavra.

Li em algum lugar que é possível meditar em movimento. Verdade pura. Você sai de cena, entra em alfa, cuida do corpo e é a mente que agradece. Namastê. Reverência profunda de amor a si mesmo. Banho de autoestima. Gotas de prazer em ser o que você busca ser.

O mundo para em pleno movimento, do alto de uma esteira a 7 km por hora. O show do Queen ferve nos meus fones de ouvido. O Havaí está logo ali, na TV  à minha frente.  O ventilador faz as vezes da brisa do mar, e o umidificador de ambiente cai na pele como garoa fina em dia de sol.

É claro que poderia ser ao vivo e em cores, reconheço. Mas quem não tem mar malha com montanha, rua, estrada, esteira. Fazer o quê?

Fecho os olhos, agradeço,  mergulho de corpo e alma nessa energia que faz toda a diferença no meu dia.

PS:  Este post é dedicado à minha amiga Aline Amaral, autora do recém-inaugurado blog fits & tips, que com um jeito gostoso de conversar nos convida a colocar em prática uma vida mais leve e saudável.

Está aí mais uma boa pausa para você abrir na sua vida. Recomendo.

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<![CDATA[Meu querido Furby]]>https://rfeldman.web.app/meu-querido-furby/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff04Wed, 29 Oct 2014 10:21:19 GMTMeu querido Furby

Meu querido Furby

Sou da época em que as bonecas falavam, cantavam, batiam palmas.

A época segue, mas agora com o colorido advento dos Furbies, bichinhos de pelúcia com orelhas de plástico que lembram um pouco os  graciosos “Gremlins” de Steven Spielberg. Coisa de filme mesmo.

O da Bella já vai completar 1 ano. Uma gracinha, só você vendo. Azul turquesa, falante, conversa feito ele só. O problema é que, além de falar, dançar e emitir sons carinhosos, o bichinho ainda tem o poder de “virar do mal”, especialmente quando irmãos mais velhos resolvem puxar o seu rabo. Aí é uma maravilha: seu olho fica estatelado, a voz muda e o bichinho emite estranhos ruídos sonoros de um estômago que nem tem.

Do bem ou do mal, o danado ainda pode acordar a qualquer hora, muitas vezes quando o seu filho já está na cama, luzes apagadas, prestes a pegar no sono. A melhor invenção dos últimos tempos, e com uma novidade e tanto: não vem com botão de desligar.

Se vira do mal, a Bella logo olha pra mim e diz: “Toma, mamãe, você é psicóloga, dá um jeito, ele vai se acalmar.”

Haja psicologia. Teve um dia que o bichinho resolveu acordar bem na hora do para-casa. Não pensei duas vezes e deixei ele dentro do armário da dispensa.

Outro dia o Léo acordou agitado:

– Tive um pesadelo terrível, mãe. Sonhei que a cidade inteira estava infestada de Furbies.

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<![CDATA[Dia do aluno]]>https://rfeldman.web.app/dia-do-aluno/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff03Wed, 15 Oct 2014 16:23:03 GMTDia do aluno

Dia do aluno

É de praxe aluno homenagear professor. De praxe e de coração, vide as colações de grau, os discursos emocionados, os dias 15 de outubro sempre tão bem lembrados. Vide os olhos atentos no quadro, as perguntas que não ficam sem resposta, o reconhecimento pra vida toda, o respeito por uma profissão permeada de valor e nobreza. Sem explicação.

Até hoje eu presto minha homenagem aos grandes e raros professores que passaram na minha vida, do maternal ao mestrado, simplesmente me lembrando deles com carinho e gratidão. Sem eles, eu seria muito menos, eu nem sei se seria.

Mas a homenagem inversa também acontece, e é bonita de se ver: uma aula bem dada, conhecimento derramando da alma, brilho nos olhos, paixão por ensinar, mesmo nas condições mais árduas e difíceis; habilidades emocionais, valores humanos e éticos, responsabilidade importante de quem está formando gente. Gente de carne e osso, que com uma arma ou caneta pode mudar o mundo. Ah, são tantas as formas de se homenagear um aluno.

Pense num professor de matemática sério, compenetrado, competente. Eu morria de medo dele, mas na verdade não era dele, e sim de todas aquelas somas, subtrações, raízes quadradas, desde sempre meu ponto fraco. Quanto reforço, quanta labuta em cima dos livros, quanta tentação em trocar a aritmética pela poesia. Olhava para os números e minha vontade era de transformá-los em palavras, tão mais simples no meu entendimento. Mais de 20 anos depois, reencontro meu querido Professor Dalmir no facebook, leitor assíduo dos meus textos, da minha vida tão “aportuguesada”, tão minimamente matemática (já era de se esperar).

Um dia fui surpreendida por uma mensagem dele inbox, que me emocionou:

“- Bom dia, Renata. Adoro suas crônicas, suas histórias, suas mensagens. Será que um dia você poderia nos presentear com uma crônica sobre os nossos tempos de Pitágoras? Sinto saudades dos meus queridos alunos, das aulas de Matemática, dos momentos curiosos e muitas vezes engraçados. Mas, principalmente do respeito que sempre houve entre todos nós: alunos e professores. Hoje percebo que acima de tudo fomos e continuamos amigos. A distância não conseguiu apagar a amizade, o respeito e o carinho que sempre existiu na sala de aula. Na época talvez não percebíamos isso, mas hoje o tempo ensinou que foram momentos lindos, momentos maravilhosos que Deus nos proporcionou e que nos ajudou para o nosso crescimento.Todos aprendemos uns com os outros. Que Deus te abençoe sempre.”

Ah, Professor Dalmir, quem nos presenteia é você, não preciso escrever mais nada.

Ao professor de matemática mais humano que eu já vi na minha vida, e a todos os mestres que sabem como ninguém prestar  tributos memoráveis aos seus alunos, meu carinho e eterno muito obrigada.

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<![CDATA[Quero ser Peter Pan quando crescer]]>https://rfeldman.web.app/vou-ser-peter-pan-quando-crescer/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff02Sat, 11 Oct 2014 21:56:19 GMTQuero ser Peter Pan quando crescer

Quero ser Peter Pan quando crescer

Tenho escutado algumas crianças dizerem que não querem crescer.

Às voltas com suas bolas, mochilas, bonecas, cadernos, patins, pelúcias, boletins e aviões de lego, vão aprendendo desde cedo que essa história de virar gente grande  não é brincadeira.

Fico me indagando o porquê desta síndrome de Peter Pan, primeira talvez de muitas angústias existenciais que ainda virão pela frente. Fadas, piratas, crianças de pijama voando em um céu estrelado; bala, chicletes, pirulito, jujuba; colo, aconchego, livro de história, guerra de travesseiros. Hum. Extremamente tentador esse  universo infantil, você que já teve infância é que o diga.

Mas talvez a dificuldade dos nossos pequenos Peter Pans não esteja apenas em largar mão de suas fantasias, do seu lúdico e convidativo oceano de aventuras. É que eles andam virando gente grande rápido demais. Agenda cheia, horários apertados,  “minivestibulandos” a caminho do sucesso, para-casas intermináveis, aulas de robótica, “um dois, feijão com arroz.” Sobra pouco tempo para ser criança. Sobra angústia de crescer antes da hora.

Talvez eles olhem para o lado, no sofá, e vejam naqueles em quem mais amam um modelo de gente grande bastante atarefada de ser: sempre correndo, um olho no relógio e outro vidrado no celular, gravata apertando o pescoço, atraso na porta da escola, cansaço estampado no rosto. Crescer para ficar assim? “Profissão Peter Pan”, sem discussão.

Talvez vivam numa bolha, superprotegidos por mães que não os deixam crescer. Aprisionadas pelo medo, controle,  trauma e a emoções trancadas, acabam aprisionando seus filhos também, cortando suas asas cada vez que eles ameaçam se aproximar das estrelas. Cadê você, Peter Pan,  quero voar.

Parênteses para um outro lado triste e sombrio de uma infância em preto e branco: crianças sem arroz nem feijão, mas bem familiarizadas com as balas, chicletes e jujubas que tem de vender no sinal de trânsito.  Sinal vermelho, infância vazia, se pudessem esses Meninos Perdidos também voariam para a Terra do Nunca.

E aí vem a vida para mostrar que o tic-tac do relógio faz sentido, faz presença, mesmo que às vezes nos engula, como fez o crocodilo com o Capitão Gancho. O tempo passa, as crianças crescem, os primeiros fios de bigode aparecem e as meninas entram para o rol da clássica propaganda “O primeiro sutiã a gente nunca esquece.” Perdem a infância e ganham novos espaços, estações, lugares no mundo. Ainda bem.

Crescer dói, mas faz parte e é de uma lindeza danada. Você não precisa virar Peter Pan nem congelar o tempo, mas pode cuidar para sempre dessa criança adormecida aí no peito. Tem hora que ela acorda. Tem hora que ela chora. Tem hora que faz pirraça, sapateia, pede colo. E ainda assim é a criança mais linda que você já viu na vida. Foi lá, bem lá, onde tudo começou um dia. Lá na noite mais estrelada do seu “era uma vez”.

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<![CDATA[Gosto amargo]]>https://rfeldman.web.app/gosto-amargo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017aff01Thu, 02 Oct 2014 14:26:04 GMTGosto amargo

 

Gosto amargoGosto amargo

Quando você vê já foi. Falou o que não devia, saiu do eixo, amargou boas palavras na boca, o suficiente para azedar seu dia.

Vai um pouquinho de jiló aí? Meia-dúzia de limão capeta? Ou prefere uma lambreta, pra sumir de vez por esse mundão afora? Que fora.

Não perdeu nada por ficar calado, é o que diria a sua avó.

Agora já era. Ainda não inventaram o “verboshop”, sinto lhe dizer.  Não tem jeito de consertar, voltar a fita, retocar o borrado. Borrou.

Mas também não vai adiantar ficar aí chorando sobre o leite derramado.  Jiló, leite, limão, essa mistura não tá nada boa.

#prontofalou, fazer o quê?

Faz nada. Só pensa, matuta, espera, vê de longe o tamanho do estrago e lembra que você também é filho de Deus. Pra lá de imperfeito.

Por algum motivo você precisava pôr pra fora. Desabafar. Expurgar. Chorar o que andava doendo aí dentro. De repente foi sua sombra que resolveu dar uma voltinha lá fora. Ou vai me dizer que você é só sol o tempo todo? Tem direito a  relâmpagos e rajadas de vento também.

Aproveita o calor e esfria a cabeça. Toma uma ducha gelada. Um mergulho em alto-mar. Um balde cheio de gelo. Chicletinho da hora pra tirar esse gosto amargo da boca.

Se o “desastre” valeu um cadinho de reflexão e aprendizado pra alguma coisa, tá valendo. Tá crescendo. A melhor parte é perceber que no dia seguinte tudo pode ser diferente, se você quiser.

Vai lá e pede colo, arrego, perdão. Ou não faz nada disso, se não achar que deve. Mas mostra pelo seu olhar o tanto de amor que carrega aí dentro – um amor que vale mais do que mil palavras, mesmo as mais amargas e indigestas.

Pega o leite que não derramou, mergulha em morangos frescos, bate no liquidificador e prepara aquela vitamina.

Que esta seja a sua sina.

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<![CDATA[Não vou só]]>https://rfeldman.web.app/nao-vou/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeffThu, 25 Sep 2014 22:06:32 GMTNão vou só

Não vou só

Arrumo as malas. Desarrumo a rotina. Fim de semana em São Paulo, chuva, frio, é o que diz a meteorologia.

Junto às peças de roupas ajeito livros, bloco de anotação e bonecos Playmobil, um dos requisitos para o curso de Constelação Familiar.

Vou combinando as cores e pensando nos meus amores. Três dias eu lá, eles cá. Fim de semana atípico esse. Misto de ansiedade, alegria, saudade.

Deixo bilhetes de despedida, me dou em mil abraços, me vou (voo) com a energia de um mergulhador a descobrir as profundezas do mar.

Mas quem diz que vou só?

Mãe que é mãe dependura no pescoço suas carinhas de ouro, carrega o celular de fotos e vai mandando what’s ups pelo caminho.

Já no aeroporto,  na fila do raio-x, vou dando pequenos passos e lendo “No centro sentimos leveza”, de Bert Hellinger. Minha leitura é interrompida por um universal e inconfundível “mããe…”. Por pouco não respondo, acostumada que estou a essa palavra tão dita e repetida tantas vezes por dia, podia jurar que era o Léo me chamando.

Voo tranquilo, vou deixando minhas montanhas pra trás.

No hotel, a alegria de rever amigas de uma mesma e longa jornada. Vamos almoçar e a cumplicidade se estende para os causos, novidades, trocas de um sabor especial.

Faz frio, acertou a meteorologia. Visto a jaqueta e vejo que um dos bolsos – o esquerdo – está cheio. Enfio a mão e qual minha surpresa: tiro de lá uma calcinha azul turquesa da Hello Kit. (Risos, muitos risos.) Será que foi a Bella que fez essa graça ou fui eu – mãe com mil coisas na cabeça – que acabou trocando a gaveta pelo bolso? “Freud explica.”

E assim seguimos nossa toada, alunos compenetrados e cheios de vontade, deixando que algo maior nos tome. Estou longe de casa e ao mesmo tempo tão perto. Imersa nas leis de amor, na grandeza que vem do pai, da mãe, da força que atua em um casal e se derrama sobre os filhos como água benta. Sagrada.

Mais um intervalo para o almoço, tempo contadinho, seguimos para um delicioso bistrô perto do hotel. Comida divina, lugar inspirador, pedacinho da França em pleno Jardins. E adivinha quem também está lá? Marieta Severo, linda e elegante, mais jovem do que nunca, acompanhada de um homem “nada global, bem de carne e osso”. Olho pra ela e escuto Chico Buarque. Olho para ela e vejo a simpática “Nenê” de “A Grande Família”.

É. Está mesmo tudo conectado.

O curso termina mas também continua dentro de mim. De volta pra casa, de volta ao trabalho, hora de desarrumar as malas.

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<![CDATA[Para-casa]]>https://rfeldman.web.app/poder/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afefeFri, 12 Sep 2014 10:16:39 GMTPara-casa

Para-casaOntem a Bella ganhou um carinhoso puxão de orelha da professora porque entregou o dever incompleto e teve que fazer no recreio.  Ela e de tabela a mãe da pequena, claro, onde é que já se viu deixar a menina ir pra a escola faltando uma página inteira do para-casa? Ah, essas mães imperfeitas…

– Muito bem, Dona Bella. Vamos fazer desse limão uma limonada. Docinha, com leite condensado e canudinho colorido saltando do copo.

– Como assim?

– Assim, ué. Fazendo o dever de hoje no capricho. Completinho, lápis apontadíssimo, colorido bacana. Pense que este vai ser o melhor para-casa da sua vida.

– Mãe, eu não sou Deus.

– ?!

– Eu não tenho esse poder.

– Ah, mas tem sim, Bella, claro que tem. Você ainda não tem o poder de construir um prédio, operar um cachorro ou cuidar dos dentes do seu irmão. Mas fazer o melhor para-casa da sua vida, ah, isso você pode. E que Deus te ilumine lá de cima.

……………………………………………………………………………………

Indo do ensino fundamental ao “ensino de vida inteira”, fico pensando nos singelos (e também complexos) para-casas nossos de cada dia.

O que você tem feito ou deixado de fazer? Quantas folhas em branco, livros empoeirados, listas a ticar, projetos parados na gaveta? Quantos puxões de orelha  você tem levado de você mesmo, sem dó nem perdão? Aquele sonho. Aquele dom. Seus novelos de lã. Aquela pendenga pra resolver. Aquele exame de coração que você não marcou até hoje. Aquele armário cheio de coisas pra jogar fora. Aquela conversa séria que você vem adiando há tempos.

A quantas anda seu poder, sua capacidade mais linda de realização?

Você não é Deus e nem tem que ser, mas pode transformar o seu mundo se quiser.

Tem que ter fé. Tem que botar emoção. Tem que escrever cem vezes no caderno a palavra REALIZAÇÃO. Tem que fazer bonito, como só você sabe fazer. O melhor para-casa da sua vida, lembra? Você tem esse poder.

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<![CDATA[Diga a ela para ficar]]>https://rfeldman.web.app/diga-a-ela-para-ficar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afefcThu, 04 Sep 2014 11:48:45 GMTDiga a ela para ficar

Diga a ela para ficar

Se o gênio da lâmpada aparecesse  na sua frente, o que você iria pedir? Três desejos, pense rápido, este pode ser seu dia de glória.

Um namorado? Um emprego novo? Uma viagem sem volta para a Toscana? Um carro, um barco à vela, um cargo de presidente? Um filho, um cachorro, um cartão premiado ?

E se você me disser: não, Renata, eu quero tão menos, tão pouco, tão abstrato. Quero um pouco de paz para dormir tranquilo; um tanto de amor para encher os olhos de estrelas. Quero regar meu coração de alegria, leveza, entusiasmo, harmonia, essas coisas simples e ao mesmo tempo tão preciosas.

Nobreza linda essa que envolve os sentimentos da gente. De uma boniteza só.

E aí alguém te lembra que gênios da lâmpada já não aparecem há muito tempo, a não ser nas histórias de Aladim. E que sejam os seus desejos simples ou grandiosos, há de se batalhar por eles. Deixar de sonhar nunca e – enquanto se sonha, labutar para ver a realização acontecer. Uma hora ela acontece, pode acreditar.

Vejo pessoas chorando de 50 em 50 minutos à minha frente. Mas também vejo pessoas sorrindo, que a duras penas (eu é que sei) transmutaram dor em felicidade, essa palavra tão difícil de definir e simples de sentir.  Sem lâmpada empoeirada ou ilusões rasas foram à luta, fizeram seu dever de casa, olharam para dentro sem medo do que iriam encontrar. E olha que viram de tudo um pouco – monstros, fantasmas, minhocas em cativeiro, abismos e despenhadeiros, traumas de infância, imensos vazios existenciais. Parece ficção científica mas é vida, simplesmente essa nossa vida, corajosos daqueles que olham pra dentro. Só assim a gente consegue esvaziar as gavetas entulhadas, lavar a alma e seguir em frente dando as mãos para a transformação que gentilmente nos convida a caminhar. Mais leves, mais plenos, mais inteiros e donos de si. Sim.

Paradoxalmente, as mesmas pessoas que vejo  sorrindo por terem finalmente aprendido a lidar com os seus conflitos, costumam ainda temer que a felicidade lhes escape, que amanhã bem cedo sejam surpreendidas por uma notícia ruim, um abalo sísmico qualquer. Parecem inverter o  ditado, acreditando que depois da bonança é que vem a tempestade.

Não, meu caro. Depois da bonança vem a confiança, a gratidão, a emoção de merecer cada gota de felicidade. Pode até ser que o tempo mude, não sei. A vida é feita de ciclos, não há garantia de tempo bom o tempo todo. Mas não é porque você conquistou um lugar ao sol que ele tem que ir embora, logo agora.

Quando a realização chegar, é hora de acolher com delicadeza cada um dos sentimentos nobres que o seu coração pediu lá em cima, apropriando-se com alegria de cada um deles. Sem medo de perder o que você custou a ganhar. Sem alimentar as minhocas que insistem em deslizar na sua cabeça, espaçosamente.

Quando a felicidade aconchegadamente se aninhar, diga a ela para ficar.

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<![CDATA[Pão, cerveja e sobrancelha]]>https://rfeldman.web.app/pao-cerveja-e-sobrancelha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afefbWed, 27 Aug 2014 22:20:25 GMTPão, cerveja e sobrancelha

Pão, cerveja e sobrancelha Pão, cerveja e sobrancelha

Fiquei amiga da Cidinha no facebook, fruto de conexões afetivas muito além do mundo virtual. Veio “apresentada” por sua  irmã Selma, mãe e sogra de amigos especiais, vó de netos que viraram sobrinhos,  querida de muitos encontros, viagens, prosa compartilhada com biscoito de queijo e brigadeiro de colher.

E foi num desses encontros – uma animada festa junina para comemorar o aniversário do marido e do neto – que conheci a irmã, Cidinha, ao vivo e em cores (muito melhor do que na tela do computador).  Durante um tempo a fiquei observando, achando a coisa mais linda aquela cena. Ela não meu viu, estava de olhos fechados, muitíssimo ocupada. Ao som de um forró arretado, dançava coladinha no marido, Bizuca como é chamado, completamente entregue ao momento, à música, ao calorzinho daquele frio junino, quase em alfa minha amiga Cidinha. Encantada.

Como um encontro puxa o outro, tivemos a alegria de passar um feriado com eles na fazenda onde mora o casal, no famoso Cafofo. Sempre achei que este fosse apenas um apelido carinhoso, farra gostosa embolada num aconchego bom, mas tive a surpresa de ver na estrada uma placa indicando o lugar. Sim, Cafofo é um pequeno povoado perto de Itapecerica, tesouro precioso da nossa Minas Gerais, só pelo nome você já imagina. Ninho de passarinho na varanda do quarto, quaresmeira rosa beijando o chão, riacho com piaba para pescador mirim, umbigo de banana para principiantes, frutas exóticas do cerrado, leite ao pé da vaca,  geleia de morango “de verdade”,  friozinho abençoado, vinho pra brindar a amizade, causos pra chorar de rir e uma comilança que não tem explicação. (O arroz doce da Cidinha simplesmente tinha que ir parar no Guinness Book.)

Mas o melhor (tem jeito?!) ainda estava por vir. Descobrimos que o Bizuca, além de ótimo parceiro de dança, ainda por cima é “prendado”. Faz pão, faz cerveja (com e sem glúten, tá servido?), faz chocolate com cacau que ele mesmo planta, faz a mulher feliz que é uma beleza, bem-casados que são há mais de 40 anos.

E eu lá, toda admirada, exclamando só para confirmar:

– Gente, mas esse Bizuca é um talento, Cidinha. Faz pão, faz cerveja…

– Faz até minha sobrancelha, Renata.

(Risos, risos e mais risos, “momento desopilar o fígado”.)

E continuou ela, na espontaneidade “cafofiniana” de ser:

– Só que da última vez eu pedi pra ele usar a tesourinha e ele usou o barbeador.

(!…)

Mais risos, mais curtição, mais copos fazendo tintim, mais azeite molhando o pão, essas coisas simples e incrivelmente gostosas de compartilhar.

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<![CDATA[Quando nos falta o chão]]>https://rfeldman.web.app/quando-nos-falta-o-chao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afefaSun, 17 Aug 2014 21:37:36 GMT

pssaro chao

Já nos ensinaram tanto nessa vida – matemática, gramática, história, geografia.

Somos P.h.Ds em física, química, biologia. Especialistas em gente, máquina, política, poesia. E ainda assim não conseguimos entender, por mais que nos expliquem, por mais que esclareçam e ratifiquem, a razão que atravessa uma tragédia.

Cai o avião, caímos todos nós.

Abram a caixa preta, chamem a imprensa, o papa, Deus pelo amor de Deus.

Por quê? Por quê? Por quê?

Falha humana, falha técnica, tempestade, desvio de rota, rachada de vento.

Choro, luto, dor, lamento.

Pelos que se foram  no susto, no rompante de uma queda, no vazio doloroso de um dó sustenido.

Pelos que ficaram no abalo, no abismo, no limo, cratera aberta no coração rasgado de dor. Torpor.

Estado de choque, estado de sítio, condições anormais de temperatura e pressão. Máscaras de oxigênio, pelo amor de Deus.

Choramos pelos que se foram e por nós que permanecemos, sem entender ou dizer adeus, arremetidos que somos à nossa condição de finitude. A qualquer hora podemos ir, a qualquer hora podemos não estar mais aqui. A efemeridade  da vida é devastadora, daria uma aula inteira de filosofia sem data para acabar, me perdoe o paradoxo.

Já aprendemos tanto nessa vida. Tanta lógica, tantas fórmulas, tantos livros e diplomas.

Mas em matéria de tragédias ainda tomamos bomba. Passamos mal, deixamos as questões em branco, ficamos sem respostas diante de prova tão difícil.

Só mesmo um Professor, com sua grandeza e olhar de pai, eterno nas suas lições de amor, para nos levantar do chão.

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<![CDATA[Chocolices]]>https://rfeldman.web.app/chocolices/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef9Tue, 12 Aug 2014 11:27:22 GMTChocolices

ChocolicesChocolices

E aí o irmão mais velho resolve ajudar a caçulinha no para-casa.

A mãe sai para o trabalho e deixa as recomendações:

– Nada de fazer para ela ou corrigir, Léo, apenas oriente em caso de dúvidas.

Dito e feito. Chego em casa e peço para ver o caderno.

A instrução, entre outras, era a seguinte: “Escreva uma lista de cinco palavras que comecem com CH.”

A letra mais bonitinha do mundo listava cheiro, choro, chá, chamar, chocólatra.

– “Chocólatra? E você sabe o que significa essa palavra, Bebella?”

Com aquele jeito matreiro, sapeca, delicioso de quem está descobrindo o mundo, a pequena desvia o olhar para o irmão e se rende:

– O que que é chocólatra, Léo?

– É a mamãe.

……………………………………………

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<![CDATA[Pequenos infartos]]>https://rfeldman.web.app/pequenosinfartos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef8Thu, 07 Aug 2014 18:32:43 GMTPequenos infartos

Pequenos infartos
A gente morre um pouco cada dia. Sem ritual fúnebre, certidão de óbito ou despedida, vamos partindo aos poucos, sem perceber, sem dizer adeus.

A Deus (e também aos seus pais, sua família, sua memória afetiva) pertence o menino que você foi um dia. Doce, espevitado, olhos brilhando assim que anunciava o dia: “O céu tá azulzinho. Vamos brincar?” Hoje, o céu mal azulou você já está dando nó na gravata, com a responsabilidade de quem sabe que a vida não é brincadeira.

A Deus (e cia) pertence a menina que você foi um dia. Sapeca, tagarela, serelepe, bailarina. Hoje corre, sapateia, chora, dá nó na garganta, silencia, um tanto de ginástica olímpica e malabarismo.

A gente morre um pouco quando perde as estribeiras, o gol da vitória, o emprego dos sonhos, o caminho de casa.

Morre quando enterra o amor de toda uma vida, a esperança de mudança, a alegria de viver. Réquiem de Mozart em ré menor.

Morre de susto, de medo, de amor, de fome, de sede. Um copo d´água, por favor.

Morre de rir, de sentir, de sofrer, de partir. Bota-fora de si.

Morre um tanto imenso, profundamente doloroso e denso, quando alguém querido se vai pra nunca mais voltar.

E aí vem a vida e nos convoca a continuar, apesar de. Chama a ambulância, grita por socorro, faz massagem cardiorrespiratória, convoca os anjos para uma reunião extraordinária. Ária para orquestra, Johann Sebastian Bach. Música para alimentar a alma, já tão desnutrida.

A gente também nasce um pouco cada dia, e esse pouco pode se transformar em muito. O coração para e volta a bater, adormece pra depois acordar, tira folga pra depois trabalhar.

Num impulso de vida, de volta pra lida, se enche de oxigênio, sol, esperança, afeto, certeza, infância.

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<![CDATA[Preciosidade]]>https://rfeldman.web.app/preciosidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef7Sun, 03 Aug 2014 19:09:14 GMTPreciosidade

Preciosidade Ser mãe é ser um pouco maratonista, eu sei. Tanta correria, tantos afazeres, múltiplas tarefas entre trabalho braçal e educacional. Vacina, dentista, para-casa, quarto bagunçado, agasalho, dor de barriga, banho, bons modos, legumes, coleguinha.

Aí chega o fim do dia, hora de de contar histórias e aquietar o cansaço, contar estrelas e olhar nos olhos, fazer cosquinha e dar gargalhada. Hora de deitar juntinho e completar a mais importante de todas as tarefas: abençoar seu filho sem que ele precise te pedir bênção. Simples assim, como o momento-conversinha que costumo ter diariamente com a Bella e que essa semana acabou em riso:

– Bella, você é minha flor.

– Mamãe, você é minha estrela.

– Bebella, você é meu tesouro.

– Mamãe, você é meu amor.

– Bella, Você é minha joaninha.

– Mamãe, você é meu bem-te-vi.

– Bebella, você é minha princesa.

– Mamãe, você é minha rainha.

– Bebella, você é meu raio de sol.

– Mamãe, você é minha lua.

– Bella, você é minha poesia.

– Mamãe, você é meu dinheiro.
…………………………………………………

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<![CDATA[AniverGalo]]>https://rfeldman.web.app/passou-em-preto-e-branco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef6Mon, 28 Jul 2014 23:38:01 GMTAniverGalo

AniverGaloAniverGalo

Imagine uma grande festa de aniversário.

Sessenta mil convidados, todos absolutamente confirmados.

Traje clássico-esportivo, pretinho básico indefectível mesclado com traços de branco.

Horário: 22 horas, com previsão de término entre meia-noite e uma da manhã.

Data: 23 de julho, quarta-feira.

Local: Estádio Governador Magalhães Pinto, Mineirão.

Aniversariante: meu marido, um inveterado apaixonado pelo Galo, paixão de longa data.

Menu: autêntico tropeiro e torta de coco de sobremesa com 44 velas acesas. O pedido? Adivinha.

E eu, que nunca tinha ido ao campo (a não ser para fazer um trabalho de antropologia cultural, de costas pro jogo e bloquinho na mão registrando a expressão da torcida, como já contei por aqui) fui a primeira a aderir à  grandiosa e peculiar comemoração. Galoooooo!

Eu, que sempre amei gente mas nunca gostei de multidão, futebol, confusão, acabei entrando no clima. (Aniversário é causa nobre, especialmente de quem, iria até pra lua se preciso.)

E foi aí que eu entendi essa paixão que tem hino, torcida e escudo estampado no lado esquerdo do peito. Ainda dentro da van eu via pela janela um grande contingente preto e branco caminhando com euforia em direção ao estádio, bandeira protegendo as costas, friozinho de 13 graus contrastando com muito calor humano. Naquela noite éramos todos iguais. Todos um mesmo sonho, um mesmo uniforme, um mesmo ideal, uma mesma raça, energia e vontade. Unanimamente atleticanos, simplesmente. Uma forte sensação de cumplicidade e pertencimento correndo nas veias.

Explodindo no céu, fogos de artifício desejavam boas-vindas, bom jogo, Feliz Ano Novo, parabéns pra você. Meus filhos não sabiam se estavam no Mineirão ou na Disney. Minha sogra fazia de conta que a dor crônica no joelho não passava de ficção científica;  o que uma mãe não faz por um filho? Minhas cunhadas não cabiam em si de felicidade, uma delas bem-acompanhada pelo marido cruzeirense, nunca vi cunhado tão amoroso e desprendido.

Quando finalmente adentramos o estádio pelo portão D e acessamos a arquibancada, mais emoção. Sabe mineiro vendo o mar pelo primeira vez? Foi assim que eu me senti diante daquele gramado verdinho, gigante, ao vivo e em cores, tão mais bonito e de verdade que na televisão.

Eu, que escuto a palavra sofrimento várias vezes por dia no meu ofício, confirmei o quanto ele ganha força coletiva elevada ao quadrado num jogo do Galo. Vi marmanjo roendo as unhas, mulher borrando a maquiagem, criança perdendo o sorriso nos 48 minutos do segundo tempo. Sofri.

Mas como tudo na vida vira, veio a prorrogação como presente: dois gols redondinhos  pra entrar na história, pra fazer bonito, pra cantar alto esse hino de raça e amor.

Nem preciso dizer que o fim da festa foi só o começo.

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<![CDATA[Para Rubem Alves]]>https://rfeldman.web.app/para-rubem-alves/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef5Fri, 25 Jul 2014 15:48:03 GMTPara Rubem Alves

Para Rubem Alves

Ipê amarelo virou poeta.

Acolheu versos, palavras, pensamento,

ensinamento raro em tenra idade.

Floresceu sina, encanto, vida.

Ganhou canto de bem-te-vi,

suspiro de beija-flor,

alma transbordante de amor.

Impossível não descansar em paz na sombra deste ipê

que agora floresce Rubem Alves.

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<![CDATA[Autoestima infantil]]>https://rfeldman.web.app/autoestima-infantil/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef4Mon, 14 Jul 2014 23:03:11 GMTAutoestima infantil

Autoestima infantil

Autoestima infantilChego em casa do trabalho e vejo uma Bella toda serelepe na cozinha, avental e touca, derretendo dois bombons sob o olhar atento da minha ajudante.

– Hummm!… Que moda é essa que você está inventando,  Bebella?

– Tô derretendo chocolate pra comer com fruta, mamãe; manga, morango e uva, igual ao que a vovó faz. Quero fazer uma surpresa pro Léo.

E lá fomos nós improvisar um delicioso fondue de chocolate preparado pela minha querida minigourmet.

– Nossa, Bella, você está se saindo uma cozinheira de mão cheia! Parabéns, ficou uma delícia!

– Brigada, mamãe, também adorei. Fiquei fã de mim mesma.

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<![CDATA[Um minuto de silêncio]]>https://rfeldman.web.app/um-minuto-de-silencio/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef3Thu, 03 Jul 2014 10:49:58 GMTUm minuto de silêncio

Um minuto de silêncio Pelos meninos que não foram trazidos de volta. Pela violência descabida, sem fronteira, fonte de tanta dor. Pela orfandade invertida, infinita, desmedida, que não se mensura. (Surra.) Pela alegria que jaz. Pela esperança de uma trégua permanente de paz.

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<![CDATA[O batom, o bode e o mico]]>https://rfeldman.web.app/o-batom-o-bode-e-o-mico/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef2Tue, 01 Jul 2014 19:57:17 GMTO batom, o bode e o mico

O batom, o bode e o mico

Você descobre que o seu filho não é mais criança quando se despede dele com um beijo na porta da escola e escuta invariavelmente a mesma pergunta, seguida de um esfregão na bochecha: “Você está de batom?”.

Você descobre que o seu menininho saiu do diminutivo faz tempo quando ele passa a dividir as meias com o pai e as queixas com a mãe: “Essa bermuda cheia de desenhinho eu não vou usar. Muito menos pijama que brilha no escuro.”

Bem-vinda adolescência, com todas as suas espinhas, exigências e alterações hormonais, o que não dizer das emocionais. O gosto muda, o paladar altera, a voz desafina e os publicitários ganham um novo e interessante público-alvo.

Eu que sempre gostei de registrar as perolices do Léo e da Bella, não poderia deixar de contar aqui (com a estrita autorização dele, vale ressaltar) um episódio que acabou em riso e história pra contar.

No último final de semana ele foi dormir na casa de um amigo e eu fui ajudá-lo a fazer a mochila, com esses olhos de mãe que não deixam faltar itens básicos como escova de dente e fio dental. Na hora de  pegar o pijama, escolhi logo um novinho que comprei conforme manda o figurino: nada de brilho no escuro e desenhinhos infantis: apenas uma blusa lisa e a calça com minibúfalos (bem discretos, vale lembrar), a loja simplesmente não tinha a opção “exclusivo para adolescentes”.

Rá. Não demorou para a polêmica ser instalada:

– Mãe, com esse pijama eu não vou.

– Por quê, Léo? Qual o problema ?!

– O problema é que eu vou pagar mico.

– Mico?! Esse pijama nem brilha no escuro…

– Não brilha no escuro mas tá cheio de bode.

– Que bode, Léo, isso é búfalo, quase de adulto esse pijama!

E aí ele trocou calmamente o dito pijama por um bem antiguinho, cinza de listras, deu um sorriso matreiro de quem sabe o que quer e terminou a conversa desse jeito:

– Mãe, se atualiza.

Depois dessa eu fui. Me atualizar na vida, como ele disse. Aproveitei o ensejo para atualizar também um tanto de cosquinha, beijo, abraço, riso. E aproveitei pra remedar o meu recém-adolescente quando disse a ele que estava passando da hora de tomar banho:

– Léo, se atualiza.

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<![CDATA[Grito de gol]]>https://rfeldman.web.app/grito-de-gol/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afef0Tue, 24 Jun 2014 19:20:29 GMTGrito de gol

Grito de gol

Parece simples.

Uma bola, uma rede, um par de asas no pé.

Vai lá e faz.

Voa, faz bonito, faz sentido, faz um estádio inteiro tremer com um grito contagiante de gol.

Não é tão simples quanto parece. Carece de garra, raça, determinação, talento, prece. Muito além de estratégia e técnica, me desculpem os especialistas.

E porque não é fácil a gente sua a camisa. Sofre. Chora. Perde a voz mas não perde a batalha.

E porque não é fácil a adrenalina sobe, o coração bate forte, a vitória vira abraço.

Qualquer semelhança com a sua vida não é mera coincidência. Sua correria, seu dia-a-dia, sua labuta, seus tiros de meta. Seu sonho, sua insônia, seu trabalho, seu suor sagrado. Sua paixão, sua bandeira, seu hino, sua emoção de realização.

Quantas vezes você tentou acertar e errou? Quantas vezes a bola bateu na trave e não entrou? Quantos cartões vermelhos, quantas faltas e prorrogações doídas você já viveu?

Ninguém te disse que seria fácil, meu craque.

E é aí que você veste a camisa e vai. Segue em frente, cabeça erguida, sonho no peito e asas no pé, cordas vocais vibrando com esse grito.

Vai voar porque a torcida é grande, o sonho é possível,  acreditar é verbo intransitivo. Vai.

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<![CDATA[Desconectados]]>https://rfeldman.web.app/desconectados/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeeeMon, 16 Jun 2014 23:08:32 GMT
Desconectados

Desconectados

“Amo você.”

“Mande notícias.”

“Estou com saudade.”

“Como foi a prova?”

Merece um prêmio quem inventou o celular. Além de falar, o bichinho ainda escreve, fotografa, reúne os amigos, prevê o tempo, chama pra jantar e faz declaração de amor.  No meu caso, ainda agenda e cancela horários, divulga cursos,  publica comentários no blog, dá recados como ninguém: uma senhora secretária.

Viva a tecnologia e todos os seus instigantes recursos comunicativos, integradores, convergentes, aproximativos, revolucionários. Ai de mim sem o celular.

Mas o danado  parece ter virado extensão de gente. Virou presença indispensável, viciante no restaurante, no clube, na praia, na escola, no trânsito e muitos etceteras mais.

Você já deve ter visto (se não vivido, fale a verdade) esta cena antes: almoço de domingo, família reunida, crianças brincando isoladamente entretidas com o seu game favorito.

Jantarzinho à luz de velas, flores enfeitando a mesa, um lindo casal e nada de olhos nos olhos. Parecem mesmo apaixonados é pelo que vêem cada qual na sua telinha. “Cada um no seu quadrado.”

Se preferir uma cena menos romântica, vamos ao boteco. “Ok, você venceu, batata frita.” Enquanto o chope gelado não chega, a relação esfria sem que o casal se dê conta, absortos que estão os dois com seus distintos amigos virtuais. O que era para ser um almoço a dois vira uma silenciosa confraternização a quatro, cinco, quando não uma ruidosa reunião de família sonorizada por alegres apitos. Se as crianças fazem parte do programa, perigo na certa: outro dia presenciei um pai e uma mãe que não desgrudavam o olho do celular enquanto a filha de aproximadamente três anos se divertia com a faca, o primeiro brinquedinho que viu pela frente.  “Garçon, a conta.”

Hora do rush, trânsito atrapalhado, namorado resolve mandar  mensagem pra namorada e “crush” (nada “candy”) no carro da frente.

Mãe saindo da natação com a filha: ao invés de dar a mão para a pequena, a moça segura firme o celular enquanto vai deslizando absorta o dedo na tela, mergulhada talvez no Facebook, WhatsApp,  talvez um e-mail urgente. Nem vê o tombo que a menina leva, solta soltinha no mundo. What’s up?!

Os conectadíssimos de plantão que me desculpem, mas está ficando deselegante. Está ficando desagradável, preocupante. Está ficando um tanto quanto sem noção, sem etiqueta, sem limite. Já virou transtorno psíquico e está enchendo as clínicas. Tem gente precisando de tratamento.

O uso exagerado dessas tecnologias já entrou no rol do patológico, do excesso que vicia, do fracasso escolar e do enfraquecimento das relações afetivas, me desculpe se estou sendo desmancha-prazeres. “Aprecie com moderação”, desafio os publicitários a criarem um novo jargão nas suas campanhas de conscientização. Divulguem nas redes socias, o retorno será certo. Sugestão de slogan: “Tudo o que conecta desconecta.”

Com todo o respeito à inteligência e “mil e uma utilidades” dos mais smarts dos smarts, deixo registrado aqui meu tributo à vida ( “é  bonita, é bonita e é bonita”) ao vivo e em cores, com tudo de mais genuíno que ela provê – toque, cheiro, abraço, emoção, mãos dadas, olhos nos olhos, riso, rio,  carpe diem, “como foi seu dia?”, conversa jogada fora, sintonia boa, brincadeira de criança,  sol nascendo, sol morrendo, banho de chuva pra recarregar as baterias,  tintim fazendo estalo, amizade fazendo todo o sentido.

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<![CDATA[Mudanças]]>https://rfeldman.web.app/mudancas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeedTue, 10 Jun 2014 22:25:03 GMTMudanças

Mudanças

Todo mundo muda, é fato. Desde o primeiro minuto de vida, desde sempre, ninguém permanece o mesmo.

Pegue um espelho. Abra um álbum de fotografias. Arrume a mala. Invente o roteiro. Converse com um amigo de infância. Volte no tempo. Sopre velas. Aposente as  ideias que não servem mais. Encha a cabeça de  fios brancos. Vire borboleta e saia voando por aí.

Cada um à sua maneira. No seu tempo. Sem correria ou eira nem beira. Num suspiro. Num susto. Num lampejo de poesia, num insight no meio da noite, num buquê apanhado sem querer, todo mundo muda um dia. De sempre em sempre, de vento em popa,  aos trancos e barrancos tem hora.

Você pode mudar de planos, de caminho, de casa, de corte de cabelo. Mas as mudanças mais profundas é que são elas. Ai, chegam a doer. Chegam a romper as coronárias e causam paraplegia na alma. Um casamento desfeito. O quarto vazio de um filho. “Você está demitido”.  Doença intrusa arrombando a porta. E tantas mais perdas, tão dolorosamente encontradas dentro de nós, eis nossa grande porção de humanidade. Ai. E é nessas horas que a gente se transforma indelével e irrefutavelmente. Toda mudança acarreta crescimento e dor, sempre gostei de repetir esta frase. E o crescimento deixa marcas na alma, patente registrada de um aprendizado que não se aprende na escola.

Fora as mudanças mais violentas e dolorosas, restam ainda aquelas que você insiste em  fabricar no outro, como se pudesse entrar dentro dele e mudar toda uma programação apertando ou apagando botões. “Como ele poderia ser mais romântico”. “Como ela poderia me entender mais.” “Como ele poderia ser mais flexível”. “Como ela poderia ser menos controladora”. E por aí vai.

A má notícia, se quer mesmo saber, é que você não vai conseguir mudar ninguém. Já é tão difícil mudar você mesmo – suas picuinhas, seus medos, seus grilos mais insensatos e pensantes – quanto mais seu pai, sua mãe, sua mulher, seu  namorado. Desista. Prefira o caminho do meio, de olhar para dentro e enxergar possibilidades de mudança no seu olhar, na sua fala ou no seu silêncio, na sua maneira – tão sua – de se conduzir pela vida, centrado principalmente em você  e em todas as mudanças com que você pode generosamente se presentear. E não se assuste se o outro inaugurar um movimento de transformação a partir do que houve de mudança em você.

Escolha a asa mais bonita e alce os vôos mais lindos que você puder, com a liberdade de ser quem você é, por céus nunca antes vistos. E com a leveza de jamais perder a essência.

P.S: Bem-vinda, bem-linda  a sua presença por aqui. Borboleteie por cada novidade e volte sempre.

 

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<![CDATA[Último suspiro]]>https://rfeldman.web.app/ultimo-suspiro-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afee8Tue, 20 May 2014 16:54:00 GMTÚltimo suspiro

Último suspiro
Impressionante o tanto de voltas que o mundo dá. Voltas e mais voltas, se quer saber.
Coisas que você imagina já bem definidas, resolvidas, vem à tona muitas vezes de um jeito inexplicável. Inacreditável. Seja no amor. No trabalho. Nas relações mais espinhentas e delicadas. Nas amizades ditas infalíveis. No famoso “e foram felizes para sempre”. No mais taxativo dos nãos. No mais convidativo dos sins. Nada é fixo, imutável, a vida segue e quase tudo se transforma.
Muito tempo se passou desde o fatídico e doloroso “The End” do post anterior. Eu nem ia voltar mais neste assunto, c’est fini, já havia dado por perdida a história daqueles dois, mas aí veio o destino para dizer quem é que está no comando. Ah, as voltas que o mundo dá.
Marina seguiu sua vida, como tinha que ser. Bonita e inteligente como era, não demorou a despertar olhares, sorrisos, afetos. Arrumou um namorado também bonito, bom partido, dez anos mais velho.
Diego voltou de Paris com a bagagem cheia de conhecimento, experiência, talento. Alçou vôos lindos na carreira e se tornou um doutor consultor. Nada de namorada, apenas rolos, ficantes, encontros casuais, nada além disso.
Nunca mais se falaram, Diego e Marina. As famílias de cada um quase morriam de tristeza (as mães nem se fala) de ver aqueles dois separados, tamanha era a torcida e o envolvimento desde cedo, desde sempre.
E foi aí que um folheto de propaganda distribuído no sinal mudou tudo. Luz amarela – pense, luz vermelha – pare, luz verde – siga. Simples assim, e foi numa dessas paradas que enfiaram pela janela do carro do Diego um anúncio cheinho de alianças de noivado. Uma mais bonita que a outra. Seria um sinal?
Numa fração de segundos, ele pensou em Marina. No que foi. No que poderia ter sido. No que já não mais era.
E foi bem naquela hora do rush, voltando pra casa depois de um dia cheio de trabalho, que Diego mudou a rota e a história. Em menos de vinte minutos estava dentro da joalheria, comprando o par de alianças mais valioso da sua vida.
Atrevido aquele menino. Já em casa, namorando a caixinha preta de veludo, pegou o telefone e ligou para Marina. Disse, sem muito rodeio, que precisava conversar com ela. Marcaram para daqui a três dias (haja ansiedade), num restaurante perto de um shopping bem familiar.
Mais uma vez não houve rodeio. Nem mesmo aquela função fática que um dia você aprendeu na aula de português, tipo: “Como tem chovido, hein?…” Direto ao ponto, sem rodeio nem subterfúgios, atrevido esse menino. Quase matando Marina de susto, tirou a caixinha do bolso e fez “na lata” o pedido convencional, esperado por tantas mulheres, já não esperado por Marina:
– Quer se casar comigo?
Coitada da moça. Empalideceu de susto, emudeceu, chegou em casa aos prantos, deixando a mãe atônita e o ex-namorado com a expectativa de uma resposta, um dia.
Nada desse dia chegar. Nem que sim nem que não, a posição de Marina era um mistério. A família de Diego não falava noutro assunto, a polêmica se instaurava nos almoços de domingo, até bolão chegaram a fazer.
– Ih, Diego, desiste, ela não quer mais nada com você.
– Ih, conheço as mulheres: hora da vingança. Esquece, Diego.
– Calma, gente, é claro que ela vai aceitar, deixa de ser pessimista!
– É. Se ela não falou na chincha que não, é porque você mexeu com ela. Prepara o casório que lá vem notícia boa!
E assim, de especulação em especulação, de sim em não, o tempo foi passando. Até que um dia, uma mensagem no whatsup:
– Diego, não entenda meu silêncio como um não, apenas preciso pensar mais, esfriar a cabeça e acalmar o coração…
Compreensivo e sereno, certo de que aquela mulher nasceu pra ser sua, Diego esperou. Esperou. Esperou. Esperou.
Até que um dia foi tomar um chope com um tio querido e ganhou de quebra o empurrãozão que faltava:
– Vai ficar esperando até quando, velho? Vai lá agora, chega junto, leva ela pra jantar e volta só amanhã depois que o sol raiar. Bora.
– Mas tio, são quase dez horas da noite, estou sem carro e ela já deve estar de pijama.
– Toma a chave do carro, liga pra ela e fala que você está na porta.
Simples assim. Louco, ousado, atrevido, apaixonado, convicto assim.
Quer saber? Foi a noite mais linda da vida daqueles dois. Graças a Deus, ao destino, ao amor, ao cosmos, ao tio parceiro, o idílio voltou com luz, certeza, poesia e encanto.
A última notícia que tive é que compraram um apartamento e vão se casar. Bem-casados, bem-felizes, bem-sintonizados com a força que as coisas têm quando têm que acontecer.
E é assim, com essa emoção toda, que o fim vira começo. Que o último suspiro vira apenas o primeiro de muitos outros. Longos “ai ais” de vida, de amor que ressuscita como milagre, fazendo renascer tudo outra vez.
Ah, as voltas lindas que o mundo dá.

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<![CDATA[The end]]>https://rfeldman.web.app/the-end/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afee7Tue, 06 May 2014 09:13:00 GMTThe end

The end
Bem-vindo a Paris. Cidade das luzes, suspiros, sonhos, encantos. Cidade divisor de águas na vida de Diego e Marina, encantados que também eram um pelo outro.
Ele de lá, ela de cá, mais uma viagem pra contar a história.
Mas o que seria “mais uma” viagem se tornou “a” viagem. Um quê de agitação, desencontro e distanciamento ia compondo a paisagem, sutil e delicadamente.
Marina de cá percebia, movida talvez por seu sexto sentido, esse acessório que as mulheres usam tão bem.
Diego de lá se movia, se surpreendia, enaltecia com paixão cada minuto de sua nova cidadania. Montmartre, Saint Germain, Marais, Champs Elysées, Quartier Latin, Saint Michel. Pés pra bater, cabeça pra pensar, coração pra sacolejar, rachar, partir.
Às vezes Diego prometia ligar e não ligava. Às vezes um e-mail enviado por Marina ficava dias adormecido
na caixa de entrada, sem virar resposta.
“Ele não deve ter tido tempo”, justificava Marina para si mesma.
Estudando e estagiando, as prioridades eram outras. Foram levando assim durante cinco meses – mais um e ele voltaria para o Brasil. Não voltou. O estágio ia de vento em popa e ele foi convidado – danado que era – a prolongar a viagem por mais seis meses.
Foi a deixa (ou gota d’água) para Marina separar suas economias, arrumar as malas e ir se encontrar com o namorado na cidade-luz. Não foi.
De um jeito ou de outro, nos seus sumiços e entrelinhas, Diego disse a Marina que era melhor ela não ir.
Na cabeça de Diego: se ela fosse, acabariam vivendo um casamento que ainda não existia. Ela era a mulher da sua vida, mas aquele era um outro momento, focado no estudo e carreira; ali ele se sentia independente, autônomo, responsável, capaz de vencer desafios e abraçar o mundo, respirando o auge da sua juventude.
Na cabeça de Marina: Como assim? Afinal, nosso namoro não era forte o suficiente para aguentar o tranco? Não era amor de verdade o que sentíamos um pelo outro?
Não se tratava de amor, Marina. Mas de contexto, mudanças, logística, liberdade, hormônios, Paris e seus encantos.
Por um fio a relação estava, por um fio ficou.
O que começou como uma linda história de amor acabou pelo telefone. Em poucas palavras, ruindo por dentro, Marina teve que oficializar o que Diego não deu conta de fazer.
Acabou, c’est fini, c’est la vie, fim.
Quem nunca viveu uma história parecida que atire a primeira flor.

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<![CDATA[Idílio Parte III]]>https://rfeldman.web.app/idilio-parte-iii/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afee6Fri, 02 May 2014 09:59:00 GMTIdílio Parte III

Idílio Parte III
Ah, Bordeaux. Lagos, flores, castelos, vinhedos, pôr do sol rosado. Só faltava uma coisa para essa linda cidade ficar completa: Diego. Algo estava definitivamente fora do lugar: Marina na França, o namorado no Brasil, um oceano inteiro de saudade entre os dois. Ah, como doía. Os emails eram enooooooooooormes, e o Skype ficava conectado uma eternidade.
As notícias que chegavam dos amigos e da irmã de Diego eram uma só: “Ele está curtindo a maior fossa. Triste, sozinho, faltando um pedaço.”
Au revoir, Bordeaux. Voltar seis meses depois foi um grande alívio, uma emoção sem tamanho. Depois de beijos, abraços, apertos e declarações de amor, um jurou ao outro que nunca mais iria ficar longe tanto tempo. Poderiam até estudar e trabalhar na China, Etiópia ou Japão, mas iriam juntos.
E aí vem o destino, mais uma vez, bagunçar tudo. Um mês depois que Marina havia chegado, ainda em clima de matar saudade, Diego é chamado para preencher uma vaga de intercâmbio – bonjour! – também na França, daí a cinco meses. Ele havia se candidatado no ano anterior, não conseguiu a vaga, a pessoa que ia desistiu, ele foi acionado. Oui. Ironias do destino, nada é por acaso, qual mais explicação você daria?
A namorada custou a acreditar que aquilo estava acontecendo, como podia acontecer? Logo depois que juraram um para o outro não ficarem longe nunca mais?
Mudança de planos, c’est la vie. Diego ficou desorientado de alegria, ia abraçar a oportunidade tão sonhada, Marina não se sentia no direito de ficar triste. Afinal de contas, um ano antes era ela que havia passado pela mesmíssima situação e ele não arredou pé do seu lado: apoio permeado de compreensão, torcida e afeto.
Reunindo forças, chorando por dentro, Marina entrou na sintonia de felicidade e euforia de Diego até a viagem acontecer.
Antes dele partir fizeram uma linda viagem para o Rio, idílio de despedida, a cidade maravilhosa ficou pequena para caber tanto amor.
Fato é que Diego arrumou as malas e se foi. Como não ir, afinal? Tão novo, tão capaz, tão em busca de formação, profissão, brilho nos olhos? Foi carregando Marina com ele, na cabeça, na alma e no coração.

* Belo Horizonte e Paris, tão longe. No próximo post.

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<![CDATA[Idílio Parte II]]>https://rfeldman.web.app/idilio-parte-ii/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afee5Tue, 29 Apr 2014 14:52:00 GMTIdílio Parte II

Idílio Parte II
Viraram muitas páginas juntos, aqueles dois. Futuro do pretérito, fotossíntese, reações químicas, osmose, geometria.
Com o tempo se transformaram, se enamoraram, foram metamorfoseando amizade em amor, quase sem perceber.
A afinidade das salas de aula se estendia naturalmente para outros locus: nas festas juninas do clube, quando se adivinhavam no correio elegante; nas sessões de cinema, quando suas mãos se encontravam no saco de pipoca; no aconchego da sala de casa, quando eram acolhidos com alegria e pão de queijo pela família de cada um, despretensiosamente.
E foi assim, sem se darem conta, sem nomear ou protocolar o sentimento, que Diego foi entrando no mundo de Marina como se ele já fosse seu há muito tempo. E vice-versa.
Aos 14 anos, um primeiro beijo roubado na porta de casa trouxe muitos outros beijos presenteados, gratuitos, inventados. Corriqueiros, festeiros, juninos, sem data ou hora marcada. Sempre que a oportunidade fazia o convite, eles aceitavam de bom grado.
Aos 18 anos, a conquista da carteira de motorista e o carro emprestado do pai possibilitaram a Diego ampliar os convites. Aos 19, a vitória do vestibular trouxe mais motivos de comemoração, e eles sempre eram vistos saindo juntos e frequentando mais vezes a casa de cada um. Mais fornadas de pão de queijo e alegria, pipoca no escurinho do cinema, todos os motivos do mundo para carpediar a vida. Entre um encontro e outro, Diego e Marina se faziam presentes através do celular, com trocas de mensagens inspiradas em letras de música romântica.
Não eram namorados ainda. Ou melhor, não eram nomeados assim, nascidos que foram em uma era marcada pelo verbo ficar, desprendido de compromisso e vínculo. Mas foram ficando cada vez mais grudados, envolvidos, sintonizados, e numa chuvosa noite de março viraram namorado e namorada, oficialmente falando.
Com um ano e meio de namoro ele foi para o Canadá, em um intercâmbio de três meses. Marina, que já havia passado pela mesma experiência três anos antes, respeitou o momento dele e sugeriu que dessem um tempo. Ele aceitou.
Mas que tempo é esse que corre pelas vias do amor? Foi o tempo que passou devagar, doído de saudade, e que acabou mantendo os dois em contato, até presentes de Natal trocaram a distância.
Quando ele voltou, a sintonia tinha crescido e a convicção era uma só: não havia a menor dúvida de que eles queriam ficar juntos.
Seis meses depois, outro intercâmbio, dessa vez para Marina. Destino: Bordeaux, na França. Coração: doído, moído, como ficar longe dele por tanto tempo, sem nem direito a visita pra matar a saudade? Cabeça: madura, bem-resolvida, a dos dois. Como já haviam passado pela experiência do Canadá antes, se sentiam minimamente maduros para continuar o namoro, só que agora a distância.

Aguarde cenas do próximo post.

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<![CDATA[Idílio Parte I]]>https://rfeldman.web.app/idilio-parte-i/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afee4Sat, 26 Apr 2014 18:21:00 GMTIdílio Parte I

Idílio Parte I
Começaram cedo aqueles dois. Compartilhando histórias, cadernos, lápis, risadas, apontador. Descobrindo mapas, espaços, sístoles, diástoles, revoluções. Resolvendo problemas de matemática e recitando poemas de Vinícius de Moraes,
essas coisas tão distintas que a vida se encarrega de juntar.
Diego na fileira do canto, Marina na carteira ao lado.
– Presente!
– Presente!
Na energia inconfundível dos seus onze anos, também presentes se faziam no recreio, na quadra, na cantina, no pique-esconde, nas festinhas de aniversário.
Abram o dicionário e lá está ela, impecável:
“afinidade: s.f. conformidade, aproximação, relação, simpatia: afinidade de gostos, de caracteres; afinidade entre a música e a poesia.”
Simples de explicar essa amizade que nasceu espontânea, faceira, inteira. (Quem é que não tem um grande amigo pra lembrar?)
Música e poesia, ainda não inventaram conceito melhor de completude.
Diego e Marina, ainda não inventaram idílio tão bonito. E verídico, diga-se de passagem, mas com os nomes trocados, me autorizaram contar por aqui.
Aguarde o próximo post.

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<![CDATA[Encontro]]>https://rfeldman.web.app/encontro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeddFri, 18 Apr 2014 16:30:00 GMTEncontro

Encontro
Se você se encontrasse com Deus, o que ia dizer?
Palavras, interrogações, vírgulas, linhas,
reticências, entrelinhas, qual seria a pauta?
Qual o tamanho da emoção, do abraço,
da lista que nunca falta?
Quanto de choro teria para chorar?
Quanto de alegria para agradecer?
Quanto de você para renascer?
Um tanto enorme de coisas sem explicação
para entender,
várias perguntas sem respostas.
Nem mesmo as mais completas teorias,
filosofias, ias e mais ias.
Quantas mais Marias, cheias de graça e vida,
você clonaria se pudesse?
Cruz pesada para carregar.
Coluna envergada de tanto doer.
Tem gente que anda torto de sofrer, meu Deus.
Tanta ferida aberta pra curar.
Tanto verbo amar pra conjugar.
Mas nesse encontro, luz. Alento.
Filiação. Silêncio.
Serenidade. Esperança.
Paternidade. Calmante.
Quando tudo parecer mudo, inerte, escuro,
ainda há velas para acender.

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<![CDATA[5 Anos]]>https://rfeldman.web.app/5-anos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afedcSun, 13 Apr 2014 08:52:00 GMT5 Anos

5 Anos
Há cinco anos a gente se encontra, conversa,
conecta, troca um dedo de prosa e poesia.
Respira fundo e chora, ri, pensa, sente,
sonha, realiza, eterniza o que há para ser guardado.
Há cinco anos a gente faz das palavras terapia,
da terapia alegria, da alegria razão de viver.

Obrigada por fazer parte
da minha inspiração e da minha escrita.

Com você, o blog faz festa, poema,
convite, pausa, movimento,
faz todo o sentido.

Um abraço carinhoso,

Renata

P.S.: Em breve, novidades para você. Aguarde.

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<![CDATA[Reza]]>https://rfeldman.web.app/reza/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afedbMon, 07 Apr 2014 22:53:00 GMTReza

Reza
Dormir, acordar, correr, sonhar,
encharcar a camisa, bater ponto na vida.
Bom dia, boa noite, o que você faz do sol à lua?
Tem gente que brilha.
Tem gente que apaga.
Tem gente que sente.
Tem gente que alaga.
Larga tudo. Para o tempo.
Deita os olhos na janela só por um instante.
Tanto de céu aquarelando a alma.
Tanto de nuvem virando barco de papel.
Tanto de montanha desaguando no mar.
Tanto de ar pra respirar.
Tanto de sonho pra viver.
Tanto de esperança pra sentir.
Tanto de amor pra nascer.
Tanto de Deus dentro de você.

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<![CDATA[Provas de vida]]>https://rfeldman.web.app/provas-de-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afedaFri, 28 Mar 2014 14:40:00 GMTProvas de vida

Provas de vida
Nado livre às seis da manhã.
Travesseiro despertando às dez.
Banho quente.
Beijo ardente.
Gargalhada.
Tenra idade.
Abraço de graça.
Feijão novinho.
Papel e caneta.
Choro de emoção.
Livro de cabeceira.
Viagem sem eira nem beira.
Copo d´água gelada.
Cachorro no pé da cama.
Ombro pra recostar.
Taça de vinho fazendo tintim.
Pedido de casamento terminando em sim.
Cheiro de café.
Pergunta de criança.
Pé descalço.
Porta-retrato.
Paparico.
Uma noite acesa de amor.
Dias inteiros pela frente.
Música pra ouvir.
Sol pra iluminar.
Chão pra caminhar.

O que mais faz você se sentir vivo?
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<![CDATA[Fim]]>https://rfeldman.web.app/fim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed9Fri, 21 Mar 2014 11:03:00 GMTFim

Fim
E aí alguém que você amava muito já não está mais aqui. De carne e osso. De vento em popa. De braços abertos para um abraço, um café, um sorriso largo. E aí você gruda na falta, feito Super Bonder. Que de super não tem nada. Cola dor, lágrima, cola o pé no asfalto quente, cheio de cacos de vidro. 50 graus e está frio, gelado, ferido, dureza de vida sem ele ou sem ela, pedaço imenso de você que também se foi, emoção que não se nomeia.
E aí você acha que não vai dar conta. Volta no passado e se lembra de tudo o que poderia ter feito e não fez. De tudo o que poderia ter dito e não disse. De tudo o que poderia ter sido e não foi. Oi. Tchau. Te amo. Adoro sua companhia. Durmo pensando em você. Meu porto seguro. Meu colo. Meu pai. Minha mãe. Meu tudo.
E aí você pega o chicote e bate. Forte. Dói. Mói. Mais feridas, só que agora no corpo inteiro. No coração morrendo de sede. Na alma em estado de sítio, greve de fome.
E aí alguém te diz para largar o chicote e trocar por flor; que na verdade, o grande requisito para a culpa é o amor. Que se você soubesse, se você pudesse, se tivesse constantemente os olhos pra dentro, ia fazer diferente. Mas não é Deus, esqueceu? Fez o que deu conta de fazer, querido(a) ser humano de carne e osso.
Quando você volta o olhar para o amor, você deixa a dor. E a culpa vai ficando pequena, serena, feito grão de arroz.
O que não foi não foi. Mas a essência do que é para sempre será. Não importa quanto tempo passe e com que força a saudade bata na porta, arrombando a alma, ainda há o amor, esse gentil escritor, para continuar a história.

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<![CDATA[Namoro de longa data]]>https://rfeldman.web.app/namoro-de-longa-data/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed8Fri, 14 Mar 2014 10:57:00 GMTNamoro de longa data

Namoro de longa data
Pegou o primeiro voo, cruzou o oceano, aterrissou cidadã do mundo.
Na bagagem, nada muito além do básico: luvas, algumas mudas, camisola, cachecol, perfume, saudade, bombom de licor, livro de cabeceira.
Do aeroporto à estação de trem, 20 minutos. Da estação ao destino tão esperado, trem-bala, que é pra chegar mais rápido.
Coração acelerado, cabeça a mil por hora, imaginação fértil delimitando cada cena. Divinamente encenada a sua temporada de música, vinho, poema e outono em Salzburg. Última parada, Estação dos Alpes, tocata de Mozart, taquicardia. Ardia de emoção, sorria por dentro, derramava alegria.
Olhando pela janela, procurava ansiosa. Encontro marcado há tempos, melhor abraço do mundo, acontecimento importante.
Ela, pianista. Ele, violoncelista.
Ela, silêncio. Ele, palavra.
Ela, mergulho. Ele, asa-delta.
Ela, carta. Ele, selo.
Ela, vertigem. Ele, conselho.
Ela, varanda. Ele, rede.
Ela, sina. Ele, sinfonia.
Ela, namorada. Ele, namorado.
Tão diferentes. Tão iguais.
Tão juntos. Tão duo. Tão sempre.
Passado, futuro, presente.
Casados há mais de 20 anos.

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<![CDATA[Março]]>https://rfeldman.web.app/marco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed7Thu, 06 Mar 2014 23:12:00 GMTMarço

Março
Noite escura.
Fez sol.
Encontro iluminado.
Fez sentido.
Grandeza de alegria.
Amor de sinfonia.
Contração de coração.
Fez festa dentro de mim.
Silêncio no hospital.
Emoção dilatada.
Duo de piano e violino começou a tocar.
Tocou a alma.
Sinos ressoaram.
Sina mais linda inventei de viver.
Olhos cheios d’água.
Águas de março.
Nasceu você.

* Retirado do livro Refúgio, Renata Feldman, Editora Asa de Papel, 2013.

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<![CDATA[Porto seguro]]>https://rfeldman.web.app/porto-seguro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed6Sun, 23 Feb 2014 22:25:00 GMTPorto seguro

Porto seguro
A vida não é lá muito previsível. Por mais que você planeje a rotina, reinvente a sina, siga o script, uma hora o pneu fura. O estômago embrulha. A nuvem cinza cai sobre a sua cabeça e o guarda-chuva ficou em casa. Haja!
Ou não, estava faltando mesmo um senão. De repente o imprevisível surge justamente às três da tarde, na mão do carteiro que bate à sua porta com uma inesperada carta de amor. Carta de amor, em plena era pós-moderna? Só se for. Às vezes é, ué. Vai saber. Vai sentir. Se não tem carta, que reste pelo menos amor.
Ou de repente você ganha na loteria, é convidado para dar a volta ao mundo num balão, se enche de emoção só de pensar no atrevimento inusitado do convite.
Às vezes você é pego de surpresa. Atropelado por uma notícia. Lindamente arremessado pelos olhos daquela moça bonita que já não sai mais da sua cabeça.
Às vezes não acontece nada de novo. Sempre a mesma sexta-feira, de segunda a segunda. Sempre o mesmo arroz com feijão, quer você queira quer não. Vai uma pimentinha aí? Ervas de Provence, répondez s’il vous plaît.
De um jeito ou de outro, seja na turbulência ou em águas mansas, nada melhor do que um porto seguro pra aquietar o coração. Um “como foi o seu dia?” no final dia. Casa de vó. Abraço apertado. Copo d’água. Ombro amigo. Almofada pra chorar baixinho. Montanha pra gritar alto sem ninguém ouvir. Vir… vir… vir…
É quando a família faz todo o sentido. Quando a cumplicidade faz abrigo. Quando quem está ao seu lado está de verdade, por inteiro, bem do lado de dentro.

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<![CDATA[Assim caminha a desumanidade]]>https://rfeldman.web.app/assim-caminha-a-desumanidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed5Fri, 14 Feb 2014 21:51:00 GMT
Assim caminha a desumanidade
Assim caminha a desumanidade

Um jogador entra em campo e a torcida do time adversário se agita na arquibancada de forma cruel, desrespeitosa, absolutamente desumana. Impregnados de preconceito racial, homens emitem grunhidos imitando macacos. Perdem a razão, o respeito, a ética e a emoção, literalmente se desumanizando à frente das câmeras. Catarse, força coletiva, crime, animalização. Seja lá o que for, estes chamados seres humanos, teoricamente pensantes, mostram-se lamentavelmente ocos de raciocínio e coração. Em pleno século 21, não dá para acreditar.
Mas ainda não perco a esperança. Resgato da infância a linda música de Paul McCartney e Stevie Wonder que aprendi a cantar na escola: “Ebony and Ivory live together in perfect harmony side by side on my piano keyboard, oh lord, why don’t we?” A lembrança é quase fundo musical para o depoimento de Tinga, o jogador-alvo do triste episódio: “Trocaria todos os meus títulos pela vitória contra o preconceito.”
Abro o facebook e vejo pessoas formando sua opinião. A unanimidade nunca foi tão sensível e inteligente. Atleticanos verbalizam com indignação seu apoio ao meio-campista do Cruzeiro, unindo-se a ele com solidariedade e respeito. Duas bandeiras tão contrárias flamulam juntas em prol de algo sagrado chamado dignidade.
Escuto meu marido – “Galo até morrer” – comentar sobre as cores da camisa do time do coração:
– É preto e branca, Rê, porque junta as duas raças sem distinção, num grande grito de gol.
Corre esperança nas minhas veias.
Penso no nome do torneio que foi palco deste grande dissabor: Copa Libertadores.
LIBERTA-DORES. Assim seja.

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<![CDATA[Pausas]]>https://rfeldman.web.app/pausas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed4Tue, 11 Feb 2014 22:48:00 GMTPausas

Pausas
Se eu morrer de amor?
Morri.
Flores, violino, último suspiro.
Nasci.
Dor de contração, vôo livre, vou.
Viena, Toscana, Tel Aviv.
Parada cardíaca, abalo de emoção,
nudez enluarada, embalo de dormir.
Concha, estrela,
morrer do sol,
Deus de longe vi.
Poesia, escritura,
lindura de palavra inventada
pra dizer numa sentada
o que senti.
Porvir. Por mim. Tin-tin.
Se eu nascer de amor?
Vivi.

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<![CDATA[O olho do dono]]>https://rfeldman.web.app/o-olho-do-dono/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed3Mon, 27 Jan 2014 22:16:00 GMTO olho do dono

O olho do dono
Sempre tirei o chapéu para os corajosos desbravadores que um dia decidiram abrir uma empresa e fizeram dar certo. Não falo apenas em números, cifras ou ranking de mercado. Falo da empresa que tem do outro lado do balcão um consumidor feliz da vida pela relação estabelecida. Que seja uma padaria, uma floricultura ou companhia aérea, nada melhor que um cliente satisfeito, garantem os especialistas em marketing.
No frigir dos ovos, estamos falando de gente, um dos meus assuntos prediletos. De um lado do balcão, gente que acreditou, sonhou, trabalhou muito para que tudo desse certo; do outro lado, gente encantada com o que recebeu em troca; gente que pede, repete e fala bem da marca para os quatro cantos do mundo. Isso é que é case de sucesso.
Se falar de pão, flor e avião já dá assunto pra mais de hora, imagina quando o assunto é hospital. De um lado o doutor, a anestesia, o soro, a frequência cardíaca; de outro o paciente, a dor, a queda de pressão, o alívio da alta.
Vivi bem de perto esta relação na quarta-feira passada. A paciente, eu. O hospital, Biocor (faço questão da propaganda). O motivo, um cisto no ovário, herança familiar que já premiou quatro mulheres da minha doce linhagem materna – avó, mãe, irmã, prima e agora eu, não podia ficar de fora.
É claro que a gente fica fragilizada. Se é de carne e osso vai sentir dor, medo, susto, especialmente quando lê o termo de consentimento da anestesia. Pior do que bula de remédio. Até a gente entender que faz parte, que a herança é bem-vinda, que os médicos fazem isso de olhos fechados e que a videolaparoscopia foi a melhor invenção dos últimos tempos.
Mas melhor do que a técnica e competência da equipe foi o atendimento acolhedor, humano e afetivo que recebi por lá. Enfermeiras sorridentes, cuidadosas, educadas. Tinha uma com um humor digno de “doutores da alegria”, uma graça só.
– Me faz rir não, Gislene, minha barriga vai doer.
Comentando com a minha mãe da nobreza do atendimento, ela falou que só podia ser coisa do dono. (O famoso olho do dono, nesse caso coração melhor se aplicaria.)
– Isso é o Doutor Mário, minha filha, que há anos cumpre o ritual de rodar o hospital inteiro, indo de quarto em quarto só para dizer umas poucas palavras:
– Paz e alegria!
Não demorou muito bateram na porta do apartamento 730.
Era o próprio, com a melhor cara do mundo, sorriso iluminando o rosto. Abriu e fechou a porta em menos de dois minutos, mas disse o essencial:
– Muita luz para vocês! Está faltando alguma coisa?
– Nada não, Dr. Mário, só um ovário…

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<![CDATA[MP o quê?]]>https://rfeldman.web.app/mp-o-que/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed2Sun, 12 Jan 2014 18:29:00 GMTMP o quê?

MP o quê?
Enfim, férias. Escolha o destino, arrume as malas e bye-bye rotina.
Olha o picolé! Olha o queijinho assado na brasa! Camarão no capricho, tá servido? Água de coco gelada, sombra e água fresca, quem vai querer?
Eu quero. Ah, meu Deus, como eu mereço. Estender a canga na areia, pensar em nada, grudar no meu livro da Martha Medeiros e ouvir o barulhinho do mar.
Barulhinho do mar tá em falta. A música da barraca tá alta, um tchê tchererê só.
– Ô, amigo, pra essa sua barraca ficar perfeita, tinha que ter uma MPB…
– MP o quê?
E assim caminha a nossa querida música popular brasileira. Sem voz, ruidosamente abafada pelo animado ritmo do sertanejo universitário, funk ostentação e outras baladas mais.
Longe de mim cortar o barato de quem adora um tchu, um tcha, dependendo da dose e do momento vá lá.
Mas só isso? O tempo todo? No último grau? Acho que estou ficando velha.
Tudo por uma Marisa Monte, um Djavan, um Chico Buarque ensolarando ainda mais o meu verão.
“E por falar em saudade”, onde anda Rita Lee, Caetano, Gilberto Gil?
Fecho os olhos e escuto, na minha imaginação nostálgica, Legião, Engenheiros, Paralamas. Isso é que é parada do sucesso. E num volume decente, que é pra não atrapalhar a música que vem do mar.
Abro os olhos e vejo minha filha batendo a mãozinha debaixo do queixo e cantarolando “Você vai ficar ba-ban-do.” Começa outra música no talo e me lembro de uma sobrinha que daria tudo para estar aqui requebrando no mesmo ritmo. (Acho que ela não vai gostar nada deste post.)
Comento o assunto com o meu marido, digo que vou escrever sobre isso no blog. Ele diz que estou coberta de razão mas música não se discute, cada um na sua, por ele a barraca só tocava o hino do Galo.
E já que rir é o melhor remédio (vitamina “R” na veia, desopila o fígado e faz bem ao coração), vamos que vamos. Apelidei o moço da barraca de deejay e disse a ele que vim de longe pra comer o melhor peroá com farofa do mundo, mas com fundo musical à altura.
O danado é esforçado e não quer perder a freguesia, deu seu jeito e fez o melhor que podia: botou a Paula Fernandes pra tocar.

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<![CDATA[Paradoxos]]>https://rfeldman.web.app/paradoxos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed1Wed, 08 Jan 2014 23:25:00 GMTParadoxos

Paradoxos
Recém Feliz Ano Novo. Novinho em folha, página em branco pronta para virar história. Cheirando à paz, realização, amor, alegria, esses desejos comuns, nossos velhos conhecidos, mas especialmente habilitados em alterar nossos batimentos cardíacos.
Faz uma semana que o mundo parou para encher de luz o seu 2014. Vide os fogos, beijos, abraços, pedidos, promessas, taças tinindo à meia-noite. Saúde.
Por um instante, como que por encanto, é como se o mundo realmente parasse. Altas, pausa, carta branca. (Lembra das brincadeiras de infância?) O calendário vira e estamos todos imunizados contra toda e qualquer coisa contrária a esta energia contagiante que move a gente. Vetada a tristeza, a reclamação, o queixume e azedume, essa dupla pra lá de imperfeita. Isola, bate na madeira, fé no coração e samba no pé. Doze uvas, doze pulinhos, capricha no arroz com lentilha. Alegria, entusiasmo, endorfina, o ano está só começando. Tim-tim.
Mas aí, num paradoxo imenso, desses que não estavam no script, algo vem rabiscar a beleza dessa página em branco.
Contrastante com o adjetivo que costuma acompanhar o Ano Novo, tristeza. Dor. Vazio. Luto.
Pra muita gente sumiu o sol, escureceu o céu, desmoronou o chão.
Em pleno começo de um Feliz Ano Novo, alguém querido morreu. O casamento acabou. A casa caiu. A relação ruiu.
Notícias ruins enchem a pauta dos jornais e esvaziam o peito outrora cheio de esperança.
Fora as grandes tragédias, os pequenos dramas: conversas atravessadas, discussões por bobagens, tons de voz alterados e foi-se embora aquele tanto de paz que te desejaram no dia 31.
Paradoxos de Ano Novo. Ou seriam da vida?
Vida que é feita de sol e chuva, nascer e morrer, amar e sofrer, apagar e acender.
Por mais paradoxal e doloroso que seja, deve haver algum sentido. Haja coração, eu sei. Haja entendimento, paciência, resignação, força para levantar do chão, se é que ainda resta chão.
Respira fundo, enxerga luz nas suas crenças, chora o choro que lava a alma, marca encontro com Deus, vive o luto porque é dele que vem a luta. Uma troca de vogal e tudo muda, mesmo que a duras penas.
Para você que começou 2014 faltando um pedaço, meu desejo sincero, esperançoso, de que não falte luz, amor, força, serenidade e sabedoria na sua travessia. Que você possa seguir em frente, apesar de.
Para você que virou a página como deveria ser, que a inspiração cresça e floresça, mesmo com todos os espinhos que possam surgir no caminho.
Desfrutar dos momentos felizes e aprender a conviver com os infelizes, é bem por aí.
Com todas as letras, vírgulas, interrogações e exclamações, é dentro da gente que se escreve um Ano Novo de verdade.

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<![CDATA[Frozen]]>https://rfeldman.web.app/frozen/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afed0Sat, 28 Dec 2013 20:32:00 GMTFrozen

Frozen
Típico e delicioso programa em família depois de um típico e delicioso almocinho japonês: “Frozen, uma aventura congelante”, mais uma superprodução da Disney.
Pra gente pequena, os olhinhos por trás dos óculos 3D se fixam no afeto entre duas irmãs, paisagens geladas, brincadeiras de infância, poderes especiais e o velho duelo entre o bem e o mal.
Pra gente grande, dá pra ir um pouco mais longe. Do coração congelado à depressão paralisante, petrificante, que manda fechar as portas do castelo e te isola do mundo: até da irmã “ensolarada”, tão cheia de luz e vida. Depressão que cria abismos, lanças pontiagudas de gelo e assustadores monstros de neve. No filme, poder especial; na vida ao vivo e em cores, doença, falta de serotonina, química cerebral, mundo em preto e branco.
Em Frozen o inverno é constante, dilacerante, pra sempre. Já imaginou viver eternamente no cinza, no frio, no Alasca?
Esta é a sensação que muita gente tem quando está vivendo um problema grave. Seja de cabeça, coração, dinheiro, profissão, o que for, a sensação é que a imagem estará para sempre congelada. Mas aí é só lembrar a última vez que você chorou, sofreu, doeu, ficou trancado no quarto.
Passou, não passou? Pode até ter deixado sequelas, mas a vida continuou, isto é certo. Até a neve se transforma, aí está o sol que não me deixa mentir.
Pra quebrar o gelo e fabricar o riso, o ponto alto do filme: um divertido boneco de neve falante, que ora perde a cabeça, ora desloca a cenoura do nariz para o meio da testa, mais parecendo um unicórnio, mas sem nunca perder o bom humor.
Pra aquecer o coração, é preciso olhar para ele. Ouvir suas batidas, calma e amorosamente, como bem ensinou a professora de ioga do post anterior. Depois de ouvir, encher de amor, essa palavra tão batida e linda.

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<![CDATA[O dia em que a terapeuta chorou. Ou: emoção de uma crônica autorizada]]>https://rfeldman.web.app/o-dia-em-que-a-terapeuta-chorou-ou-emocao-de-uma-cronica-autorizada/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afecfThu, 26 Dec 2013 11:31:00 GMTO dia em que a terapeuta chorou. Ou: emoção de uma crônica autorizada

O dia em que a terapeuta chorou. Ou: emoção de uma crônica autorizada
Toda quinta ela anunciava sua chegada com uma batida inconfundível na porta: toc-toc, toc-toc, toc-toc. Chegava carregada de luz, cansaço, pasta executiva, esperança, celular já no jeito para plugar no tomada e vontade de mudar o mundo – o seu mundo.
Queria emagrecer, queria engravidar, queria deixar a vida de executiva pilhada no último grau e ficar bem zen.
Seu sonho quase foi parar no Guinness Book: tudo o que aquela mulher queria era deixar o posto de empresária e virar professora de ioga para crianças. Simples assim.
E para provar que sonho só faz sentido quando vira realidade um dia, lá foi ela à luta. À doce labuta de trocar o salto alto pelos pés descalços, o tailleur pela malha confortável, os contratempos empresariais pelo tempo vivido com respiro, alegria e sentido – muito sentido.
A ioga veio na vida dela como um remédio, literalmente falando. A executiva se deu alta do psiquiatra, jogou fora o antidepressivo, começou a frequentar templos budistas, mergulhou em livros e cursos de ioga, respirou aliviada. Ommm… Ommm…
De tão bem que estava, se deu alta da terapia também. Esqueceu lá no consultório a sombrinha (“Freud explica”), voltaria para pegar depois. Voltou: seis meses depois, só para matar a saudade e trocar algumas ideias, ainda sem emprego mas em busca de um trabalho que deixasse a alma dela repleta, leve. Ganha-pão recheado de realização, não poderia ser diferente.
Coincidentemente, a professora de ioga da minha filha (um desses privilégios deliciosos do horário integral) estava saindo de licença-maternidade. Não pestanejei em indicar a minha querida ex-executiva para ocupar a vaga. Ocupou. Preencheu de alegria e sentido cada segundo da sua vida. E das crianças que deram a sorte de tê-la como professora, tão cheia de leveza e alegria, ensinando sentimentos bons como paz, alegria, harmonia. (Como o mundo anda precisando disso.)
Há algumas semanas foi a festinha de encerramento da escola com apresentação para os pais. Balé, música, inglês e ioga. Fui ansiosa para assistir a Bella, já controlando a respiração para ver também a minha querida ex-executiva na ativa, fazendo o que mais ama na vida.
Qual não foi minha frustração quando vi uma outra professora estendendo as esteiras coloridas no chão, preparando o ambiente para envolver pais e filhos em uma relaxante aulinha de ioga. “Será que aconteceu alguma coisa?”, pensei. “Será que ela foi mandada embora ou decidiu sair? A Bella não me disse nada…”.
Qual não foi minha alegria quando me dei conta do engano; não era outra professora, mas sim a minha querida ex-executiva, a própria,de carne e osso, só que dezessete quilos mais magra, cabelo até a cintura, corpo de bailarina, brilho nos olhos, energia de quem finalmente se encontrou.
Qual não foi minha emoção quando ela pediu para assentarmos em posição de meditação, mãos em “formato de olhos de corujinha”, e apenas deixar ouvir o coração bater.
Ah, minha querida ex-executiva… Logo você, que por tanto tempo ouviu o coração bater pesado, cansado… Que lindeza de transformação compartilhei neste dia com você. Deitada na esteira, ao lado da minha filha, viramos sol, vento, nuvem, barco à vela. Chorei de emoção pela linda travessia que começou bem diante de mim, entre xícaras de cappuccino, caixas de lenço e almofadas macias.
Que Deus abençoe a sua caminhada, querida professora de ioga. E que nessa beirinha de Ano Novo a sua história possa inspirar muita gente a acreditar na força que um sonho tem quando precisa acontecer.
Na verdade, não tem muito mistério, aprendi com você. A gente só precisa respirar, aquietar a mente e ouvir de que jeito o coração anda batendo.

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<![CDATA[Eu visto esta ideia]]>https://rfeldman.web.app/eu-visto-esta-ideia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeceWed, 18 Dec 2013 09:41:00 GMTEu visto esta ideia

Eu visto esta ideia

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<![CDATA[Vai ter bis]]>https://rfeldman.web.app/vai-ter-bis/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afecdTue, 10 Dec 2013 21:22:00 GMTVai ter bis

Vai ter bis

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<![CDATA[Convite especial]]>https://rfeldman.web.app/convite-especial/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeccThu, 28 Nov 2013 21:47:00 GMTConvite especial

Convite especial

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<![CDATA[Nasceu!]]>https://rfeldman.web.app/nasceu/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afecbWed, 27 Nov 2013 09:49:00 GMTNasceu!

Nasceu!

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<![CDATA[Refúgio]]>https://rfeldman.web.app/refugio/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afecaMon, 18 Nov 2013 21:59:00 GMTRefúgio

Refúgio
Meu segundo livro está prestes a dar o ar da graça.
Reserve um espaço na agenda
e venha engrandecer o lançamento com a sua presença.

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<![CDATA[Síndrome de Peter Pan]]>https://rfeldman.web.app/sindrome-de-peter-pan/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec9Sat, 09 Nov 2013 21:04:00 GMTSíndrome de Peter Pan

Síndrome de Peter Pan
Minha filha se apaixonou por um unicórnio.
Foi lá na Universal Studios, depois de viver minutos de “Minion” no empolgante simulador do “Meu Malvado Favorito”. Na saída da atração, mais atração: uma lojinha tentadora com suas blusas amarelo-vivo, chaveirinhos personalizados, unicórnios de pelúcia esparramados pela prateleira.
Não deu outra:
– Ahhhh, mamãe, que liinndo!…
– Lindo mesmo, Bebella, mas depois a gente olha com calma. Vamos lá no Shrek, antes que o parque feche. (!)
E depois de muita aventura, loopings e hip hurras, o parque fechou. A lojinha dos Minions fechou. O unicórnio por lá ficou, esparramado na prateleira.
O coração da pequena partiu, nem preciso dizer.
– Amanhã a gente vai atrás do seu unicórnio, filha.
E a gente foi. Mas o danado do bichinho parecia estar em extinção. Loja nenhuma, outlet nenhum, shopping nenhum. Só dentro da Universal, justamente o parque que a gente não voltaria mais.
Sugeri trocar o unicórnio por elefante, burrico, ovelha, ursinho. Nada. Irredutível a mocinha, personalidade forte, típica do signo de escorpião. Apaixonou mesmo.
Voltamos ao Brasil no dia seguinte, deixando uma incumbência para os amigos (santos amigos) com quem dividimos a casa: trazer o unicórnio, já que eles ainda iriam dar uma espichadinha no mundo da aventura.
Dito e feito, missão cumprida, quase morri de vergonha quando vi o tamanho da encomenda que eles trouxeram na mala. Chegou em boa hora, melhor não podia: na véspera do aniversário dela.
Qual não foi sua emoção quando acordou cedinho no dia seguinte com o unicórnio ao seu lado, esparramado na cama. Achei que ela fosse ter um troço, mistura de alegria com falta de ar.
E o dia passou colorido com aniversário na escola, festa da camisola à noite, ensaio de balé na manhã seguinte. Muita emoção para uma menina só.
Quando ela se viu sozinha com o unicórnio ao fim do dia, deitou agarrada com ele no sofá e lá ficou, encolhidinha, pensando na vida.
– O que houve, Bebella? Está tudo bem?
E foi aí que a pequena colocou para fora toda a emoção das últimas horas, chorando de soluçar:
– O Peter Pan é muito sortudo!…
– Peter Pan?! Por quê?!
– Por que ele nunca vai crescer… Eu não quero crescer, quero ser sempre criança pra ficar com o meu unicórnio!…
– Mas você pode crescer e continuar com o seu unicórnio, ué.
– Não, senão as pessoas vão me zoar!…
– Sabe, minha filha? Quem zoar é porque não teve infância. Mesmo que a gente cresça, leva pra sempre a criança que foi um dia. Eu, quando presenteio você com o unicórnio, ou preparo uma festa da camisola, ou levo você pra Disney, alegro também a criança que fui um dia.
A essa hora, a pequena era uma mistura de cansaço, emoção, afeto e filosofia. Como doía a ideia de perder seu mimo de pelúcia um dia. Como chorava a minha menina, já toda cheia de pêlo branco grudado no rosto molhado.
– Agora vai brincar, minha filha. Gruda no unicórnio e aproveita cada minuto da sua alegria. Ainda falta muito pra você crescer.

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<![CDATA[Sonho foi feito pra realizar]]>https://rfeldman.web.app/sonho-foi-feito-pra-realizar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec8Sun, 20 Oct 2013 12:02:00 GMTSonho foi feito pra realizar

Sonho foi feito pra realizar
E aí você decide pegar a família, juntar uma turma animada de amigos e fazer uma visitinha pro Pateta. Acorda a criança que foi um dia, enche os olhos de brilho e vai brincar de realizar sonhos. Bingo, Mr. Disney. “Where dreams come true”, slogan mais preciso não poderia. Perfect.
Não importa se o seu sonho é ver a Pequena Sereia virar princesa, ou a fera virar príncipe, ou a montanha-russa virar você de cabeça pra baixo ao som de uma guitarra alucinante do Aerosmith.
Filas sempre cheias. Tempo de espera de até duas horas dependendo do brinquedo e as pessoas esperando sem reclamar, tudo vale a pena quando o sonho não é pequeno. Duas horas de expectativa para viver em poucos minutos a emoção de voar com o Harry Potter, sobrevoar a Califórnia de asa-delta, subir pelas paredes com Homem Aranha, despencar de um elevador em Hollywood e sentir o coração pular pra fora. (“Tiraram a minha alma lá”, foi o comentário da minha filha.) A boa notícia é que depois do susto e da adrenalina tem sempre uma plaquinha luminosa com a palavra “Exit”. Yes, we can. Fica tranquilo que tem sempre uma saída, o pânico sempre chega ao fim. Já ouviu a expressão “Relaxa, vai dar tudo certo.”? Vai. Para os menos corajosos o sistema nervoso simpático arruma uma confusão danada com o pára-simpático, os neurônios quase viram paçoca mas sim, yeah: como diria Sabino, “no final dá certo. Se não deu – uouuuuuuuuuuuul – “é porque ainda não chegou no final.” The end.
À noite, fogos de artifício só para reforçar onde estamos: mundo encantado do ratinho mais simpático do mundo, Terra do Nunca e também do sempre, “where dreams come true”, Feliz Ano Novo antecipado. E aí eu me pego pensando que – com todo respeito ao Mr. Disney, pra quem eu tiro o chapéu um milhão de vezes – a gente pode carregar essa frase aonde for, com ou sem castelo, com ou sem Sininho. Brasil, China, Austrália, Japão, escolha o seu destino.
Falo dos sonhos do dia-a-dia adormecidos no travesseiro e colocados em prática no dia seguinte, basta um toque do despertador. Sonhos que demoram mais de duas horas na fila e dão um trabalhão para realizar, mas que nascem inteiros, bonitos de se ver, lindos de viver. Casar com a mulher da sua vida. Ter miniaturas suas correndo pela casa. Viver a liberdade de rodar o mundo sem rumo nem prumo nem hora pra chegar. Virar trapezista de circo. Escrever um livro. Tocar violino. Descobrir a cura do câncer. Encontrar sua identidade. Formar um filho. Abraçar cada segundo da profissão da sua vida. Amar de verdade, esta é a magia.

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<![CDATA[Refúgio]]>https://rfeldman.web.app/refugio-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec7Tue, 08 Oct 2013 10:33:00 GMTRefúgio

Refúgio
Choro de chuva.
Esperança de sol.
Alegria de Refúgio.

Meu novo livro, Refúgio,
já começou a dar o ar da graça.
O lançamento é em breve.
Você, desde já, é meu convidado especial.

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<![CDATA[Prosa hilária]]>https://rfeldman.web.app/prosa-hilaria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec6Sun, 22 Sep 2013 12:31:00 GMTProsa hilária

Prosa hilária
Tem coisas que não têm a menor graça. Outras acabam tendo, mesmo sem ter que ter.
Certo é que o riso é terapêutico, disso não há a menor dúvida. Desopila o fígado, faz bem pra pele, pra alma, pra tudo. Se bobear até emagrece, haja vista os abdominais que a gente faz quando se contorce de tanto rir.
Já disse no post anterior que minha mãe, além de extremamente aberta para falar dos assuntos mais difíceis, é prática e objetiva, e gosta das coisas bem organizadas. Tudo no lugar certo, a tempo e a hora.
Só não imaginava que ela fosse chegar a tanto. Quase morri de rir.
Depois que ela ticou o ítem “cemitério” da sua listinha (se você não leu o post anterior, dá um pulinho lá), foi organizar a papelada numa pasta e se deparou com o tal ímã de geladeira para quando fosse a hora. Olhou o relógio: quinze pra meia noite de uma segunda-feira.
Sem pestanejar, ligou para o número indicado.
Do outro lado da linha, a voz sonolenta de um homem atendeu prontamente:
– Serviço Funerário Israelita boa noite Miguel, plantão 24 horas por dia.
– Desculpa, foi engano. (!)
E assim, certa de que o serviço funciona mesmo, foi dormir tranquila. Tudo certo e conferido.
Nem preciso dizer o quanto este episódio rendeu no dia seguinte.
Minha irmã, morrendo de rir, soltou o seguinte comentário:
– Coitado do coveiro, gente. Deve ter voltado a dormir aliviado quando viu que não ia ter que trabalhar de madrugada.
Mas o hilário mesmo ainda estava por vir.
Quatro dias depois, já passava de meia-noite e meu marido resolveu pregar uma peça na sogra.
Ligou para ela e fez uma voz completamente diferente, falando rápido e rasteiro, num português bem afetado:
– Boa noite, Dona Clara, aqui é do Serviço Funerário Israelita. Antes de mais nada gostaríamos de te dar as boas-vindas, a senhora é a nossa mais nova inquilina.
– Inquilina não! Proprietária!
– Temos aqui registrada uma ligação da senhora, podemos ajudar?
– Eu? Não liguei não, o senhor está enganado.
– Não estou não, engano foi o que a senhora disse quando ligou, mas que a senhora ligou, ligou.
– Qual o seu nome?
– É Miguel. A seu dispor.
– Miguel, você está falando muito rápido! Você podia falar um pouco mais devagar?
– Posso não, Dona Clara. A vida é curta, por isso eu falo rápido! A vida é curta, curta, curta. E aqui o nosso lema é: ligou, enterrou.
– Mas… como é que você sabe que fui eu? Como é que conseguiu meu telefone?
– A senhora esqueceu que nós temos convênio com o Serviço de Inteligência Israelense?
– Não fui eu, nego até a morte.
– Foi sim, nós confirmamos estes dados com a sua filha Renata.
– A minha filha?! Eu vou ligar pra ela agora!!!
– Precisa não, ela está aqui do meu lado. Vou passar pra ela. (!)
……………………………………..
59 abdominais, fígado em dia, pele nos trinques. Isso é que é literalmente rir pra não chorar.

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<![CDATA[Prosa ruim]]>https://rfeldman.web.app/prosa-ruim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec5Sun, 08 Sep 2013 20:20:00 GMTProsa ruim

Prosa ruim
Coisa esquisita essa história de morrer. Como se não bastasse o susto, o luto, o vazio, a indescritível dor da perda, ainda há os estranhos e doídos pormenores. (Ou seriam “pormaiores”?)
De uns tempos pra cá, resolvi olhar para todos eles de frente.
Haja coragem. Haja desembaraço para tocar em um assunto tão intocável. Prosa ruim, não havia título mais apropriado.
Todo mundo vai morrer um dia, eu sei, mas é como se o tema não nos pertencesse. Planejamos viagens, casa na praia, festas de aniversário, buquê de casamento. Reforma do apartamento, mudança de profissão, carro novo na garagem. Sim, sabemos viver. Nossa listinha mental inclui vasos de flor, vinhos na adega, orquestras sinfônicas, enxoval do bebê. Ligamos a TV e o break comercial nos move (ou paralisa) com perfumes, bonecas, chinelos, panelas, colchões, lugares para se descansar em paz. E antes que a sua paz vá embora com bucólicas imagens de gramados verdejantes e slogans idílicos, você muda rapidamente de canal. Da morte à vida em um segundo. Muito mais fácil tomar uma cerveja gelada, suspirar por aquele vestido vermelho, ir com a família pra Disney.
Pois ultimamente ando exercitando essa coisa difícil que é pensar na morte. (No lado prático da morte.) Vão-se os pais dos amigos, os velórios nos atravessam a rotina com seus rituais, fica a constatação dura de que um dia é você que vai passar por isso.
Penso no meu pai e na minha mãe, embasamento mais lindo da minha existência, e sofro por antecipação. Se eu pudesse, eles viveriam duzentos anos. Não posso. Choro.
Assisto à propaganda bucólica e me vejo alvo de seu apelo. Pelo amor de Deus, quando eles se forem quero apenas chorar. Muito. Chorar, rezar, pedir, lembrar, homenagear, fazer-me encanto no meu sagrado canto de despedida. Não quero saber de providenciar nada: flores, jazigo, velório. Não terei cabeça, nem quero ter. Apenas coração pulsando, cabendo tudo o que é dor, memória, saudade, colo, uma existência inteira que se foi apesar de nunca ir.
E foi dessa dolorosa antecipação que chamei meus pais para uma conversa. “Prosa ruim”, fui logo avisando. “Prosa necessária, saudável, minha filha. Faz parte da vida pensar na morte”, respondeu com serenidade minha mãe.
E foi assim que tomamos coragem para ligar para os cemitérios, fazer tomada de preços, esclarecer dúvidas sobre o concreto e inevitável morrer. De uma maneira muito racional, recusamos a violência que é ser pego de surpresa numa hora dessas.
Tenho um cunhado que mal recebeu a notícia de que o coração da mãe parou de bater, foi “gentilmente acolhido” por um agente funerário ainda no corredor do hospital, cobrando preços exorbitantes pela despedida. É dessa triste cena permeada de “marketing emocional” que não quero jamais ser protagonista.
Tenho um amigo, por outro lado, que sempre que vai almoçar na casa dos pais é levado até um canto da sala: “Meu filho, se acontecer alguma coisa tá tudo aqui, nessa gaveta: papelada em dia, comprovantes, o telefone para tomar as providências. Tudo certo.”
Quando inaugurei a “prosa ruim” meu pai não rendeu muito a conversa. “O que você resolver está bom, minha filha. Pode ir olhando e me repasse as informações.” Minha mãe, prática feito ela só, foi logo dando força pro assunto: “Que bom podermos conversar sobre isso, florzinha. Muito saudável a gente cuidar da morte enquanto vive. E, enquanto vive, fazer isso da melhor maneira possível, desfrutando dos momentos de felicidade, aproveitando tudo o que a vida tem a nos oferecer.”
E lá foi ela resolver o assunto, querendo a área do cemitério mais bonita, bem perto das suas raízes. Na sua caderneta de anotações, uma página bem pitoresca vinha com a listinha:
• Presente casamento Luiz.
• Roteiro Portugal.
• Meia anti-derrapante.
• Cemitério.
Outro dia me deu a notícia toda feliz, bem-resolvida: “Filha, comprei meu lote na Pampulha! Quando chegar a hora, o telefone vai estar aqui ó, nesse ímã de geladeira.“
E o que era “prosa ruim” virou crise de riso, abraço gostoso, listinha quitada no nosso jeito bem-humorado de resolver as coisas práticas, imensamente delicadas, sem fazer disso tabu. Desopilamos o fígado para lembrar o quanto ele e os outros órgãos estão tinindo, de bem com a vida, até que um dia a morte diga o contrário.
Enquanto houver vida pra viver, que a gente ainda possa curtir muito as boas prosas da vida, fazendo de cada epitáfio um lindo poema.

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<![CDATA[Perolices em movimento]]>https://rfeldman.web.app/perolices-em-movimento/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec4Sun, 01 Sep 2013 19:50:00 GMTPerolices em movimento

Perolices em movimento
Jogo tenso do Galo.
Enquanto a Bella brincava de reconhecer as palavras em um livro colorido, o pai esbravejava diante da TV:
– Ô, Guilherme, pega essa bola!
– Vai, Donizete, vai que é sua!
– Isso, Ronaldinho, faz essa massa feliz!
– Pai, você ainda não percebeu que eles não te escutam? Não adianta ficar gritando!…
……………………………………………………..

Vôo BH-Brasília, compromisso de aniversário importante.
Depois do tradicional par ou ímpar para ver quem ia ficar na janela, a Bella gasta um tempo apreciando a insólita paisagem.
– Mamãe, quando eu morrer será que eu vou comer nuvem? (…)

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<![CDATA[Perolice iluminada]]>https://rfeldman.web.app/perolice-iluminada/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec3Mon, 26 Aug 2013 08:03:00 GMTPerolice iluminada

Perolice iluminada
Domingo à noite, “momento-reflexão”.
À pergunta do pai sobre onde está Deus, as crianças respondem:
– No céu!…
A mãe acrescenta:
– Deus está dentro do coração da gente…
E uma Bella muito surpresa indaga:
– Dentro da gente?! Mas Deus é grande!…
…………………………

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<![CDATA[Hahaha]]>https://rfeldman.web.app/hahaha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec2Sat, 24 Aug 2013 00:40:00 GMTHahaha

Hahaha
Que bom que a vida tem lá suas compensações. Cobertor quentinho no inverno. Chocolate pra dor de cotovelo. Abraço de urso depois de matar um leão por dia. Ombro amigo quando o seu já esfarelou de carregar tanto peso. Peso pesado, quem é que nunca sentiu o lado hard da vida? Basta uma espiadinha pela fechadura da alma e lá está ela: agachada, abafada, presa, chorando. Cada um sabe o motivo, cada um sabe o tamanho da cruz que carrega. Problema todo mundo tem, não se mede nem compara. Mas tem uma certa categoria de dor que mexe mais com a gente. Experimente passar a manhã de domingo visitando a ala infantil de um hospital. Experimente trocar a velha paisagem das praças coloridas e toboáguas eletrizantes pelos corredores assépticos, brancos, tristonhos. No lugar da pipoca e do algodão doce, estranhas seringas transparentes e soro gotejando vida. Pronto. Provavelmente você vai destrancar a alma e correr de volta pra praça, feliz porque o seu problema é apenas uma rixa com o chefe, um namoro que acabou, um projeto que não vingou. Bola pra frente, sacode a poeira e dá a volta por cima.
Voltando às compensações da vida, que bom que a gente pode transformar sofrimento em riso. Que bom que pra cada criança doente tem dois ou mais palhaços adentrando o quarto, fazendo graça e fabricando música.
Não, eu não passei um domingo no hospital mas é como se fosse. Fui assistir a um espetáculo do Instituto Hahaha (institutohahaha.org.br) e não sabia se ria ou chorava. A Mostra Hahaha emocionou a plateia ao demonstrar um trabalho cheio de nobreza e compensações as mais lindas: para a falta de toque, toc-toc na porta; para a seriedade da situação, nariz de palhaço; para braço engessado, abraço apertado; para o shhhh da enfermeira, música de primeira.
Parabéns, Instituto Hahaha. Vocês prescrevem com encanto, competência e alegria uma receita que não costuma mesmo falhar:
a de que rir ainda é o melhor remédio. (Mesmo quando há todos os motivos do mundo para chorar.)

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<![CDATA[O pai que carrego em mim]]>https://rfeldman.web.app/o-pai-que-carrego-em-mim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec1Sun, 11 Aug 2013 15:49:00 GMTO pai que carrego em mim

O pai que carrego em mim
Roda gigante.
Bola de chiclete.
Pipa colorindo o céu.
Braços abertos na porta da escola.
Cai, levanta.
Amarra meu tênis?
Esconde-esconde.
Bolha de sabão.
Festa junina.
Adivinha o formato daquela nuvem?
Língua de gato.
Bala chita.
Me leva no altar?
Parei de fumar.
Ombro, colo, abraço, riso.
Quanto mais a gente cresce,
mais cresce o amor que a gente sente.
Tão presente, tão sempre,
tão grande, tão pai.

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<![CDATA[Mais farofa?]]>https://rfeldman.web.app/mais-farofa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afec0Thu, 08 Aug 2013 10:53:00 GMTMais farofa?

Mais farofa?Mais farofa?
Colocando um pouco mais de farofa na panela, vai uma uma outra perolice que esqueci de contar no post anterior.
Perolice jurídico-psicológica, logo você vai entender por quê.
A Bella tem uma amiga muito querida, Maria Clara, uma fofurice só.
Outro dia ela foi brincar lá em casa e não quis ir embora de jeito nenhum.
A Vó Riza chegou para buscá-la e as duas trataram de se esconder rapidinho, uma debaixo da cama e outra atrás da cortina.
Assim que foram descobertas, começou a choradeira misturada ao forte apelo infantil:
– Ahhhhhhh, deixa ela ficar mais um pouquinho, deixaaa!…
– Deixa, deixa, deixa, vovó!… Só mais um pouquinho!…
– Deixa! Deixa! Deixa!
– Por favor, por favor, por favoooooor!…
– Coitada da menina, deixaaaa!…
– Por favor, por favor! Por obséquio, por obséquio, por obséquio!…
– Acho melhor você deixar, né? Se não é muito sofrimeeeento!…
Tá explicado, argumentado, tá resolvido, meninas. Dois a zero pra vocês.
(É isso o que acontece quando uma filha de advogada se junta com uma filha de psicóloga para brincar.)

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<![CDATA[Farofa, monstros e rock'roll]]>https://rfeldman.web.app/farofa-monstros-e-rockroll/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afebfWed, 07 Aug 2013 23:43:00 GMTFarofa, monstros e rock'roll

Farofa, monstros e rock'roll
Experimente desligar a TV, tirar a gravata, vestir uma fantasia de princesa, levar a sério uma criança. Pronto. Sua “adulteza” já virou infância.
De perolice em perolice o mundo vai ficando mais redondo, colorido, mais cheio de graça e encanto.

– Mamãe, por que que dicionário chama dicionário? Devia se chamar livro da sabedoria.
………………………………………………………
– Mãe, eu já falei que não gosto de pimentão.
– Ô, filha, pimentão é tão gostoso. E olha só como faz a farofa ficar mais bonita.
– Eu adoro farofa, mas sem pimentão.
– Tadinho do pimentão, Bella. Ele vai ver todo mundo ir pra festa da barriga – o arroz, o feijão, a carne, o tomate… Só ele vai ficar de fora?
– Tadinho nada, mãe. Pimentão não é gente!…
……………………………………………………….
– Mãe, sabia que tem uma lenda sobre as mães que ficam muito bravas? Elas viram monstro.
– É mesmo, Bella? Onde você aprendeu essa lenda?
– Na escola, ué.
– Você acha que eu sou muito brava, filha?
– Não… E é melhor você não ficar, viu?
…………………………………………………………
– Bella, o telefone tá tocando!
– Ah, pai, tô com preguiça de atender…
– Deve ser o seu avô. Eu, se tivesse um avô ia atender. Mas o meu tá lá no céu, e lá não tem telefone não…
– Tem sim!
– Tem?!
– Tem, a gente liga pelo coração!
…………………………………………………………
– Mãe, às vezes eu não consigo parar de pensar! Minha cabeça parece uma banda de rock. (!)

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<![CDATA[AMORversário]]>https://rfeldman.web.app/amorversario/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afebeTue, 23 Jul 2013 00:02:00 GMTAMORversário

AMORversário
Então você nasceu. Eu ainda não era desse mundo, mas com certeza participei com emoção do seu “bota-fora”, já deixando um encontro marcado para anos depois. Cercado de anjos e estrelas você foi notícia linda numa noite de 23 de julho. Foi rapa do tacho numa família abençoada de quatro filhas, bênção ainda maior se viesse um menino. Veio. Você, cheio de luz e encantamento, posso apostar que chegou ao mundo com um riso gostoso, ao invés do tradicional choro. Seu nascimento fez tocar uma orquestra inteira dentro do seu pai e da sua mãe, sinfonia de alegria.
Hoje tem bolo de chocolate, velas acesas, risoto de camarão, mousse de maracujá, brigadeiro com flor de sal, mar cheio das melhores energias. Hoje tem riso, cantoria, torcida, balões em preto e branco, colorido melhor não haveria. Hoje é como se o Galo já estivesse carregando a taça.
Mais que aniversário, você faz diferença na vida da gente. Faz da felicidade palavra nada abstrata. Faz da sua alegria meu presente. Seu nascimento marcou, muito mais que o calendário, meu mundo, minha escrita, minha rima, toda uma existência.

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<![CDATA[Torcida]]>https://rfeldman.web.app/torcida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afebdSun, 14 Jul 2013 19:30:00 GMTTorcida

Torcida
Não entendo muito de futebol. A única vez que fui ao campo foi para fazer um trabalho de antropologia da faculdade, com um bloquinho na mão, de costas pro jogo, observando o comportamento da torcida.
Tenho em casa motivos de sobra para ser perita no assunto: um marido apaixonado pelo Galo, um filho que chora de emoção quando ele faz gol, uma filha que ficou “amiga” do Bernard.
Meu avô, se visse isso, ia estribuchar: antes de se tornar médico pneumologista, antitabagista ao extremo, foi artilheiro do Palestra Itália, atual Cruzeiro.
Mas a vida é assim mesmo. Para não dar espaço para a concorrência, o Dé mandou fazer um quadro assim que o Léo nasceu, e já na maternidade todo mundo lia: “Papai, obrigado por eu ter nascido atleticano.” (Desculpa, vô, mas tive que aderir à torcida.)
Não entendo muito de futebol mas trabalho apaixonadamente com as emoções. Perdas e ganhos, alegria e tristeza, medo e coragem, derrota, vitória e tantas outras dicotomias passeiam diariamente no meu consultório. Na estante, potes de vidro carregam pedras coloridas, cada um com um rótulo: AMOR, ALEGRIA, PAZ, ESPERANÇA. Para este último, cheio de pedras verdes, costumo apontar o dedo quando vejo à minha frente olhos vazios de crença, esvaziados de esperança.
Sem muito entender de pênaltis, faltas e arbitragem, no último jogo histórico do Galo contra o Newell’s Old Boys fui tomada pela emoção que tomou conta do estádio. Um torcedor atirou ao campo um terço que o goleiro Victor ajeitou no cantinho do gol. Um técnico aflito carregava Nossa Senhora estampada no peito, sem saber que era Ela que o carregava. A energia caiu, fazendo elevar a vibração da torcida com o refrão mais lindo e comovente de todas as torcidas: “Eu acredito! Eu acredito! Eu acredito!”
E dessa energia fez-se a luz. Da luz fez-se a emoção da vitória. Da vitória fez-se a confirmação do tanto que é preciso acreditar na força que as coisas têm quando precisam acontecer.

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<![CDATA[Olhos que falam]]>https://rfeldman.web.app/olhos-que-falam/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afebcMon, 08 Jul 2013 10:31:00 GMT
Olhos que falam
Olhos que falam
Olhos que falam
Olhos que falam
Olhos que falam

Conheci Tia Vera na piscina.
Paparicadeira feito ela só, virou logo tia do Léo, entusiasmada em ver o pequeno (na época com três anos) dar seus primeiros pulos e braçadas. Enquanto ele aprendia a nadar, a gente aprendia a ter mais qualidade de vida na aula de hidroginástica. Um perfeito “dois em um” para mães que querem cuidar dos filhos sem descuidar de si, driblando o relógio.
Valeu a torcida, Tia Vera. Hoje o pequeno já não é mais tão pequeno, treina na equipe e se alegra com cada medalha.
Sigo firme com ela na hidro, jogando água pra cima e recarregando as baterias.
Faladeira feito ela só, de um coração do tamanho de um trem, Tia Vera faz “ginástica intercomunicacional”: fala disso, daquilo, daquilo outro. O professor muda a perna e ela ainda está no braço, contando e recontando causos, histórias, o capítulo da novela e o drama da empregada. Dá notícia de tudo, de todos, com uma alegria contagiante e um sol brilhando dentro dela.
Quando Tia Vera falta, a piscina fica vazia e o tempo nublado. A aula até rende mais, mas fica bem esquisita.
Leitora assídua do blog, outro dia me pediu sem cerimônia:
– Renatinha, faz um post pra mim?
Dia desses ela me deu motivo.
Aprendiz de fotografia, apaixonada por criança, quis treinar uns closes com o Léo e a Bella pra ir montando seu portfólio. Levei minha afilhada junto e nos divertimos na Praça da Liberdade, em meio a brincadeiras de roda, ioiô, esconde-esconde. Pedi ao vendedor de algodão doce sua haste cheia de nuvens coloridas e lá fui eu distribuindo alegria na praça.
Pela primeira vez, vi Tia Vera em silêncio. Cada segundo era um clique, um momento, um sorriso que ela não deixava escapar.
Quando me enviou as fotos, entendi o significado daquele silêncio tão contrastante com a faladeira mulher da piscina.
A Tia Vera da praça mergulhou na emoção de um ofício que faz a alma falar mais alto. A emoção de capturar momentos únicos, preciosos, que não voltam mais.
Por trás da câmara, Tia Vera em silêncio cantava, orava, catava instantes de vida em movimento.
Para que palavras se os seus olhos diziam tudo?
Música, poema, poesia: isso é o que mais escuto no silêncio que vem dos seus olhos cheios de brilho, Tia Vera.

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<![CDATA[Cura de quê?!]]>https://rfeldman.web.app/cura-de-que/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afebbFri, 21 Jun 2013 15:39:00 GMT
Cura de quê?!
Cura de quê?!

Fico pensando (e esse pensamento dói) no quanto algumas profissões são exercidas de forma leviana, negligente, doente.
Profissão é algo sagrado, meu caro. Tem a ver com ganha-pão, honestidade, respeito, realização. Trabalho sério, principalmente quando se lida com gente. Principalmente quando se assenta numa mesa para criar ou aprovar projetos de lei. Projetos que não são de lego nem credo, não se montam como se fossem brinquedo.
Projetos de lei, meu caro, envolvem também projetos de vida. Pressupõem gente que lê, que pensa, que sente, que tem personalidade e opinião própria. Gente que sofre, que ama, que se perde e se encontra, cai e levanta, ri e chora.
Gente que tem sexo e nem por isso tem um carimbo dizendo como é que tem que amar. Com quem é que tem que se deitar. Gente que recusa projetos de lei determinando uma cura absurda.
Que cura, meu caro? Que lei? Por acaso amor mudou de nome? Virou doença seguir uma orientação, abraçar uma identidade, se jogar nos braços da mulher ou homem amado?
Me fale mais sobre isso. Deixe-me entender onde é que está a patologia. No meu consultório é que não está.
Não vejo doença nos olhos do homem que só tem olhos para outro homem. Não vejo distúrbio na mulher que sonha com outra mulher. Não cometo o equívoco absurdo de querer curá-los, meu caro.
Prezo o gay que se senta à minha frente como prezo qualquer outro ser humano que vem falar das suas dores, feridas, amores. Basta ser filho de Deus para tê-las aos montes.
Se esse blog fosse um divã, meu caro, Freud certamente lhe diria: “Seu tempo acabou.”

]]><![CDATA[Protesto]]>https://rfeldman.web.app/protesto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afebaSat, 15 Jun 2013 20:39:00 GMT
Protesto
Protesto

Existe uma lei universal de causa e efeito,
simples de entender.
Tudo o que você faz gera uma resposta,
mesmo que muitas vezes silenciosa.
Sua fala, seu rompante, seu abraço ou distância
reverberam longe, já que você não é uma ilha
e absolutamente não está sozinho nesse mundo.
Eu, que aqui escrevo
para desintoxicar meu sistema nervoso
das loucuras e absurdos que vejo por aí,
causo certamente um efeito em você.
A forma negligente, desrespeitosa e doente
como o nosso país vem sendo conduzido
causou, não era estranho de se esperar,
protestos que já são notícia no mundo todo.
O aumento na tarifa de ônibus
e o gasto exorbitante com a Copa
foram apenas a gota d´água.
O copo já estava cheio faz tempo –
derramando corrupção, violência, saúde em coma,
falta básica e essencial de educação.
Os jovens saíram do Facebook e foram às ruas
compartilhar, ao vivo e em cores,
sua revolta e indignação.
Alguns souberam fazer isso, outros não.
Uns fizeram bonito, outros fizeram estrago.
Referindo-me aos primeiros,
como povo brasileiro de um estado democrático,
eles tem – no mínimo – esse direito.
Mas a gota d´água desaguou em gotas de sangue,
senhores governantes.
Sua tropa de choque chocou um país inteiro
com suas bombas de gás lacrimogênio,
tiros de borracha, sprays de pimenta
borrifados até em cachorro.
Voltando à lei universal de causa e efeito,
tivemos aí um efeito devastador.
Desumano. Destruidor.
Temos aí um clássico exemplo
de quando o efeito é absurdamente maior
do que a causa.
Isso não acontece só nas ruas,
mas também nos casamentos,
nas relações afetivas e familiares.
Quando a reação, o castigo, o grito
vem de forma absolutamente desproporcional,
piorando tudo.
Silenciar assim a sua gente, senhores governantes?
O que poderia ser uma corrente pra frente acaba
virando corrente de chumbo voltando pra trás.
Década de 60, para ser mais exata.
Ditadura, tortura, abuso abismal de poder.
De efeito em efeito, vamos fazendo um país.
E um país é feito de gente, só para lembrar.
Gente que acorda cedo pra trabalhar,
gente que faz seu serviço direito,
gente que transforma luto em luta todos os dias.
Gente que oferece flores à tropa de choque,
causando como efeito
um tanto de assombro e esperança,
chamado urgente de paz e mudança.

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<![CDATA[Ode ao Dia dos Namorados]]>https://rfeldman.web.app/ode-ao-dia-dos-namorados/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb9Sun, 09 Jun 2013 23:47:00 GMTOde ao Dia dos Namorados

Ode ao Dia dos Namorados
A cena é linda, eu diria perfeita.
O namorado pára o carro em uma rua tranquila,
venda os olhos da namorada
e coloca uma música que fala de amor.
De repente a rua é tomada por casais de namorados
passeando de mãos dadas, sorrindo enamorados
entre beijos, abraços, flores e balões.
(Armação criativamente inventada,
famoso flashmob dos dias de hoje.)
Os olhos outrora vendados não acreditam no que vêem.
Choram de emoção, pupila dilata, fala falta.
O clímax chega na forma de uma caixinha preta
de veludo que delicadamente se abre,
mostrando duas alianças de ouro.
– Quer se casar comigo?
(…)
– NÃO.
(…)
Não?!?
A cena é inesperada, eu diria imperfeita.
Imperfeita como a vida é, afinal.
Plena de encontros e desencontros,
amores correspondidos e doídos,
porções inteiras de sim e não.
É com a recusa de um pedido do casamento
em pleno 12 de junho que começa o filme
“Odeio o Dia dos Namorados”.
O nome é curioso. Chama atenção
pelo forte antagonismo do verbo utilizado
em relação a uma data tão cheia de amor pra dar.
Aí você torce o nariz. Esvazia-se de toda
e qualquer pretensão já prevendo
uma tola comédia romântica cheia de clichês.
Lêdo engano.
“Odeio o Dia dos Namorados” é leve,
engraçado, ficcional e também muito real.
A mulher que não aceitou se casar
foi um dia a menina que botava fones de ouvido
para não ouvir a briga dos pais.
A publicitária viciada em trabalho
viveu um dia abstinência de amor
nas suas decepções de adolescente.
Um acidente de carro pára tudo, movimenta tudo,
dá a ela a oportunidade de voltar no tempo.
Pausa providencial, Divina Providência
dando uma explicação a tudo.
Depois de tanta “viagem”, nasce o slogan
do bombom Sonho de Valsa: “Alimente o seu amor”.
Como ex-redatora publicitária, adorei.
Era o slogan que eu gostaria de ter criado.
Como psicóloga, ouvinte frequente das trincas
que muitas vezes esfarelam as relações afetivas, validei.
O amor – a despeito de todos os traumas,
vazios e antagonismos – tem fome e sede,
necessidade constante de cuidado e nutrição
para não correr risco de inanição.
Deve ser por isso que os restaurantes
fazem fila no Dia dos Namorados.
Oficialmente os casais ficam ávidos
de rua, lua, vinho, ninho,
famintos que estão de amor.

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<![CDATA[Perolices edificantes]]>https://rfeldman.web.app/perolices-edificantes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb8Mon, 27 May 2013 23:21:00 GMTPerolices edificantes

Perolices edificantes
Na volta da escola, vou entrando no mundinho da Bella,
perguntando como foi seu dia:
– Então, minha flor, o que você aprendeu hoje?
– Aprendi a ter dúvidas!
É. Dá-lhe Sócrates, “só sei que nada sei”.
…………………………………………

Comentário do Léo no final do domingo:
– Mãe, você sabia que a vovó bebe?
– É, de vez em quando ela toma uma cervejinha…
Por que a surpresa, meu filho?
– É que ela não é adulta, é idosa…
………………………………………….

Bella empolgada para ir ao sítio:
– Ai, eu tô tão feliz!
– Por que, Bebella?
– Por que eu vou ver minha cachorrinha, a Teca.
Ela ficou ENGRAVIDADA!
………………………………………….

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<![CDATA[Engano]]>https://rfeldman.web.app/engano/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb7Thu, 23 May 2013 00:07:00 GMTEngano

Engano
Por engano dois bebês são trocados
logo após o nascimento.
Por engano, susto, pânico eles se misturam no refúgio,
nascidos que foram em meio ao bombardeio.
O menino israelense ganha o colo da mãe palestina.
O menino palestino ganha o colo da mãe judia.
Os meninos crescem, a verdade aparece
com a força de uma granada.
Apesar das diferenças tão abissais e gritantes,
os dois filhos se encontram.
As duas famílias se reúnem para jantar.
Os olhares se cruzam.
Os lábios entoam uma canção familiar.
As raízes se ampliam.
As fotografias falam.
A tocante ficção de “O Filho do Outro”
é vida real na história de algumas vidas.
Por engano se cometem erros,
desastres, equívocos sem fim.
Por pertencimento rompem-se barreiras,
desfazem-se mal-entendidos,
se desmancha um muro inteiro.
A sensação de pertencer a uma família, uma pátria,
uma barriga ou a um time de futebol
fica desde sempre registrada
na alma, no sangue, na carne.
Impressão digital, profundamente emocional,
que guerra nenhuma jamais apaga.

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<![CDATA[Diante do muro]]>https://rfeldman.web.app/diante-do-muro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb6Wed, 15 May 2013 23:27:00 GMTDiante do muro

Diante do muro
É de pedra, emoção, tijolo e terra o meu lamento.
Pelas mulheres que não podem rezar.
Pelos homens que desaprenderam a amar.
Pelas crianças esquecidas.
Pelo adoecer repentino.
Pelos encontros tão doídos.
Pelo diálogo surdo.
Pela polêmica vazia.
Congresso de azia.
Pelo grito mudo.
Vida no escuro.
Rua sem lua.
Pelo amor de Deus, que lê os bilhetes do mundo.
É de letra, luz, rascunho e rima o meu intento.

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<![CDATA[Rotina]]>https://rfeldman.web.app/rotina/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb5Thu, 02 May 2013 23:46:00 GMTRotina

Rotina
“Um, dois, feijão com arroz.”
Fez onde, esse curso de robô?
Roubou seu tempo, economizou conversa jogada fora,
suas estrelas deixou de contar.
Toca o despertador. Começa o noticiário.
Árido o dia que termina assim.
Tão no automático.
No imediático, se é que existe palavra assim.
Brinca de parar o tempo, menino.
Tanta coisa pra fazer, alma trancada no sótão.
Sai da catatonia, fura a monotonia
como surfista quebrando onda.
Vai morrer de amor mas não morre na praia.
Sai do padrão, faz careta pra escuridão,
acende os olhos para não perder de vista
a paixão que há tempos te ronda.
Compra logo uma lanterna roxa e sai por aí.
Vai bater ponto na vida.
Faz serenata, essa coisa tão antiga.
Vai contar causos de pescaria.
Tricotar com a avó.
Ou teclar, bater um blá, sei lá.
Acende uma lareira e junta os amigos.
Dá férias pro chefe e prepara panqueca de abacate
com pimenta rosa.
Mas troca essa voz robótica,
esse jeito previsível de fazer tudo igual sempre.
Desde sempre é que não foi. Foi?
Desrobotiza. Miraculiza. Externiza.
Xis. Sorria.
Você não está sendo filmado.

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<![CDATA[Mães de carne e osso]]>https://rfeldman.web.app/maes-de-carne-e-osso/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb4Wed, 24 Apr 2013 23:24:00 GMTMães de carne e osso

Mães de carne e osso
Sim, existem mães perfeitas.
Insistentemente magras, endeusadas,
santas, heroínas, mitificadas.
Consagradas ao posto de mulher-maravilha ou elástico,
horário nobre no paraíso.
Tão compactadamente cheias de pó compacto,
photoshop, barrigas de plástico.
Abra o jornal e lá estão elas:
impecavelmente perfeitas nos anúncios publicitários,
vendendo de perfume a geladeira para o Dia das Mães.
Desligo a TV e me olho no espelho.
Cansaço e alegria.
Labuta e correria.
Colo e coragem.
Amor e ancoragem.
Reza e anjo da guarda.
Não sei mais quantas linhas de expressão.
Cada uma um significado,
uma noite perdida, uma vida inteira ganha.
Ô. Presente que não se encontra
em loja nenhuma do mundo.
Luz que não se acende com mil camêras,
mas dentro dessa mãe que é de carne e osso.
Sim. Se você não sabia, mãe é de carne e osso.
Erra e tropeça também.
Borra a maquiagem, quebra o salto,
se perde nos seus achados,
agenda reuniões diárias com Deus.
Ainda bem que é de carne e osso.
É dessa combinação que nascem
os abraços mais apertados,
amorosos, verdadeiros, inteiros,
cheios de afeto e de uma ligação única,
que propaganda nenhuma jamais conseguiu inventar.

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<![CDATA[Perolices profissionais]]>https://rfeldman.web.app/perolices-profissionais/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb3Sat, 13 Apr 2013 21:44:00 GMTPerolices profissionais

Perolices profissionais
Para as crianças, profissão é um assunto que não costuma causar muita polêmica.
A boa e velha frase “O que você vai ser quando crescer?” traz algumas respostas na ponta da língua.
A Bella, por exemplo, já decidiu que vai ser psicóloga, escritora, cozinheira e professora.
O Léo quer ser engenheiro de lego, arquiteto, ator e diretor de filmes de ação. De 007 pra cima.
Aí eles crescem e, na hora H, percebem que escolher a profissão da sua vida não é algo tão simples assim.
Dá-lhe angústia. Dá-lhe dúvida. Dá-lhe sessão de terapia e teste vocacional para definir
seu ganha-pão, sua rotina diária, seu brilho nos olhos. (O fundamental brilho nos olhos.)
E aí um dia, além de profissionais, eles viram pai e mãe, sempre apressados para trabalhar,
e ainda tendo que parar para explicar aos filhos o que significa essa correria toda:
– Mas, mamãe, por que você tem que trabalhar? Vou ficar com saudade!…
– Por que a mamãe tem que ganhar dinheiro para pagar a escola, pagar a nossa ajudante,
comprar coisas gostosas pra gente comer… Suas roupas, seus brinquedos,
sua festa de aniversário, tudo custa dinheiro.
Mas não é só por isso, minha filha: a mamãe adora trabalhar.
Vejo algumas mães sofrendo, carregando uma tonelada de culpa nas costas porque trabalham fora.
Elas se esquecem do modelo importante que são para os filhos:
modelo de gente trabalhadora, batalhadora, realizada, feliz.
E, apesar da saudade, os pequenos vão se enchendo de orgulho dos pais.
Outro dia a Bella estava numa prosa animada com a Sofia, uma de suas amigas prediletas,
justamente sobre esse assunto:
– Sabia, Bebella, que o meu pai é presidente da escola? (…)
– Pois o meu é síndico. Ele manda no prédio todo. (!)

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<![CDATA[Falta]]>https://rfeldman.web.app/falta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb2Wed, 10 Apr 2013 23:45:00 GMTFalta

Falta
A história você já conhece:
a gente nasce, cresce, envelhece e morre um dia.
(Não necessariamente nesta ordem.)
Mas o tal do morrer assusta,
por mais “natural” que seja.
É que o “natural” também passa
pelo forte impacto do factual,
da concretude da perda, do fim mais finito.
Quem parte vai virar etéreo, anjo, estrela,
na melhor explicação que costuma se dar às crianças.
Quem fica precisa se acostumar com a presença
doída, moída, torturante de uma ausência
que não estava no script,
apesar de lá estar desde sempre.
Por mais rezas e velas acesas,
somos acostumados ao material.
Somos afetivamente,
emocionalmente materialistas por natureza.
O telefone que toca. O colo que acolhe.
A voz que pergunta como foi o dia.
O comprimido, a alergia, a mudança de tempo.
Os pés entrelaçados na cama.
O perfume, o toque, o braço que abraça.
O termômetro que atesta a febre,
o copo de leite, a roupa cheirando à amaciante,
o fio de cabelo no travesseiro.
As gavetas, o criado-mudo, o prato predileto,
a risada inconfundível.
O controle-remoto, o Jornal Nacional,
o sofá agora imenso.
As manias, os sapatos, a cabeceira vazia.
E aí vem a missa de sétimo, vigésimo, milésimo dia.
Só o tempo para serenar a dor
e acalmar esse mar revolto
que um dia quase afundou seus olhos.
Quem se foi nunca precisou ter ido, essa é a verdade.
Quem se foi jamais se vai.
Vira estrela dentro da gente,
pulsando no coração ad aeternum.
Tão dentro, tão perto, tão luz, tão sempre.
Saudade muda de nome, perde o sentido, perde o rumo.
Saudade a gente sente de quem está longe.

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<![CDATA[Apaixonadamente]]>https://rfeldman.web.app/apaixonadamente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb1Wed, 03 Apr 2013 23:55:00 GMTApaixonadamente

Apaixonadamente
Mania essa de viver apaixonadamente.
De transformar cada gota de suor, sonho,
travessia em grito de gol.
Alçar vôo, romper o chão.
Roubar a lua para pôr nos olhos.
Audaciosa e escancaradamente.
Deixar à mostra essa alegria que te move,
te acorda, te faz.
Fazer o para-casa, sair de casa,
mostrar ao mundo a sua cara.
Hospedar o Paul, lotar o estádio,
fazer o melhor café do mundo.
Pura energia, sintonia,
música que não desafina.
Voltar a enxergar.
Voltar a andar, mesmo que numa cadeira de rodas.
Colocar emoção num prato de arroz com feijão.
Pimenta a gosto.
Qualquer que seja o motivo é motivo.
Se alguém inventou a monotonia, que desinvente.
Que tente.
Você não tem tempo a perder.
Você não precisa ter medo de ser. Seja.
Viver apaixonadamente, lembra?
Taquicardia, perna bamba, tormento de encantamento.
Te dou dois segundos pra roubar a lua.

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<![CDATA[No escurinho do cinema]]>https://rfeldman.web.app/no-escurinho-do-cinema/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeb0Thu, 28 Mar 2013 18:00:00 GMTNo escurinho do cinema

No escurinho do cinema
E entre “cabruns”, “grrrrrrrs” e “ôôôôôôôôôôs”
ouvidos em altíssima definição acústica,
como se estivéssemos todos em plena era pré-histórica,
fugindo de animais ferozes e pedras gigantes,
ganho uma cutucada da Bella:
– Mamãe, ainda bem que a gente não tá em casa, né?
– Por quê, filha?
– Por que senão você ia pedir pra abaixar o volume…
……………………………………………..

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<![CDATA[Tempo das cavernas]]>https://rfeldman.web.app/tempo-das-cavernas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeafThu, 28 Mar 2013 01:14:00 GMTTempo das cavernas

Tempo das cavernas
Adultos, hora do recreio.
Prepare-se para a pipoca, o riso e a emoção de “Os Croods”, um filme impactantemente delicioso.
Impactante pelos cenários coloridos, abalos sísmicos em terceira dimensão, invenção do fogo. (Sim, você quase havia se esquecido que ele foi inventado um dia.)
Prepare-se para conhecer uma típica família do tempo das cavernas, conectadíssima com a fome, os perigos do mundo lá fora, a necessidade de sobrevivência.
Prepare-se para se encontrar com o seu adulto pós-moderno que, embora preso em outras cavernas, ainda morre de medo do escuro. De medo de amar. De se encontrar. De virar gente grande. De voar, de ser, de simplesmente viver. (Viver é perigoso, meu caro.)
Em quantas cavernas mais você tem se escondido? Por trás de qual celular, debaixo de qual cobertor, engolindo quantos analgésicos pra dor?
A DreamWorks não colocou isso lá na ficha técnica, mas Guimarães Rosa devia estar lá, no maior de todos os letreiros, lembrando que “o que a vida quer da gente é coragem”. Coragem de transpor montanhas, desenterrar-se de areias movediças, descobrir novas paisagens, sair do lugar, romper com o escuro. (Olha o fogo aí fazendo todo o sentido.)
Foi-se o tempo que medo era invenção de criança. Hoje os pequenos tem medo de mosquito da dengue, mas são os adultos que acendem o abajur à noite, às voltas com os seus fantasmas.
Como se não bastasse, o filme ainda tem um quê especial de constelação familiar quando a filha rebelde se enche de coragem para tomar o pai medroso. Na energia de um abraço, na ligação de um “eu te amo”, no abismo da dor de uma grande perda, o que acontece é força.
Adultos, ao trabalho.

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<![CDATA[Quarentena]]>https://rfeldman.web.app/quarentena/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeaeSun, 10 Mar 2013 00:03:00 GMTQuarentena

Quarentena
Onde foi mesmo que eu parei?
Por onde mesmo andei?
Nem sei se andei, ou voei.
Tentando capturar o tempo, abraçar o vento,
florescer poesia na aridez das teorias,
terminologias, metodologias, “uis” e “ias”.
E como escrevia. Lia, relia, respirava fundo. Doía.
Depois de tantos mergulhos no “eu”, no ser,
na mãe – nas várias faces dessa mãe contemporânea
tão cheia de culpa, dedicação, amor, cansaço,
transformação, conflitos e ambivalências,
aqui estou, de volta.
Dedilhando leve nesse teclado
que andou pegando pesado.
Depois de um mestrado de muita estrada,
gente “normal” outra vez.
Que vai ao cinema, arruma gaveta, dorme depois do almoço, escreve no blog. (Quanta saudade.)
Coisas simples assim, tão bem-vindas
depois de uma longa e bonita caminhada.
Aqui estou.

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<![CDATA[Santa Maria]]>https://rfeldman.web.app/santa-maria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeadSun, 27 Jan 2013 22:13:00 GMT
Santa Maria
Santa Maria

Não. Nem luto oficial de sete dias. Nem todas as flores do mundo. Nem cem minutos de silêncio ou palavras proferidas. Nem mil microfones para gritar, chorar, denunciar a violência de uma dor que tomou tudo, devastou tudo. Cessou a música, derrubou sonhos, asfixiou a alegria, interrompeu lindas travessias de vida. Finda. Fenda. Venda nos olhos pra não ver um morrer tão gigantesco, consternado e doído.
Não. Nada apaga a tristeza, o vazio, a forma absurda desse fim.
Santa Maria. O nome da cidade também é evocação da mãe de Deus. Quantos não precisarão do seu colo e da sua luz nesse susto escuro?
Quando o socorro chegou, a música não mais se ouvia. Mas ao silêncio dos alvéolos rompidos juntou-se o som dos celulares tocando. Uma sinfonia high tech de chamadas não atendidas e telas coloridas pulsantes imploravam por um sinal de vida. Num só aparelho, mais de 100 chamadas não atendidas. Em mais de 200 corpos, a lastimável desconexão da vida. Na vida de quem fica, a perda completa de chão.
Santa Maria, rogai por nós.

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<![CDATA[Empreendedorismo infantil]]>https://rfeldman.web.app/empreendedorismo-infantil/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeacFri, 25 Jan 2013 19:56:00 GMT
Empreendedorismo infantil
Empreendedorismo infantil

Sol. Praia. Água de coco. Céu azul de brigadeiro.
Entre uma onda e outra, pausa na sombra da Castanheira para a tradicional reunião de família. Assuntos delicados como “vai ser peixe ou camarão?”, “caiaque ou banana?”, “picolé ou sorvete?” vão sendo tratados, sem muita polêmica.
Quando o pé descansa na areia e os olhos se perdem parados no horizonte, onde o céu beija o mar, todos parecem chegar sem delongas ao consenso de que a vida é mesmo muito difícil. Dificílima.
E aí me aparece, para alegria de todos, um vendedor de cocada. Cocada preta, branca, de maracujá, leite condensado. Tem pra todos os gostos. Pode escolher.
Além do tabuleiro recém-saído do forno, o moço levava com ele a filha de seis anos, maiozinho no jeito pra quando o “serviço” acabasse.
Venda feita, missão cumprida, lá se foi o cocadeiro com o seu doce mais bonito.
Minha Bella, antenadíssima, ficou espichando os olhos para a menina, tão nova e trabalhadeira.
Aproveitando a deixa, o pai foi logo brincando:
– Tá vendo, Bella? Ela já trabalha, tá que vende cocada… E você, quando é que vai começar a trabalhar?!
(…)
– Quando você começar a vender!…
(!)

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<![CDATA[Perolices animais]]>https://rfeldman.web.app/perolices-animais/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeabSat, 12 Jan 2013 17:06:00 GMT
Perolices animais
Perolices animais

Como já contei antes, férias em casa é um caso sério. Até brincadeira de psicólogo entra na história pra passar o tempo.
Então, para variar o repertório, resolvi deixar os meninos no sítio, cercados de cuidados dos avós, tios e primos mais que corujas.
E aí as brincadeiras mudaram de profissão: as crianças viraram veterinários, mergulhadores, cozinheiros, fazendeiros. Uma farra só.
Quando chegamos, um Léo afoito veio correndo contar o episódio do ano. (Já.)
– Mãe, você não acredita! A gente tava brincando perto da porteira quando viu uma cena horrível. A égua do vizinho tava empacada, e o caseiro começou a bater nela com um pau. Bateu tanto, mãe, que a boca dela começou a sangrar! Saiu muito sangue!
– Que absurdo, meu filho, ninguém fez nada?
– A vovó saiu gritando, falando pro moço parar, deu a maior bronca. Num é um absurdo, mãe? A gente tinha que denunciar! Tinha que chamar o Obama!
(!)

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<![CDATA[Feliz 2013]]>https://rfeldman.web.app/feliz-2013/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afeaaMon, 07 Jan 2013 10:50:00 GMT
Feliz 2013
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<![CDATA[Perolices de férias]]>https://rfeldman.web.app/perolices-de-ferias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea9Fri, 28 Dec 2012 11:24:00 GMT
Perolices de férias
Perolices de férias

As merecidas férias escolares nem sempre coincidem com as merecidas férias dos pais. Nem sempre coincidem com o camarãozinho na praia, os castelos de areia, o galo cantando na fazenda ou os bonecos de neve pra quem vai mais longe. Uma parte coincide, é claro. Tem que coincidir, afinal somos todos filhos de Deus.
Mas dois meses de férias é fogo. Dá-lhe clube, piscina, casa da tia, vô coruja e amigos para fazer o tempo passar macio, alegre, preenchido.
Mas quando o “point” é em casa, há de saber equilibrar o tempo sem deixar a infância se aprisionar na obcecante-paralisante-alienante força tecnológica dos playstations, notebooks, aparelhos de LCD.
Haja criatividade para transformar crianças em pilotos de avião, veterinários, caixas de supermercado, bailarinas, cantores de rock. Dá-lhe Lego, Barbie, Poly, Playmobil. Dá-lhe bola de meia, caixa de ovo, argila, bicicleta e até “divã”:
– Alô.
– Ei, filho, tudo bem? O que você está fazendo?
– Brincando de psicólogo.
– (!…)
– A Bella está meio sem paciência, então eu estou “atendendo” ela.
– E como é esse atendimento?!
– Ela entra, assenta e a gente joga paciência.
(…)

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<![CDATA[Começo do mundo]]>https://rfeldman.web.app/comeco-do-mundo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea8Thu, 20 Dec 2012 17:01:00 GMT
Começo do mundo
Começo do mundo

Os maias que me perdoem, mas prefiro pensar no antônimo mais lindo de fim.
Sim, nada de fim. Começo, como eu mereço. Como você, seu mundo, seu pequeno grande universo merecem. E ponto final. Ou melhor, reticências.
Enche de reticências a sua vida, enche de alegria cada página em branco, cada possibilidade imensa e rica da continuidade.
Então, já que o mundo está só começando, que tal pensar em tudo aquilo que você deixou parado na gaveta há um bom tempo? Todas as suas rugas, rusgas, sinal precoce de envelhecimento?
O que tem que acabar não é o mundo, mas tudo aquilo que tira a vida do seu mundo.
Picuinhas. Ladainhas. Dramas e tragédias. Casquinhas pra se agarrar. Caquinhos pra juntar. Ah, só de escrever já deu canseira.
Perde a estribeira. Aproveita que amanhã é o famoso 21 de dezembro de 2012 e decreta logo um feriado nacional. “Dia do Começo do Mundo”, que tal?
Vai se acabar numa cachoeira, numa pista de dança, numa brincadeira de criança.
Acorda antes do sol, prepara o anzol, desengasga o “eu te amo” que ficou aí parado.
Olha nos olhos, canta no chuveiro, descobre o dom que ficou fora de tom.
Nasce de novo, chora de emoção, descomplica e despinica.
Vai beijar, vai suar, vai amar, vai viver.
Falta pouco pro mundo começar.

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<![CDATA[(untitled)]]>https://rfeldman.web.app/71/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea7Thu, 20 Dec 2012 09:43:00 GMT
(untitled)
(untitled)

]]><![CDATA[(untitled)]]>https://rfeldman.web.app/72/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea6Sat, 15 Dec 2012 18:26:00 GMT

(untitled)
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<![CDATA[Devaneios]]>https://rfeldman.web.app/devaneios/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea5Mon, 03 Dec 2012 22:31:00 GMT
Devaneios
Devaneios

Perdeu a hora. 40 minutos, para ser mais exata. Atrasada para o trabalho, agradavelmente adiantada no sonho. Quase no finzinho, por que é mesmo que tinha que acabar? Esdrúxulo. Imprevisível. Indizível para o seu analista. Inanalisável, se é que existe essa palavra. (Existe.) Desejo, anseio, seios fartos para alimentar um berçário inteiro. 40 minutos de um efeito anestesiante vindo daquele sonho. Idos e findos, mistura de montanha-russa com surfe, logo ela que tinha fobia de altura e não sabia nadar. Nadica de nada. Nem bóia nem prancha, o que ela queria mesmo era um salva-vidas. Salva-vida, melhor dizendo, estritamente singular, sua vida é que pedia socorro. “Me salva se não eu morro”, suplicava enquanto sonhava. Estava ficando expert em sonhar o insonhável, reiventar a neurolinguística e os neologismos, colorir a sinapse dos seus neurônios nervosos.
Depois de engolir sal, água e areia, acorda num sobressalto. Já passa das sete, “isto é um assalto.”
Corre pro chuveiro, ducha gelada para lembrar a que veio. O mar vira água doce, a montanha ganha o sol, o sabonete adentra a pele, o chefe pode gentilmente esperar.

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<![CDATA[Giovana]]>https://rfeldman.web.app/giovana/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea4Thu, 22 Nov 2012 12:33:00 GMT
Giovana
Giovana

Bebês, chorinho, colo, cheirinho. A maternidade sempre me encantou, desde a notícia do Beta HCG até a emoção singular do nascimento. Tanto encantou que acabou virando dissertação de mestrado, quase um parto, não vejo a hora de dar à luz.
Quando não sou mãe sou madrinha, tia coruja, quem precisa de babador sou eu.
Numa disciplina de psicanálise me peguei fascinada pela teoria da identificação, em que o bebê se constitui, torna-se alguém, através do olhar da mãe. (Leia-se também pai, padrinho, madrinha, irmãos, vô e vó…).
A clássica cena da amamentação traduz na prática esse “olhos nos olhos” que fazem parar o tempo, abrindo as janelas da alma. “Esse seu olhar… quando encontra o meu… fala de umas coisas que eu não posso acreditar…”
Se o feriado passado fosse um música, com certeza seria Tom Jobim a embalar minha alegria. Honra e alegria de ser madrinha da Giovana, filha de amigos queridos, a uma distância de quase 800 km daqui.
Pageei a Giovana de longe, antes dela nascer. Amei a Giovana de perto, antes mesmo de a conhecer. E quando o encontro finalmente aconteceu, tudo isso não passou de mera e linda confirmação.
Bochechas sorrindo, trinado de passarinho, aconchego de colo, rosto colado no meu. Na hora do batizado, em que seria natural que ela chorasse, só fazia rir pra mim.
Mas o que mais me tocou foram os olhos de Giovana adentrando os meus. Olhos que no final das contas se fundiram, desapareceram para dar lugar a um olhar cheio de ternura e doçura. Parecia que já nos conhecíamos há muito tempo.
E esse olhar me dizia tanto, mas tanto, que madrinha e afilhada quase se perderam de tanto amar.
Contrariando a teoria, Giovana, foi você que foi me constituindo através da luz desse seu olhar.

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<![CDATA[Guarde na memória]]>https://rfeldman.web.app/guarde-na-memoria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea3Fri, 09 Nov 2012 11:47:00 GMT
Guarde na memória
Guarde na memória

Tem coisas que você não se lembra mais. Tem coisas que grudam na memória como Super Bonder. Super doídas, absurdamente vivas, capazes de arrancar pedaço e tirar o sono. Tem gente que se pergunta como é que a ciência ainda não inventou a pílula do esquecimento. Quem dera esquecer o trauma, o susto, a dor que decidiu não parar de doer.
E quem é que disse que precisa de ciência para apagar a memória?
Basta ser gente. Basta ter um cérebro, um nome, um RG, uma família, um endereço para se esquecer de tudo. (Ou quase tudo.)
Foi assim que aconteceu com a Tia Zirinha. Parênteses: tia iluminada, querida, que desde o início não titubeei em adotá-la como minha. Tia do meu marido, madrinha de casamento, fada madrinha. Jamais vou me esquecer da sua energia, do seu afeto, da sua abundante força e alegria.
Não consegui disfarçar minha tristeza quando soube que o Alzheimer tinha lhe feito uma visita. Mal-educado, esse mal que parece estar na moda. Nem sequer foi convidado, chegou de surpresa. Arrombou a porta, armou acampamento, entrou na vida dela sem pedir licença. Será que veio para apagar da memória coisas pesadas e difíceis que ela teve que viver? Ouso pensar que o Alzheimer vem com o propósito de dar uma trégua, um apagão a quem já sofreu muito um dia, e carrega lembranças de entortar a alma. Mas não. Não combina com a fibra e a luz dessa mulher que sempre teve um entendimento especial da vida. “Se vivi, é porque tive que viver, minha filha. Nada é por acaso.”
No aniversário de um cunhado também muito querido, me encontrei com ela pela primeira vez depois da doença. Tiveram que “apresentá-la” para mim. Sua afilhada virou uma simpática desconhecida. Ao afilhado ela olhou com carinho e disse:
– Não te conheço, mas você é um moço bonito. Homem bom. Precisa arrumar uma moça boa para se casar.
(…)
Se já estava emocionada, foi aí que chorei mesmo.
(…)
Mas emocionante mesmo foi o reencontro dela com a filha que estava morando nos Estados Unidos há anos. Carinhosa feito a mãe, Walquíria telefonava todos os dias, interurbano de longa distância e um oceano inteiro de amor ligando as duas. Fazia isso como um ritual, mesmo sem garantia de que a mãe a identificasse ou reconhecesse, pois a memória já falhava inclusive com os filhos.
Quando chegou ao Brasil, a mãe estava dormindo, mas a voz inconfundível que vinha da cozinha foi como despertador. Despertamor.
Sem estranhar tão ilustre visita, olhou a filha nos olhos, passou a mão no seu cabelo, deu um sorriso seguido do abraço mais doce que podia dar na vida e disse:
– Minha filha!…
O “minha filha” mais lúcido, amoroso e cheio de discernimento para alguém que não se lembra mais onde mora, qual o seu nome, quantos anos tem.

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<![CDATA[Primeiro de Novembro]]>https://rfeldman.web.app/primeiro-de-novembro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea2Thu, 01 Nov 2012 00:16:00 GMT
Primeiro de Novembro
Primeiro de Novembro

Amanheço.
Agradeço.
Enterneço de amor pela montanha
que faz nascer o sol.

Choro olhos enluarados de emoção.
Agradeço a todos os santos, todos os anjos,
todo santo dia por este novembro
que nasceu poema.

Primeiro de novembro.
Te escrevo, te leio,
te recito, te lembro.

Entardeço.
Agradeço.
Enterneço de novo de amor
pela montanha que guarda o sol,
por cada pedaço seu que mora em mim.
Adormeço nunca esse amor que não tem fim.

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<![CDATA[Curtição]]>https://rfeldman.web.app/curticao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea1Sun, 28 Oct 2012 22:50:00 GMT
Curtição
Curtição

Tô perdida.
Um segundo que eu larguei o computador
para atender o telefone
e a Bella pirulitou pra cadeira,
mãozinha a deslizar pelo mouse,
olhos parados na página do facebook.
Enquanto eu conversava com uma amiga
que não via há muito tempo,
a danadinha clicou numa propaganda
de brinquedos infantis no lado direito da página.
Curtiu, curtiu, curtiu. Não tenho dúvida que curtiu.
Quando eu voltei, ela já tinha colocado no carrinho
um armário da Barbie no valor de R$ 1.499,00.
(…)

]]>
<![CDATA[Sexo frágil]]>https://rfeldman.web.app/sexo-fragil/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afea0Thu, 18 Oct 2012 08:28:00 GMT
Sexo frágil
Sexo frágil

Você não deve estar entendendo nada.
O que este título está fazendo aqui, depois do lindo tributo às mulheres prestado no post anterior?
Que história é essa de sexo frágil, Renata?!
(…)
É a história – várias histórias – que tenho visto
e ouvido sobre algumas mulheres.
A cada história uma personagem, uma fantasia,
um quê de forte fragilidade.
Essas mulheres há muito largaram o tanque e o fogão, queimaram o sutiã em praça pública,
se desvirginaram do tabu de casar virgem.
Não se trata aqui de direitos iguais, salários menores, revoluções feministas ou outros pormenores.
Trata-se de pensar na forma como essas mulheres andam lidando com os seus afetos, suas buscas, idiossincrasias mais nuas.
Agora elas não queimam mais sutiã em praça pública.
Segundo testemunhas “cardio-oculares”,
elas queimam o filme, esturricam
o pouco de amor próprio que lhes resta,
desfazem-se em mil pedaços.
Esvaziadas de autoestima, movidas pelo desespero e achando que podem tudo, essas mulheres escancaram
sua fragilidade velada. Seu sexo frágil.
Tenho visto alguns homens incomodados
com essas mulheres. Tenho visto algumas mulheres
com vergonha dessas mulheres.
Andam dizendo que elas se jogam, se desmerecem,
se deitam na bandeja pro garçom levar.
Não sabem, não conhecem,
não colocam-se no seu lugar.
“Será que não sabem?”, entoam os advogados do diabo.
Segundo as más línguas, essas mulheres usam disfarce de coitadinha, impregnadas da própria carência,
saltos transformados em rasteirinha. Rasa inocência.
Línguas mais ferinas dizem que elas se fantasiam
de lobinhas bobinhas em pele de cordeiro,
maquiagem borrada, assustadoramente
enganando a si mesmas.
Línguas amigas interrogam a quantas anda
sua autoestima, sua inteireza, seu espelho.
Retomando Simone de Beauvoir,
“não se nasce mulher, torna-se mulher”.
E quando me perguntam no que estas mulheres
estão se tornando, ofereço um refresco de maracujá,
rede na varanda e convite pra filosofar.
Cessar fogo. Trégua de pedras.
Olhos se abrindo em colo pra compreensão chegar, gentilmente se aninhar.
Rompendo com todos os rótulos e estereótipos,
resta o grito doído da mulher que pede arrego,
rumo, paradeiro, colete salva-vidas, prumo.
O que lhe falta?
Bússola, luz, caminho, porto seguro.
Muitas vezes não é a mulher que grita.
É a criança que chora. Sapateia. Faz pirraça.
Joga as tranças do alto da torre,
se agarrando num fio desesperado de esperança,
ensandecida para chegar em algum lugar.
Que lugar, Rapunzel?
Perdida nos seus descaminhos, absorta
em sua greve de sono, precisa fechar os olhos,
apagar a luz, programar o despertador
para enfim acordar mulher.

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<![CDATA[Mulheres]]>https://rfeldman.web.app/mulheres/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe9fFri, 05 Oct 2012 20:03:00 GMT
Mulheres
Mulheres

“Não se nasce mulher, torna-se mulher.”
É de Simone de Beauvoir a célebre frase que tantas mulheres – feministas ou não, famosas ou não, carregam na alma e no olhar.
Dê a estas mulheres um espelho e ali estará toda a sua poesia em movimento – olhos, cílios, boca, seios, jogo de pernas, salto alto, cintura. (Muito jogo de cintura.)
Dê a estas mulheres um divã e ali estará sua vida inteira em paralisia ou movimento – suas escolhas, seus medos, vontades, desejos, delírios, alucinações mais cheias de lucidez.
Sua menina já foi dormir faz tempo. Virou Bela Adormecida esquecida num castelo no meio da floresta. Esquecida pelo príncipe, que lembrou que ele mesmo não existe. Carregada no colo pela mulher, embalada pelas lembranças do que um dia foi. Foi, já não é.
Dê a estas mulheres um homem de verdade e ali estará sua alma, sua carne, seu corpo, sua mente.
Mente quem diz que já se nasce mulher. Nasce a menininha linda, dengo da tia, xodó da vovó. Torna-se mulher com o tornar dos dias, noites, anos a fio. Nasce a primeira espinha, o primeiro amor, a primeira dor. Torna-se mulher quem se apropria de si, com todos os arranhões que a vida traz. Torna-se mulher quem diz tudo com o olhar, sem códigos ou legendas. Quem vai pra cama sem dormir com os anjos. Quem toma à frente sem fazer revolução. Quem atravessa o deserto sem pedir colo. Quem faz dos rascunhos poesia. Quem faz de um perfume sua autoria.
Torna-se mulher quem sabe amar por inteiro
sem nunca ter feito um curso de amor no exterior.

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<![CDATA[Motivo nenhum]]>https://rfeldman.web.app/motivo-nenhum/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe9eMon, 01 Oct 2012 09:57:00 GMT
Motivo nenhum
Motivo nenhum

Não era seu aniversário. Nenhuma data especial, nenhum evento extraordinário no calendário.
Nada importante a comemorar, a não ser a própria vida.
SUA vida, inteira e simplesmente.
Passou numa floricultura, saiu perfumando a rua.
Passou no salão, marcou um spa de pé.
Passou a mão na bolsa, foi namorar vitrine.
Lingerie, boulangerie, sortie.
Saiu de fininho, à francesa,
de um relacionamento há algum tempo engessado.
Entrou na delicatessen e sorveu o perfume dos vinhos. Delicadamente.
Degustou queijos, cerejas, licores.
Pôs no carrinho. Pôs-se a caminho.
Ligou o carro, seguiu em frente
com “As quatro estações” de Vivaldi.
Tocou o celular, não ouviu. Nona chamada não atendida
do moço que deixara a relação de pé quebrado,
com vários ligamentos rompidos. Doídos.
Levada pelo som vibrante dos violinos, seguiu em frente,
sentindo-se pela primeira vez regente da sua vida.
Chegou em casa exausta de alegria.
Tomou um banho de espuma, espalhou velas pela sala.
Risotinho esperando na panela,
vinho resfriando na adega.
Profusão de aromas, cheiros, temperos.
Combinações as mais variadas: cereja com queijo,
funghi com páprica, chocolate com pimenta.
No banheiro ainda tomado pelo vapor,
o celular registrava a décima quinta ligação perdida.
Toque de campainha. Vizinho do sexto andar,
como quem não queria nada, querendo tudo,
xícara vazia na mão pedindo
um cadinho de arroz arbóreo.
Trocou a xícara por uma taça de vinho.
Casa inteira perfumada de risoto a quatro mãos.

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<![CDATA[Dia do Perdão]]>https://rfeldman.web.app/dia-do-perdao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe9dWed, 26 Sep 2012 22:51:00 GMT
Dia do Perdão
Dia do Perdão

Quebro meu jejum de quase trinta dias
ao fim do Yom Kipur.
Jejum de palavras, rimas, versos, vírgulas.
Quase morro de inanição.
Sinagoga cheia (nunca vi tão cheia) no Dia do Perdão.
Cheia de raízes, netos, filhos.
Cheia de Deus, de mim, começo e sim.
Lindeza de gente reunida pelo perdão.
Pelas perdas que vieram antes dele.
Pelo coração deficitário de amor,
urgente de paz, infartado de dor.
E aí vem a reza, o canto, as velas acesas pelas crianças.
Vem a esperança de regar o que se deixou
erodir, esvaziar, ruir.
Vem a árvore da vida ligando o céu à terra,
num instante abençoado de luz.
Vem da alma a capacidade genuína de amar
mesmo aquilo que um dia foi erro,
tropeço, queda, distância.
Vem o jejum para lembrar o que falta.
Vem o perdão como banquete de amor.

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<![CDATA[Rotina de trabalho]]>https://rfeldman.web.app/rotina-de-trabalho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe9cWed, 29 Aug 2012 23:03:00 GMT
Rotina de trabalho
Rotina de trabalho

Trabalho no oitavo andar com vista pro mar.
Entre uma pausa e outra, café com biscoito,
descanso os olhos sobre o verde-azul infinito
que decora o fundo de tela do meu computador.
…………………………………………………………..
Trabalho no oitavo andar com vista pro AMAR.
Entre uma caixa de lenço e outra, detenho os olhos
sobre as mais variadas espécies de dor.
A dor de quem perdeu alguém.
A dor de quem procura alguém.
A dor de existir. A dor de sumir.
A dor de amar. A dor de remar.
A dor de crescer. A dor de nascer.
A dor da culpa. A dor da luta.
A dor da mãe, do pai, do filho.
A dor de barriga, cabeça, cílio.
A dor da profissão. A dor da escuridão.
A dor do trauma. A dor da alma.
A dor do rompimento. A dor do ligamento.
A dor de mendigar amor.
A dor da idade. A dor da infertilidade.
A dor do encontro. A dor do desencontro.
A dor do vazio. A dor de ver navios.
A dor do ser. A dor do ter.
A dor do estudo. A dor de tudo.
…………………………………………………….
Entre uma dor e outra, avisto o mar
transbordar pelos olhos de quem chora.

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<![CDATA[Filosofia infantil]]>https://rfeldman.web.app/filosofia-infantil/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe9bWed, 15 Aug 2012 22:24:00 GMT
Filosofia infantil
Filosofia infantil

E depois de muito filosofar sobre Deus, minha Bella vai crescendo cheia de “comos” e “por quês”, ora perguntando, ora afirmando, atenta aos mínimos detalhes do que acontece no mundo.
– Mamãe, como é que faz canudo?
– Por que que o copo é redondo?
– Por que que o carro bate?
– Como é que o cabelo cresce?
– Se o papai não voltar de viagem hoje, acho bom eu dormir com você pra te fazer companhia…
– Melhor desenhar a menininha sem nariz mesmo. Se não vai ficar parecendo que ela tem um terceiro olho.
– Quero ir pra Itaipava com a vovó!
– Amanhã é depois de hoje?
– Os meninos são tão complicados!…
– Ah, vou dormir. Cansei de pensar! (…)

Há uma semana, do nada, anunciou no almoço que queria cortar o cabelo. Chanelzinho.
Sem pestanejar peguei o telefone e marquei o salão para os próximos trinta minutos. Antes que ela desistisse.
(Há um mês tentava convencer a pequena e nada. Personalidade forte, não abria mão do cabelo grande de jeito nenhum.)
Curiosa, tive que perguntar:
– Ué, Bella, o que deu em você?
– É que eu tava andando lá no pátio da escola, e vi a minha sombra. De cabelo curto. Achei tão bonito, mamãe, que tive inveja de mim. (…)

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<![CDATA[Começo de tudo]]>https://rfeldman.web.app/comeco-de-tudo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe9aSun, 05 Aug 2012 22:26:00 GMT
Começo de tudo
Começo de tudo

Minha Bella anda pra lá de filosófica.
Ontem à noite, já na cama, depois de todo o ritual para dormir, me vem ela com a seguinte perguntinha:
– Mamãe, quem é que criou Deus?
(…)
– Deus? (…) Ah, minha filha, Deus sempre existiu. E com a sua luz, com a sua força ele criou o mundo.
Não se dando muito por satisfeita, a danadinha insistiu:
– Mas quem criou Deus, mamãe?
– O amor, filha. Foi o amor que criou Deus.
E com esse mesmo amor enchi a pequena de beijos de boa noite, dorme bem, sonha com os anjos.
No dia seguinte, céu de brigadeiro, bem-te-vi cantando, Dia da Pipa na Praça do Papa, lá vem ela de novo:
– Mamãe, sabe quem criou o amor?
A PAZ!
…………………………………….

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<![CDATA[Listinha da mulher pós-moderna]]>https://rfeldman.web.app/listinha-da-mulher-pos-moderna/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe99Wed, 18 Jul 2012 22:31:00 GMT
Listinha da mulher pós-moderna
Listinha da mulher pós-moderna

Supermercado, sacolão, arroz com feijão.
Fazer a unha, o álbum de fotos, a digestão.
Brincar com as crianças.
Jogo da memória. (Memória?)
Exame de sangue.
Sangrar o tempo.
Ioga. Judô. Vale-Tudo. Tudo?
Jogar fora os controles-remoto.
Levar os edredons pra lavar.
Perfumar a cama.
Ensaiar que ama.
Limpeza de pele.
Curso de corte e costura. Jura?
O cartucho acabou. A impressora estragou.
Reunião de condomínio.
(Dá pra ser virtual? Não me leve a mal.)
Chora. Ri. Medita.
Pedido de casamento. Acredita?
Bate ponto. Conta ponto.
Leva o filho pra tomar ponto.
!!!
Reunião com a diretoria.
Chá das cinco. Balada das dez.
Borrar a maquiagem na terapia.
Ser mulher, mãe, amante, filha.
Promoção de pilha.
________________________________
(Aumente a lista.)

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<![CDATA[Homens]]>https://rfeldman.web.app/homens/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe98Tue, 17 Jul 2012 00:16:00 GMT
Homens
Homens

Três homens num boteco, cerveja estupidamente gelada, conversa pra jogar fora.
“E aí, comeu?”
A típica perguntinha circulante no universo masculino anda provocando risos no cinema.
Adaptado de uma premiada peça de Marcelo Rubens Paiva, o filme é uma ótima pedida para relaxar, descontrair e sorver um pouco da alma masculina.
Sim, alma masculina.
Por trás de todos os estereótipos, jargões e posturas que criam verdadeiros abismos entre homens e mulheres, fomentando a velha e boa guerra dos sexos, ainda há espaço para amar. E com o espaço para amar vem a dor do amor, como não poderia deixar de ser. A dor de ser traído, a dor de se separar, de se apaixonar e querer casar.
Sério.
Sim, meninas, “os brutos também amam”. Também sofrem, suam frio, fazem cena e – acreditem – também choram.
“E aí, comeu?” faz em determinado momento menção aos nove casamentos do grande poetinha Vinícius de Moraes e homenageia Chico Anísio pelos seus seis.
Amor (e peleja) é o que não faltou para estes homens de rara sensibilidade.
Um dos botequeiros da trama e filho de Chico Anísio, o adorável ator Bruno Mazzeo, disse que o filme “é uma declaração de amor às mulheres”.
Acredite. É mesmo.
“Garçon, vê uma bem gelada.”

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<![CDATA[Emergência]]>https://rfeldman.web.app/emergencia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe97Sat, 07 Jul 2012 00:21:00 GMT
Emergência
Emergência

Tudo bem que infecção urinária
é um negócio bem aflitivo.
Casinha de dois em dois minutos, dor e calafrio.
Por conta dessa aflição toda fui parar no hospital,
já que a prudência manda fazer exames
antes de entrar no antibiótico.
O problema é quando você já está nesse processo
e ainda vem o riso pra contorcer um pouco mais
a bexiga, já a ponto de explodir.
Meu pai, que é um fofo de um coruja,
super-hiper-ultra protetor,
me levou e ficou inconformado de ver
que a minha pulseirinha era da cor verde,
ou seja, prioridade normal de atendimento.
Enquanto eu tentava me distrair
compartilhando no facebook o post anterior,
lá foi ele lá na mocinha da recepção
pleitear um upgrade na cor:
– Tem certeza que não dá pra colocar ela na frente?
– Infelizmente não, senhor. Ela não corre risco de vida.
(…)
Todo o vermelho que a pulseirinha não tinha
foi parar no meu rosto.
Risco de vida não, moça. Só de explodir.

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<![CDATA[Culpa materna parte 2]]>https://rfeldman.web.app/culpa-materna-parte-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe96Fri, 06 Jul 2012 18:39:00 GMT
Culpa materna parte 2
Culpa materna parte 2

Dessa vez eu não tinha aula no mestrado. Parênteses: as aulas acabaram. Agora é só escrever, escrever, escrever. Enfim sós: apenas eu, meus livros, meus neurônios e minha orientadora que eu “ganhei na loteria”.
O título da minha dissertação? “Modos de ser mãe na contemporaneidade.” Hum. Pois é. Olha eu aqui escrevendo sobre culpa materna parte 2. Me sentindo objeto de pesquisa da minha própria pesquisa. Me sentindo culpada porque no dia anterior fui ao cinema (também sou filha de Deus), não abri a agenda da Bella e não vi o bilhete da apresentação de inglês pra encerrar o semestre. Fui saber do evento pela Mariana, mãe de uma coleguinha, outro ganho de loteria na minha vida.
Remanejamentos de horário aqui e acolá, conseguimos chegar pontualmente à escola, eu e o Dé. (Mega Sena acumulada: pai e mãe indo à apresentação de inglês da filha.)
Cruzamos com ela na escada, de mãos dadas com a ajudante da professora, indo até a secretaria para me ligar, já achando que eu não iria. Passando da “chuezice” à alegria, pulou no meu colo e chorou um choro de emoção, surpresa e alívio. (Alívio digo eu, ufa.)
Enquanto não começava a apresentação, fui “tricotando” com as outras mães sobre a ginástica que a gente faz pra não perder uma coisa dessa. E da culpa que a gente tem quando perde. Uma das mães, que cruzou a cidade para estar ali aquela hora, disse ter dito pro chefe: “Vou ali e já volto.” (!) Como ele não perguntou onde era “ali”, ali ela estava. E ainda remendou: “Mãe pode fazer terapia a vida inteira que ainda vai ter culpa.”
Para as mães que compartilham dessa ideia, repasso o que aprendi (que bom que aprendi) com outro querido professor, Eduardo Gontijo, da cadeira de Ética (só podia ser): “O amor é requisito para a culpa.”
Se nos sentimos culpados, é porque há muito amor antecedendo este sentimento pesado e difícil de viver. Através do amor, podemos transformar o nosso olhar diante da culpa, e até nos sentirmos menos culpados.
Que isso sirva de alento (como cobertor e leite quentinho) para as mães que não puderam ver seus filhos cantando e dançando em inglês. Se os seus filhos choraram durante a apresentação e foram habilmente conduzidos pela professora até o parquinho (ainda bem que inventaram o balanço e o escorregador), com certeza não foi por falta de amor.

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<![CDATA[Culpa materna]]>https://rfeldman.web.app/culpa-materna/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe95Wed, 04 Jul 2012 23:24:00 GMT
Culpa materna
Culpa materna

Semana do Dia das Mães, um ano atrás. Vem na agenda da Bella o seguinte bilhete:
“Mamãe, venha assistir nossa apresentação de inglês na próxima sexta-feira, às 14 horas. Você é nossa convidada especial.”
Ui.
Justo naquele dia, exatamente naquela hora, eu tinha aula de Ética no mestrado com trabalho para apresentar.
Socorro.
Apelei pra minha mãe, que rapidamente se incumbiu de ir no meu lugar. Super vó.
(Corta.)
Uma hora da tarde, eu lá no meu mestrado tentando me concentrar na aula de Ética, alternando os olhos entre o datashow e o relógio, pensando na Bella cantando “Hello, everyone, tralalalalááááá!…”
Ai.
Que vontade irresistível de ser clonada, duplicada, virar mulher elástico de repente.
Adivinha o assunto da aula: CULPA.
E eu lá, péssima de ver o ponteiro do relógio andando, imaginando o que eu estava perdendo.
Movida por um impulso desesperador, levantei a mão e perguntei à professora:
– E o que que a gente faz com a culpa quando está assistindo aula e a filha está na escola, fazendo uma apresentação para o Dia das Mães?
– O quê?! Sua filha?! Apresentação na escola? Pega suas coisas e vai embora agora! Assina a lista de presença e tchau. Sem culpa.
Completamente rubra-rosa, surpresa, aliviada, dei um beijo na melhor professora de Ética da minha vida e saí desabalada, me sentindo a própria Indiana Jones em busca do tesouro quase perdido.
Cheguei na escola esbaforida, faltando dois minutos para a apresentação.
As crianças já estavam a postos na rodinha, se aboletando no colo das mães. Menos a Bella, assentada no chão, perninha de índio e bochecha apoiada na mão.
Deu um pulo quando me viu, saiu correndo, quase me derrubou com aquele abraço.
Happy, great, delicious hug. Sem ruga nem culpa.
………………………………………..
Tudo isso pra contar que hoje teve mais uma apresentaçãozinha de inglês da Bella lá na escola, com direito a “ser filho também é padecer no paraíso.” Aguarde o próximo post.

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<![CDATA[Encontro marcado]]>https://rfeldman.web.app/encontro-marcado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe94Thu, 28 Jun 2012 00:12:00 GMT
Encontro marcado
Encontro marcado

Tomou um banho de horas.
Shampoo, condicionador, esfoliante,
óleo de maracujá para acalmar o mundo
que costuma carregar nas costas.
Pintou as unhas, passou perfume, hidratou as rugas,
passou a perna no tempo.
Batom vermelho, sombra nude, luz que sempre foi sua.
Há um bom tempo não se sentia assim.
Descompromissadamente inteira, dona de si, faceira.
Completamente face to face,
nenhum vestígio seu no facebook.
Olhou o relógio, subiu no salto, entrou no táxi.
– Restaurante Outono, por favor.
Leve aumento da frequência cardíaca.
Última retocada no batom.
Mesa reservada com o seu nome, vela acesa.
Atraso de vinte minutos.
Suspiro sutil de quem se preparou
há anos para este encontro.
Sentou-se tranquila, cruzou as pernas,
chamou o garçon, pediu um vinho.
Fez da taça espelho, sorriu por dentro,
brindou sozinha a alegria.
– Espera alguém?, interrompeu o garçon.
Ao movimento negativo da cabeça
sobreveio o movimento leve da alma, do corpo,
da emoção de quem um dia finalmente se encontrou.
Solitariamente bem-acompanhada.

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<![CDATA[Uma judia no campo de concentração]]>https://rfeldman.web.app/uma-judia-no-campo-de-concentracao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe93Sat, 16 Jun 2012 00:40:00 GMTUma judia no campo de concentração

Uma judia no campo de concentração
O inesquecível roteiro de viagem à Alemanha incluía castelos medievais, sinos no café da manhã, alpes com neve margeando a charmosa Estrada Romântica.
Campo de concentração não. Não combinava, não precisava, absolutamente não fazia parte dos nossos planos.
Mas como em determinado momento a viagem a dois se transformou num grupo de vinte, e em grupo há de haver flexibilidade e jogo de cintura, os planos acabaram mudando. Em poucos minutos estávamos no trem para Dachau, famoso campo de concentração próximo a Munique.
Quando visitou esse lugar há tempos atrás, minha mãe arrumou as malas e foi embora da Alemanha no dia seguinte. “A energia era pesada demais, filha”.
E foi com essa certa dose de preparo e coragem que entrei em Dachau. Algo me dizia que eu não poderia deixar de viver essa experiência, por mais árida e dolorosa que fosse.
Paralisada por alguns minutos na entrada, parte da tensão se transformou em surpresa com a fala do professor: “Seguindo alguns metros à esquerda, vocês verão vários templos: católico, protestante, judaico e ortodoxo-russo”.
“Tem Deus neste lugar”, pensei. Não tive dúvida de que era por lá que tínhamos que começar.
Na nossa quase silenciosa travessia, o que mais me tocou não foram os registros concretos e históricos de até onde vai a crueldade humana. O que mais me tocou foi o olhar das pessoas que por ali passavam. Olhar de respeito, seriedade, assombro, compaixão, solidariedade. Faria um museu, uma exposição apenas destes olhos, se pudesse.
Se por um lado os adultos se mobilizavam através do olhar, as crianças caminhavam leves, alegres, olhos sorrindo, sem se dar conta da dimensão de tragédia que habita aquele lugar.
Talvez tenha sido um mecanismo de defesa meu me ater ao olhar humano, ao invés do histórico registro desumano presente nos beliches amontoados, nas câmaras de gás e uniformes listrados.
Como diz uma bonita frase da constelação familiar, acho que minha mãe “carregou o piano para eu tocar”. Enquanto ela ficou agarrada à energia do passado (como era de se esperar, pela sua maior proximidade às nossas raízes), eu tomei a decisão de me conectar à energia do presente. Presente transforma-dor, de um passado cinza, pesado, violento, mas que acabou.

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<![CDATA[Namorados]]>https://rfeldman.web.app/namorados/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe92Mon, 11 Jun 2012 23:09:00 GMTNamorados

Namorados
Ah, os namorados.
Lá vem eles abraçados, exalando perfume entre beijos,
sussuros e luas, tocando música com os olhos.
Conversa pra mais de horas, sintonia rimando alegria,
velas acesas no escuro.
Ouvi dizer que estão em falta.
Dizem as más línguas que falta beijo de verdade,
abraço amassado, telefone tocando no dia seguinte.
(…)
Tum, tum, tum.
O amor está ocupado, só pode.
Liga a tia, o chefe, o vizinho.
O namorado nem sinal.
Desculpa, foi engano.
Efemeridade de amor que dura pouco,
só até o fim da festa.
Na balada tudo pode, o prazer sacode,
proibida entrada do vínculo.
Amar virou piegas, deve ser.
Compromisso é bicho pré-histórico.
Não me canso de ouvir:
“Onde foi parar minha alma gêmea?”
“Cadê a metade da laranja,
por que só me aparece abacaxi?”
Xi.
Bota o perfume, vai olhar a lua, dá uma voltinha na rua.
Se o amor anda escasso, gruda na esperança.
Vai viver a bonança de se apaixonar pela vida,
pela grande sina, por você mesmo.
Depois por quem chegar.

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<![CDATA[Tudo se transforma]]>https://rfeldman.web.app/tudo-se-transforma/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe91Wed, 06 Jun 2012 23:59:00 GMTTudo se transforma

Tudo se transforma
Quem diria.
O céu que amanheceu cinzento ganhou cor ao meio-dia.
Céu de brigadeiro.
A chuva que insistia em cair mudou de ideia e de rumo.
Deu lugar ao sol, solamente.
O frio foi embora, levado
por uma corrente marítima talvez.
Levado de levadeza.
Fez calor.
Fez falta, festa e sim dentro de mim.
Chapeuzinho Vermelho ficou lá longe, distante,
acenando para a mulher já quase a correr com os lobos.

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<![CDATA[Detalhes tão pequenos]]>https://rfeldman.web.app/detalhes-tao-pequenos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe90Sat, 26 May 2012 19:41:00 GMT
Detalhes tão pequenos
Detalhes tão pequenos

Domingo é dia de faxina lá em casa.
Tesourinha de unha, cotonete Johnson, mãe judia a postos no sofá esperando quem vem primeiro.
– Lé-eeeeo!…Be-llaaaa!…
A pequerrucha chega primeiro, estende as mãozinhas como se estivesse no salão de beleza e ainda pede esmalte. O pequerrucho demora, enrola, foge, reclama e acaba no sofá, inconformado.
Meu trabalho é minucioso: além de cortar as unhas tenho que tirar o excesso de massinha, argila, sujeira. Ok. Como diz um famoso slogan de sabão em pó, “se sujar faz bem.”
Depois de um desses “longos” rituais, louco para correr do sofá e continuar a brincar de lego, o Léo me solta essa:
– Mãe, por que as mulheres são tão “detalizadas”?
(…)
Ah, meu filho, nem te conto.
Um dia ainda você vai acessar (se é que já não começou a fazer isso) a alma das mulheres e esse “default detalhizado” que faz de nós seres incrivelmente singulares. Detalhistas na corujice, no perfume, no pano de prato. No retrato, na rotina, no trato. Na alegria, na taça de vinho, no desabafo. No batom, no chocolate, nas rugas que desenham anos de trabalho ou minutos de intensa felicidade. Irritantemente detalhistas na TPM, no chilique, no vestido: vermelho exuberante ou pretinho indefectível? Deliciosamente detalhistas no supermercado, no café com as amigas, no penteado da filha: meio-rabo ou maria-chiquinha? Essencialmente mulheres nesse nosso jeito de amar e se apaixonar pela vida, nos mííííííínimos detalhes. “Detalizadamente”.

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<![CDATA["Pauseada"]]>https://rfeldman.web.app/pauseada/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe8fWed, 23 May 2012 07:03:00 GMT
"Pauseada"
"Pauseada"

Depois das emoções dos últimos acontecimentos, o blog volta à sua vidinha normal, mas não sem antes prestar homenagem ao nosso querido Carlos Drummond de Andrade, que uma vez disse: “A vida necessita de pausas.”
(…)
“Pauseada” que estou, vim buscar novas emoções e – como diz o Dé, inspiração – nas indescritíveis e apaixonantes paisagens da Alemanha, Áustria, Suíça.
Tão perto das minhas raízes, vim florescer em outras terras o amor que perfuma minha vida faz tempo.
Vim descobrir castelos medievais, montanhas de neve, sinos que tocam música ao anunciar as horas.
Hora de cobrir de sentido cada segundo vivido, cada chão que se tem pela frente. Seja na labuta de cada dia, nas quebras de rotina mais mágicas ou no simples descanso na beira do lago, apreciando o movimento dos cisnes ao som de Bach, a vida foi feita para ser vivida.
Faço da poesia de Drummond minhas palavras.

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<![CDATA[Receita do Amor em Pedaços]]>https://rfeldman.web.app/receita-do-amor-em-pedacos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe8eThu, 10 May 2012 17:24:00 GMT
Receita do Amor em Pedaços
Receita do Amor em Pedaços

Ingredientes:
* 102 páginas de emoção, alegria, prosa, poesia.
* Amor de mãe, de pai, de filho.
* Amor dos namorados e dos bem-casados.
* Cartas de amor, carpe diem,
aniversário de casamento, último beijo.
* Pedaços de amor por toda a parte.

Modo de fazer:
Misture tudo, leve com você onde for,
leia com os olhos e o coração.

A receita deu tão certo que acabou tudo ontem.
Mas no dia 12 tem outra fornada de Amor em Pedaços pra quem perdeu.
A partir das 10:30 h no Café Book –
Rua Padre Rolim, 616 – Santa Efigênia
Tel. 3224-5748.
Estou esperando por você com a maior alegria.

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<![CDATA[Convite]]>https://rfeldman.web.app/convite/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe8dTue, 01 May 2012 11:41:00 GMT
Convite
Convite

Onde se lê Convite, leia-se Muito Obrigada,
Enternecidamente Agradecida, Emoção Compartilhada.
Antes mesmo do meu livro nascer,
você já era leitor(a) importante, assíduo(a),
fonte de inspiração da minha escrita.
Como não poderia deixar de ser,
você está lá nos Agradecimentos.
E agora que o rebento nasceu,
com um cheirinho que só os livros têm e
essa tela não permite,
há de haver sua presença abrilhantando o evento,
há de haver o ar da sua graça para dar a bênção.
Espero você lá!

Um abraço carinhoso,

Renata

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<![CDATA[Decisão importante]]>https://rfeldman.web.app/decisao-importante/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe8cSat, 28 Apr 2012 18:30:00 GMT
Decisão importante
Decisão importante

Semana passada dei com alegria uma palestra na Paróquia Nossa Senhora Rainha, no Belvedere, cujo tema era: “Relacionamento Conjugal. Fortalecendo os laços de amor através de atitudes e posturas construtivas.”
Enquanto não dava a hora de começar, tomei um café na companhia de uma das atenciosas organizadoras do evento, Cristina Chiari, e fiquei vendo as pessoas chegarem aos poucos. Casais de namorados, noivos, casados; novos, de meia idade, de cabelo e sobrancelha brancos. Algumas poucas mulheres sozinhas, jovens em turma e, para minha supresa, algumas adolescentes (futuras casadoiras) cheias de brilho nos olhos.
Olhando o salão lotado – mais de duzentas pessoas, de perfis tão variados – fiquei pensando que coisa boa é ver que as pessoas ainda se mobilizam – e ao mesmo tempo se movimentam – para falar de amor. O tema está em voga, graças a Deus.
Mãos entrelaçadas, olhares atentos, braços acolhendo ombros. Foi nesse clima de juntidade, cumplicidade e abertura que a plateia me ouviu falar sobre casamento. Os sonhos, a rotina, as mudanças, os filhos, o envelhecimento conjunto.
Em determinado momento, perguntei a eles qual o segredo. O que faz alguns casais comemorarem bôdas de ouro, prata, diamante, confirmando o quanto o amor é possível? E foi logo ali, na fila do gargarejo, de um casal que já acumulou muito ouro, que escutei uma das respostas mais lindas: o segredo é a decisão de amar.
Perfeito. Não basta amar, é preciso que se tome essa decisão. E isso transcende a própria decisão de casar, subir ao altar, jogar o buquê ou partir o bolo. Significa, acima de tudo, a decisão de continuar amando, apesar de. Apesar das diferenças que são muitas, dos problemas que são grandes, dos inúmeros tropeços que surgem no caminho e que muitas vezes levam ao adoecimento do amor. A decisão de amar transcende também todas os outras respostas-clichê que já tenham sido ditas sobre o assunto: paciência, amor, perdão, tolerância (que, com certeza, também são segredos que todo mundo deveria saber e pôr em prática).
Depois da reposta do Ildeu e da Maria Lúcia, recebida com aplausos da plateia, minha missão estava praticamente cumprida.
Se os casais não saíram de lá sob chuva de arroz, com certeza saíram refletindo sobre esse arroz que completa o feijão todos os dias, temperado com amor, poesia, encantamento e aquele que talvez seja um dos ingredientes mais importantes: sabedoria.

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<![CDATA[Botox]]>https://rfeldman.web.app/botox/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe8bSat, 21 Apr 2012 11:35:00 GMT
Botox
Botox

A mãe dela morreu.
Assim que ouviu a notícia, chorou compulsivamente, fez uma ligação rápida e saiu cantando pneu. Em cinco minutos estava no salão de beleza, se desmanchando diante do espelho. Quem via a cena se perguntava se o problema era por causa da tinta ou do corte.
[Corta].
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Manhã de sol, piscina da academia cheia, aula de hidroginástica. Colocou o maiô e a touca de banho amarela, estampa de florzinha. Do alto dos seus 80 anos, ainda tinha muita água pra rolar. (Rolou.)
Implicou com a “jovem” de quase 40 porque ela estava batendo a perna muito forte, espirrando água. Ia molhar seu cabelo.
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Os dois miniposts seriam ficção se não fossem verdade. Aconteceu, acredite.
O primeiro eu ouvi contar. O segundo eu vi, presenciei, vivi. Era eu a “jovem” de 40 anos, espirrando água pra todo lado. (…)Só me confirma uma coisa: a aula era de HIDRO, certo? Se não mudou nenhuma regra de semântica, hidro significa água, certo? Ah, bom, achei que eu tivesse perdido o senso de juízo. Nada contra a vaidade, a maquiagem, o perfume, os cabelos bonitos. Sempre gostei de um espelho. Mas muita gente anda se preocupando em demasia com a estética que vai na superfície, e se esquecendo da beleza que pode ir na alma. A beleza de se concentrar apenas no simples, no essencial, no que faz sentido naquele momento. Seja a DOR da mãe que acaba de morrer ou a enDORfina de jogar água pro alto, colocando alegria pra dentro.
Você pode, sim. Trocar o batom por beijo, salto alto por havaiana, escova progressiva por aprendizado progressivo. Pode empalidecer, descabelar, viver o que tiver que ser vivido. Seja de cara ou alma lavada, a verdadeira beleza está em ser inteiro. Não há colágeno, botox ou shampoo importado que faça isso por você.

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<![CDATA[O blog vai virar livro]]>https://rfeldman.web.app/o-blog-vai-virar-livro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe8aMon, 09 Apr 2012 23:17:00 GMT
O blog vai virar livro
O blog vai virar livro

Cresci no meio dos livros.
Filha de escritora, sempre li nos olhos dela sua paixão por ler e escrever.
Um dos nossos programas favoritos era ir à Editora Miguilim, na Savassi, comprar meus “brinquedos” prediletos. Saía de lá com uns dez títulos, cada um de uma cor e um autor diferente, todos com um cheirinho inconfundível.
Quando chegávamos em casa, ela me falava para escolher um – o resto escondia no armário, para eu saborear um de cada vez, alimentando a expectativa de qual seria o próximo. Quanto mais eu lia, mais eu queria ler. Era acabar uma história pra começar outra, garantia plena e absoluta de felicidade.
Quando a professora de português do primário pediu à turma para montar a biblioteca da sala, cada um contribuindo com um livro, levei 41 e ganhei prêmio: um livro de receitas em forma de poemas da Cecília Meireles, que eu saboreio até hoje nas minhas memórias.
De tanto ler, passei a brincar de escrever.
Cartas, cartões, declarações de amor.
Concursos de poesia, anúncios publicitários,
resenhas acadêmicas.
Pagando a língua veio o blog, incentivo cem por cento do marido, cem por cento antenado no universo digital.
Com o blog veio você, que me dá a honra e alegria de me ler a cada post.
E do blog, muito em breve, virá o livro. Quase já indo pro forno, feito com todo o carinho pra você provar.

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<![CDATA[Aceitação]]>https://rfeldman.web.app/aceitacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe89Tue, 03 Apr 2012 09:50:00 GMT
Aceitação
 
Aceitação

Aceita um café?
Cineminha no final da tarde?
Baile de formatura?
Aceita um elogio, moça bonita?
Trabalhar numa pousada em Tiradentes?
Balinha pra adoçar a vida?
Aceita esse moço como seu legítimo esposo?
Quem sabe um cadinho de bolo?
E quando o tempo fechar, aceita um pouco de chuva?
Céu cinzento, lamento.
Ombro amigo, plantão 24 horas.
Rugas de expressão, aceita?
Incompatibilidade de gênio, sim ou não?
Briga de irmão.
Silêncio e sermão.
A vida é assim, desculpe a franqueza.
Mas também é uma beleza.
Pamonha, pamonha, pamonha.
Quem vai querer?
Pára de brigar com o que você não pode mudar.
Aceitação, diz o refrão.
Aceita-ação, meu irmão.
A-CEI-TA-ÇÃO, Conceição.
Aceita?
Sim ou não?

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<![CDATA[Verbete universal]]>https://rfeldman.web.app/verbete-universal/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe88Wed, 28 Mar 2012 22:10:00 GMT
Verbete universal
Verbete universal

Amor que vem do berço. Amor que vai pro berço.
Amor por você mesmo. Ninho de amor.
Amor que se faz. Amor que se desfaz.
Amor que não se compra. Amor que não se encontra.
Amor à distância. Amor que ronda.
Amor à primeira, segunda, terceira vista.
Amor de verão. Amor de estação.
Amor de infância.
Amor que não envelhece com o tempo.
Amor de mentira. Amor de verdade.
Amor que passa. Amor que fica.
Amor que escreve, colore, rabisca.
Amor genuíno. Estranho amor.
Amor doente. Amor semente.
Amor encantado. Amor re-significado.
Amor que acolhe. Amor que encolhe.
Amor perdido. Amor vazio.
Amor não correspondido. Amor sadio.
Amor de outrora. Amor que falta.
Amor sem demora.
Amor despedaçado.
Amor em pedaços.

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<![CDATA[Tá pra nascer]]>https://rfeldman.web.app/ta-pra-nascer/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe87Sat, 24 Mar 2012 00:14:00 GMT
Tá pra nascer
Tá pra nascer

Carrego páginas dentro de mim.
Pedaços de prosa, verso, não e sim.
Escrevo com lápis, dedos, açúcar.
Junto a acidez do abacaxi e a quentura do coco
Pra essa receita dar gosto.
O resto eu não conto, é segredo.
Imprimo minha alma a cada capítulo,
Me sirvo de mil pedaços.

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<![CDATA[Presente]]>https://rfeldman.web.app/presente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe86Fri, 23 Mar 2012 19:11:00 GMT
Presente
Presente

Não, você não está sozinho.
Não é o único a colecionar traumas de infância,
espinhas de adolescente, medos de gente grande.
Se olhar pra trás vai enxergar um tanto de coisa.
Seus fantasmas, seus tesouros,
seu baú cheio de pó e cadeado.
Mas a vida pede cadência, meu amigo.
Pede que se olhe pra frente, cabeça erguida,
um passinho por favor.
O sol já nasceu e morreu um trilhão de vezes,
a água que passou naquele rio não passa mais,
só se faz 50 anos uma vez.
O que é que você está fazendo
com esse controle-remoto na mão?
Tentando controlar o quê?
O tempo, o espaço, a chuva, a vida do vizinho,
sua vida já tão escoada?
Dentro de você a imagem está congelada
mas lá fora o amanhecer leva só algumas horas
para anoitecer.
Passou, acabou, não existe mais. Puf.
Daqui pra frente, limpa a mente.
Pega o controle e dá um play na sua música preferida.
Refresca as ideias, dança na chuva,
areja a memória, dê boas lembranças ao passado.
O presente é seu e foi feito para ser desembrulhado
com leveza e alegria.
Avante.

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<![CDATA[Herança]]>https://rfeldman.web.app/heranca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe85Fri, 16 Mar 2012 23:48:00 GMT
Herança
Herança

Basta olhar pra trás e lembrar de onde veio.
Tá no sangue, tá na veia.
Pedaços infinitos de história, encontros,
ancestralidade inteira
abrindo caminho para você chegar.
Chegou, seja bem-vindo.
Chegou e já se vai.
Parte partido de tanto amar.
Paris, Cuba, Cuiabá.
Se a busca é por ser inteiro,
não foge a juntar os pedaços.
Trabalho de poeta, jardineiro, parteira, cozinheiro.
Páginas arrancadas, palavras orquestradas,
Mudas silenciando a fertilidade da dor.
E nasce um sonho, um menino,
um velho contador de histórias.
Não morre nunca o amor que já nasce com a gente.

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<![CDATA[Mergulho]]>https://rfeldman.web.app/mergulho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe84Sun, 04 Mar 2012 20:38:00 GMT
Mergulho
Mergulho

A resposta pra tudo?
Amar.
Do jeito que se aprendeu a rimar
até mesmo o que não tem rima.
Sina, sino, sinto em mim a força
e a brandura que chega do mar.
Vento, areia, tempestade.
Brisa, asfalto, poema ensolarado.
Lua cheia, minguante, sereia.
Serei eu o único a desejar não parar jamais de amar?
Verbo intransitivo, dissílabo, oxítono.
Acentua o amor que dá sentido à vida.
Eu amo, tu amas, ele ama.
Amar em primeira, segunda e terceira pessoa,
singular e tão plural.
Conjugação de amor em mar aberto.
Tão imperfeito e certo.
Amar como se fosse oportunidade única.
Verdade única.
Último suspiro.
Único jeito de seguir em frente, rente, sempre.
Silêncio musicado pela essência que rege a alma.

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<![CDATA[Cheguei!]]>https://rfeldman.web.app/cheguei/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe83Sun, 26 Feb 2012 23:08:00 GMT
Cheguei!
Cheguei!

Nome: Luckie Sky Walker
2.750 kg
Raça: SRD
Data de nascimento: 25/12/11
Data de adoção: 25/02/12
Local: www.sosbichos.com.br
Palavra-chave: gratidão

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<![CDATA["Cãoprei" a ideia]]>https://rfeldman.web.app/caoprei-a-ideia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe82Thu, 23 Feb 2012 21:48:00 GMT
"Cãoprei" a ideia
"Cãoprei" a ideia

Sei não. Acho que não estou bem. Devo ter batido com a cabeça no chão.
Resolvi acatar a ideia – a princípio maluca, visionária, quase fictícia – de dar pro Léo um presente que eu jamais pensei em dar: um cachorro.
Exato. Desses que latem, mordem “de brincadeirinha” (espero), fazem xixi e cocô no tapete, roem os marcos das portas e te amam incondicionalmente. (Já viu esse filme antes?)
Foi tanta insistência, tanta súplica, tanta chantagem emocional e declaração de amor que eu não resisti. Abri o coração e antes que ele feche já estou comprando, com a super ajuda da minha querida irmã veterinária, os acessórios – caminha, osso, bolinhas e o tal do tapetinho mágico que é o lugar certo para ele fazer suas necessidades. (Viva a tecnologia, a perseverança e a psicologia. Que Deus me ajude.)
Meu dilema é se compro ou adoto, mas estou mais para a segunda opção. Gesto nobre, responsabilidade social e uma gratidão pro resto da vida. Au auuuuuuuuuuuuu.
No mínimo, acho que vai ser uma experiência interessante. Estou adorando a ideia de que dar um cachorrinho pro Léo vai provocar nele um senso maior de responsabilidade. É o que tenho dito:
– Léo, Léo… Pra cuidar de um cachorro você tem que aprender a cuidar primeiro de você. E isso vale para escovar os dentes (inclusive o do bichinho, diariamente), tomar banho, guardar seu tênis no armário e não deixar as peças de lego espalhadas pelo chão. (Caso contrário, você perde o cachorro e o foguetinho de lego. E aí seu melhor amigo vai pro espaço.)
Ok, ok, me convenci. O coração amoleceu e eu já me apeguei ao bichinho antes mesmo dele chegar. Bendita afetividade e amor pelos filhos. O duro foi convencer o Dé, que não estava nem querendo cogitar a ideia, a “cãoprar” a ideia. Mas afinal de contas são 3 contra 1, e eu prometi a ele que seria um preto e branco, atleticano na raça.
O problema agora vai ser me livrar das minhocas. Isso mesmo o que você leu. Mi-nho-cas. Acho que estou com um miniveterinário precoce em casa. Cê acredita que o Léo trouxe pra casa, lá da horta da escola, uma embalagem de margarina cheia de terra com seis minhocas se enroscando lá dentro? E com um furinho pra elas respirarem, onde eu quase meti meu dedo? (…) Blarghhhhh. O danadinho chegou com a cara mais lavada do mundo, apresentando pra Pat, nossa ajudante, suas “minhocas de estimação”. E queria porque queria deixá-las no quarto, ao lado do aquário. (Ia ser uma festa pro peixe.) Ela que não deixou. E ontem, uma semana depois, fui descobrir as minhocas lá na área.
Blarghhhh de novo. Sou mais o cachorro.
E se você é da mesma opinião, divida aqui comigo sua experiência. Todas as dicas do mundo são muito bem-vindas para essa dona de cachorro de primeiríssima viagem.
Au-mém.

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<![CDATA[Medo de avião]]>https://rfeldman.web.app/medo-de-aviao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe81Fri, 17 Feb 2012 12:59:00 GMT
Medo de avião
Medo de avião

No último final de semana tivemos a alegria, o privilégio de passar bons momentos ao lado de adoráveis amigos em Escarpas do Lago. À noite, entre queijos e vinhos, risos e uma lua que foi nascendo majestosamente, sem pedir licença, começamos espontaneamente a sessão de “causos”.
A anfitriã, cirurgiã pediátrica de mão-cheia, cheia de luz e uma simplicidade encantadora, compartilhou conosco seu medo de avião. (Aliás, medo comum de gente grande na contemporaneidade. Enquanto as crianças disputam para sentar na janela e ficam literalmente nas nuvens, os adultos travam a boca, suam as mãos e fecham os olhos, pegando com Deus antes mesmo da decolagem.)
Ironias do destino. Eu morreria de medo de entrar num bloco cirúrgico e abrir a barriga de uma criança. Confesso aqui toda a minha admiração pela coragem, segurança, valentia e firmeza desses grandes salva-vidas.
Pois a Dri, que graças a Deus não é perfeita e nem tinha que ser, morre de medo de avião. (Também, pudera, os noticiários não têm ajudado muito.) E para driblar o medo, a doutora adota a seguinte tática: dispara a conversar. Igual pobre na chuva. Tagarelice forçada. Quem está do seu lado escuta:
“- De onde você é? Para onde vai? Trabalha com o quê? Tem quantos filhos? Quantos irmãos? Olha, eu vou ser muito direta: toda essa conversa tem apenas um interesse: me distrair do meu pânico de estar aqui agora, ouvindo o comandante falar que acabamos de entrar numa zona de turbulência.”
A Dri não é a primeira nem a última a ter medo de avião. O bacana é como que o medo da máquina leva à necessidade quase urgente de estar perto de gente. Como que trocar palavras com desconhecidos pode amenizar a angústia que vai lá no peito. Como que falar, falar, falar pode afogar a ansiedade e atenuar o nervosismo.
Sem se dar conta, essa minha amiga muito querida foi fazendo amizades na horas do aperto. Nada mais natural e oportuno. Teve pai de família que já até pegou o telefone dela e na semana seguinte apareceu com o filho de dois anos pra tirar o apêndice.
Capacidade de enfrentamento, é o que a vida nos pede. Seja para cruzar o Atlântico ou entregar o filho pro anestesista.

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<![CDATA[Valente]]>https://rfeldman.web.app/valente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe80Fri, 10 Feb 2012 18:25:00 GMT
Valente
Valente

Um problema é sempre um problema. Agudo, crônico, universal, particular, persistente, acompanhado de uma boa caixa de analgésicos de preferência.
A lista de problemas é infindável, pra lá de problemática, passando pelos territórios do amor, saúde, dinheiro, profissão. Quando é saúde então, aí é que nos deparamos com a imensa fragilidade da vida, e de tudo o que muitas vezes não temos controle. Como diz a expressão popular, “quando se tem saúde se tem tudo. O resto a gente corre atrás.”
Problemas não são novidade para ninguém. O inédito, singular, subjetivo, é a forma como as pessoas lidam com suas inúmeras dores de cabeça. Principalmente quando é coisa séria. Quando a saúde apita, acende a luz vermelha e o coração palpita, denunciando que algo não vai bem. Quando um exame de sangue mostra que o açúcar extrapolou, ou que as artérias estão entupidas, ou que as células foram todas tomadas. Complicado assim.
Tem gente que desmancha. Desmorona. Cai no chão. Cai de cama. Perde o chão. Enlouquece. Emudece. Desaparece.
Tem gente que é valente, de uma valentia que emociona e ensina a gente. Cai. Levanta. Junta os pedaços. Cresce e aparece. Transforma medo em coragem, dor em amor, susto em serenidade, doença em cura. Quando vê, está mais inteiro do que nunca.
Aprendo todos os dias com um amigo que é assim. De tão corajoso criou um blog chamado “A Saga de Valente” (www.asagadevalente.blogspot.com) – que eu recomendo de montão por aqui nas “Outras boas pausas da vida”.
Pois é. A vida parou pro Paulinho quando ele soube que estava com câncer no rim esquerdo. E a vida continuou – ainda mais bonita – com a sua força, sua coragem, sua escrita, sua valentia, sua maneira otimista e bem-humorada de olhar para si mesmo.
A primeira frase que você lê no blog dele já diz tudo: “DAS AVENTURAS ONDE EU E VALENTE, MEU RIM DIREITO, ESTAMOS APRENDENDO A COLOCAR NO SEU DEVIDO LUGAR UM TUMOR QUE NOS LEVOU NOSSO RIM ESQUERDO.”
E por lá a gente ri. A gente chora. A gente lê lembranças, cotidiano, coisa séria, poesia sem necessariamente versos que derrama do seu amor pela mulher, pelos filhos, pelo neto, pelos amigos, pelo sítio, pela solidariedade, pela música, pela comida. A gente acha graça e se conecta com um jeito simples e ao mesmo tempo maravilhoso de viver a vida, mesmo com todos as pedras que se colocam no caminho.
O problema não é o problema. É o olhar que se coloca sobre ele. Uns enxergam pedras. Outros, montanhas. E montanhas foram feitas para transpor, sabendo que é de lá que vem o sol.

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<![CDATA[Pêsames]]>https://rfeldman.web.app/pesames/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe7fThu, 02 Feb 2012 07:27:00 GMT
Pêsames
Pêsames

O sol que me desculpe,
mas não tinha o direito de se levantar cedo,
como que de costume.
Não tinha que se levantar.
Falo do escuro que se faz quando a vida se vai.
Penumbra, negritude, completa escuridão.
Nem pó de estrela, nem vela ou lanterna
pra iluminar o dia que acordou no luto. No susto.
Alguém morreu e paradoxalmente a vida segue lá fora.
Ônibus circulam, carros soltam fumaça,
pulmões choram a falta de ar.
Falta. Ausência. Salta essa parte ruim da história.
Sai fornada de pão na padaria.
Gente apressada atravessa a rua.
Gente atordoada atravessa a dor.
A vida continua nas esquinas, varandas, cirandas.
Por que tanto movimento
se está tudo parado aqui dentro?
O bebê chora, o telefone toca, o carteiro manda notícias.
A vida pára e anda no cortejo.
Pranto de chuva, despedida que não foi pedida,
tristeza absoluta em sol menor.

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<![CDATA["Românticos Anônimos"]]>https://rfeldman.web.app/romanticos-anonimos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe7eTue, 24 Jan 2012 23:36:00 GMT
"Românticos Anônimos"
"Românticos Anônimos"

“Românticos Anônimos” é um filme simplesmente delicioso. Fui outro dia sozinha e ontem rolou um irresistível “Vale a pena ver de novo” com o Dé, que confirmou a cada risada o sabor de um enredo cheio de graça e leveza. Sem falar do tanto de França que adentra pela alma da gente, seja pelas ruas, pelo outono, pelo sotaque e pelo chocolate (sim, ainda por cima tem uma fábrica de chocolate pra gente sair do cinema salivando – mesmo não sendo suíço).
Em plena era de “pegação”, socialização, explicitação de tudo e de todos, o grupo dos “Românticos Anônimos” soa no mínimo inusitado. Mas tirando tudo o que é surreal, tragicômico, sobra o que há de real, bastante real: gente tímida, emotiva, fechada. Mulheres que não sabem dizer não, homens que suam para dizer sim, gente que se embaraça nos encontros amorosos, sem saber o que dizer, sem ideia do que fazer. Medo de ser avaliado pelo outro, medo de o outro não gostar do que vê, perfeccionismo que acaba saindo pela culatra e virando piada. (Se o assunto acabar, talvez o banheiro seja a melhor saída.)
A afetividade existe, está aí pulsando dentro de você, mas o que fazer com ela?
Qual a dosagem? Qual a medida? Qual o para-casa que o psicólogo mandou você fazer?
“Românticos Anônimos” é um filme para rir, gargalhar e acima de tudo pensar: o que é que você está fazendo da sua vida? Como está vivendo (ou deixando de viver) o amor? Onde é que foi parar a chave da sua prisão? Você está fugindo de quê? De quem? Que segredos esconde tão bem guardados?
Coragem, meu(minha) caro(a). Que o mundo não anda muito romântico não há dúvida. Mas isso não tira a força que tem um sentimento, uma emoção ou afeto. Capacidade de amar, cada um nasce com a sua. A questão é se você se coloca como autor(a) ou anônimo(a) da sua própria história.

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<![CDATA[Conversas de eleva-dor]]>https://rfeldman.web.app/coisas-da-idade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe7dWed, 18 Jan 2012 15:55:00 GMT
Conversas de eleva-dor
Conversas de eleva-dor

Entro no elevador junto de uma simpática senhora de cabelos brancos, se queixando (sem lamúrias ou lamentações, mas com um largo sorriso no rosto) das suas “cadeiras”.
Reforço:
– Ah, hoje em dia tá todo mundo “descadeirado”!…
(Risos.)
– Ah, não, minha filha, você ainda está muito nova… Já eu, do alto dos meus 84 anos…
– 84?! Não parece!…
– É o que todo mundo diz, mas já colhi 84 primaveras…
Pergunto, brincando:
– Ah, não, me conta: qual o creminho que a senhora usa à noite?
– Creminho? O creminho é a saudade e o amor, minha filha. Tô doida pra “ir embora” pra me encontrar com ele, que partiu já faz 16 anos… A gente vivia tão bem, mas tão bem…
Oitavo andar. Abre a porta do elevador, me despeço da alegre senhora.
Abro a porta do consultório, pensando na dor – dores tantas, escuto todo dia – que faz um amor partido.
Coisas da vida. Da idade. Conversas de elevador, dor de saudade.

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<![CDATA[Força]]>https://rfeldman.web.app/forca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe7cSat, 14 Jan 2012 20:56:00 GMT
Força
Força

Há de haver força quando desmorona tudo.
Quando falta o ar, a luz, o amanhecer.
Quando uma vida inteira de sonhos
é interditada e vai ao chão.
Há de haver força quando o começo vira fim,
o tudo vira nada, a luta vira luto.
Há de chorar, sofrer, doer,
virar pelo avesso de tanta dor.
Há de abrir os olhos, enxergar o estrago,
pisar descalço nos destroços, ferir a alma.
Há de ter pesadelo acordado, dor de realidade,
medo de cada gota de verdade.
Há de ouvir os gritos da vida.
Escutar que ela nos chama, embora fraca a chama.
Arregaçar as mangas, transformar medo em coragem.
O convite, embora árido e difícil de aceitar,
é para continuar.

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<![CDATA[Pequenos dramas familiares]]>https://rfeldman.web.app/pequenos-dramas-familiares/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe7bFri, 06 Jan 2012 10:32:00 GMT
Pequenos dramas familiares
Pequenos dramas familiares

Tenho uma cunhada que é especialíssima em tudo o que faz. Especialíssima no sentido de especial e também especialista em várias coisas, se é que a língua portuguesa me permite fazer a casadinha.
Margaret (carinhosamente chamada de Lelete, Lelesse) é a primeira filha de cinco o que significa que, além de irmã mais velha, é também a mãezona de todos. Sempre derramando afeto, sempre preocupada com que tudo saia bem, sempre esmerada em fazer com que cada programa de férias seja o melhor, faça chuva ou faça sol.
Você precisa ver a salada que ela faz. O bobó de camarão que ela faz. A peixada que ela faz. O pudim de leite condensado que ela faz. O drama que ela faz quando você troca um prato dela pelo restaurante. (Você precisa ver a braveza da Lelete.)
Quando não está de férias, seu esmero é com o trabalho. Fisioterapeuta de mão cheia, é especialista em cuidar das dores, nódulos, desvios de gente que costuma carregar o mundo nas costas.
Acostumada que está a cuidar, tornou-se desde sempre a cuidadora-mor da família. A que dá notícias, providencia médicos, pensa e antecipa soluções. E quando junta tudo isso com afeto, amor e preocupação, o resultado é, muitas vezes, um certo exagero já conhecido pelo restante da família. Com uma boa dose de humor e leveza, os irmãos brincam acerca do drama que muitas vezes vem daí.
Outro dia ela ligou lá pra casa na maior preocupação e falou com o meu marido:
– Mamãe não está bem. Passou mal a noite toda. Tossindo, corpo ruim, febre. Acho que é pneumonia. Médico, exame de sangue, raio-x, ressonância magnética, hospital. Acho que vai precisar ser internada.
Quando ele desliga, pergunto o que houve.
A resposta cabe numa frase:
– Mamãe vai gripar.
…………………………..

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<![CDATA[Emoções não tiram férias]]>https://rfeldman.web.app/emocoes-nao-tiram-ferias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe7aMon, 02 Jan 2012 20:18:00 GMT
Emoções não tiram férias
Emoções não tiram férias

Cenário: uma sanduicheria no litoral capixaba no primeiro dia do ano.
Personagens: pai, mãe e uma filha de aproximadamente cinco anos.
Drama: filha chorando, mãe quase chorando, pai calado.
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Em uma mesa um pouco atrás, entre ketchups, batatas palha e risos de família, fui tendo a minha atenção desviada para aquela cena. Do jeito que a criança chorava e do jeito que a mãe ia ficando comovida, ao mesmo tempo em que tentava conversar com ela e enxugar suas lágrimas, fiquei pensando no que poderia ter acontecido. “Deve ter morrido um avô”, pensei. Só mesmo uma dor desse tamanho para fazer mãe e filha chorarem no primeiro dia do ano, em plenas férias, numa sanduicheria na beira da praia.
Engano meu. Parei o sanduíche no meio da mordida quando vi, com a ajuda do meu sobrinho Matheus, o que na verdade estava acontecendo. A mãe estava brigando com o pai na frente da filha, carregando com raiva e tristeza cada palavra:
“- Não, eu não disse pra ela que você não presta. Mas como é que eu vou confiar em você? Como é que eu vou confiar em você, me fala?”
Como um CD arranhado, a mulher repetia essa frase a cada cinco minutos, buscando na filha um escudo, um álibi, uma salvação.
A vontade que eu tive foi colocar a menina no colo e trocar o sanduíche por um sorvete. Três bolas, de preferência, que é pra distrair bastante e esfriar aquela cabecinha tão pequena e já cheia de problemas que ela não pediu pra viver.
Criança não deve se meter em assunto de adulto, tá certo. E assunto de adulto se resolve (ou pelo menos deveria se resolver) assim: no privado, entre quatro paredes, limitado à compreensão (ou incompreensão, dependendo do caso) de quem já é bem crescidinho.
Fico imaginando como é que desceu aquele sanduíche, depois de tanta mágoa entalada.
Fico pensando nos registros emocionais dessa menina ao testemunhar e participar de um momento tão pouco nutritivo e saudável.
Volto ao meu cheeseburger, ao meu “problema” de não deixar escapar o milho com o alface e as batata palha.
Lembro, enfim, que estou de férias.

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<![CDATA[O velho Ano Novo de sempre]]>https://rfeldman.web.app/o-velho-ano-novo-de-sempre/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe79Sun, 01 Jan 2012 13:53:00 GMT
O velho Ano Novo de sempre
O velho Ano Novo de sempre

Para alguns, o Ano Novo é apenas mais uma sequência de 365 dias; agenda em branco, rugas a mais, calendário atualizado para organizar o tempo.
Para muitos, é uma coletânea de verbos para escrever na agenda: acreditar, querer, viver, mudar. E aí dá-lhe fogos de artifício, abraços emocionados à meia-noite, taças brindando, flores pra Iemanjá.
Quem não tem mar que arranje uma lagoa, uma piscina, um tanque. Até a chuva vale para encharcar você de boas energias.
Tudo o que é novo traz um certo mistério, uma certo quarto escuro. Basta você se lembrar do que já viveu de novo na sua vida: um emprego novo, um namorado novo, um apartamento novo, um país novo. Às vezes até um sapato novo pode ter um significado especial, dependendo pra onde ele te leva.
Fato é que 2012 chega trazendo um mistério simples de ser desvendado. Se nenhum fato extraordinário acontecer, se nenhum evento de força maior mudar o rumo da história, tudo pode acontecer tal como você esperou, chorou, pediu na virada do ano.
Para alguns, só de virar a página já se vive um Feliz Ano Novo. Alegria de deixar para trás páginas mal escritas, rabiscadas, rasgadas. Uma doença. Um desaponto. Uma tristeza. Uma perda. Um profundo desencontro.
Para outros, o que fica é a gratidão pelo ano que se foi. Junto dele crescimento, realização, reencontros. Um filho que nasceu. Um amor que floresceu. Amizades cada vez mais vivas. Família completa. Trabalho cheio de frutos para colher.
De uma forma ou de outra, soltam fogos para iluminar o que ainda está escuro. Dependendo de como se vive, até o verbo continuar pode ter emoção na sua escrita.
Feliz 2012!

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<![CDATA[Tédio]]>https://rfeldman.web.app/tedio/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe78Tue, 20 Dec 2011 22:41:00 GMT
Tédio
Tédio

Semana passada levei o Léo à oftalmologista para um check-up de rotina. Na sala de espera, o pequeno paciente teve que ter paciência: pinga colírio, arde um bocado, espera um pouquinho, pinga de novo, arde mais um bocado, aguarda até ser chamado pra entrar.
Peraí. Paciência? Para um menino em plenas férias escolares, que deixou o coleguinha em casa jogando playstation até ele voltar? Ah, é mesmo pedir demais.
As pupilas foram dilatando e a tromba também, proporcionalmente. Visivelmente cabreiro, mal-humorado, o pequeno me solta essa:
– Mãe, quero ir embora…
– Calma, meu filho, já já você vai entrar.
– Tô com tédio…

Passado alguns minutos (talvez os mais tediantes da sua vida), ele finalmente adentra pela sala da Dra. Daíse.
Depois de olhar para a parede e falar uma porção de letrinhas miúdas, a única palavra que passou a não existir mais era tédio. Esse sentimento acinzentado se transformou rapidinho em alegria quando ele soube que finalmente ia precisar usar óculos.
(Vai entender.)

Numa hora dessas o Léo já deve até ter esquecido o que é tédio. Desde sábado ele está se divertindo na machané (acampamento judaico) com os amigos da escola, o que inclui banho de piscina, chuva, lama; brincadeiras, noite do terror, gincanas.
O detalhe é que não pode levar celular, para desespero de “algumas mães” que nunca passaram um dia sequer sem falar com o filho. A ideia é mesmo criar nos meninos toda uma ideia de desprendimento, autonomia, desapego.
Nada mais saudável, eu sei. Saudável saudade, esta é a verdade…
Léo, a gente tem certeza de que você tá aproveitando como se estivesse na Disney.
Mas que a casa fica o maior tédio sem você, ah isso só sendo cego pra não ver…

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<![CDATA[Livro de vida inteira]]>https://rfeldman.web.app/livro-de-vida-inteira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe77Thu, 15 Dec 2011 10:53:00 GMT
Livro de vida inteira
Livro de vida inteira

Tenho me encontrado com Martha Medeiros todos os dias. Cada página de “Feliz por nada” é um pouquinho dela que fica em mim, fazendo-me acreditar que essa tal de sintonia realmente existe.
Além do jeito lindo de escrever, Martha Medeiros encanta com o conteúdo de cada crônica.
Fiquei presa “Dentro de um abraço”, ouvindo “Sons que confortam”, pensando na “Melhor coisa que não me aconteceu”, me deliciando com “Beijo em pé”.
Algumas crônicas já estou recomendando de “para-casa” para alguns clientes no consultório. Destaque para “Amigo de si mesmo”, em que a vida ganha um outro contorno a partir do momento que você “se amiga” com você mesmo. Injeção de auto-estima na veia.
Para aumentar a sintonia, descobri no livro que a Martha foi, assim como eu, publicitária. E, se ainda não virou psicóloga, tem com certeza um pezinho nesse chão fértil das relações humanas. Suas percepções, sua autenticidade são um verdadeiro presente pra gente. Seu livro, mais que um ótimo passatempo nos dias de chuva (e também sol, praia, lua) é um convite ao pensar. Não só o pensar das sinapses nervosas, mas especialmente das artérias que percorrem o coração.
“Feliz por nada” é desses livros que a gente “entra” de um jeito e “sai” de outro, maior e melhor eu diria.
Cada crônica que eu leio é uma conversa boa que tenho com Martha Medeiros. Silenciosa e entusiasmadamente concordo com ela em gênero, número, grau, emoção e pensamento.
Vou além da sintonia e me atrevo a dizer, mesmo sem nenhuma comprovação científica ou teste de DNA, que a minha alma é prima da dela. E esse “parentesco” me enche de inspiração; não só para escrever, mas viver. “Feliz por nada” e também por tudo.

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<![CDATA["Noite de Ano Novo"]]>https://rfeldman.web.app/noite-de-ano-novo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe76Sat, 10 Dec 2011 09:48:00 GMT
"Noite de Ano Novo"
"Noite de Ano Novo"

Tá bom, tá bom. Sei que desembestei a falar de cinema, mas não resisto à tentação. É que a questão náo é bem o cinema. É o tanto de vida que se desenrola ali na telona, acústica perfeita de “eu te amos”, “te perdôo”, “olás”, “adeus”, “Feliz Ano Novo”.
Então é noite de Ano Novo em Nova York. Precisa falar mais alguma coisa? Ou você quer que eu chame o Frank Sinatra pra gente dar uma palinha? “It´s up to you, New York, New Yooooooork!…”
Sim, o filme é cheio de música, emoção, atores de peso (destaque para Robert De Niro e Michelle Pfeiffer, que quase não reconheci), paisagens de cartão postal, fogos de artifício e pequenas pitadas de clichê. Mas o que seria o Ano Novo senão um belo, grande e esperado clichê? Constatação entusiasmada (ou não, na versão dos mal-humorados de plantão) de que a vida continua, vira a página, começa um novo capítulo. E que pode começar de um jeito diferente, sem promessas em vão, ditas para o vento, mas com uma nova paisagem dentro de você. Paisagem feita de paz, alegria, amor, esperança, sucesso, realização. Mudanças silenciosas, majestosas, que para você farão todo o sentido.
Você pode ganhar na Megasena. Arrumar um namorado. Mudar de emprego. Dar a volta ao mundo. Ir pra Bali, Cabo Frio ou Milão. Mudar, casar e não me convidar.
Mas a realização que falei lá em cima não tem necessariamente que estar em projetos grandiosos, extraodinários ou radicais. Pode ser algo pequeno, sutil, mas suficiententemente grande para transformar a sua paisagem interior. Sol no lugar de neve, flores para um jardim árido, chuva para irrigar os seus desertos.
Feliz Ano Novo. (Um pouco antes da hora, eu sei, mas já inteiramente no clima depois desse filme delicioso.)

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<![CDATA[Pipoca com pimenta]]>https://rfeldman.web.app/pipoca-com-pimenta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe75Sun, 04 Dec 2011 20:49:00 GMT
Pipoca com pimenta
Pipoca com pimenta

Apaixonada por cinema que sou, corro pra fila quando há um bom lançamento ou pra locadora quando ele já saiu de cartaz. (Sim, os filmes costumam sair logo de cartaz quando se é mãe, profissional, mestranda, dona de casa…).
Semana passada fiz as duas coisas: aluguei “O Concerto” e vi na telona todo o talento de Almodovar em seu mais recente “A Pele que Habito”.
Recomendo os dois, sem pestanejar.
“O Concerto” nos envolve com a sua graça, emoção e a beleza orquestrada por Tchaikovsky.
“A Pele que Habito” nos cobre de suspense e adrenalina com a sua trama psicológica tão inusitada, supreendentemente arquitetada. (Acordei no dia seguinte com as cenas na cabeça.)
Os dois têm em comum, apesar de estilos tão diferentes, a vingança como tema. No primeiro, a vingança que nasce por acaso, pela interceptação de um fax, movida pela paixão e pelo brio, pelo brilho nos olhos que ilumina uma causa nobre. (Nobríssima.)
No segundo, a vingança vem perfeitamente de encaixe, desencaixando tudo, violentamente proporcional a uma dor doída de morrer.
Seja pela audição ou tato, a vingança se faz ouvir em alto e bom som; e é tão vingativa que dá até pra pegar. Em ambos os casos, tem pimenta pra arder os olhos; e está longe de ser um prato que se serve frio.

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<![CDATA[Inquietude]]>https://rfeldman.web.app/inquietude/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe74Wed, 30 Nov 2011 22:50:00 GMT
Inquietude
Inquietude

“Quieto, menino! Desse jeito vai se machucar!”
Quem é que nunca ouviu essa frase antes?
Quem é que não teve infância e, com ela, a inquietude
de tudo descobrir a cada detalhe de instante?
Como ficar quieto diante das nuvens, dos muros,
da página em branco?
Como parar diante de um mundo inteiro
a ser desbravado, como não descobrir países
e continentes dentro de si?
“Quieto, menino.” Se já não pára agora,
nem um segundo, o que vai ser
quando não for mais criança –
tampouco gente grande, porém?
Mais inquietude te espera do alto das suas espinhas,
dos seus hormônios, do quarto trancado.
Infinita inquietude de viver o sim, o não,
as agruras da transição.
Inquietude de não concordar com o mundo,
de dar mergulhos no escuro,
de colocar o verbo amar numa prisão.
“Quieto, menino”. Daqui a pouco você arruma barba,
trabalho, mulher, filhos
e a inquietude que te move desde sempre.
Pra onde? Como? Pra quê? Até quando?
Não sei, menino. Só sei que a inquietude é grande,
de uma grandeza imensa que ensina a gente
a se encontrar.
Até lá, não tem jeito: a gente machuca, tropeça, desencanta, anda e desanda.
Muitas vezes dá voltas e mais voltas
até achar a chave da prisão.
E quando chegar a hora, no tempo certo,
quando a luz se apagar,
a inquietude descobre que pode finalmente se aquietar.

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<![CDATA[Achados e perdidos]]>https://rfeldman.web.app/achados-e-perdidos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe73Fri, 25 Nov 2011 15:02:00 GMT
Achados e perdidos
Achados e perdidos

Perdeu o convite, o brinco, o brilho nos olhos.
A chave, a memória, o bonde da história.
A senha, a resenha, o rumo de casa.

Perdeu o ônibus, a fé, o sono.
Os óculos, monólogos, binóculos.
A esperança, o sol, bonança.

Perdeu tudo o que tinha para não perder a cabeça.

Ganhou colo, copo de água, poesia.
Xícara de chá, sofá, sentido.
Identidade, segunda via, rio.
Riu quando se viu perdidamente achada na vida.

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<![CDATA[Unidunitê]]>https://rfeldman.web.app/unidunite/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe72Wed, 16 Nov 2011 21:37:00 GMT
Unidunitê
Unidunitê

Quando eu fiz nove anos minha mãe me colocou no inglês. Uma das primeiras coisas que aprendi foi a parlenda “unidunitê”, e daí em diante não parei mais. Ia pra aula happy da vida, as aulas mais pareciam terapia de grupo. A gente conversava sobre everything, e no final ainda cantava as paradas de success. Deve ser por isso que andam me “elegendo” (menos, Renata, menos) na família como cantora do ano. Não posso ver um microfone que vou logo desafinando um “I was born to love you!…”. Esse feriado comemoramos o aniversário da minha querida sobrinha Luciana lá no sítio e eu arrasei de Nat King Cole, com um caprichado “Unforgettable… that´s what you are…”.
Bom, mas tudo isso pra dizer que nem sempre a história é “tal mãe tal filho”. O Léo está no inglês, mas não morre de amores por ele. Andou me cantando inclusive pra sair, e eu rasgando o meu português:
– Mas filho, inglês é muito importante. É uma língua universal,o mundo todo fala…
– Mas, mãe, e por acaso as pessoas que moram nos Estados Unidos têm que falar português?!
(…)
Ok, all right, let´s go, desabafo registrado. Um pouco de ufanismo não faz mal a ninguém. Mas trata de abrir o book porque semana que vem tem prova. E nada de fazer unidunitê na hora de marcar a opção correta, hein?
Love you.

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<![CDATA[Palhaço também é gente]]>https://rfeldman.web.app/palhaco-tambem-e-gente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe71Thu, 10 Nov 2011 11:17:00 GMT
Palhaço também é gente
Palhaço também é gente

Se você ainda não assistiu “O Palhaço”, do talentoso Selton Mello, dê um “pause” na leitura e vá se emocionar com esse filme que é cheio de poesia e graça. Depois voltamos a conversar, que é pra não estragar a surpresa.
Se você já assistiu, ajeite-se bem na cadeira e vamos lá, prosear sobre a vida. A vida sobretudo de um palhaço profundamente triste, esvaziado de alegria, a despeito de ser palhaço. (É. Acontece. Palhaço também é gente.)
Poderia gastar dez posts discorrendo sobre o talento desse moço que é tão competente naquilo que faz. Mas falando agora como psicóloga, e não só espectadora, confesso que fiquei impressionada com o tanto de tristeza que ele conseguiu passar pela tela. Uma tristeza pungente, doída, dessas que pesam a alma como se ela carregasse pedra. E agora não vou falar nem como psicóloga nem espectadora, mas ser humano simplesmente, reles mortal que também tem os seus dias de tristeza. Nunca vi um sentimento ser transmitido de forma tão fidedigna e contundente. Tristeza contagiante, paralisante (em alguns momentos paralisava até a minha mão dentro do saco de pipoca).
O detalhe lindo do filme é o nome do circo: Esperança. Parece um detalhe bobo, simples, mas cheio de sentido para um palhaço que não dava mais conta de fazer o público rir (“E quem é que vai me fazer rir?”, pergunta ele uma hora). Movido pois pela esperança de ver essa tristeza se transformar em alegria – alegria de viver, pura e simplesmente – Pangaré deixa o circo pra trás e vai em busca da vida. Da sua vida, que fique bem claro. Leva no bolso a certidão de nascimento amassada (única referência oficial dele mesmo) e trata logo de fazer sua carteira de identidade, tão fundamental pra se apresentar ao mundo e poder dividir em fraternas parcelas o sonho do seu primeiro ventilador. Ventilador que gira, refresca, que seca o suor do trabalho e lembra que o mundo é redondo e dá voltas – voltas que majestosamente surpreendem o público no final.
Mais do que um documento plastificado com número, foto e impressão digital, Pangaré estava em busca do que nós também buscamos construir, cuidar e amar uma vida inteira – nossa identidade.
Com doçura e encanto, poesia e canto, nosso querido Palhaço nos ensina o que eu tanto acredito: a vida tem uma capacidade maravilhosa de transformação.
A plateia pede bis.

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<![CDATA[O amor por ele mesmo]]>https://rfeldman.web.app/o-amor-por-ele-mesmo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe70Fri, 04 Nov 2011 21:40:00 GMT
O amor por ele mesmo
O amor por ele mesmo

Amor. Amar. Amei. Amém.
Não falo do amor de novela das oito ou dos filmes de Hollywood. Não. Nada de lenço, óculos cor-de-rosa, água com açúcar ou beijos molhados. Falo do amor que transcende tudo, que reúne todas as virtudes – delicadeza, compreensão, paciência, zelo, generosidade, temperança, fidelidade. Do amor que diz não, que cuida de tudo que é dor, que não aceita o que vai na direção contrária do amor.
Amor dos afetos e dos desafetos. Amor da sua vida e amor que você tem pela sua vida. Amor que reside num copo d´água, num bom dia nublado ou ensolarado. Amor que vira a página, machuca e cura, silencia e ao mesmo tempo rege uma orquestra sinfônica dentro da gente. Porque gente foi feita pra amar. Pra fazer do amor um presente, um hino, uma celebração sem necessariamente motivo pra comemorar.
Amor da onde você veio. Pai, mãe, por mais imperfeitos que sejam. (Você também é.)
Amor que não tem por quê, mas pra quê, sentido de toda uma existência.
Amor que convida a amar de agora em diante e sempre, aprendizado que se eterniza numa completa ausência de fim.

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<![CDATA[Ansiedade infantil]]>https://rfeldman.web.app/ansiedade-infantil/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe6fMon, 31 Oct 2011 21:05:00 GMT
Ansiedade infantil
Ansiedade infantil

Interessante como a noção de tempo se desenrola na cabecinha de uma criança.
Domingo lá pro meio da tarde, depois do peixe ao molho de camarão divinamente preparado pelo pai,
o sofá nos chamando prum filme da Disney, a pituquinha me vem com essa:
– Mãe, hoje tem aula?
(…)
Não é raro dizer também:
– Ontem eu vou brincar com a minha amiga Sofia de Barbie Moda e Magia!…
(…)
À falta de noção, tão apropriada pra idade, soma-se à ansiedade de sorver com empolgação
cada segundo da vida, como se ela fosse um sorvete gigante banhado por uma deliciosa calda de chocolate.
Daí a famosa e incessante perguntinha que sempre acompanha as viagens de carro:
– Tá chegando? Tá chegando? Já chegou?
(…)
Quando é o aniversário que está chegando, então, a ansiedade escorre.
Nessas manhãs “agradavelmente” despertadas uma hora mais cedo pelo famigerado horário de verão,
a Bella mais parecia aquela personagem dos contos de fadas que leva o seu nome, tal era a profundidade do seu sono.
Fiquei com dó, levei o Léo primeiro pra aula (afinal, tinha uma baita prova de matemática esperando por ele) e fui trabalhar.
Fiquei sabendo mais tarde pelo Dé que, quando foi acordar a Bella Adormecida, ela abriu os olhos e perguntou:
– Hoje é meu aniversário?
– Não, filha. Ainda faltam alguns dias.
– Ah, então eu vou dormir mais um pouquinho.
………………………………………………………….

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<![CDATA[Perolices]]>https://rfeldman.web.app/perolices/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe6eTue, 25 Oct 2011 16:37:00 GMT
Perolices
Perolices

Aniversário na escola das crianças. Depois do parabéns, o tradicional “Com quem será, com quem será, com quem será que a Marili vai casar… É com o Thiago, é com o Thiago, é com o Thiago que a Marili vai casar…”
Até aí, tudo bem.
O inesperado foi o Léo questionar, em alto e bom som, na maior braveza, dando a maior bandeira:
– QUEM É ESSE THIAGO?
………………………………………………..
Dias depois, o Léo foi acampar na casa do João. Adivinha de quem o João é irmão? Da Marili, a lindinha de olhos azuis “que vai casar com o Thiago”. Pois é. Com a bandeira que o meu filho deu, a mãe da Marili (também psicóloga e escritora, poetisa de mão cheia) ficou na maior torcida. Aprovação total do pequeno futuro genro.
Eis que na hora do almoço, como quem não quer nada, a avó da Marili, também já botando fé, perguntou:
– Quando você crescer, Léo, vai se casar com uma judia ou uma cristã?
Com uma tromba de todo tamanho, ele respondeu:
– Eu não vou casar. Vou ser padre.
(!)
– Ué, num é rabino não, é padre?…
– Não. Vou ser padre.
(Claro. Rabino casa. Padre de jeito nenhum.)
………………………………………………..
Toda noite, rezo com as crianças. Costumo dizer algumas palavras e peço a eles pra repetirem.
Um dia desses falei pra Bella:
– Hoje você vai rezar sozinha, Bella. O que você gostaria de falar pro papai do céu?
– Que eu amo o Léo!…

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<![CDATA[Verdade ou mentira?]]>https://rfeldman.web.app/verdade-ou-mentira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe6dThu, 13 Oct 2011 21:07:00 GMT
Verdade ou mentira?
Verdade ou mentira?

Às vezes fica tão fácil complicar a vida. Fica fácil colocar pedras no meio do caminho, por mais pesadas que elas sejam. Fica fácil trocar o sim pelo não. Colocar máscara de velho rabugento pra disfarçar a criança que tem aí dentro, estendendo os braços, pedindo colo. Sim. Colo, abraço, cheiro, afeto. Já ouviu falar nisso? Mas não. É mais fácil torcer o nariz, obedecer cegamente o relógio, ignorar a beleza que reside na simplicidade de um oi, um obrigado, um adeus. Filhos separados dos pais, retratos rasgados de uma história que poderia ser mas não foi. Amores que se foram, se perderam, para sempre, sem volta. Amigos que há muito guardam esse título, mas se tornaram apenas velhos conhecidos, esbarrando ocasionalmente no supermercado. Prateleiras cheias de hipocrisia, má-digestão, azia. Falta de tempo, falta de paciência, falta de coragem de olhar o outro nos olhos e perguntar: “Você está bem?” De verdade, por querer saber, interesse genuíno, e não porque o protocolo exige. Talvez esteja passando da hora de romper alguns estranhos hábitos. Girar a garrafa, tirar o disface, abandonar máscaras. Abraço de urso, ao invés de tapinha nas costas. Conversa de horas, ao invés do bom dia de elevador.”Eu te amo” dito sem dizer absolutamente nada e dizendo absolutamente tudo. Verdade verdadeira, essa que a gente capta num olhar, num sorriso, num telefonema mesmo que rápido, na frieza de uma tela de computador.
Qual é a sua verdade?

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<![CDATA[Pânico]]>https://rfeldman.web.app/panico/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe6cSun, 09 Oct 2011 16:58:00 GMT
Pânico
Pânico

Sexta-feira levei um susto danado, desses que inundam o organismo de adrenalina e alteram a pressão arterial.
Estava fechando o consultório quando recebi uma ligação da Patrícia, minha ajudante, em pânico:
– O Léo estava tomando banho e o box caiu em cima dele! Voou caco de vidro pra todo lado e ele teve vários cortes, mas parece que não foi nada grave.
Sua mãe e seu pai saíram daqui agora, foram levar ele pro hospital.

[Ai. Respira fundo, reza e aperta o passo.]
(…)
Graças a Deus tudo não passou de alguns cortes superficiais, o pior mesmo foi o susto e o tanto que o pequeno berrou.
Tinha caco de vidro até dentro da orelha, mas nem ponto precisou dar.
Nada como vô e vó sempre por perto, de prontidão, e um anjo da guarda que não arrasta pé nem um segundo, sempre em vigília e proteção.
Nada como carinho de pai e mãe pra passar o susto e aliviar a dor.
Curativos feitos e muitos decibéis de choro por causa do iodo ardido, fomos comer uma pizza pra relaxar.
A essa altura o Léo já estava com a carinha ótima, saboreando a sua pizza preferida e recontando a história algumas dezenas de vezes.
Eu ainda estava perplexa:
– Meu Deus, nunca ouvi contar um caso desses. O blindex estourar desse jeito, que loucura…
E aí é que ele me veio com mais uma das suas:
– Tá vendo, mãe? Por isso é que eu não gosto de tomar banho!
(!…)

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<![CDATA[Perolices fecundas]]>https://rfeldman.web.app/perolices-fecundas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe6bFri, 07 Oct 2011 11:27:00 GMT
Perolices fecundas
Perolices fecundas

Ontem o almoço lá em casa foi a maior “Disneylândia”: frango a passarinho crocante, purê de abóbora moranga, saladinha de mil folhas.
À noite, a Bella me pediu para contar uma história e a escolhida foi “A leiteira”.
Muito curiosa e conversadeira, a pequena me interrompia a cada palavra lida para perguntar
“que que é isso?”, “por que aquilo?”
Em determinado momento da história, “A leiteira” foi ao mercado para comprar uma galinha poedeira, e a ilustração mostrava justamente
os ovos sendo quebrados pelos pintinhos.
Foi quando apontei pra galinha e disse a ela:
– Olha, filha, igual o frango que a gente comeu na hora do almoço.
Qual não foi o seu espanto, desgosto, perplexidade. Parecia o fim do mundo:
– O quê, mãe?!?!? A gente comeu frango?!?!?!
(…)
Coitado!…

……………………………………………………………………..

E o Léo aprendendo tudo (e me ensinando tudo) sobre o Ano Novo Judaico, a criação do mundo, etc:
– Foi assim que tudo começou, mãe. Deus criou a terra, o céu, o mar, as plantas e os animais, criou o homem e a mulher.
– Quanta coisa linda ele criou, né, Léo?
E ele, pensativo:
– E quem foi que criou Deus?!?!?!?

………………………………………………………………………

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<![CDATA[Abstinência]]>https://rfeldman.web.app/abstinencia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe6aMon, 03 Oct 2011 23:33:00 GMT
Abstinência
Abstinência

Passo mal
se não escrevo.
Sinto dores,
calafrios, ausências.
Sinto saudade de mim.

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<![CDATA[Mirante]]>https://rfeldman.web.app/mirante/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe69Mon, 26 Sep 2011 22:30:00 GMT
Mirante
Mirante

Cai a noite.
Desmaia o sol.
Chove via láctea num mar sem fim.
Acorda o sono.
Não deixa morrer o sonho.
Desperta pro que está por vir.

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<![CDATA[Ilhada]]>https://rfeldman.web.app/ilhada/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe68Tue, 20 Sep 2011 21:47:00 GMT
Ilhada
Ilhada

Inventou segredos.
Ensaiou mil beijos.
Deu férias pro azar.
Foi em busca do mar.
Em busca de amar.
Primeiro a si mesma, de corpo inteiro,
de alma pronta e lavada.
Depois para quem merecesse beber em fonte
tão abundante de amor.
Abundância, é o que nos diz o mar.
Eternidade, é o que responde o amor.
Sem tirar a roupa, se desnudou por inteiro.
Mergulhou em si mesma como veio ao mundo.
Virou ilha cercada de paz.

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<![CDATA[Carta aos meus filhos]]>https://rfeldman.web.app/carta-aos-meus-filhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe67Thu, 15 Sep 2011 08:21:00 GMT
Carta aos meus filhos
Carta aos meus filhos

Léo querido,

Vou torcer para você estar na aula de informática e ler em tempo real, ao vivo e em cores, a minha saudade, que é do tamanho do mundo.
Chegamos amanhã e vou apertar, abraçar, encher de beijos, colo e carinho você e a Bella.
Contagem regressiva, comece a contar desde já!
Amo muito vocês, meu sol, minha flor.

Mamãe.

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<![CDATA[Carta de amor]]>https://rfeldman.web.app/carta-de-amor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe66Tue, 13 Sep 2011 22:09:00 GMT
Carta de amor
Carta de amor

Querido Neruda,

Quando você se foi eu ainda nem havia nascido. Dizem que morreu de tristeza, dessas mortes que cabem bem aos poetas. Cheguei nove meses depois, e outros tantos anos aqui estou, sentada de frente pro mar, pensando no que os seus olhos viam quando também enxergavam a beleza de Viña del Mar. De um lado, a beleza do Oceano Pacífico que rega o seu Chile de congrios e ceviches. De outro, tão perto daqui, em Santiago, a força da Cordilheira dos Andes que nos encanta com o seu pranto perene de neve.
Inspirada em você, querido Pablo, dei um “pause” na rotina e vim viver o amor com todas as letras, versos, prosas e canções. Não foi isso que você escreveu? “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada.” Imagino o quanto você amou e rimou o amor e a dor com sua alma de poeta, merece-dor do Prêmio Nobel da Paz. Sim, querido Neruda, o amor um dia acaba desaguando num oceano imenso de paz. Mesmo que no caminho doa, sofra, caia, morra, se descabele. Não é assim que você chamava a sua terceira mulher? La Chascona, a descabelada. Sim, querido poeta, o amor vira os enamorados pelo avesso.
Fui até a sua casa, estava fechada. Vou tentar amanhã, em Valparaíso, convidada que já me sinto a adentrar um pouco mais na sua vida, respirando cada canto de poesia que ainda hoje deve habitar La Sebastiana.
Pois bem. Vim escrever um pouco mais da minha história no seu chão que é repleto dela. E olhando pra esse marzão aqui na minha frente, abro uma garrafa de vinho, me lembro de Iemanjá (se você tivesse mais uma casa, este nome cairia bem) e brindo com você o amor que um dia, em suas memórias póstumas, você “confessa ter vivido”.
E já que estou aqui, viva, vivinha da silva, bebendo na fonte da sua poesia, que eu não precise morrer para confessar a imensidão de amor que dentro de mim é mar e montanha, céu e chão, paz e revolução.
Adeus.

P.S: Um tanto de amor acho que aprendi com você.
P.S´: Relendo o post hoje de manhã, vi que “te dei” o Prêmio Nobel da Paz, quando na verdade você ganhou foi o Prêmio Nobel de Literatura. (…). Não importa. Quem tanto já falou de amor, quem tanto fez poema com o mar merecia mesmo dez Nobeis da Paz. O prêmio é todo nosso, querido Neruda.

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<![CDATA[Recomendações de mãe]]>https://rfeldman.web.app/recomendacoes-de-mae/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe65Wed, 31 Aug 2011 11:11:00 GMT
Recomendações de mãe
Recomendações de mãe

Cada fase uma fase, um momento diferente.
Eu me despedindo do Léo ao deixá-lo na escola:
Filho, “Deus te abençoe”, boa prova, não se esqueça de escrever respostas completas, não confunda fotossíntese com polinização. E lembre-se: “green”, grama; “yellow”, sol. Capricha na prova de inglês!…
Com a Bella, a recomendação mais importante:
Tchau, minha flor, brinca bastante!
Nem precisei terminar a frase e ela saiu correndo em direção à Sophia e ao Ilan, direto pra casa de boneca:
– Mamãe, a gente vai brincar de Smurfs! Eu vou ser a Smurfete!
Ah, meus filhos. E assim vou indo trabalhar com um sol dentro de mim, a alma em paz e o coração cheio. Hoje vocês se dividem entre clorofilas, agentes polinizadores, Smurfs e Smurfetes. Amanhã serão contas a pagar, casamento para cuidar, trabalho para amar, filhos para encher de beijos na porta da escola.

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<![CDATA["Tricotices"]]>https://rfeldman.web.app/tricotices/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe64Sun, 28 Aug 2011 21:41:00 GMT
"Tricotices"
"Tricotices"

A primeira tricotada “a gente nunca esquece”. E pra garantir que a gente não vai esquecer mesmo, deixo esta pequena relíquia aqui no blog. (Quem sabe meus filhos, netos, bisnetos e tataranetos não lerão um dia.)
Do alto dos seus quase quatro anos, o pinguinho de gente da Bella resolveu bater um papo bem entrosado com a Patrícia, que trabalha na nossa casa. Eis o diálogo, na íntegra:
– Pat, você sai com a sua mãe no fim de semana?
– Saio, Bella.
– Só você e ela?
– Não, eu tenho uma irmã.
– Como ela chama?
– Luciana.
– Luciana?! Igual a minha prima, que mora em Uberlândia. Ela é filha da Tia Rosi e tem um namorado liiiindo, chamado Fred. (!)
(Risos, muito risos da Patrícia)
Com a maior seriedade do mundo, lá vem a Bella:
– Por que é que você tá rindo? (…)
– Nada, Bella, nada, só achei graça do jeito que você falou.
– Ele é um gato. Mas não conta pra ninguém, tá? Esse vai ser o nosso segredo. (!)
…………………….
PS: Tão longe tão perto, de um jeito ou de outro, a Tia Rosi e a Lulu são sempre lembradas por nós. Bem-vindo ao clube, Fred. (!) Seu ibope anda alto por aqui.

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<![CDATA[Obrigação]]>https://rfeldman.web.app/obrigacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe63Mon, 22 Aug 2011 22:36:00 GMT
Obrigação
Obrigação

Cresci ouvindo isso da minha mãe: “primeiro a obrigação, depois a devoção”.
Aprendi direitinho, tintim por tintim, letra por letra.
Tinha também a outra versão de rima: “primeiro o dever, depois o lazer”.
Ah, mães. Hoje sei bem o que é isso, conheço bem essa toada, e tento passar pros meus filhos de tudo quanto é jeito. Tá impregnado, tá na pele, tá virando quase um mantra: obrigação, ão… ão… ão… ão…
Só que ao invés de relaxar, põe é pilha. Claro. “Um dois, feijão com arroz.” Bora bora, vamos aproveitar o tempo, cuidar do que é prioridade para aproveitar depois a felicidade do tempo livre. (E quem disse que tempo ocupado não é felicidade? Ô, se é.)
Olha eu aqui, burlando a regrinha básica que a minha mãe me ensinou. Enquanto você passeia pelo blog, tem uma pilha de livros pra eu ler e artigos pra escrever. Obrigação da pesada, estou até parecendo o coelho da Alice no País das Maravilhas: “É tarde! É tarde, é tarde, é tarde!”
E eu, mistura de coelho e gente, quase estou ouvindo a minha orientadora dizer : “primeiro a obrigação, depois…”
(Ela é que não sabe o tanto que essa devoção aqui
me enche de inspiração.)
Fui. “É tarde, é tarde, é tarde!”.

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<![CDATA[Ao trabalho]]>https://rfeldman.web.app/ao-trabalho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe62Fri, 19 Aug 2011 00:32:00 GMT
Ao trabalho
Ao trabalho

Chega de banho. Você vai acabar derretendo desse jeito.
Arregaçar as mangas. Rasgar o verbo. Desentalar.
Chorar se preciso for.
Enfrentar o batente, a labuta, a dor de dente.
Encarar os problemas de frente.
Ninguém te falou que seria fácil.
Viver não é conto de fadas,
não é matematicamente simples assim.
Dorme. Acorda. Boa noite, bom dia.
Ginástica física, mental, emocional.
Corre daqui, peleja dali.
E assim a gente vai transformando
pedras no caminho em bolhas de sabão.
Sem tirar o pé no chão,
mas com possibilidade de alcançar a lua.
Por que não?
Aceita os convites que a vida te faz.
Faz careta pro bicho-papão.
Até morrer de rir. Até descobrir o quanto faz bem sorrir.
Antes de virar abóbora,
toda Cinderela tem seus minutos de sonho.
Se você acredita na eternidade,
tem um punhado de realização pela frente.
Bora, o despertador já tocou.
O sol vai continuar nascendo todo dia,
quer você acorde ou não.
Acorda. Espreguiça, estica a coluna,
beija a alma e vai abraçar esse montão de vida
que te espera lá fora.
Mãos à obra.

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<![CDATA[Pausa refrescante]]>https://rfeldman.web.app/pausa-refrescante/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe61Sat, 06 Aug 2011 12:09:00 GMT
Pausa refrescante
Pausa refrescante

Outro dia fui comprar um sabonete líquido para o banho e fiquei alguns minutos diante da prateleira, observando a variedade de marcas, aromas, cores. Um deles me chamou atenção pelo imperativo estampado no rótulo: “Recarregue-se”.
Não tive dúvida. Coloquei no carrinho e lá fui eu pro caixa, pensando no poder que as palavras têm. (Os publicitários são especialistas no assunto).
Depois de uma semana de muito trabalho, nada como recarregar as baterias, soltar as mangas e degustar dessa pausa refrescante que é escrever no blog.
Então, aproveita que é sábado para seguir o que o sabonete manda: “Recarregue-se.”
Banho de espuma. Banho de loja. Banho de alegria. Banho de música. Banho de cultura. Banho de saúde. Banho de paz, de amor e vida.
Banho de pipoca, sofá e riso.
Só não vale banho com balde de água fria.

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<![CDATA[Feridas]]>https://rfeldman.web.app/feridas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe60Wed, 03 Aug 2011 20:42:00 GMT
Feridas
Feridas

Ontem eu dei uma entrevista para o MGTV sobre um tema bastante comum e ao mesmo tempo complexo: “pessoas negativas, destrutivas, que puxam o outro pra baixo “. (http://g1.globo.com/videos/minas-gerais/v/especialista-ensina-como-lidar-com-criticas-negativas/1583961/#/todos%20os%20v%C3%ADdeos/page/1)
Como o assunto dá pano pra manga e o tempo é sempre contadinho no Programa, resolvi estender um pouco do tema por aqui, explorando especialmente o lado de quem sofre com o que vem dessas pessoas tão esvaziadas de auto-estima.
Que elas não percam jamais a lucidez de enxergar que o problema não é com elas, mas com aquele que pisa, humilha, puxa pra baixo. O foco não é a vítima, mas o algoz. Ele tem dificuldades a resolver. Falta a ele uma boa auto-estima, assim como também faltam habilidades emocionais, interpessoais, muitas vezes profissionais. É o professor que diminui o aluno, o chefe que destrói o funcionário, a patroa que acaba com a raça da empregada. Por mais paradoxal que pareça, o conflito também pode surgir entre marido e mulher, pai e filho, parentes que acabam virando serpentes. Pessoas assim buscam compensar a baixa auto-estima com poder, na ilusão de se fortalecer com a fragilidade do outro.
Mera ilusão, sinto lhe dizer. Mas aí vão duas boas notícias:
1) o que é puxado pra baixo pode perfeitamente, com a segurança e auto-estima que tem, colocar limite e dar a volta por cima.
2) o que puxa pra baixo pode reconhecer que a fragilidade na verdade é sua, e buscar mudar para sobreviver emocionalmente.
Bem-vindo à vida, cheia de desafios e oportunidades pra gente crescer. Mesmo que às custas de muito tombo no chão.

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<![CDATA[Confissão]]>https://rfeldman.web.app/confissao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe5fMon, 01 Aug 2011 23:59:00 GMT
Confissão
Confissão

Um dia ela me confessou, muito timidamente:
– Às vezes eu penso em mudar de sexo. Deixar de ser mulher. (…)
Mas nada de ser homem também. Esquece.
Meu sonho de consumo é me transformar em máquina. De preferência uma bem grande, linda, de plasma ou LCD. (Plasma não, de plasma basta eu tentando inutilmente aparecer.)
O que eu queria mesmo era me banhar de todos os brilhos, cores, amores. Imagens em movimento, tão aceleradas quanto os filmes do 007. É isso. A partir de hoje meu nome é “Bond. James Bond”.
Quero ter voz. (E que a minha voz seja ouvida no talo.)Quero ver ele não olhar pra mim agora. Cheia de astúcia, sedução, armas de última geração.
“Bond. James Bond.”
E quando ele cansar desse filme é só me apontar o controle. Gol de placa, golaço, grito de adrenalina no último minuto do segundo tempo.
É zero a zero e ele insiste em olhar pra mim. Vidrado, louco, completamente apaixonado.
Se não capotar no sofá depois disso, é certo que vai pra cama comigo.
Muito prazer, eu sou a tal.
Sem concorrência. Sensacional. Inteiramente digital.

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<![CDATA[problemas e PROBLEMAS]]>https://rfeldman.web.app/problemas-e-problemas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe5eFri, 29 Jul 2011 23:40:00 GMT
problemas e PROBLEMAS
problemas e PROBLEMAS

“Cada um com o seu problema”, diz um chavão conhecido. Cada um com a sua cruz, dizem os mais espiritualizados. Já a minha bisavó costumava dizer: “que esse seja o seu maior problema…”
Problema é o que não falta. É o que nos faz correr atrás, sofrer, aprender um bocado na vida. Problemas internos, externos, de todos os tipos.
Cada um tem o seu pra enfrentar, e isso já é o bastante. Subjetiva é a dor e angústia que cada um carrega no peito.
Tô falando tudo isso pra chegar no Chico e o filme que veio completar as comemorações do seu centenário e fechar com chave de ouro as minhas breves férias no friozinho lá do sítio.
“As mães de Chico Xavier” vieram pra confirmar a saúde dos meus canais lacrimais. Estão supimpas, graças a Deus.
Meus olhos se encantaram com o que viram – a simplicidade do enredo, da trama, da trilha se misturando a cenas tão cheias de emoção. A beleza reside mesmo na simplicidade.
Sei que cada problema é um problema e dor não se compara. Mas se você quiser ver o seu problema diminuir de tamanho por um instante – aproximadamente por duas horas – é só ligar o DVD e colocar “As mães de Chico” pra rodar.
Às mães (e também aos pais, claro) que já viveram o abismo de imensa dor que é perder um filho, meus mais profundos sentimentos e a esperança de que o Chico continue escrevendo cartas lá de cima.

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<![CDATA[Resolvendo conflitos]]>https://rfeldman.web.app/resolvendo-conflitos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe5dSun, 17 Jul 2011 19:36:00 GMT
Resolvendo conflitos
Resolvendo conflitos

Ontem fomos almoçar no Hokkaido.
Nem bem escolhemos a mesa, a Bella viu outras crianças brincando debaixo do piano e foi logo se enfiando lá embaixo também, saidinha que é.
Voltou desapontada:
– Manhê, aquele menino de blusa verde me chamou de chata.
– Ah, minha filha, ele é pequenininho, vai ver nem sabe o que é “chata”.
Foi lá e voltou ainda mais desapontada:
– Mãe, ele me chamou de chata de novo.
– Vai lá e resolve… É conversando que a gente se entende.
Dessa vez voltou mais animada e me disse:
– Mãe, fui lá. Resolvi. Ele não vai me chamar mais de chata.
– E como é que você resolveu, Bebella?
– Ele foi embora.
……………………………………………..

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<![CDATA[Tragicômico]]>https://rfeldman.web.app/tragicomico/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe5cThu, 14 Jul 2011 23:44:00 GMT
Tragicômico
Tragicômico

Comecei a assistir “A Grande Família” e não resisti. Pronto. Peguei o netbook e aqui estou, com os dedos coçando, escrevendo sobre o episódio de hoje – “A mãe de Lineu Parte 2”.
Não vi a parte 1, mas a 2 é um prato cheio para psicólogo. Trágico. Cômico. Mais trágico do que cômico.
Assim são os traumas de infância. Inesquecíveis, dolorosos, indeléveis.
Uma mãe abandona o filho e reaparece muitos anos depois, já velhinha, encontrando seu filho como gente grande, pai de família. Cheio de lembranças doídas, cheio de mágoa no peito, cheio de falta. Falta de colo, falta de ar, falta de mãe simplesmente.
E aí as piadinhas, os risos, o humor negro
que são típicos do programa vão dando lugar
à emoção de um filho que se reencontra com a mãe, tanto tempo depois.
Do lado de cá, o telespectador se emociona com o que vê em flashback: a separação dos pais do menino, os retratos rasgados, a rigidez militar do pai, o medo de dormir no escuro, o choro proibido, a paixão da mãe pela profissão de cantora, a polêmica questão da guarda judicial, o peso que é para um filho decidir com quem ficar.
Do lado de cá, a gente vê quanta confusão, quanto mal-entendido, quanto amor transbordando entre mãe e filho, a despeito da violência desse abandono.
Depois de tanto resgate, o programa termina com a alegria que lhe é peculiar. Com a constatação de que é possível recomeçar e reconstruir a história, a vida, apesar de tudo o que foi e significou o passado. (Passou.)
Olhando para a sua grande família,
Lineu enxerga no Lineuzinho que foi um dia
a alegria de viver um destino mais leve.
Constelação familiar pura na telinha da Globo.

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<![CDATA[Término]]>https://rfeldman.web.app/termino/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe5bWed, 13 Jul 2011 11:42:00 GMT
Término
Término

O que dizer do amor que outrora foi, e já não é?
Presente frágil numa imensidão de ontem.
Página que o vento não deixa virar.
Música desafinada, coração necrosado,
sequestro do sol.
Quem é que inventou o verbo acabar?
Acabou, pretérito perfeito. Imperfeito eu diria.
E do verbo faz-se a dor.
Da dor o porta-retrato quebrado,
o choro enlutado, a falta de fome,
a sede de fala.
Da cicatriz a defesa, a casca, a lembrança,
a marca de uma história que não termina no fim.
Fecha a porta. Abre o dicionário.
Letra r, de recomeçar.

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<![CDATA[Personalidade]]>https://rfeldman.web.app/personalidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe5aFri, 08 Jul 2011 17:38:00 GMT
Personalidade
Personalidade

Cinema ou teatro?
Tanto faz.
Praia ou montanha?
Tanto faz.
Japonês ou feijoada?
Tanto faz.
Gato ou cachorro?
Tanto faz.
Saia ou calça?
Tanto faz.
Tanto faz não é resposta.
Jogue fora o seu velho hábito
de ficar em cima do muro,
enxergando o mundo através do olhar do outro.
Atendendo aos desejos do outro.
Você não é gênio da lâmpada.
O outro não é você.
Você pensa, sente, quer ou não quer.
Desce do muro.
Veste a sua personalidade mais bonita.
Não tenha medo se mostrar.
Vá à luta. Encare a labuta.
Mostre a que veio.

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<![CDATA[Fome de quê?]]>https://rfeldman.web.app/fome-de-que/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe59Wed, 06 Jul 2011 22:51:00 GMT
Fome de quê?
Fome de quê?

Adoro filmes infantis. Apesar de serem feitos para crianças, atingem em cheio os adultos, grandes crianças que são, tocadas por temas que lhes dizem muito respeito – auto-estima, amor próprio, felicidade, relação entre pais e filhos, etc.
Nem todos os filmes dá pra assistir. A vovó Clara passa na minha frente, pega os meninos e lá vão eles pro cinema, felizes da vida.
Kung Fu Panda foi assim. E como eu não quero perder o 2 por nada desse mundo (mas também não quero pegar o bonde andando), fiz um baldão de pipoca e assistimos ao filme, eu e o Léo. (A Bella, esbodegada da escola, já tinha virado Bela Adormecida faz tempo.)
Se é pra fazer uma reflexão, lá vai: comida.
Temos um urso panda, gordinho por natureza, que trabalhava com o pai (um pato!) fazendo macarrão. Urso engraçadinho, espirituoso, cheio de garra e empenho para conseguir o que quer: ser um grande lutador de Kung Fu.
No meio do filme, chateado pelos obstáculos que encontra no caminho, o mocinho do filme vai pra cozinha e se empanturra de biscoitos. Come, come, come até dizer chega. Até o seu mestre aparecer e testemunhar a sua gula. Ao que ele justifica tristemente:
– É… Quando eu fico chateado eu como.
Corta. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Quantos(as) ursinhos(a) panda você não conhece por aí?
Você mesmo(a), confessa que nunca abriu uma caixa de chocolate pra curar dor de cotovelo?
Espaços vazios. Abismos dentro da alma. Fome. Sede. Gula. Falta.
E aí vem o biscoito, a macarronada, o bombom, a pizza para prencher o que está oco. Para compensar a falta de alegria, amor, serenidade, afeto, equilíbrio. Pseudo-prazer que logo vira desprazer. Vira culpa, dor no estômago, quilos extra.
Chega de pipoca. Hora de escovar os dentes, dormir um sono bom e alimentar a alma de sonhos.
Boa noite, caro(a) leitor(a).

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<![CDATA[Perolices do fim de semana]]>https://rfeldman.web.app/perolices-do-fim-de-semana/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe58Sun, 03 Jul 2011 21:24:00 GMT
Perolices do fim de semana
Perolices do fim de semana

Parque Municipal, sábado de manhã, sol a pino.
Eu, Léo e Bella engrossando a fila da Roda Gigante, maior alegria.
Chega a nossa vez. Quando a barra de proteção faz “clec” e começamos a subir, o Léo me vem com essa:
– Eu não gosto de roda gigante.
Detesto quando pára lá em cima e fica balançando. (!…)
………………………………………..
Vovô Tito veio corujar os netos. Jogou playstation com o Léo e comeu guloseimas com a Bella. Na hora de ir embora, fomos levá-lo até o elevador. Suspirando, a baixinha olhou pra mim e disse:
– Ahhhhhhhh, eu adoro o seu pai!…
……………………………………….
O domingo nem acabou e o Léo, já pensando no próximo final de semana:
– Mãe, o Vitor pode vir aqui em casa no sábado?
Por favor, por favor, por favor, por favor!!!
– Ué, pode, Léo.
– Oba! Minha técnica deu certo.
– Que técnica, menino?!
– A técnica que o João me ensinou. Quando a gente quer muito uma coisa, é só pedir “por favor, por favor, por favor, por favor” assim. (!…)

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<![CDATA[Paris]]>https://rfeldman.web.app/paris/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe57Tue, 28 Jun 2011 23:27:00 GMT
Paris
Paris

Coloquei minha echarpe, 5 gotas de perfume,
peguei meu namorado e fui dar uma voltinha em Paris.
Montmartre, San Michel, Rio Sena, Marrais…
Suspiros, poemas, fascínio, alegria. Enchanté.
Nessa voltinha, aproveitei pra matar saudade
do meu querido sobrinho Pedro,
que foi dar uma voltinha por lá
e acabou ficando, ficando…
(Volta, Pedro, se não sua mãe endoida.)
E dá-lhe Rodin, Camille Claudel, sinos de Notre Dame.
Dá-lhe amor, cidade-luz, Torre Eiffel que brilha os olhos.
“Meia-noite em Paris”, de Woody Allen,
é um filme para ser visto com vinho e pipoca.
Como se não bastasse a delícia da paisagem,
você vai se inebriar pelo enredo – e voltar no tempo
para um grande encontro com Scott Fitzgerald,
Ernest Hemingway, Pablo Picasso. (Vai um autógrafo?)
Eu ainda colocaria mais lenha nessa fogueira
(ou mais vinho nessa taça) e chamaria Chopin, Da Vinci,
Freud, Platão, Nietzsche, Bach e Beethoven
para um sarau, por maior que seja a disparidade
e o desencontro de datas.
(Ainda bem que Woody Allen não lê o blog.)
De resto, fica a sensação boa
de poder voltar no tempo e esbarrar
com gente tão cheia de talento
e ao mesmo tempo tão cheia de luz, amor, carne e osso.
[E você? Se pudesse voltar no tempo,
pra onde iria? Quantos anos voltaria?
Confessa, vai: quem você gostaria de encontrar
pra bater um blá? Ou um “bleau”, lá em Paris?]

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<![CDATA[Forte]]>https://rfeldman.web.app/forte/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe56Tue, 21 Jun 2011 21:46:00 GMT
Forte
Forte

Deu sede.
Sede de beber a alegria da vida.
Acendeu a luz.
Deu medo.
Medo de perder o controle,
Encontrar o céu,
Esquecer o rumo de casa.
Abriu a janela.
Deu frio. Arrepio.
Deu a louca nela.
Bebeu uma taça de vinho,
Abraçou o espelho,
Pôs um samba pra tocar.
Rugiu por dentro,
Amou por fora,
Reaprendeu a acreditar.

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<![CDATA[Frágil]]>https://rfeldman.web.app/fragil/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe55Mon, 20 Jun 2011 21:56:00 GMT
Frágil
Frágil

Sozinha estava, sozinha ficou.
Frio. Alergia. Alegria nenhuma.
Fez do sofá seu refúgio, seu ponto de fuga.
Chorou sua dor, sua fome de amor.
Subiu pelas paredes, rascunhou desejos.
Sozinha. Nua. Sem rua.
Perdida nos seus medos, perigos, devaneios.
Perdida no filho que se perdeu.
Cansada de sonhar alto. Cansada de sofrer demais.
Enroscou-se como uma gata no cio.
Fechou os olhos para não enxergar seus espaços vazios.
Derramou hormônios na escuridão.

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<![CDATA[Deus de carne e osso]]>https://rfeldman.web.app/deus-de-carne-e-osso/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe54Wed, 08 Jun 2011 22:23:00 GMT
Deus de carne e osso
Deus de carne e osso

Ontem o Léo chegou da aula todo entusiasmado.
– Mãe, hoje eu apresentei um teatro!
– É mesmo, Léo? Que bacana, me conta!
– Eu era Deus.
– Deus?! E o que você fazia?
– Eu não aparecia. Ficava debaixo de um lençol, lendo a minha fala.
Pensei um pouco e já fui filosofando:
– Às vezes é bom brincar de Deus, né, filho?
– É sim, mãe. Deus tem folga!
(…)
Depois do riso, continuo filosofando, conversando com o Léo sem dizer palavra, pelas vias do pensamento e do coração:
Ah, meu filho. Um dia você vai ver – não agora, Deus queira – que a última coisa que Deus pode fazer é tirar folga. Tanta gente dorme e acorda falando com ele, pedindo, chorando, implorando muitas vezes por um milagre.
Que Deus tenha uma poltrona bem confortável e uma bacia de água quentinha para descansar os pés de suas tantas andanças em busca de amor e paz. Mas que não perca nunca esse dom de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, olhando por nós e escutando as nossas preces, transformando escuta em luz e labuta. Trabalho é o que não falta.

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<![CDATA[Grandes encontros]]>https://rfeldman.web.app/grandes-encontros/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe53Thu, 02 Jun 2011 10:53:00 GMT
Grandes encontros
Grandes encontros

Há encontros que podem mudar a nossa vida.
Não estou nem falando daqueles graaaaaandes encontros que acabam levando ao altar, ou a uma super carreira no Japão ou, quem sabe, um convite irresistível para dançar balé na Rússia.
Estou falando dos encontros simples, singelos, banais, alguns marcados há muito tempo, outros improvisados de véspera. Pode ser numa praça, num boteco, num café. Pode ser regado a vinho, com entrada de pão caseiro molhado no azeite e uma massa bem quentinha enfeitada com manjericão da horta. Pode ser numa salinha gostosa, com um cappuccino bem cremoso e almofadas coloridas.
O lugar não é o mais importante. Mas se você encontra alguém que te olhe nos olhos, que te escute e aceite você exatamente do jeito que você é – seu lado sol e seu lado sombra, seu lado normal e seu lado meio maluco, então aquele encontro pode entrar pra história. (Pra sua história.) Principalmente se você sai desse encontro melhor do que entrou. Principalmente se, no meio do choro e da aflição, você consegue morrer de rir de você mesmo. Mesmo que escute umas boas verdades e faça disso um grande aprendizado.
Desses encontros saem palavras, pensamentos, ideias e por vezes puxões de orelha que não doem nadinha, mas curam o que estava machucado. Curam de maneira simples, sem prescrições médicas ou bulas de remédio assustadoras. Curam pelo simples fato de carregar amor nesses olhos que olham, neste coração que escuta, nestas palavras que falam como se tocassem música.

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<![CDATA[Baldes]]>https://rfeldman.web.app/baldes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe52Tue, 31 May 2011 22:27:00 GMT
Baldes
Baldes

Na falta da bola, chuta o balde. A lata. O travesseiro.
Se ainda não te contaram, você não é de ferro.
Não tem peito de aço nem capa de mulher maravilha.
Cospe fogo. Marimbondo. Sobe nas tamancas
e arma o maior barraco porque lá vem chuva.
Com direito a relâmpago, raios e trovoadas.
Sai de cima do muro.
Faz careta e vê se não engole mais sapo.
É certo: uma hora o sangue talha. O leite ferve.
O pé enche de bolha. (Não, você não vive numa bolha.)
Mas se insiste em pensar que vive,
qualquer hora vai ver que ela estoura. Puf.
Tá na chuva é pra se molhar.
Ajoelhou, rezou. Pediu, ganhou. Bateu, levou.
Mas depois do joelho ralado,
vai tomar um banho bem quente.
Faz bolha de sabão. Oleozinho aromático.
Sais pra energizar a alma.
Boa noite. Dorme feito um anjo vestido de criança.
Vai sonhar com a lua,
contar estrelas e acordar com o sol.
Só.

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<![CDATA[Despedida]]>https://rfeldman.web.app/despedida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe51Wed, 25 May 2011 21:36:00 GMT
Despedida
Despedida

Esvaziar gavetas, arrumar as malas, içar velas.
Hora de deixar pra trás os seus velhos fantasmas, medos que nasceram na infância, pesadelos de outrora. Adeus velhos traumas, tropeços que fizeram buracos
no chão, buracos na alma.
Hora de partir. Seguir em frente. Sair sem olhar pra trás. Trocar o medo por coragem. Esquecer o que passou. Reinventar a roda, a paisagem, o tempo.
Anda. Bora. Aproveita que o sol está nascendo e vai junto com ele. Nascer de novo. Encher de luz o seu caminho. Chegar noutro lugar.
Vai.

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<![CDATA[Lógica infantil de consumo]]>https://rfeldman.web.app/logica-infantil-de-consumo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe50Wed, 18 May 2011 22:09:00 GMT
Lógica infantil de consumo
Lógica infantil de consumo

Horário Nobre, Discovery Kids, intervalo comercial. De repente a tela é tomada por uma porção de ratinhos de pelúcia coloridos dirigindo carrinhos, deslizando dentro de bolhas, fazendo todo tipo de acrobacia.
Não deu tempo nem de acabar a propaganda e a Bella já foi pedindo, no maior entusiasmo, conhecedora de causa do assunto:
– Eu quero, mãe! Eu quero! Me dá um ZhuZhu Pet?!…
– ZhuZu o quê?
– ZhuzuPet, mãe. Repete: Zhu-Zhu Pet! Aprendeu? Eu quero!
– Quem sabe no Dia das Crianças, né, filha?…
– Eu quero o rosa, o azul, o amarelo…
– Ichi, filha, aí a mamãe não tem dinheiro…
– Compra dinheiro, mãe!
…………………………………..

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<![CDATA[Ouvindo vozes]]>https://rfeldman.web.app/ouvindo-vozes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe4fMon, 16 May 2011 20:17:00 GMT
Ouvindo vozes
Ouvindo vozes

Você não precisa ser louco(a) para ter a sensação de que está ouvindo vozes. Não, meu(minha) caro(a), entrego-lhe agora um atestado de sanidade mental. Basta ser homem, mulher, mãe, filho(a), profissional, gente grande, enfim, para ficar com a cabeça quente de tanto barulho. Vozes se misturam sim, entre razão e emoção, ego e superego, medo e coragem. Sem falar naquelas tantas outras que passeiam pela sua cabeça e que não são suas: a voz da sua mãe, seu pai, seu marido, sua chefe, sua sogra. (Quando são da sogra, então, as vozes não falam: gritam. Ou cantam, se estivermos falando da minha sogra.)
Geralmente estas vozes entram em coro (e em choque) quando pinta uma dúvida sobre como agir.
“Será que eu vou?” “Será que não vou?” “Faço, não faço?” “Ligo, não ligo?” “Falo, não falo?” “Começo ou termino?” “Caso ou pedalo?”
E aí você vai ficando dividido(a), espremido(a), cheio de dúvida e angústia.
Longe de mim ser mais uma voz no meio desse falatório todo. Mas, se me permite, talvez você esteja escutando muito o outro e se esquecendo da opinião mais importante: a sua.
Quando eu era pequena, costumava compartilhar com minha mãe as minhas dúvidas e inseguranças, e ela sempre dizia:
– Escuta o seu coração, Rê.
É isso. Tão simples, tão mágico, tão cheio de funcionalidade.
Experimenta ouvir seu coração e depois me conta.
Perder a voz – isso sim – pode ser enlouquecedor.

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<![CDATA[Nasce uma mãe]]>https://rfeldman.web.app/nasce-uma-mae/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe4eMon, 09 May 2011 11:46:00 GMT
Nasce uma mãe
Nasce uma mãe

De um “eu te amo” nasce um filho. De um filho nasce uma mãe. Da mãe nasce a emoção, o padecer, a alegria e a preocupação pra vida toda. Nasce o colo, o chamego, a mudança de ritmo, a ilusão de que se é mulher elástico. E nasce mais e mais amor, um amor que não dá pra medir nem racionalizar, apenas servir.
E nasce angústia quando esse filho cai em febre, cai na vida, cai no chão. Nasce cabelo branco, ruga, nasce música e poesia. E nasce tem hora a vontade de voltar pra barriga da mãe, já nascida avó faz tempo.
E nasce cuidado, nasce história, nasce algo que as propagandas do Dia das Mães ainda não conseguiram traduzir.
Nasce o Léo, nasce a Bella pra encher de luz e sentido
a minha vida.

P.S.: Nasce também uma falta de tempo danado, a responsável por este post chegar com um dia de atraso. Feliz Dia das Mães pra você!

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<![CDATA[Brincadeira de mau gosto]]>https://rfeldman.web.app/brincadeira-de-mau-gosto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe4dWed, 04 May 2011 23:47:00 GMT
Brincadeira de mau gosto
Brincadeira de mau gosto

Tem gente que brinca com o amor.
Faz do que é sagrado passatempo.
Transforma riso em lamento.
Rasga uma história em mil pedaços.
Não dá conta de amar.
Não dá conta do amor.
Vira especialista em dor.
Dor de assombro, dor de susto,
dor de decepção, dor do cão.
Causa vazio, paraplegia, estômago incendiado.
Pega as cinzas e joga ao vento,
pega o amor e enterra com cimento.
Aqui jaz um amor que foi, já não é.
Que acabou, finitou, apenas poderia ter sido.
Ausente. Inexplicável. Inexistente. Desperdiçado.
Milhões de cacos de um amor que se quebra.
Jogado longe. Atirado sem dó nem pena.
Cama vazia. Alma vazia. Baita azia.
Por que a brincadeira?
Por que a ilusão sem eira nem beira?
Enlouqueceu. Escureceu. Perdeu a vez.
Com o amor não se brinca, criança.
Amor é verso, direção, poema, sentido de vida.
Uma pena quem escolhe brincar ao invés de amar.

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<![CDATA[Receitinha]]>https://rfeldman.web.app/receitinha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe4cTue, 26 Apr 2011 22:47:00 GMT
Receitinha
Junte um bom papo, risos à vontade,
caipirinha de todas as frutas.
Junte rock, pagode, chorinho. Chore de rir.
Junte prosa, piada, causos e histórias.
Junte o lago, a lua, o beijo e o queijo.
Junte biscoito assado na hora,
pegadas de coelhinho pela casa afora.
Junte vinho, macarronada, karaokê.
(Fazer o quê?!)
Junte filé acebolado com molho balsâmico.
(Bálsamo dos deuses.)
Junte uma pia cheia de louça pra lavar.
Junte papos-cabeça, ombro e colo,
constelações muito familiares.
Junte crianças, peças de lego espalhadas
por todos os cantos, noite do pijama.
Junte os amigos e guarde na memória
momentos que valem uma vida inteira.
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<![CDATA[Terapia anti-stress]]>https://rfeldman.web.app/terapia-anti-stress/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe4bMon, 18 Apr 2011 12:35:00 GMT
Terapia anti-stress
Calma, cocada. Você não tem que arrumar todas as gavetas de uma vez. Nem cortar o macarrão do cardápio. Nem ir pro convento porque o amor ainda não deu o ar da graça.
Também não tem que revelar todas as fotos. Aceitar todos os convites. Assumir mais compromissos
do que a agenda aguenta.
Senta, toma um suco. Graviola ou maracujá?
Graviola a gente pega do pé, lá no sítio do meu amigo Seise.
Maracujá deixa a gente calmo. Dá até pra tirar um cochilinho na rede.
Mas põe em banho-maria essa mania de abraçar o mundo, fazer mil coisas ao mesmo tempo,
aprisionar o vento.
Vai fazer brigadeiro de colher, tirar bicho de pé,
dançar um forró retado.
Tira o pé do acelerador.
Joga fora o bloquinho organizador da sua vida,
mais parece um liquidificador.
Não é porque o mundo tá todo embolado, complicado que você precisa se embolar também.
Desenquadra. Desembola. Desestressa.
Vamos ao que interessa.
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<![CDATA[Ser desumano]]>https://rfeldman.web.app/ser-desumano/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe4aWed, 13 Apr 2011 22:28:00 GMT
Ser desumano
Certeiro no tiro.
Vazio de amor.
Frieza estampada.
Professor da dor.
Vidas interrompidas.
Sonhos enterrados.
Desmoronamento da alma.
Desaprendizado.
Mau com u.
Anomalia de sentimento.
Perversão nu.
Náusea.
Tormento.
Ausência do outro.
Falta de explicação.
Buraco no ser.
Desumano viver.
]]><![CDATA[Ser humano]]>https://rfeldman.web.app/ser-humano/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe49Mon, 11 Apr 2011 22:05:00 GMT
Ser humano
Basta ser humano para ter dor, buscar amor,
esvaziar-se de sentido, procurar caminhos.
Basta nascer um dia para viver o morrer,
a incompletude, o pânico,
a angústia de não saber quem se é.
Ser humano é sentir falta, fome, alegria,
 tristeza, medo, coragem.
É se deparar com a emoção de expressar
o que vai do lado de dentro, por mais que doa muito.
É buscar ajuda quando o sofrimento
parece preencher todas as frestas desse ser.
É encontrar na ajuda um sentido, um caminho,
uma janela aberta para o sol entrar.
]]><![CDATA[Mal-entendido]]>https://rfeldman.web.app/mal-entendido/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe48Sun, 10 Apr 2011 13:04:00 GMT
Mal-entendido
Mal-entendido

Uma das grandes alegrias que a minha mãe tem é programar roteiros deliciosos de viagem com o Léo. Já contei aqui que eles foram pra Diamantina, Serra do Caraça, Gramado, Argentina. Uma farra só.
E aí – como não poderia deixar de ser – a caçula foi ficando ressentida. Não só pelo fato de não ir, mas pela falta enorme que começou a sentir do irmão. Resultado: a próxima viagem vai ser com os dois juntos, não tem jeito.
Aí ontem estávamos saindo da casa da mamãe, já dentro do elevador, quando ela noticiou o próximo roteiro: Tiradentes.
De repente a Bella amarrou a maior tromba, cruzou os braços e  soltou essa:
– Ah, não, eu não vou!… Não quero ir!…
E eu, tentando entender:
– Mas por que, filha, o que houve?
– Eu não quero tirar o dente!…
(…)

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<![CDATA[Sexo e afeto]]>https://rfeldman.web.app/sexo-e-afeto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe47Thu, 07 Apr 2011 13:42:00 GMT
Sexo e afeto
Sexo e afeto

Engraçado. O mesmo sexo que esquenta, aproxima, seduz e encanta os namorados parece tirar férias no casamento. Longe da cama, vai parar no divã, no boteco, no desabafo entre as amigas, na cervejinha entre os amigos. E o que era pra ser prazer vira queixa. O que era pra ser encontro vira desencontro. O que era pra ser proximidade vira distância.
Baco, cadê você? Onde estás que não responde? (…) Por que o silêncio das taças, a secura do vinho, a garrafa quebrada?
E aí essa conversa daria uma tese. Retomando o último post, “a questão talvez esteja justamente na diferença entre os sexos. Na forma como a mulher e o homem vivem esse convite pro amor.”
Os homens, práticos e objetivos que são, sentem falta de sexo e vão direto ao assunto. Apreciam qualidade, quantidade, criatividade. Que leve uma noite inteira ou uma “rapidinha” na manhã de segunda-feira, o sexo está no sangue, nas veias. Não pode faltar.
Para as mulheres, o afeto vem como senha para o sexo. E não se trata  apenas das preliminares, tão cobradas por elas. Nem tampouco de romantismo de pétalas de rosa. Trata-se do afeto diário, cotidiano, presente nas mais variadas formas e possibilidades: um beijo mais demorado, um telefonema sem quê nem porquê, um toque na mão, uma conversa gostosa na beira do fogão. Atenção afetiva, assim resumiria o sexo feminino.
E aí esses opostos vão se atraindo: sol e lua, café com leite, goiabada com queijo.
Se o dia é preenchido com afeto, a noite vira um convite especial para o sexo. E se o que vem daí é uma longa noite de amor, o dia seguinte promete. Os casais vão ficando mais juntos, mais conectados, mais amáveis e amantes.
Na toada desse delicioso ciclo vicioso, o sexo não precisa tirar férias nem fazer greve. Precisa fazer o que ele mais sabe fazer: amor.

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<![CDATA[Sexo depois do casamento]]>https://rfeldman.web.app/sexo-depois-do-casamento/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe46Tue, 29 Mar 2011 19:49:00 GMT
Sexo depois do casamento
Sexo depois do casamento

A extinta discussão sobre sexo antes do casamento tem acendido uma outra discussão, não tão caliente, sobre o sexo  depois do casamento.
Mas antes de chegar lá, vamos namorar um pouquinho o tema. Basta olhar para os casais de namorados e ver que o assunto corre nas veias. Eles se aprontam, se perfumam, se encontram e se reinventam para fazer jus ao que são. Misturam pitadas de paixão, amor, afeto, prazer. Chantily, lua cheia, elevador, pousadinha nas montanhas, bombom de licor. Muito prazer.
Passemos ao matrimônio. Cama, mesa e banho. Intimidade vivida e compartilhada todos os dias. Café da manhã, almoço e janta. Contas a pagar. Crianças chorando. Bolo da empregada na segunda de manhã. Escovas de dente habitando o mesmo espaço. Cabides se misturando no armário. E aí vem os beijos de selinho, as pizzas de domingo, o churrasco no terraço. Vem o cafuné na hora da novela, a disputa do controle-remoto, os jogos de futebol. E aí, quando as crianças vão dormir, vem o convite pro amor. Pra confirmar tudo o que existe, todos os eu te amos que levaram a este caminho, toda a beleza de um vínculo construído a cada dia.
Sim, a paisagem muda sim. Da água pro vinho. E é nessas horas que a gente pega o vinho e bebe. Brinda. Derrama. Enebria o amor. Convida o Deus Baco pra festa. É nessas horas que a gente rompe com o estereótipo de que o casamento vira rotina e que a rotina acaba com o sexo.
A questão talvez esteja justamente na diferença entre os sexos. Na forma como a mulher e o homem vivem esse convite pro amor. (Viva as diferenças, já ouviu essa frase antes?)
Mas isso é assunto para o próximo post.

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<![CDATA[Infecção escolar]]>https://rfeldman.web.app/infeccao-escolar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe45Mon, 21 Mar 2011 00:17:00 GMT
Infecção escolar
Infecção escolar

Febre, tosse, coriza. Quem tem filho pequeno  conhece bem estes sintomas, e acaba batendo na porta do pediatra ou enfrentando fila nos hospitais .
Sábado lá fui eu com a Bella no Dr. Nelson (um dos “doutores da minha alegria”), examinar a pequena para saber se o problema era otite, faringite, amigdalite ou a clássica virose.
Na anamnese, ouvindo a respiração difícil da sua paciente, ele me disse que tem atendido várias crianças com o mesmo quadro. Disse a ele que a diretora da escola dos meninos também me confirmou o alto número de alunos gripados.
E foi aí que ele fez o seguinte comentário:
– É… As pessoas se preocupam muito com infecção hospitalar, mas se esquecem da infecção escolar, atualmente frequente e preocupante… Criança com febre está com infecção, não deve ir à escola.
Muitas mães argumentam que acabam levando o filho à aula, mesmo com febre, por não terem com quem deixá-lo. Afinal de contas, precisam trabalhar.
É, mãe. Não é fácil. Falo de cadeira, como mãe e profissional que sou. Mas esse negócio de infecção escolar não é brincadeira. Por isso, antes de bater ponto no serviço, bata na porta da avó, da tia, da madrinha. Peça socorro, ajuda, help. E se não tiver outro jeito, mande um atestado pro chefe e fique em casa cuidando do seu maior tesouro.
Junte às gotas de antialérgico, antitérmico e antibiótico pilhas de revistinhas, DVDs, colo e  muito carinho.
Esse cuidado faz um bem danado.

]]><![CDATA[Casamento]]>https://rfeldman.web.app/casamento/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe44Tue, 15 Mar 2011 00:17:00 GMT
Casamento
Casamento

E eles se casaram, depois de juras e declarações de amor. Depois de juntarem dinheiro, escovas de dente e roupas de cama. Depois de ouvirem que o amor habita a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, “até que a morte os separe”.
Com todo o respeito, seu padre, naquele momento não dava para pensar em fim. Apenas começo, página branca como o véu da noiva,  sino batendo, livro novo na estante.
Saíram da igreja aos beijos e aplausos, sob uma fina chuva de arroz, sol nascente dentro de cada um.
Levariam um tempo ainda para cozinhar o feijão, viver o dia-a-dia das contas, das reuniões de condomínio, do choro de alegria dos filhos.
Sem perceber foram envelhecendo juntos, se amando um pouco mais a cada dia, dormindo como conchas do mar e assistindo à TV de mãos dadas.
À tristeza iriam se somar as quedas, os tropeços, os inevitáveis desencontros.
À doença iriam se somar as crises de TPM, os pavios curtos, as dores de cabeça no meio da noite.
O padre tinha razão. Ao colorido do amor se juntam nuances de cinza, preto, bege, cores que desbotam com o tempo.
E quando tudo parece árido, vazio, asséptico, vem o amor para lembrar a que vem. Nascendo de novo como o sol que nunca falta, trazendo consigo a força de uma história, de um sonho emoldurado por beijos e abraços, fotos e filhos, netos que também trazem choro de alegria. Dizendo sim sem precisar de palavras. Ouvindo a marcha nupcial quando o silêncio fala mais alto. Florescendo um jardim inteiro quando o buquê há muito tempo já secou.

]]><![CDATA[Rótulos]]>https://rfeldman.web.app/rotulos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe43Mon, 14 Mar 2011 22:30:00 GMT
Rótulos
Rótulos

Coca. Brahma. Nokia. Omo. Sadia. Doriana. Suuuuuuuuuuuuflair.
Não, isso não é um break comercial. Não estou fazendo propaganda para marca alguma.
A pausa aqui não é do intervalo da novela, mas da novela que é viver uma vida de rótulos.
O gordinho, a insensivel, o quatro-olhos, a burrinha, o gênio, a desleixada, o egoísta, a escrachada.
A boazinha, o fominha, a bicho-do-mato, o galinha, a magricela, o CDF, a boazuda.
Rótulos grudam, machucam, às vezes levam uma vida inteira para sair.
Podem começar com uma brincadeira, uma piada. Com o passar do tempo não têm graça nenhuma.
Rótulos podem vir de uma aparência. E as aparências enganam,  não é assim que reza o ditado?
Podem vir de características momentâneas, passageiras. Características que também podem mudar com o passar do tempo.
Prefiro pensar que cada um tem a sua marquinha registrada: amoroso, introvertida, alegre, espontânea, educado, leve, descontraída, irreverente, flexível, atencioso, sábia, sensível, maternal, amigo.
Qual é a sua marquinha registrada?

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<![CDATA[Let´s celebrate]]>https://rfeldman.web.app/lets-celebrate/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe42Thu, 03 Mar 2011 23:24:00 GMT
Let´s celebrate
Mojito.
Alegria.
Samba no pé.
Bota fé.
“Com quem será?”
É pra já.
Emoção.
Café com pão.
Cappuccino.
Biscoitinho da sorte.
Nenhum motivo para comemorar.
Todos os motivos para comemorar.
Taça de vinho.
Que venha tudo de bom.
Luz.
Felicidade.
Realização.
Completude.
Todo o amor que houver nessa vida.
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<![CDATA[Sim e não]]>https://rfeldman.web.app/sim-e-nao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe41Tue, 01 Mar 2011 22:33:00 GMT
Sim e não
Sim e não

Tem gente que desanima diante de um NÃO que leva na vida.
Leia-se nesse NÃO um fora, o fato de não ter passado no vestibular, o resultado de um diabetes, um trabalho que não vingou.
Tem gente que fica no fundo do poço. Xinga, esbraveja, deprime, reclama, custa a levantar da cama.
Tem gente que faz desse NÃO um estímulo pro SIM. Que, por maior que seja a queda, não desiste do passo de dança. Sacode a poeira, dá a volta por cima, vira a página e começa tudo de novo.
Faz do NÃO desafio, meta, objetivo. Arregaça as mangas e corre atrás do SIM, pra esfregar na cara do NÃO que ele não é a única e definitiva resposta possível. Ah, isso não.
E você? Como reage diante do NÃO?
Sim, si, como no, compartilhe sua experiência aqui.

]]><![CDATA[Par ou ímpar]]>https://rfeldman.web.app/par-ou-impar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe40Sun, 27 Feb 2011 14:01:00 GMT
Par ou ímpar
Par ou ímpar

Se tem uma coisa que filho pequeno adora é dormir na cama dos pais. Eles vão chegando, se enroscando, fazendo do nosso amor o melhor cobertor que existe.
A psicologia recomenda que cada um vá dormir na sua cama. A fisiologia da nossa coluna vertebral recomenda o mesmo. Mas os moles dos pais e mães muitas vezes não resistem à tentação de aconchegar os filhos e adormecer com eles, zelando o seu sono e desfazendo qualquer medo de escuro.
Tá bom, tá bom. Cada um tem a sua cama, e tem que aprender isso desde cedo. Mas uma tentaçãozinha de vez em quando não faz mal nenhum. Ainda mais porque eles crescem rápido demais, e um dia não vão caber mesmo na sua cama. E pra falar a verdade, não tem nada melhor que ouvir a respiração deles à noite e ficar vendo-os dormir, tenra expressão de anjo adormecido.
Dia desses o Dé estava viajando e quase deu briga lá em casa. O Léo queria dormir comigo. A Bella também. Para evitar maiores desgastes e resolver a coisa numa boa, disse pra eles tirarem par ou ímpar. Tive que ensinar pra pequena como é que se faz isso, que tem que esconder a mão pra trás, colocar quantos dedinhos quiser, etc.
Na hora h, os dois já posicionados, perguntei a ela:
– Bella, você quer par ou ímpar?
E ela, com a voz mais dengosa do mundo:
– Eu quero ganhar!…

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<![CDATA[Etiqueta emocional]]>https://rfeldman.web.app/etiqueta-emocional/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe3fSat, 26 Feb 2011 21:40:00 GMT
Etiqueta emocional
Etiqueta emocional

Homem não chora.
Mulher chora. (Mas de preferência dentro do banheiro. Ou se for em público, inventa um cisco.)
Perder a paciência não pode.
Fazer o jogo do contente pode.
Cantar mais alto que o i-pod no meio da rua não pode.
Dançar com a vassoura pode.
(Se ninguém estiver vendo.)
Pedir pra namorar é loucura.
Quem falou que dor de amor não tem cura?
Abraço apertado, exagero.
Abraço de tapinha, mentirinha.
Ter que agradar todo mundo, ditadura.
Beijo no cinema, gostosura.
Etiqueta emocional? Tesoura.

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<![CDATA[Mais ou menos]]>https://rfeldman.web.app/mais-ou-menos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe3eFri, 25 Feb 2011 09:53:00 GMT
Mais ou menos
Mais um dia de chuva.
Menos um dia de sol.
Mais um dia corrido.
Menos um dia de calmaria.
Mais um dia de silêncio.
Menos um dia de música.
Mais um dia de cama.
Menos um dia de grama.
Mais um dia árido.
Menos um dia florido.
Mais dia menos dia.
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<![CDATA[Raio-X]]>https://rfeldman.web.app/raio-x/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe3dTue, 22 Feb 2011 10:48:00 GMT
Raio-X
Raio-X

Alegre. Triste. Perdido. Sem rumo. Radiante. Vazio. Cheio. Com medo. Sem esperança. Alheio. Adrenalina correndo nas veias. Com fome. Com frio. Boca seca. Amargo. Doce. Tranquilo. Frio. Querendo. Sentindo. Correndo. Distante. Perto. Cansado. Sem forças. Com energia para dar a volta ao mundo. Imundo. Limpo. Determinado. Confuso. Feliz da vida. Brigado com Deus. Falta de amor. Excesso de dor. Abatido. Serelepe. Impossível. Sapeca. Aventureiro. Temeroso. Guerreiro. Carente. A mil por hora. Clone de tartaruga. De pé. Deitado. Motivado. Ancorado. Cheio de entusiasmo. Zero de animação.
Se existisse um raio-x emocional, retrato de como anda o coração,  e você fizesse agora, nesse minuto esse exame, o que ia aparecer?
Como você se sente?

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<![CDATA[Chiclete]]>https://rfeldman.web.app/chiclete/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe3cSun, 13 Feb 2011 09:15:00 GMT
Chiclete
Chiclete

Cena cotidiana: a Bella tomando banho, enchendo de shampoo o cabelo da boneca, e eu tirando esmalte da unha. Papo vem, papo vai, faço aquela clássica perguntinha que os adultos adoram fazer às crianças:
– Bella, o que você vai ser quando crescer?
– Eu vou ser… muito grande, pra poder comer chiclete!
(…)

]]><![CDATA[Gota d´água]]>https://rfeldman.web.app/gota-dagua/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe3bFri, 11 Feb 2011 08:58:00 GMT
Gota d´água
Gota d´água

Chora, menina. Tira a poeira dessa alma seca.
Seca de amor, cheia de dissabor.
O passado já doeu muito, mas passou.
O inverno já não é mais frio, faz calor.
Reinventa o tempo, brinca de roda,
Cria uma energia nova no seu redor.

Chora pra molhar o seu jardim.
Mata a sede das flores.
Derrama vida no seu quintal.

Ainda está em tempo, vai arar a terra,
plantar sementes,
Ver a vida acontecer além do jornal.

Chora, menina. Deixa lavar a alma,
Alivia o peso, faz chover amor,
Enxuga a dor que te faz tão mal.

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<![CDATA[Carpe diem]]>https://rfeldman.web.app/carpe-diem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe3aTue, 08 Feb 2011 22:53:00 GMT
Carpe diem
Quer um pouco de água com açúcar?
Eu não.
Fogo lento, banho-maria?
Não.
Cotovelo na janela esperando o tempo passar?
Nem pensar.
Eu quero é abraçar a vida, carpediar o que posso
(e o que não posso invento),
apimentar esse arroz com feijão.
Tira esse bege, bota um vermelho,
pinta as unhas de azul.
Faz uma serenata, salta de pára-quedas,
troca a gravata pelo picnic.
Pinica toda de grama, vai no bota-fora do sol,
enche de isca o anzol.
Sacoleja, sacode a poeira,
vai se apaixonar enquanto é tempo.
Eu carpedio, tu carpedias, ele carpedia,
nós carpediamos, eles carpediam.
Carpediou?
]]><![CDATA["Não se afobe não"]]>https://rfeldman.web.app/nao-se-afobe-nao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe39Mon, 31 Jan 2011 23:01:00 GMT
"Não se afobe não"
"Não se afobe não"

“Agora.” “Rápido.” “Pra antes de ontem cedo.” “Now.” “É pra já.”
Os publicitários conhecem estas frases tintim por tintim. Sabem bem o que é varar a noite, engolir sanduíche no horário do almoço, cochilar de madrugada no sofazinho preto da recepção.
Mas não é só publicitário que é expert no assunto. Você, diante desse computador, consegue tudo o que quiser num clique. Basta acessar o google e o mundo está nas suas mãos. Bula de remédio, pizza delivery, flores para a mulher amada, dietas do sol e da lua, as últimas pesquisas da NASA, blog da Renata Feldman. Simples assim: digita, deleta, clica, desliga.
O mundo está ficando cada vez mais rápido, acelerado, imediatista.
Mas cuidado, caro ser humano de carne e osso,  com um coração batendo aí no peito. Nem tudo é pra antes de ontem cedo. Seus desejos, suas culpas, seus sonhos e pulgas atrás da orelha, tudo isso tem um tempo próprio de acontecer ou se desfazer. A vida é feita de processos, muitas vezes lentos e silenciosos.
Para aplacar sua angústia, liga o Chico Buarque naquela música linda da qual eu só me recordo a estrofe: “Não se afobe não, que nada é pra já… O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio num fundo de armário, na posta-restante milênios, milênios no ar.”

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<![CDATA[Jogue suas tranças]]>https://rfeldman.web.app/jogue-suas-trancas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe38Tue, 25 Jan 2011 21:08:00 GMT
Jogue suas tranças
Jogue suas tranças

“Enrolados” é mais um filme da Disney liberado para maiores de 18 anos. Versão moderninha do clássico Rapunzel, a animação nos convida a pensar em questões que não são prerrogativa dos contos de fadas.
No filme, uma bruxa prende a princesa no alto de uma torre dizendo que a ama demais. Que o mundo lá fora é muito perigoso, cheio de bandidos, animais selvagens, homens malvados. A nariguda cumpre direitinho o papel de mãe superprotetora, aprisionando a  sonhadora princesa com as suas preocupações excessivas.
Às mães que vestiram a carapuça, ainda está em tempo de tirar. Tirar de cabeça o medo exagerado, a preocupação neurótica, a proteção paranóica. Filho precisa de liberdade, mãe. Até mesmo para cair, machucar, levantar e cair de novo se preciso for. É assim que os pequenos crescem fortes e sadios, algo assim bem parecido com um slogan de achocolatado. É assim que viram gente grande, mãe.
Mas não precisa ser mãe pra prender numa torre, quase dentro de uma bolha. Saindo da maternidade pra relação a dois, homem-mulher, não é difícil encontrar bruxos e bruxas que adoram aprisionar seus parceiros, transformando-os em propriedade, tesouro com certificado de garantia, posse que vale ouro. Ciúmes dali, condições acolá e o relacionamento vira um verdadeiro inferno.
“Rapunzel, jogue suas tranças.” Pelo amor de Deus, Rapunzel. Rápido. Vai conhecer a liberdade, o chão, a aventura, o amor de verdade. Vai.

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<![CDATA[O último beijo]]>https://rfeldman.web.app/o-ultimo-beijo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe37Sun, 23 Jan 2011 17:19:00 GMT
O último beijo
O último beijo

Viver intensamente, apaixonadamente, é esbarrar na possibilidade concreta da finitude.
O último beijo. O último olhar. O último telefonema. O último almoço. O último vôo. O último encontro. O último abraço. O último colo. O último passo de dança. O último papo.
Fim. Interrupção. Acabou.
Pensar nisso quando se tem a vida inteira pela frente é criar asas para abraçar o que se pode dessa vida. Por isso, beije bastante. Olhe até ficar com a vista cansada. Diga alô. Bom apetite. Boa viagem. Ótimo encontro. Terapia do abraço. Colo de mãe. Passos leves de bailarina. Tchau. Te amo. Cuide-se bem.
Que a vida – que é tão curta e cheia de surpresas – seja vivida com intensidade, apaixonadamente, como se cada dia fosse uma bonita despedida do que se viveu.

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<![CDATA[Amor de sempre]]>https://rfeldman.web.app/amor-de-sempre/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe36Thu, 20 Jan 2011 11:26:00 GMT
Amor de sempre
Amor de sempre

Falo do amor verdadeiro, que transcende o tempo e acende luz na escuridão. Do amor sem pressa, sem rodeios. Do amor sem cobrança, que deixa tesouros de herança. Do amor genuíno, capaz de segurar o vento. Amor que não é derrubado com a enchente, amor que transforma tsunami em casa com rede e varanda pra descansar.
Falo do amor dos poetas e dos pés no chão. Do amor que enche a alma e completa os espaços vazios. Do amor que vem do silêncio, da quietude, da xícara de chá num tempo frio.
Falo do amor que não quer ser igual, nem idêntico. Do amor que chama no meio da noite, do amor que é fabricado com amor.
Desse amor que fica. Que sobrevive. Que permanece inteiro apesar dos pedaços partidos.
Amor que a gente sente, simplesmente. E que nem precisava gastar tanta palavra pra explicar.

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<![CDATA[Angústia]]>https://rfeldman.web.app/angustia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe35Wed, 12 Jan 2011 12:51:00 GMT
Angústia
Angústia

Bolo no estômago, dor no peito, noites em claro. Quem nunca teve angústia que respire aliviado.
Quando ela vem, não avisa nem pede licença. Arromba a porta da alma, paralisa os seus passos,  fica fazendo ronda dentro de você.
Angústia porque o seu filho foi para uma balada e ainda não voltou. Angústia porque o seu pai não te entende. Angústia porque você ainda não sabe o que vai ser quando crescer. Angústia porque está se sentindo um estranho no ninho. Ou porque o ninho está vazio. Porque se sente sozinho. Dividido. Sem rumo nem prumo. Angústia porque você precisa tomar uma decisão, dar um jeito na vida.
Ou simplesmente angústia por não saber o motivo dessa taquicardia, dessa sensação estranha de não estar no seu lugar. Angústia existencial, você com certeza já ouviu falar. Angústia simplesmente por acordar, ser, sentir. Algo físico, visceral. Dor de existir.
O que você faz quando se sente assim?

]]><![CDATA[Bôdas de ouro]]>https://rfeldman.web.app/bodas-de-ouro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe34Mon, 10 Jan 2011 10:27:00 GMT
Bôdas de ouro
Bôdas de ouro

Já inventaram Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Rodin e Camille, Popeye e Olívia Palito. Histórias famosas marcadas pelo impacto do amor romântico, trágico, enlouquecedor, melodramático. Estão aí para dizer da força desse sentimento chamado amor. Estão aí para nos falar da forte atração que liga um homem a uma mulher.
E aí “inventaram” Luci e Homero. (Se eles não existissem, eu ia ter que inventar. Juro que ia.)
No último dia 31 de dezembro, em meio aos fogos de artifício, flores para Iemanjá e pedidos de um bom Ano Novo, eles completaram 50 anos de casamento.
Casamento com todas as letras, cinco filhos, dez netos e uma história bem real  construída dia após dia. Nada de ficção, teatro ou invenção. Apenas amor e tudo o que essa pequena palavra representa: brilho nos olhos, coração cheio, bom dia, boa noite, diferenças e mais diferenças.
Ah, as diferenças. Ah, a paciência e todos os outros substantivos que permeiam esse amor de carne e osso: tolerância, compreensão, cumplicidade, sabedoria, saber ceder.
Esse é o amor da labuta, que não está nos livros nem nas mentes mais românticas. É o amor do dia-a-dia, da peleja, do trabalho. Trabalho árduo, constante. Amor bonito de doer, não tão simples de viver. Amor que emociona, sustenta, explica tudo. Amor que soa como prece quando a família inteira se junta no Natal para cantar “Como é grande o meu amor por você”, cada um entregando um botão de rosa ao casal.
Luci e Homero: o nome é forte, sonoro, um quê de clássico e histórico. Daria um livro essa história que já dura uma vida inteira.
Que venham mais 50 anos, cheios de luz e flor para regar a beleza desse amor.

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<![CDATA[Imperfeição]]>https://rfeldman.web.app/imperfeicao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe33Thu, 06 Jan 2011 18:41:00 GMT
Imperfeição
Imperfeição

Não se iluda.
Você não vai ter um namoro perfeito.
Um casamento perfeito.
Um tico-tico no fubá perfeito.
Aposto que o seu emprego não é perfeito.
Nem o seu chefe.
Nem seu amigo. Muito menos seu tio.
Sua empregada é tudo menos perfeita.
E nem adianta reclamar. A sua mãe também não é perfeita.
Seu pai, seu irmão, seu vizinho, seu filho.
Nada de esmalte perfeito. Nem vestido ou calça jeans, esquece.
Esse blog não é perfeito.
A balança é mais que imperfeita.
O prefeito não é perfeito.
Nem o padeiro, o dentista, o fazendeiro.
Sua casa é tudo, menos perfeita.
Sua família é maravilhosa, mas não é perfeita.
Perfeição rima com frustração.
O imperfeito é feito para você aprender a crescer.
(Mesmo que a contragosto.)
Experimenta esse gosto.

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<![CDATA[Minhocas parte 2]]>https://rfeldman.web.app/minhocas-parte-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe32Sun, 02 Jan 2011 00:02:00 GMT
Minhocas parte 2
Minhocas parte 2

Ah, minhocas. Vão chegando de mansinho, deslizando lentamente, e quando você vê, fazem um ninho na sua cabeça. Foi assim com a Lucíola e é assim com a Fabíola, Maria, Patrícia, Rafaela, João, Frederico, Antônio, Rosa, Marcela…
Por mais levinhas que sejam, as minhocas parecem ter mais peso na mente feminina. Os homens não costumam perder muito tempo com esses “insignificantes” seres invertebrados (a não ser quando o assunto é uma boa pescaria).
O que tenho visto de minhocas não está no gibi. Está na cabeça do ser humano, se enroscando com os neurônios, fazendo mil perguntas, cutucando daqui e dali, perturbando sem a menor cerimônia.
Pensar, sentir, ter as percepções mais variadas sobre a sua vida faz parte. O problema é quando tudo isso se confunde com minhocas. Quando você pensa mais do que deve; interpreta o que são simplesmente fatos; aumenta o tamanho das coisas; enfim, acaba criando um capítulo de ficção na sua vida.
E sabe o que mais acontece? Você acaba alimentando as malditas minhocas. Quanto mais “pensa”, mais elas se reproduzem e multiplicam. Aí é uma minhocada só.
Experimente parar de alimentar os bichinhos que eles vão embora, atrás de outra cabeça pra importunar.     Ah, e se me permite, Lucíola, vai namorar, vai “carpediar” a vida. Beijos, abraços e declarações de amor são um excelente antídoto contra minhocas.

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<![CDATA[Minhocas]]>https://rfeldman.web.app/minhocas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe31Thu, 30 Dec 2010 05:46:00 GMT
Minhocas
Minhocas

Preocupada, roendo as unhas, Lucíola pôs-se a caminho do consultório de neurologia. Sua cabeça pesava de tanto pensar. Muitos pensamentos, um atrás do outro, se enroscando de forma confusa e acelerada. Tais pensamentos não diziam respeito apenas ao resultado da tomografia computadorizada que ela ia buscar. Junto à preocupação de ter um tumor no cérebro vinham outras questões, não tão graves e urgentes:
– Será que o namoro vai dar certo?
– Será que não está muito cedo pra conhecer a família dele?
– E aquela tatuagem no braço, o que que a minha mãe vai pensar?
– E se o namoro atrapalhar os meus estudos?
– E se ele só estiver querendo sexo?
– E se me enrolar vinte anos?
– E se me trair com a minha melhor amiga?
– E se, e se, e se?
Nesse exato momento, Lucíola ouve a voz da secretária:
– Lucíola Fernandes? Pode entrar.
Interrogatório interrompido. A pobre moça entra no consultório e encontra um Dr. Júlio um tanto quanto  abatido, preocupado.
– É grave, doutor?
– Fique calma, Lucíola. Não se trata de tumor nem aneurisma, mas é caso de cirurgia, e rápido.
Sua cabeça está infestada de minhocas.
…………………………………………………….
[Continua no próximo post. ]

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<![CDATA[Feliz Nascer]]>https://rfeldman.web.app/feliz-nascer/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe30Fri, 24 Dec 2010 15:58:00 GMT
Feliz Nascer
Deixa nascer o amor.
Desperta a alegria adormecida.
Nina a esperança.
Embala o sonho.
Pede perdão.
Perdoa.
Abre janelas.
Abre caminhos.
Deixa o amor nascer.
Deixa a realização crescer.
Apaga a luz.
Acende a vela.
Enche de luz a sua vida.
Feliz Natal, Feliz Você,
Feliz de mim que tenho você como presente.
]]><![CDATA[Pausa importante]]>https://rfeldman.web.app/pausa-importante/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe2fWed, 22 Dec 2010 19:41:00 GMT
Pausa importante
Pausa importante

Depois de sete anos, encerro um ciclo importante da minha vida. Um ciclo feito de trocas, ensinamentos, aprendizado.
Dar aulas era dar um pouco de mim a cada um dos meus alunos. Era encher o quadro da palavra realização. Era transformar erro em acerto. Era temperar com “pimentinha” o arroz com feijão.
Era seguir cronogramas, aplicar provas, exigir o máximo, não economizar na saliva e  no coração.
Levo comigo os alunos que tanto me ensinaram. Levo comigo os colegas que se tornaram eternos amigos. Levo comigo a paixão que rima com educação (herança do meu avô e da minha mãe, com quem tanto aprendi também).
Encerro este ciclo junto de alguns colegas muito especiais e queridos, a última leva dos professores mais antigos da Estácio: Marina Sepúlveda, Lamounier, Dulce, Pat Pinho. Que possamos nos reencontrar em outros ciclos, em outras possíveis travessias.
A todos que compartilharam comigo desta jornada, o meu muito obrigada e meu imenso carinho.

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<![CDATA[Mudança]]>https://rfeldman.web.app/mudanca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe2eWed, 15 Dec 2010 23:36:00 GMT
Mudança
Mudança

Operação esvaziar gavetas. Encher a alma de sonhos. Pensar no que foi, no que passou e no que poderia ter sido. Olhar pra frente com olhos de quem não quer apenas enxergar. Quer ver e viver. Viver com leveza,  mochila leve, carregando apenas o essencial. Sem trequeiras, chieiras, essas coisas tolas e desnecessárias que só envergam as costas.
Caminhar, enfim. De um jeito novo, genuíno, a sua cara.
Papéis velhos no lixo. Manias velhas bye-bye. Afunda o pezinho na areia, toma um banho de descarrego e agradece pela sua vida, do jeitinho que ela é.
Se não tiver mar por perto, escala uma montanha, inventa um rapel, mistura sal grosso na água do banho.
A contagem regressiva já começou. Crie o seu ritual e deixa chegar a mudança.
“Feliz” é um excelente adjetivo para acompanhar “Ano Novo”.

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<![CDATA[Vale a pena ler de novo]]>https://rfeldman.web.app/vale-a-pena-ler-de-novo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe2dSun, 12 Dec 2010 12:07:00 GMTVale a pena ler de novo

Não sou muito chegada em números. Nunca fui. Mas caí, sem querer, na seção de estatísticas do blog, e fiquei surpresa com este dado: das 16.611 visitas que já recebi aqui , o post “Família” (de 29/03/10, que reproduzo logo abaixo, na íntegra) foi o mais lido, com 3.936 acessos. Fico feliz pela repercussão e cada vez mais convicta de que esse tema foi feito mesmo pra receber a maior atenção do mundo. Vocês não pediram, mas ganham bis.

Vale a pena ler de novo

Família nenhuma é perfeita. Unida, embolada, fragmentada, inteira. Com anjos ou ovelhas negras, mama italiana ou judia por natureza, pais separados ou em plenas bodas.
A verdade é que nada é mais confortante do que poder ter a família por perto, nas horas boas e nas horas ruins. Seja para dar uma boa notícia, acudir na hora do aperto, estender a mão, passar pra frente uma prece, pedir colo e proteção.
Por maiores que sejam as diferenças e os caminhos trilhados por cada um, nada como esta ligação que dá razão e sentido. Nada como o abraço contagiante, o almoço de domingo, os olhos cheios de emoção. Nada como olhar pra trás e enxergar as raízes – raízes que sustentam, fazem história, explicam um porção de coisas e geram frutos os mais lindos.
Se é verdade que a gente escolhe, muito antes de nascer, a família que vai fazer parte, encho o coração de ternura para agradecer de onde vim. E olho com imenso carinho o que também veio depois disso – a família que formei, a família do meu marido, que adotei como minha.
Família nenhuma é perfeita, eu sei. Mas é tudo.

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<![CDATA[Coisas do gênero]]>https://rfeldman.web.app/coisas-do-genero/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe2cFri, 10 Dec 2010 19:00:00 GMT
Coisas do gênero
Coisas do gênero

Mais uma pequena “perolice” do Léo:
– Mãe, eu queria ter um irmão.
– Mas Léo, você já tem a Bella…
– Não, mãe, eu queria um menino, pra me fazer companhia…
– Mas… Já pensou? E se vier outra menina?
– Aí eu tô ferrado!…

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<![CDATA[Natal "muderno"]]>https://rfeldman.web.app/natal-muderno/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe2bWed, 08 Dec 2010 21:36:00 GMT
Natal "muderno"
Natal "muderno"

Então é Natal. Com toda a correria, o cansaço, o trânsito já radicalmente congestionado, as lojas pulando em cima de você para vender de tudo um muito, você encontra um tempinho para ir entrando no clima. Tira a árvore do armário, os enfeites das caixas, coloca aquele CD de músicas natalinas, vai montando a árvore, assentando os sentimentos no coração, pensando que afinal de contas há um sentido em tudo isso. (Pelo menos, deve haver.)
Quando há crianças no meio, então, tudo fica ainda mais divertido, mais cheio de graça. Já faz algum tempo que o Léo não acredita em Papai Noel. A Bella, ao contrário, faz um “ahhhhhhhhh” cada vez que vê um desses bonecos de Papai Noel “escalando” os prédios e tentando entrar pela janela.
E aí me aparece o Léo com uma cartinha de Natal.
– Cartinha de Natal, Léo? (?!)
– É, mãe, pra você. Vou pôr lá na árvore, não esquece de ler.
Eis a cartinha:
“Pai, mãe, quero um avião do Lego com aeroporto. Compra na Games, lá é mais barato.”

]]><![CDATA[Pop Love]]>https://rfeldman.web.app/pop-love/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe2aSat, 04 Dec 2010 15:46:00 GMT
Pop Love
Pop Love

Ontem fui assistir a uma peça do Grupo Galpão, estrelada pela minha querida amiga Cris. (A peça fica até amanhã no Galpão Cine Horto, ainda dá tempo de aproveitar.)
Não vou estragar a surpresa, mas adianto que é uma peça cheinha de elementos para você pensar. Pensar no que você anda vivendo, desejando, querendo. Pensar inclusive no que você anda engolindo por aí.
Pop Love tem Michael Jackson, Barbie, a babá da Barbie, uma empregada evangélica, uma arrumadeira peituda, uma cirurgiã plastificada. Tem até apresentadores de jornal assentados em vaso sanitário. Escatologia misturada com dramaturgia. Um prato cheio pra você morrer de rir mas acima de tudo refletir sobre esse nosso querido século XXI.
Lá da plateia, na segunda fila, fui sendo aos poucos impactada pela densidade crítica (e criativa, diga-se de passagem) com que a peça se desenrolava.
Se você quiser um retrato bem fiel do nosso tempo, tem que ir lá vi-ver esse Pop Love.

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<![CDATA[Quitandeira]]>https://rfeldman.web.app/quitandeira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe29Sun, 28 Nov 2010 22:45:00 GMT
Quitandeira
Quem me conhece sabe o quanto eu sou quitandeira. Adoro um café com biscoitinho, pão de queijo, bolo saindo do forno.
Quando era pequena, minha mãe me pôs na aula de arte. Apesar de eu não levar o menor jeito pra coisa, achava tudo uma delícia, especialmente o lanchinho que era servido no meio da manhã: pão de queijo quentinho e Coca-Cola (uma garrafinha pra cada aluno).
Pois um belo dia a professora veio perguntar qual atividade a gente mais gostava –  se argila, pintura, colagem ou desenho. Não levei meio minuto para responder:
“- O que eu mais gosto é a hora do lanche!” (…)
Tô contando isso tudo pra dizer que o meu paladar anda encantado por uma novidade que surgiu no mercado, e eu vou ter que fazer propaganda: The Joy of My Life (www.wix.com/estudiorm/thejoyofmylife). Pelo nome a gente já vê que pode esperar coisa boa. Bota boa nisso: bolos, terrines e compotas de comer ajoelhado. A quitandinha que eu amo só que com um toque especial, um refinamento que dá gosto.
O que eu fico mais admirada é com a criatividade dos ingredientes: bolo de chocolate amargo com gengibre; bolo inglês de calabresa com funghi; geléia de morango com tomilho, e por aí vai. Quitanda gourmet, entende? Perfeito para saborear e presentear (as embalagens são lindas).
Você deve estar pensando: A Renata está ganhando comissão, só pode!
 Tô não. Nadica de nada. Mas dica boa a gente tem que passar pra frente. E além disso eu preciso dividir uns quilinhos com você.
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<![CDATA[Sou]]>https://rfeldman.web.app/sou/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe28Thu, 25 Nov 2010 10:57:00 GMT
Sou
Amo.
Sinto.
Penso.
Choro.
Vivo.
Morro.
Brinco.
Corro.
Sou coletânea de verbos, olhos, raízes, histórias.
Sou sangue, suor. Palavra. Ação.
Sou dúvida, resposta. Inverno. Emoção.
Sou eu. Sou você.
Sou música, lua. Estrada. Rua.
Sou fruto de um amor colhido cedo.
Sou bom dia. Vento. Alegria.
Sou sol. Si bemol. Jardineira na janela.
E você?
Qual é a sua graça?
 Queira se apresentar.
]]><![CDATA[Não tá no gibi]]>https://rfeldman.web.app/nao-ta-no-gibi/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe27Sat, 20 Nov 2010 09:32:00 GMT
Não tá no gibi
Não tá no gibi

Quem acompanha o blog sabe o quanto a Bella tá ligadíssima na turma da Mônica. Dorme grudada no Sansão, não sai da cabaninha e vive brincando que ela é a Mônica e eu sou a Magali.
Pois ontem a baixinha quase me matou de vergonha. Espontaneidade de criança, fazer o quê? Você também já foi assim um dia.
Fui buscá-la na escola e, quando atravessávamos a rua, subia uma moça – aham… –  não muito magra e esguia.
Sem titubear, a pequena apontou o dedo pra moça e exclamou:
– Olha, mãe! Igual a Mônica! Baixinha, gorducha e dentuça!…
(!…)

]]><![CDATA[Tanto faz]]>https://rfeldman.web.app/tanto-faz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe26Mon, 15 Nov 2010 04:57:00 GMT
Tanto faz
Vinho ou cerveja?
Pizza ou fetttuccine?
Praia ou montanha?
Casório ou bicicleta?
Cinema ou teatro?
Café ou chocolate?
Paris ou Madrid?
Picasso ou Monet?
Voilà, só não vale tanto faz.
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<![CDATA[Vergonha]]>https://rfeldman.web.app/vergonha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe25Wed, 10 Nov 2010 08:39:00 GMT
Vergonha
Vergonha

Tem gente que sente vergonha sem precisar sentir. Engasga na hora de falar em público, fica vermelho na hora de pedir um favor, não sai da toca para não correr o risco de se expor.
Eu não deveria, mas estou sentindo muita vergonha do Brasil. Vergonha de um ENEM que falhou pela segunda vez. Vergonha de um projeto manchado pela incompetência, negligência, falta de estrutura.
Eu já fui vestibulanda um dia. Duas vezes, aliás, em dois momentos diferentes. Eu sei o que é virar noite estudando, comer livro, esquecer os domingos, morrer de dificuldade em física, enlouquecer com a matemática, decorar fórmulas de química, não ter vida, enfim, para correr atrás de um sonho, para conquistar um lugar em uma boa faculdade e abraçar uma profissão que te faça brilhar os olhos.
E é em nome destes brasileiros que deram o sangue no ENEM que eu deixo registrado aqui todo o meu pesar e mais profunda indignação. Júlia, Ana, Luísa, Hugo, Lucas, Diego e tantos outros ávidos por acertar, exaustos de tanta aula e tantos livros, esforçados, ansiosos, cuidadosos em marcar a letra certa numa prova que não teve com eles o mesmo cuidado.
Faltou seriedade. Faltou respeito. Faltou o básico.
Nota zero para o ENEM.

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<![CDATA[Bênção de pai]]>https://rfeldman.web.app/bencao-de-pai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe24Mon, 08 Nov 2010 22:20:00 GMT
Bênção de pai
Bênção de pai

“Um anjo veio aqui, nos deu um beijo e voltou aos céus. Que Deus o abençoe, meu filho. Fique em paz.”
Um grande amigo deixou hoje essa frase no twitter. Chorei de longe a dor da perda, o silêncio do luto, a tristeza de um ultrassom que não trouxe boas notícias. Chorei com ele ao telefone, transformando interurbano em abraço, enviando para sua esposa, querida amiga, todo o colo que eu poderia dar, mesmo em pensamento.
Que maneira bonita de se despedir de um filho. De tomá-lo como anjo compreendendo ao certo o significado desse amor, mesmo por poucos meses. De abençoá-lo com a força que esse gesto tem para a vida inteira.
O que você fez, meu querido amigo, foi praticar uma bonita lei da Constelação Familiar: acolher esse filho no coração, dando a ele um lugar que será para sempre dele. Buscando entender que há uma Força Maior regendo a nossa vida, mesmo quando se apaga a luz.
No coração dos seus amigos aqui, este anjo também tem seu lugar marcado.
Que Deus abençoe vocês.

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<![CDATA[Sonhos]]>https://rfeldman.web.app/sonhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe23Sun, 07 Nov 2010 20:57:00 GMT
Sonhos
Sonhos

“Fale-me do seu sonho”, te diria Freud. Qualquer que seja ele: uma cobra, um navio em alto mar, um casamento na Disney, uma mesa cheia de doces, uma loja inteira, uma festa de arromba, um amigo que já morreu.

Viva o seu sonho, eu te diria. Qualquer que seja ele: Paris, Grécia, São Paulo. Medicina, moda, gastronomia. Namorado, marido, fãs alucinados. Concurso, consultório, cassino em Las Vegas. Um filho, dois enteados, trigêmeos. Amor pra inundar a alma. Paisagens pra fotografar a felicidade. Música para enfeitiçar os olhos. Luz pra arrepiar o corpo inteiro. Muito vinho para celebrar a vida.

Qualquer que seja o seu sonho, o significado é este:
você pode realizar.
Não é à toa que realização termina com ão.

]]><![CDATA[Decepção]]>https://rfeldman.web.app/decepcao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe22Tue, 02 Nov 2010 23:02:00 GMT
Decepção
Pisou na bola.
Te deixou de escanteio.
Deu o bolo.
Puxou o tapete.
Furou o olho.
Te traiu com o seu melhor amigo.
Falou mal de você nas costas.
Prometeu mundos e fundos.
Jogou sua confiança no lixo.
Levantou os ombros.
Cantou “tô nem aí”.
“Tomou Doril. Sumiu.”
Decepção. Cão.
Pitbull em forma de emoção.
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<![CDATA[Como num passe de mágica]]>https://rfeldman.web.app/como-num-passe-de-magica/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe21Tue, 02 Nov 2010 07:30:00 GMT
Como num passe de mágica
Como num passe de mágica

Pensar que ontem você era um grande sonho
dentro de mim.
Grãozinho de arroz, coração batendo junto do meu.
Tanto tempo de espera, eu já me vendo estéril,
grávida de esperança.
Pensar que ontem você dançava balé dentro de mim, fazendo acrobacias e pedindo bis.
Pensar que ontem você era uma recém-punkezinha
de cabelo espetado, sorrisos pro vento
e braveza de madrugada.
Pensar que ontem já é hoje, apressado esse tempo.
E que três anos se passaram como se passam as páginas de um livro de poesia.
Com o encanto e a delicadeza que moram nas palavras,
enchem a vida de ternura
e iluminam os olhos de quem lê.
Pensar que hoje você é Bella Adormecida,
Cinderela, Branca de Neve,
Alice no País das Maravilhas, Fada Sininho.
Ah, minha Bella, se eu pudesse
pegava sua varinha de condão
e te transformava na minha eterna menininha.

]]><![CDATA[Eterna infância]]>https://rfeldman.web.app/eterna-infancia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe20Tue, 26 Oct 2010 11:10:00 GMT
Eterna infância
Adoro chocolate.
Adoro jujuba. Bala chita. Caramelo.
Adoro canjica. Torta de limão. Arroz doce.
Adoro bala delícia.
Adoro bombom de nozes, uva, morango.
Adoro fondue de chocolate.
Adoro Chokito, Sonho de valsa, Diamante Negro.
Adoro bombom de cereja da Kopenhagen.
Adoro Lindt ao leite.
Adoro Tablito, pirulito que vira chicletes,
chicletes com caldinho.
Adoro brigadeiro, chapéu de napoleão,
delícia de damasco.
Adoro amor em pedaços, bombinha de chocolate,
baba de moça.
Detesto pensar onde é que vai parar tudo isso.
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<![CDATA[Mônica e Cebolinha]]>https://rfeldman.web.app/monica-e-cebolinha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe1fMon, 25 Oct 2010 21:30:00 GMT
Mônica e Cebolinha
Mônica e Cebolinha

A Bella está “estudando” a Turma da Mônica na escola.
Agora deu pra sair correndo atrás do Léo girando a toalha de rosto como se fosse o Sansão:
– Cebolinhaaaaaaaa!…
É. Mas o meu Cebolinha está cada vez mais Cascão.
Quando eu chego na escola para buscá-lo, vermelho e esbaforido de tanto jogar futebol,  ele vai logo avisando:
– Não preciso tomar banho não, mãe. Não suei nadinha. (!…)

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<![CDATA[Nunca!]]>https://rfeldman.web.app/nunca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe1eSun, 24 Oct 2010 15:49:00 GMT
Nunca!
Nunca!

Pai e mãe vivem falando NÃO pros filhos.
Os filhos choram com força quando ganham NÃO,
mas no fundo no fundo vivem pedindo por essas três poderosas letrinhas.
(Limite é bom e eles gostam.)
Quando a criança aprende a falar NÃO, desembesta.
É NÃO praquela roupa, NÃO pro feijão,
NÃO pro remédio, NÃO pra desligar a televisão,
NÃO pro banho, NÃO pra acordar cedo e por aí vai.
Pois a Bella resolveu radicalizar.
Outro dia perguntei se ela queria melancia e ela não titubeou:
“- NUNCA, NUNCA, NUNCA!!!”

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<![CDATA[Anjos]]>https://rfeldman.web.app/anjos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe1dFri, 22 Oct 2010 09:04:00 GMT
Anjos
Anjos

Há 12 anos assisti ao filme Cidade dos Anjos, e essa semana repeti a dose na V Mostra de Cinema Comentado da Estácio. Quase desmanchei de tanto chorar.
À delícia do filme se juntou o brilhantismo do Prof. Júlio Pinto, doutor em semiótica, que foi buscar em Platão, Aristóteles, no amor e nos anjos uma linha de raciocínio permeada de emoção.
O enredo é bem interessante: um anjo (Nicolas Cage) se apaixona por uma mortal (Meg Ryan) e renuncia à eternidade, vira gente, só para ficar com ela. O final do filme é doído, surpreendente, e eu não vou contar aqui porque pode ser que você ainda não tenha visto. (Não perca.)
Mas isso eu conto: o filme é um convite pra você pensar no que anda fazendo da sua vida. No tanto que você anda sendo gente, anjo ou robô. No tanto que anda enchendo a cabeça de coisas ou no tanto que anda se permitindo sentir. Sem muita razão, teoria, blablablá, certo ou errado. Apenas sentir.
O Prof. Júlio falou com muita propriedade desses dois verbos. Pensar é especialidade dos anjos, que estão lá em cima assistindo a tudo aqui na terra. O sentir é inerente aos humanos, e foi isso que atraiu tanto o anjo vivido por Nicolas Cage: a paixão, a pele, os lindos olhos da Meg Ryan. O banho quente, a água do mar, a lareira acesa, o sangue vermelho, o beijo, o toque, a pêra que faltava na salada de frutas.
E aí a gente lembra o quanto a nossa vida é sensória. E o quanto é curta também. Por isso, você que é gente de carne e osso, páre e pense um pouquinho se o sentir não anda fazendo falta na sua vida. Até que ponto você não está sendo anjo demais, pensante demais, robô em demasia.
Se a gente não pensasse, não seria gente. Mas se a gente também não sente, vira anjo frustrado, despido de asas e do amor que nos move em tudo, pra lá da eternidade.

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<![CDATA[Dono(a) do seu nariz]]>https://rfeldman.web.app/donoa-do-seu-nariz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe1cWed, 20 Oct 2010 10:08:00 GMT
Dono(a) do seu nariz
Dono(a) do seu nariz

Tudo o que você queria era ser dono(a) do seu nariz. Ter seu canto, seu teto, juntar as escovas de dente, casar de véu e grinalda, morar sozinho(a) e tocar bateria até às duas da manhã. Só esqueceram de te contar que, junto com o nariz, vem a casa. Sim, meu(inha) caro(a), o pacote é completo.
E junto com a casa vem as louças pra lavar, roupa suja enchendo o cesto, supermercado pra fazer, poeira pra tirar, roupas molhadas no varal. E tem também o lixo pra reciclar, vidro pra limpar, bombeiro pra desentupir a pia.  Que bom que inventaram o bombeiro. Porque tem hora que pega fogo. Esturrica. Queima o filme da empregada quando ela resolve dar o bolo em plena segunda-feira.
Bom mesmo é abrir as janelas, ventilar a casa, sentir o cheiro de bolo de chocolate assando no final da tarde. Sua música preferida, suas plantas, seus vestidos perfumando o armário. Cama com edredon, velas acesas, livro de cabeceira, flores no vaso. Cheiro de casa, almofadas fofas, aconchego, útero de mãe. Nada como ser dono(a) de um nariz que respira tudo isso.

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<![CDATA[Choro de gente grande]]>https://rfeldman.web.app/choro-de-gente-grande/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe1bFri, 15 Oct 2010 10:17:00 GMT
Choro de gente grande
Choro de gente grande

Tá bom. Vou aproveitar esse restinho da semana das Crianças para acordar a criança que está bem aí, dentro de você, brincando de esconde-esconde.
A criança que quer chorar, mas não deve.
Que quer brincar, mas não tem tempo.
Que vê bichos nas nuvens.
Que pede colo.
Que faz careta pro brócolis.
Que morre de ciúmes do irmão.
Que não gosta de tomar banho.
Vai lá, faz birra. Pirraça. Sapateia no chão.
Pode não adiantar nada.
Você não vai ganhar aquela boneca.
Adeus caminhãozinho.
Quem sabe um castigo?
Umas boas palmadas.
Não, palmada nem pensar. Não pode.
Mas, no mínimo no mínimo, você vai lavar a alma.
Depois enxuga as lágrimas, bola pra frente,
ergue a cabeça, bota sua criança pra dormir.
Ufa!
Feliz Dia dessa Criança que já cresceu.

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<![CDATA[Soterrados]]>https://rfeldman.web.app/soterrados/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe1aThu, 14 Oct 2010 10:54:00 GMT
Soterrados
Soterrados

Estava indo dar aula ontem bem cedinho e, como de costume, ouvia a rádio Band News, que eu adoro.
Parada num sinal, me emocionei com o resgate do nono mineiro soterrado no Chile. Me emocionei com os aplausos, com os sessenta e nove dias debaixo da terra, com a alegria da família em rever um ente querido, vivo por um milagre.
Por um minuto eu também queria estar lá para aplaudir. Para ver a esperança transformada em vitória; para ver o escuro se transformar em luz; para ver a fé se transformar em coragem, e a coragem se transformar em força.
O sinal abriu e eu segui pensando nos outros tantos soterramentos sutis, simbólicos, que escurecem e aprisionam a vida, às vezes uma vida inteira: o CTI, a coma alcoólica, a agressão física, o abuso sexual, o abuso psíquico, o assédio moral. Sem falar nos outros tipos de escuridão, mais brandos mas nem por isso mais fáceis de se viver:  um casamento ruim, um filho rompido com pai, traição, falta de dinheiro, separação.
A esperança é que a luz um dia se acenda, clara como uma cápsula salva-vidas, Fênix renascendo das próprias cinzas.

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<![CDATA[Você não é de ferro]]>https://rfeldman.web.app/voce-nao-e-de-ferro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe19Tue, 05 Oct 2010 22:58:00 GMT
Você não é de ferro
Pra você que acordou com as galinhas.
Trabalhou feito cão.
Teve um dia normal. Um dia difícil.
Um dia duro ou sem sal.
Pra você que fez bonito. Fez amor.
Fez arroz temperadinho.
Pra você que bateu ponto. Bateu o carro.
Quebrou a cabeça.
Pra você que chorou. Brigou. Amarelou.
Pra você que malhou o corpo e a mente.
 Largou mão da teimosia.
Sentiu sono. Cólica. Azia.
Pra você que assobiou e chupou cana.
Enfrentou o chefe. Ficou de castigo.
Ficou “p” da vida.
Pra você que é de carne e osso
e tem um coração batendo aí no peito:
toma um banho de estrela, faz um chá de hortelã,
pega seu livro de cabeceira.
Boa [bocejando] nooooite!…
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<![CDATA[Perdas e Ganhos]]>https://rfeldman.web.app/perdas-e-ganhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe18Sun, 03 Oct 2010 19:17:00 GMT
Perdas e Ganhos
Perdas e Ganhos

Semana passada participei do Programa Caleidoscópio, da TV Horizonte, quando conversamos sobre o tema “Perdas e Ganhos” (aliás, o nome de um livro belíssimo da Lya Luft).
Deixo aqui alguns trechos do programa (http://videolog.tv/video?582458)  e uma pequena reflexão para você:
* Perder dói, mas faz parte da vida.
* É preciso viver o luto.
* É preciso saber ganhar.
* Você pode até procurar receitas de bolo e fórmulas mágicas para enfrentar a dor, mas a resposta está dentro de você.
* É fazer do limão uma limonada. Bem docinha, com leite condensado e canudinho enfeitando o copo.

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<![CDATA["Merda"!]]>https://rfeldman.web.app/merda/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe17Tue, 28 Sep 2010 00:00:00 GMT
"Merda"!
"Merda"!

Calma. Já já você vai entender o título do post. E ele tem a ver com a minha grande amiga Cris, irmã de alma, fada-madrinha, ponto de luz na minha vida.

Estudamos juntas desde os 10 anos de idade, fomos vizinhas de janela, confidentes de plantão, companheiras de viagem. Hoje somos comadres, mães de família, cúmplices da mesma jornada.
Pois quando ainda era um pingo de gente a Cris resolveu mostrar seu talento ao mundo, e virou atriz. Foi Wendy no Peter Pan, arrasou no “Eu te amo ditadura”, mostrou a que veio no recente “Desventuras de um descasado”. É assim que orgulhosamente a chamamos: “Cris, a atriz.”
No dia da estréia do Peter Pan, em plena aula de matemática, a danada me tira um pacote de bala chita da bolsa e começa a mastigar, uma atrás da outra. Disse que era pra aliviar a ansiedade. Dá-lhe bala chita. Desejei-lhe boa sorte. Ela me corrigiu: “Merda, Rê. É assim que a gente deseja boa sorte no teatro.”
Pois hoje, inspirada na Cris e na felicidade que é ter bons amigos na vida, desejo toda a sorte do mundo para você que vai fazer vestibular; participar da entrevista de emprego; subir no palco; mudar de país; encontrar aquele moço bonito; defender a tese de mestrado; fechar um contrato milionário;  fazer exame de rua pela pela sétima vez;
……………………………………………………………………..
“Merda”!
]]><![CDATA[Pro mundo girar mais leve.]]>https://rfeldman.web.app/pro-mundo-girar-mais-leve/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe16Thu, 23 Sep 2010 07:44:00 GMT
Pro mundo girar mais leve.
Pro mundo girar mais leve.

Acho que já falei aqui do trabalho que faço (que tenho a alegria de fazer) com o Grupo de Terceira Idade Bem Viver, do Olympico Clube. Uma vez por mês me encontro com as minhas “meninas” e conversamos sobre os diversos temas da vida – alegria, tristeza, perdas, mudanças, etc.
Atualmente estamos “estudando” o best seller “Presente do Mar”, de Anne Morrow Lindbergh. O livro fala de uma mulher (a própria Anne) que fica um tempo na praia, sozinha, descobrindo na conchas uma bonita analogia com a própria vida.
Esta semana conversamos sobre o capítulo Solitude, da Concha-Lua. Três pontos ficaram marcados no nosso doce encontro:
1) Ficar sozinho com você mesmo(a) (especialmente se você for uma mulher) é presente dos mais preciosos; um momento raro que você precisa aprender a desfrutar.
2) A mulher sabe doar como nunca. O paradoxo é que ela doa, doa, doa e muitas vezes se ressente disso. O exemplo mais lindo de doação feminina é a mãe amamentando o filho. Quanto mais ela dá o peito, mais leite a criança tem. Mas é preciso arroz e feijão pra dar conta do rojão.
3)  Sua vida pode ser uma grande roda gigante. Cada carrinho uma pessoa especial: parceiro(a), filhos, familiares, amigos. Mas você é o eixo que roda sereno e inteiro, compartilhando com cada um deles a beleza do céu, do chão e do mar.

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<![CDATA[Loucura]]>https://rfeldman.web.app/loucura/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe15Mon, 20 Sep 2010 14:08:00 GMT
Loucura
Loucura

Aí um dia você acorda e descobre que não é nada daquilo que você quer. A cama, o bom dia, o dia. As escolhas, os sabores, o cartão de ponto. Aquela mulher, aquele patrão, aquela sua velha mania de procurar explicação em tudo.
E aí você arruma a mala, pega a bússola, monta na bicicleta e sai por aí, sem rumo nem prumo, sem fome ou hora de chegar.
Joga os remédios fora. Não lê o horóscopo. Rabisca um bilhete na geladeira.
Uns dizem que você é radical. Outros te chamam de louco. Mais um pouco inventam uma patologia que te enquadre nessa sua decisão impulsiva (ou há muito tempo pensada, quem sabe) de jogar tudo pro alto e ir vender sanduíche na praia. Ou armar barracas na lua. Ou assumir que é perua. Ou casar com um japonês. Pintar quadros como Picasso, talvez. Ou sair correndo daqui, deste blog que hoje amanheceu doidinho.

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<![CDATA[Jardim Zen]]>https://rfeldman.web.app/jardim-zen/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe14Sat, 18 Sep 2010 23:10:00 GMT
Jardim Zen
Planto ideias dentro de mim.
O sol nasce todo dia,
A chuva molha a terra,
Floresce jasmim.
Enterrar semente,
Brotar espera,
Pegar na enxada,
Emoção de primavera.
Água.
Vento.
Terra.
Tempo.
Me encontro nas raízes.
Busco o descanso da sombra.
Cultivo sonhos.
Leio poesia nas mãos do jardineiro.
]]><![CDATA[Mal-humor]]>https://rfeldman.web.app/mal-humor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe13Wed, 15 Sep 2010 16:37:00 GMT
Mal-humor
Mal-humor

Limão capeta.
Sorriso morto.
Ovo virado.
Osso.
Birra.
Tromba.
Fome.
Nuvem negra.
Cão chupando manga.

O mal-humor contamina.
Emburrece.
Petrifica.
Tira todo o sabor.
Xô.

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<![CDATA[Medo de amar]]>https://rfeldman.web.app/medo-de-amar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe12Fri, 10 Sep 2010 18:21:00 GMT
Medo de amar
Medo de amar

“O medo de amar é não arriscar…”
Foi com essa música do Beto Guedes na cabeça que conversei quarta-feira com uma repórter do MGTV (http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1333294-7823-PSICOLOGA+DA+CONSELHOS+PARA+QUEM+TEM+MEDO+DE+AMAR,00.html).
O tema da matéria – Medo de Amar – rendeu uma boa horinha de papo e reflexão, e confirmou algumas coisinhas importantes:
1) Amor rima com dor. (Por mais paradoxal que isso possa parecer.)
2) Tenho ouvido com frequência a palavra medo. Medo de errar, medo de acertar, medo também de amar. Logo amar, que é uma coisa tão boa. Sim, mas não é um mar de rosas, você já deve saber. Tem espinhos que ferem, machucam, deixam marcas. O medo de amar muitas vezes diz respeito ao passado – ao trauma de ter sido rejeitado(a), traído(a), trocado(a).
3) O medo de amar também sinaliza uma dificuldade de se entregar. Se essa entrega não é correspondida, dói. Dói muito.
4) Zerar as expectativas não tem jeito. Mas dá pra diminuir a dose e ficar mais pé no chão. Quanto maior a expectativa, maior o tombo.
5) Existe frio na barriga, medo, medo medonho. Quando chega nesse nível, a luz vermelha acende. Sinal de alerta, hora de olhar pra dentro e expurgar os fantasmas que ocupam tanto espaço dentro de você.
6) A vida é curta. Encontre a chave da prisão e vai amar. Como diziam os Beatles e a minha afilhada Deborah não cansa de repetir (outro dia vi isso escrito em letras garrafais no quadro negro lá do sítio), “all we need is love”.

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<![CDATA[De vó em vó]]>https://rfeldman.web.app/de-vo-em-vo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe11Tue, 07 Sep 2010 22:07:00 GMT
De vó em vó
De vó em vó

Minha vó morreu quando eu tinha quatro anos. Cresci sem entender a ausência daquela que enchia a minha vida de luz, presença e rima.
Para a idade que tinha, me lembro de muita coisa: do chinelo azul cinco números maior, com que eu desfilava pela casa inteira; do quintal florido de hibiscos; das sextas-feiras em que ia dormir lá e ela deixava o meu avô para adormecer comigo – ela na cama e eu na bicama. (Até que um dia acordei e a cama estava vazia – ela havia ido ao médico para tratar do câncer e eu, como que num pressentimento ruim, tive uma crise de choro que ninguém soube explicar.)
Não me esqueço das vezes em que a vovó Bella vinha me buscar no seu fusquinha azul e me levava para passear no velho e bom Mercado Distrital. Sentada no carrinho de compras, os pés balançando, me sentia na Disney quando ganhava o já tradicional pirulito alaranjado, feito de puro açúcar. Também me lembro com nostalgia do bombom Alpino, que lambia até derreter.
Dizem que dela herdei muitas coisas – o sorriso, o olhar, a paixão pelo piano, a compostura. Mas a mais preciosa herança de todas foi a filha dela, minha mãe, que neste exato momento encontra-se com o meu filho em plenas Serras Gaúchas, comendo fondue de chocolate e fazendo a maior farra num friozinho de sete graus.
Apaixonada que é por viajar, vovó Clara já levou o Léo pra Diamantina, Patagônia, Serra do Caraça e agora Gramado, tchê!.. Apenas os dois, companheirinhos de quarto, céu e estrada, numa sintonia que só pode ser de outras vidas.
E quando a mãe aqui liga pra matar saudade, ele é prático e objetivo, não tem tempo a perder:
– Oi, mãe, um beijo, tchau!
Se eu, que já rodei o Mercado Distrital e não troco essa experiência por nada deste mundo, imagina o Léo, perito que está ficando no assunto. (Ai dele se esquecer meu chocolate.)

]]><![CDATA[Papo-cabeça]]>https://rfeldman.web.app/papo-cabeca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe10Thu, 02 Sep 2010 23:47:00 GMT
Papo-cabeça
Papo-cabeça

Léo na hora do almoço:
– Mãe, tenho que fazer uma pesquisa sobre profissão.
– Que que é “pofissão”, mãe? –  Bella entrando na conversa.
– Profissão é o meu trabalho, filha.
– “Pofessora”?
– Isso mesmo! E psicóloga também.
– Que que é “cóloga”, mãe?
– É alguém que ajuda as pessoas, escuta seus problemas…
– Que que é problema?
…………………………
Ah, minha filha, nem queira saber.
Vai brincar, vai.
Vai viver sua alegria encantadora, seus ursos de pelúcia, sua dança e sua rima.
Vai viver sua meninice, seus contos de fada e histórias de Três Porquinhos.
Por enquanto seu choro é de sono, colo, leite quentinho.
E eu nem preciso ser adivinha para saber o que o(a) caro(a) leitor(a) está pensando:
“Eu era feliz e não sabia…”

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<![CDATA[Quem faz terapia não é doido]]>https://rfeldman.web.app/quem-faz-terapia-nao-e-doido/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe0fSun, 29 Aug 2010 09:48:00 GMT
Quem faz terapia não é doido
Para homenagear o Dia do Psicólogo, a Assessoria de Imprensa da Estácio me pediu para escrever um artigo com o tema acima.
Resolvi  homenagear o cliente – aquele que procura um consultório de psicologia não por loucura (até porque o louco não tem discernimento para procurar ajuda), mas por necessidade, vontade, angústia, dor que não pára de doer.
Dói a solidão, o medo, o trabalho incessante. Dói a desilusão amorosa, a falta de emprego, a ausência dos pais. Dói estar consigo mesmo e se deparar com questões aparentemente impossíveis de responder. Dói se olhar no espelho e ver uma imagem muito distante daquela que se idealizou.
“Problema de cabeça”? Ou problemas que lotam a cabeça? Problemas de todos os tipos, formatos, tamanhos. (Afinal, quem é que não tem problema?) Faz parte da vida sofrer, doer, crescer. Mas esse processo pode ser menos doloroso e confuso quando a pessoa olha para dentro de si e acaba se enxergando. “Muito prazer, eu sou essa senhora que o luto tomou.” “Muito prazer, eu sou esse menino que não quer crescer.” “Muito prazer, eu sou a mulher que ainda não se encontrou.”
Os problemas vão e vem. Não escolhem sexo, idade, raça ou religião. Simplesmente entram na vida de cada um sem pedir licença, arrombando a porta. E se terapia é loucura, as mulheres ganham na “camisa-de-força”. Usam sua sensibilidade e seus hormônios à flor da pele para chorar suas dores, vivenciar seus terrores, enfrentar mudanças. O homem ainda é mais resistente, até porque aprendeu que “homem não chora”. (E o que não falta no consultório é caixa de lenço.) Mas até essa realidade vem mudando. Os homens estão aprendendo a chorar.
Conhecer-se a si mesmo é o primeiro passo para mudar o rumo da própria história e seguir seu caminho, feliz. De bem com a vida. Com auto-estima. Com gosto de desfrutar os pequenos momentos da vida, aprendendo a conviver com os momentos que não se pediu para viver.
Quem faz terapia não é doido

Haja coragem. Haja vontade. Haja disposição para fazer essa travessia ao encontro de si mesmo e se deparar com verdades que muitas vezes não se quer enxergar.
Eu também já fui cliente um dia. É por isso, inclusive, que carrego a mão nesta homenagem.

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<![CDATA[Dá vontade de congelar]]>https://rfeldman.web.app/da-vontade-de-congelar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe0eTue, 24 Aug 2010 11:31:00 GMT
Dá vontade de congelar
Quando se tem filhos, esse comentário é ouvido inúmeras, repetidas vezes: “Nossa, como ele/ela cresceu!… O tempo voa, né?”
É. E cada vez que eu ouvia isso em relação ao Léo, não conseguia esconder meu desejo secreto: “Ai, dá vontade de congelar!…”
Pois então. De tanto espalhar essa frase aos quatro ventos, um dia fui chamada na escola. A professora me disse, delicadamente:
– Parece que o Léo não quer crescer. Trabalhem mais a autonomia dele, deixem ele fazer as coisas sozinho…
Toin-oin-oin-oin-oin…
Dá vontade de congelar

Já disse isso aqui: cuidado com o que você pede, pois você pode conseguir.

Parei de falar a tal frase-síndrome de Peter Pan, mas outro dia esbarrei com a música do Toquinho, “Menininha” (ttp://letras.terra.com.br/toquinho/87397/ ) e não me contive. Pus a Bella no colo e dançamos uma valsa inteira, olhos nos olhos, eu com um forte desejo secreto de que a minha menininha também não crescesse. Ao final da música, óbvio que pelo tanto de vezes que se ouve a palavra “bicho-papão”, ela soltou essa:
– Assustadora essa música, mamãe!…

– É, filha. Assustadora mesmo…

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<![CDATA[Dor de esTUDO]]>https://rfeldman.web.app/dor-de-estudo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe0dSun, 22 Aug 2010 18:13:00 GMT
Dor de esTUDO
Dor de esTUDO

Hoje tá doendo tudo lá em casa.
Tem dor de barriga, dor de dente,
dor de pé, dor de cabeça,
dor de sono, dor de tudo e mais alguma coisa.
Estou ensinando o Léo a estudar pras provas.
Dói cada vez que ele  abre o livro.

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<![CDATA[Esconde-esconde]]>https://rfeldman.web.app/esconde-esconde/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe0cTue, 17 Aug 2010 14:55:00 GMT
Esconde-esconde
Esconde-esconde

Onde é que foi parar o brilho dos seus olhos?
Sua força para escalar montanhas e atravessar rios gelados?
Sua energia de criança, onde é que foi parar?
Só quer cama. Chão. Sombra. Lado de dentro.
Não responde. Não vê graça. Não quer mais brincar.
Em que armário trancado se escondeu a sua alma?
Quem é que sequestrou seus sonhos?
Suas lembranças tão cheias de vida.
Suas estrofes de poesia.
Pede ajuda pra São Longuinho.
Dá três pulinhos.
Põe sua roupa mais bonita.
Tem muita vida lá fora.
Vai se encontrar.

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<![CDATA[Não tem preço]]>https://rfeldman.web.app/nao-tem-preco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe0bSun, 15 Aug 2010 16:26:00 GMT
Não tem preço
Não tem preço

Aprendi a gostar de cachorro com a minha irmã Tatiana. Veterinária de mão cheia, especialista em ultrassonografia, acabou me dando três sobrinhos de estimação: Pipoca, Nick e Nina.
Apesar de paparicar igualmente os três, confesso minha predileção pela Pipoca: uma Bassê preta  com olhos de gente, desses olhos de ternura e lealdade que matam a gente.
O Léo – bobo que não é –  também já percebeu isso, e ontem soltou mais uma das suas. Foi dormir na casa da minha mãe, junto com a “Ta Tati” e os três cachorros, e me ligou de lá todo satisfeito:
– Mãe, vamos comprar a Pipoca? A Ta Tati vende pra gente!…
– É mesmo, Léo?! Por quanto?
Ele repassou a pergunta para a tia, que estava por perto:
– Quanto mesmo, Ta Tati?
– Não tem preço, Léo…
– Oba! É de graça, mãe!

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<![CDATA[A vida continua]]>https://rfeldman.web.app/a-vida-continua/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe0aThu, 12 Aug 2010 00:24:00 GMT
A vida continua
Um dia, enfim, ela resolveu amar de novo. Juntou os cacos, molhou a terra, transformou rascunho em poesia.
Fazia sol lá fora. Fazia sol lá dentro. A música já não era desafinada. O choro já não doía tanto.
Abriu  a porta, estranhou a claridade, esperou o trem passar. Deu bom dia ao vizinho, riu sozinha, deu o ar da graça.
Há muito tempo não se sentia assim, tão inteira.
Limpa, sem poeira, sem eira nem beira.
Decretado o fim do luto, o recomeço da vida, a continuidade de sua existência.
A vida continua

E veio flor da terra. Emoção da poesia. Dança da música. Passageiro do trem. Vida do luto.

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<![CDATA[Ele é o cara (metade)]]>https://rfeldman.web.app/ele-e-o-cara-metade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe09Sun, 08 Aug 2010 21:41:00 GMT
Ele é o cara (metade)
Ele é o cara (metade)

Ontem eu passei uma tarde agradável na Praça da Liberdade, participando de uma gravação para o MGTV (http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1314691-7823-DIA+DOS+PAIS+DEVE+SERVIR+PARA+COMEMORAR+A+PRESENCA+DELES+NA+VIDA+DOS+FILHOS,00.html. ) O tema? Dia dos Pais. O enfoque? A cumplicidade entre pais e filhos.
Como diz o velho ditado, “não basta ser pai. Tem que participar.” E aí a repórter queria saber se essa participação vem aumentando nos últimos tempos. Se a cumplicidade hoje é maior. Se essa presença é importante, entre outras tantas perguntas.
Foi bom ouvir, nas minhas próprias respostas, a constatação de que sim, essa participação aumentou. O pai de hoje (sem excluir os de ontem, que também faziam por onde) troca fraldas, dá banho, acorda de madrugada. A boa notícia é que isso vem ocorrendo não por imposição, muito menos regra. É claro que os homens têm percebido uma necessidade de ajudar as mulheres na criação dos filhos. (Elas, de cuidadoras, passaram a exercer também o papel de provedoras. Acordam cedo e vão trabalhar fora, pegando no batente feito gente grande.) Mas o provedor oficial passou a sentir, acima de tudo, uma demanda de prover também os cuidados essenciais. E faz isso com gosto, com afeto, com a emoção de zelar por um pedaço seu. O filho precisa desse afeto. O filho pede esse afeto. Não é porque ficou nove meses na barriga da mãe e mamou no seu peito que a presença paterna será menos importante. Você, como filho(a), sabe disso:  é a parte inteira de duas metades.
Eu espero que você tenha tido um Feliz Dia dos Pais. Regado a beijos, abraços, café na cama, cartões apaixonados, família reunida, panelada de frango e cantoria. Tem quem diga que este é apenas um dia comercial. Eu prefiro dizer que é o dia oficial de dizer “eu te amo” para aquela metade essencial que presenteou você com a vida.

PS: Se o seu Dia dos Pais foi regado a saudade, ainda assim você terá prestado sua homenagem. O amor transforma distância em encontro, ausência em presença, separação em abraço.

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<![CDATA[Presente]]>https://rfeldman.web.app/presente-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe08Fri, 06 Aug 2010 09:55:00 GMT
Presente
Apesar de já ter trocado de empregada uma centena de vezes (ô carma difícil, sô), dei a sorte de encontrar dois anjos que praticamente viraram parte da família: a Selma (Selminha, “Titia”), que ficou comigo oito anos e teve que voltar pra roça; e a Celma, com C, que veio pra quebrar o galho e acabou plantando um jardim inteiro. Foi babá da Bella, virou nossa passadeira e duas vezes por semana é recebida com o maior carinho do mundo.
Ontem o Léo soltou essa com ela:
Presente

– Celma, você nunca – NUNCA – precisa me dar um presente.

– Não, Léo? Mas por quê?

– Porque você já é o meu presente…

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<![CDATA[Adole-scente]]>https://rfeldman.web.app/adole-scente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe07Thu, 05 Aug 2010 23:09:00 GMT
Adole-scente
Adole-scente

Um dia os filhos crescem. Resolvem dar seus rolés pelo mundo. Jogam fora seus relógios quando têm hora para chegar. Reinventam a roda. Confrontam os pais. Jorram hormônios. Comem demais. Comem de menos. Vazam. Ficam. Pegam. Enxergam espinhas no espelho. Perdem o rumo. Andam em bandos. Debandam. Trancam-se no quarto. Passam no vestibular. Sofrem com suas escolhas. Arrumam as malas. Nova Zelândia, Paris, Sabará. Sonhos. Beijos. Chicletes. Sexo, drogas, rock and roll. Aula de inglês, francês, espanhol. Música no talo. Indefinição. Nem criança nem adulto: adolescente. Que sente falta. Que sente raiva.  Que sente medo. Que sente prazer. Que sente angústia, cólica, dor de dente. Adole-scente.

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<![CDATA[O som que vem do amor]]>https://rfeldman.web.app/o-som-que-vem-do-amor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe06Tue, 03 Aug 2010 07:57:00 GMT
O som que vem do amor
O som que vem do amor

Antes mesmo de eu nascer, a música já fazia parte da minha vida.  As primeiras contrações da minha mãe começaram em um concerto de Chopin, tendo meus avós maternos como testemunhas dessa emoção. Foi o meu jeito de aplaudir, de pedir pra nascer.
Fui estudar piano, influenciada pela lembrança da minha querida avó Bella. Conheci o amor através das sonatas de Schumann. Chorei com “Jesus alegria dos homens”. Embalei os meus filhos com a poesia de Mozart.
Troquei o piano por esse teclado aqui.  Minha professora virou cunhada, madrinha, fada-madrinha.
Semana passada fui assisti-la em um concerto comemorativo dos 200 anos de Chopin e Schumann. Dessa vez não pedi pra nascer. Agradeci por viver, por presentear minha alma com o piano de Rosiane Lemos e o violoncelo de Kayami Satomi. Eu que amo a escuta desde sempre, me emocionei com o diálogo harmonioso, tocante desses dois instrumentos, desses dois talentos. Escutei o amor – esse amor que é falado, compartilhado, melodiosamente suplicado.
Até se casar com ela, Schumann viveu por Clara um amor proibido – declarado nas suas cartas e na composição das Cenas Infantis. Os nomes dados a estas pequenas peças traduzem um muito dessa história de amor: “Jogo da cabra-cega”, “Desejo de criança”, “Completamente feliz”, “Grande acontecimento”, “Quase demasiado sério”, “O poeta fala”.
Sim, meu caro Schumann. O poeta fala, ama, sofre, canta e encanta. A gente escuta e por vezes responde.

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<![CDATA[Fim de férias]]>https://rfeldman.web.app/fim-de-ferias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe05Wed, 28 Jul 2010 15:46:00 GMT
Fim de férias
Desarrumar as malas.
Abrir as cartas.
Arrumar a casa.
Fazer unha. Sacolão. Açougue. Supermercado.
Pilates. Hidro. Orçamento do armário.
Consertar o ferro de passar roupa.
Programar o despertador.
Buscar o edredon.
Preparar as aulas.
Botar a cabeça pra funcionar.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Fazer valer. Pôr sentido.
Abraçar a rotina.
Programar as próximas férias.
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<![CDATA[Férias]]>https://rfeldman.web.app/ferias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe04Sun, 25 Jul 2010 23:56:00 GMT
Férias
Pausa no despertador.
Bem-te-vi na janela.
Altas pra dieta.
Camarãozinho frito.
Internet fora do ar.
Mergulho no livro.
Câmera lenta na correria.
Ataque ao carrinho de picolé.
Rotina pelo avesso.
Pegar jacaré.
Castelo de areia. Água de coco.
Karaokê. Milho verde. Cafuné.
Quem não quer?
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<![CDATA[Delícia de encontro]]>https://rfeldman.web.app/delicia-de-encontro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe03Tue, 20 Jul 2010 12:03:00 GMT
Delícia de encontro
Delícia de encontro

Escrevo para você enquanto espero meu risoto de brie com damasco na Bendita Gula Gourmet. Hoje a correria não me deixou almoçar em casa.
Enquanto espero, escrevo. Enquanto escrevo, espio as pessoas olhando com curiosidade para mim. É como se os olhares dissessem: “Coitada… Sozinha…”
Não imaginam que eu estou pensando: “Delícia… Sozinha… Curtindo meu risotinho, tomando uma Coca Zero com gelo e limão….”
Confesso que deixei uma mensagem pra minha amiga Tiça me encontrar, entre uma amamentação e outra, se o Davi deixar. Adoraria meia horinha de prosa com a minha amiga de velhos e novos tempos mas, se não der, tudo bem. Nenhum “Deus nos acuda”. Nenhum  bicho de sete cabeças.
Gosto de estar comigo. Aprendi isso com a minha mãe que, apesar de adorar gente e apreciar uma boa companhia, adora ficar com ela mesma.
Uma senhora não tira o olho do meu prato. Vem em direção à minha mesa e pergunta:
– Que arroz é esse? Hum, adoro damasco!… Outro dia eu peço, não dá pra ir ao médico de  barriga cheia…
Na metade do risoto, peço uma saladinha napolitana, trocando o tomate seco por tomate normal, “molhado”, como veio ao mundo. Adoro tomate. Adoro damasco. E adoro me encontrar comigo, escutar o meu silêncio e os meus pensamentos, ficar em companhia de mim mesma. Acho saudável, necessário, bom pra relação que tenho com a Renata que mora em mim.
E você, tem marcado encontros com você?

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<![CDATA[Papo de princesa]]>https://rfeldman.web.app/papo-de-princesa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe02Sun, 18 Jul 2010 15:59:00 GMT
Papo de princesa
Papo de princesa

Ontem a Bella teve (mais um) ataque de paixão pelo pai, referendado pelos Contos de Fadas.
– Mãe, eu sou a Rapunzel, você é a “Banca” de Neve e o papai é o meu “píncipe” (!).
– SEU príncipe? E quem vai ser o MEU príncipe?
– O Léo, ué.
– Quem mais está nessa história?
– A vovó “Caia” é a “Cindelela”, a TaTati é a Bela Adormecida e a Ana “Caia” é a “buxa”!…
…………………………………………………………………………
PS: Ana  Clara é a minha afilhadinha de 4 meses, princesa que ganhou o trono e os ataques de ciúmes da Bella.

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<![CDATA[Drama]]>https://rfeldman.web.app/drama/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe01Fri, 16 Jul 2010 20:42:00 GMT
Drama
Drama

Ontem foi o último dia de aula das crianças. Na saída da escola, encontro um Léo vermelho, suado, completamente emburrado, com uma medalha “de prata” na mão. Foi logo rasgando o verbo:
– Hoje foi o pior dia da minha vida.
– O que aconteceu, Léo?!
– Meu time perdeu a Copa.
– Ué, Léo, acontece…. O Brasil também não perdeu?
– Droga, eu não sou um craque de futebol.
– Claro que é, meu filho. O Brasil é um campeão e também perdeu… Futebol é assim mesmo: um time ganha, o outro perde. O importante é competir…
********************************************
À tarde saí mais cedo do consultório e fomos, os três, comemorar o último dia de aula com um lanche gostoso, em um café-livraria. A farra não podia ser melhor: biscoitão de queijo,  chocolate quente, minipizza, suco de uva, biscoitinho de chocolate e livros, muitos livros coloridos pra gente ler nas férias. Sem falar na música, na alegria e sintonia dos dois. Quando saímos de lá o Léo me disse:
– Retiro o que disse, mãe. Hoje foi o melhor dia da minha vida.
……………………………………………………………………….

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<![CDATA["Cartas para Julieta"]]>https://rfeldman.web.app/cartas-para-julieta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afe00Fri, 16 Jul 2010 00:29:00 GMT
"Cartas para Julieta"
"Cartas para Julieta"

Acabo de voltar da Itália. Olhos brilhando pela exuberante Verona de Romeu e Julieta, uma voltinha por Siena, paisagens de cartão postal, se isso for sonho não me acorda.
Na verdade, acabo de voltar do cinema. Aguada que estava por uma tela daquele tamanho, com direito a pacotão de pipoca e uma companhia de deixar Romeu no chinelo, fui ver “Cartas para Julieta”.
Se você ainda não viu, recomendo. Não pelo filme em si, que é bastante previsível, romântico, hollywoodiano. Mas pela Itália que adentra a nossa alma, pela casa de Julieta que nos remonta ao amor trágico e pela ideia que permeia o filme: mulheres de coração partido deixam cartas para Julieta  no muro de sua casa. Cartas estas que são recolhidas diariamente por funcionárias da prefeitura de Verona, respondidas e enviadas pelo correio às respectivas destinatárias. Cartas de mulheres que amam demais, sofrem demais, buscam desesperadamente pelo amor perdido. E assim, entre dores e amores, o muro de Julieta vai se transformando em “Muro das Lamentações”.
Por um instante, me vi em Verona lendo as cartas dessas mulheres e respondendo uma a uma, juntando minha paixão por escrever com a minha paixão em ajudar as pessoas.
Nas horas vagas um bom vinho, queijos, um belo fettuccine, capuccino cremoso e, pra completar, a legítima pizza italiana.
É, até que um servicinho desse não seria nada mau.

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<![CDATA[Sopro de vida]]>https://rfeldman.web.app/sopro-de-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdffMon, 12 Jul 2010 22:44:00 GMT
Sopro de vida
Sopro de vida

A vida sopra para o norte, para o sul, para o azul.
Sopra segredos, encantos, desejos.
Sopra sonhos, perguntas, dor nas juntas.
Sopra alegria, tristeza, decisões ensaiadas.
Sopra o cheiro do café, um bocado de fé,
Sopra o perfume daquela história de amor.
Sopra o riso, a esperança, o canto e a dança.
Sopra a vida, despedida, sopra a alegria de querer bem.
Sopra barulho de mar, capacidade eterna de amar.
Um sopro, uma vela, um pedido.
Primeiro ato, último suspiro.
Escute o que a vida anda soprando para você.

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<![CDATA[Quando o bebê não vem]]>https://rfeldman.web.app/quando-o-bebe-nao-vem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdfeThu, 08 Jul 2010 11:45:00 GMT
Quando o bebê não vem
Quando o bebê não vem

Ontem tive a honra de participar do Programa Palavra Cruzada, da Rede Minas, apresentado pela talentosa jornalista Maria Amélia Ávila. Uma hora foi pouco para abordar um tema que gera enorme angústia entre os casais: infertilidade.
Deveria ser simples assim: um óvulo, um espermatozóide, um encontro de amor e o desejo profundo de ter um filho. Mas infelizmente nem sempre é assim.
Trompas obstruídas, ovários policísticos, endometriose, stress, ansiedade, alterações no espermograma. O que deveria ser simples fica complicado. O natural vira artificial.
No lugar de alegria, tristeza. No lugar de um quarto cor-de-rosa, uma vida em preto e branco.
Para quem deseja ter um filho, só esse desejo já vem carregado de emoção. E quando ele não se realiza, a infertilidade vem carregada de NÃO. Frustração. Lamentação. Piração. A gestação acontece, mas é de sofrimento, e geralmente dura muito mais do que 40 semanas.
A boa notícia é que infertilidade não necessariamente precisa significar impossibilidade. Há caminhos para seguir, sejam eles técnicos, emocionais, práticos ou racionais.
Mudar os planos? Tirar de cabeça? Partir para a inseminação artifical? Adotar uma criança? Conviver com a ideia de não ter filhos e ser feliz apesar de?
Apesar do não, o sim. Simplesmente.

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<![CDATA[Noites em claro]]>https://rfeldman.web.app/noites-em-claro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdfdTue, 29 Jun 2010 08:40:00 GMT
Noites em claro
Noites em claro

Ontem tive mais uma agradável aulinha com o meu professor Hallen, “americano da gema”, pra desenferrujar o inglês que ficou um tempo parado. Levei um texto do New York Times pra gente ler, sobre insônia, e ele me contou que coincidentemente sofre deste problema. Como mora na Avenida Afonso Pena, sua distração é ir pra varanda ver o movimento, os carros, o cair da madrugada. De tanto ficar com os olhos e ouvidos abertos, acabou fazendo uma interessante “pesquisa de campo”, e compartilhou comigo suas conclusões:
*Do lado direito da avenida, no sentido de quem desce, o ponto é dos travestis.
*Do outro lado, subindo, quem manda são as mulheres. Tudo bem dividido.
*Do lado direito se vê muito mais “mulherão” do que no lado esquerdo. Cada loira de cair o queixo.
*Do lado esquerdo volta e meia param Unos, Celtas e outros carrinhos básicos.
*Do lado direito, a parada é dos Corolas, Citroens e outros carrinhos sofisticados dirigidos por bem-vestidos homens na faixa dos 40.
* Os quarentões preferem “conjugar seus verbos” na voz passiva, deixando os travestis na ativa.
(…)
Fico imaginando o que pensam e sentem esses homens na “idade do lobo”, geralmente casados e com filhos.
Desejo? Curiosidade? Fetiche? Ambivalência? Falta? Necessidade?
Já estudei no mestrado a dor e angústia daqueles que não aceitam o sexo que têm. Mas qual seria a dor e angústia destes bem-sucedidos homens engravatados, casados, viajados e insones, que batem ponto de madrugada?
Talvez nem dor nem angústia. Prazer.

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<![CDATA["Hoje eu `torço` assim"]]>https://rfeldman.web.app/hoje-eu-torco-assim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdfcMon, 28 Jun 2010 20:13:00 GMT
"Hoje eu `torço` assim"
Ela é toda prosa, essa menina. Um pingo de gente e com uma personalidade suficientemente forte pra escolher a roupa que vai vestir. Se a mãe escolhe a blusa rosa, ela bate o pé que é a azul. Em pleno inverno cisma de pôr vestido de alcinha. Isso quando não inventa de ir ao shopping com a fantasia do Léo de Super Homem. A mãe, coitada, tem que contar até 30 e ter, além de paciência, muita psicologia.
Essa é a Bella. E hoje, em plenas oitavas de final da Copa do Mundo, o Brasil inteiro torcendo pra ganhar do Chile, a garota escolhe a dedo um vestidinho lilás. A mãe ainda insiste:
– Ô, pituquinha, por que você não põe aquela blusa verde e amarelo, do Brasil?
– Eu não posso.
– Não pode?! Por quê?!
"Hoje eu `torço` assim"

– Porque eu não sou do Brasil, mãe. Eu sou do Galo!
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<![CDATA[Letícia]]>https://rfeldman.web.app/leticia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdfbThu, 24 Jun 2010 19:11:00 GMT
Letícia
Letícia

Lê, tícia, a poesia escrita na sua meninice.
A leveza dos seus passos de dança.
Mistura de pureza e esperança.

Lê, tícia, os sonhos que sonhei pra você.
A alegria que ganhei ao ver você nascer.
A emoção de te carregar no colo e cantar
para você dormir.

Lê, tícia, a música que vem dos seus olhos.
Ainda menina já é bailarina,
princesa, fada sininho.

Lê, tícia, a história de amor
de uma madrinha encantada
com a afilhada.
Lê o meu amor, sempre.

*Este post é dedicado à minha querida  afilhada Letícia,
que hoje completa 9 anos cheios de luz.

]]><![CDATA[Doce herança]]>https://rfeldman.web.app/doce-heranca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdfaThu, 24 Jun 2010 11:34:00 GMT
Doce herança
Ontem me encontrei por acaso com a Cláudia, viúva do Gilson, primo querido do meu marido. Tão querido que eu resolvi adotar como primo também, sem pedir licença nem autorização.
O Gilson era parecidíssimo com o Sidney Magal. Forte, grandão, despachado e descolado, tinha mania de carregar a gente no colo e jogar pro alto, sempre rindo pra vida.
Pois um dia a vida aprontou uma com o Gilson. Câncer no estômago e esôfago, retirada imediata dos órgãos, prognóstico ruim de doer. O médico deu 6 meses de vida. A vida deu mais 6 anos.
E com esta prorrogação abençoada ficou pra gente um Gilson marcado pela alegria de viver, e não pela angústia de morrer.
Claro que ele deve ter sentido medo e angústia, disso eu não tenho dúvida. Mas o que ele passava pra todo mundo era uma força e uma luz que não têm explicação.
Imagine você sem poder comer nada. Imagine não poder tomar um simples copo d´água. Às vezes a secura na boca era tanta que ele pedia um pouco de gelo só pra molhar os lábios.
Ele não podia engolir. E já que não podia, fez questão também de não engolir a doença. Passou a celebrar a vida mais do que nunca. Ia nos visitar e ai de nós se a televisão estivesse ligada. Ele dizia que ver TV era desperdício; o importante era ver um ao outro, perguntar “como vai” de verdade, compartilhar bons momentos. Isso era a vida pra ele.
Doce herança

O tempo foi passando. Perdemos a conta de quantas cirurgias ele fez. Nosso querido Gilson perdeu peso, perdeu a voz mas não perdeu a alegria de viver.
Você pode não acreditar, mas o danado ainda foi pra cozinha fazer pé de moleque pra vender. (O pé-de-moleque mais gostoso que eu já comi em toda a minha vida.)
Já faz alguns anos que ele morreu. E aí eu encontro com a Cláudia na Bendita Gula, toda serelepe (herança maior de alegria que o marido deixou, além dos quatro filhos), pedindo um pedaço de torta de chocolate. É claro que o Gilson também tinha que estar presente:
– Quando eu estava grávida, fazia o ultrassom aqui perto e vinha depois com o Gilson comer essa torta de chocolate! Hoje eu fui fazer um ultrassom –dessa vez pra tirar o útero –, e resolvi vir aqui pra matar saudade!
Essa saudade a gente vai carregar a vida toda. Mas com a alegria e a leveza de saber que agora os anjos é que carregam o Gilson no colo, encantados com o pé-de-moleque que ele anda fazendo lá no céu.

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<![CDATA[Detalhes tão pequenos]]>https://rfeldman.web.app/detalhes-tao-pequenos-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf9Mon, 21 Jun 2010 22:56:00 GMT
Detalhes tão pequenos
Detalhes tão pequenos

O domingo dele:
– Acordar.
– Ler o jornal. Todinho. Começando pela página de Esportes.
– Levar o jornal pro banheiro. Terminar de ler. Sem pressa.
– Banho demorado.
– Partidinha de peteca com os amigos.
– Chopinho pra comemorar a partida.
– Feijoada com a família.
– Sonequinha depois do almoço que ninguém é de ferro.
– Futebol com o sogrão.
– Amorzinho, vem cá…

O domingo dela:
– Levantar da cama. Preparar a mamadeira.
– Fazer supermercado.
– Brincar de esconde-esconde.
– Esconder o chocolate pra devorar depois do almoço.
– Catar brinquedos.
– Lavar louça. (O esmalte vai por água abaixo mas dá pra queimar 160 calorias.)
– Banho a jato pra não perder a feijoada.
– Fazer o bebê dormir. Dormir muito antes.
– Visitinha básica pra sogra.
– Fone de ouvido pra não ouvir o futebol.
– Estudar pra prova de inglês.
– Amorzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz….

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<![CDATA[Pedido]]>https://rfeldman.web.app/pedido/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf8Fri, 18 Jun 2010 18:44:00 GMT
Pedido
Sua criança interior está pedindo riso,
pipoca, sorvete e carrossel.
Está pedindo calma, poesia, barcos de papel.
Sua criança interior está chorando
pelo pai que partiu tão cedo.
Pela mãe que não borda mais.
Pela infância que parou no tempo.
Sua criança está pedindo colo,
abraço, pastéis de vento.
Está pedindo leite, cobertor, histórias pra dormir.
Dá atenção pra criança que está aí chorando.
Ela precisa do seu amor para crescer.
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<![CDATA[Ponto final]]>https://rfeldman.web.app/ponto-final/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf7Thu, 17 Jun 2010 22:13:00 GMT
Ponto final
Naquela relação que não vai pra frente.
Na ajudante desajudante.
Na birra que passou do limite.
No chefe que só dá trabalho.
Na gula absurda.
No medo de escuro.
Ponto final

No tempo perdido.

Na sensação de vazio.
Na falta de exclamação.
No excesso de reticências.
……………………………………………….
Bota um ponto final.
Fecha a porta e vem abrir janelas.
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<![CDATA[O Léo não é sopa!]]>https://rfeldman.web.app/o-leo-nao-e-sopa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf6Wed, 16 Jun 2010 22:15:00 GMT
O Léo não é sopa!
O Léo não é sopa!

Hoje o Léo almoçou na escola.
Perguntinha básica da mãe um tanto quanto judia e comilona:
– E aí, filho, o que você almoçou hoje?
– Arroz, feijão, bife, farofa e salada.
– Hum… Que delícia!…
– Tinha sopa também. Mas só o Lucas quis.
– Sopa? Por quê?
– Porque algumas pessoas são estranhas…
……………………………………………………………….

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<![CDATA[Nostalgia de gente grande]]>https://rfeldman.web.app/nostalgia-de-gente-grande/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf5Tue, 15 Jun 2010 01:33:00 GMT
Nostalgia de gente grande
Nostalgia de gente grande

– “Mãe, abre as pernas que eu tô voltando!”
(…)
Vai me dizer que você nunca quis voltar pro útero da sua mãe?
Ficar lá quietinho, na paz, quentinho, aproveitando o banquete que passa pela placenta,
respirando que nem peixe, dormindo e virando cambalhota.
Nem, tem horas que o mundo fica muito complicado.
Conta errada da TIM, TPM a mil por hora, infiltração no banheiro da vizinha, roupas manchadas pela empregada, meninos brigando feito cão e gato, alarme disparado, picuinhas, ceninhas, São Longuinho, arrrrrrrrrrrrrrrrrrgh!
Deus que me perdoe, nada disso é problema.
Mas vai juntando água no balde, vai. Uma hora o caldo entorna, você estoura e dá uma crise de saudade filha da mãe.
Não é à toa que você chorou quando saiu de lá.

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<![CDATA[Começa cedo]]>https://rfeldman.web.app/comeca-cedo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf4Sun, 13 Jun 2010 15:39:00 GMT
Começa cedo
Começa cedo

Ontem fomos a uma festa de aniversário com um espaço super bacana para crianças. Além de tobogã, piscina de bolinhas, boliche e autorama, tinha um cantinho cheio de livros. Foi lá que “estacionei” com a Bella e me pus a folhear histórias de tubarão, golfinhos e caracóis.

Mas o melhor da festa foi quando li pra ela a história de um lobinho bom. O livro começa instigando uma breve reflexão sobre o que é ser bom e o que é ser mau.
Dando uma pequena pausa na leitura, perguntei para a pequena:
– E pra você, Bella, o que  é ser bom?
Ao que ela respondeu sem hesitar, com a melhor cara lavada do mundo:
– Chocolate!…

…………………….

]]><![CDATA[Corpos em prece]]>https://rfeldman.web.app/corpos-em-prece/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf3Tue, 08 Jun 2010 11:10:00 GMT
Corpos em prece
Nunca imaginei que isso fosse coisa pra mim. Nunca achei que fosse ter fôlego ou disposição. Mas fato é que eu comecei a correr, inspirada e incentivada pelo amor da minha vida.
Fiquei espiando ele virar maratonista, na maior torcida, virei motorista dele e do grande amigo Cepinha em pleno Rio de Janeiro, vibrei nas voltas da Pampulha e acabei contagiada por essa energia.
Corpos em prece

Ipod na orelha, motor no pé e lá vou eu, movida por uma endorfina que também corre serelepe pelas veias.

Sei que soa poético demais, mas numa dessas corridas acabei fazendo uma analogia com a prece.
Tudo tão em harmonia – coração, músculos, pulmões -, o corpo em prece oxigenando a alma. Vento no rosto, frio transformado em calor, calor transformado em suor.
No chão, asfalto. No céu um Deus enorme vendo meu corpo em prece, agradecendo por ter pernas, braços, saúde pra dar e correr.
Correr de quê? Do frio.
Correr pra quê? Pra ter saúde, arejar a cabeça, ficar mais leve, dar um fim no brigadeiro, na canjica, no pé de moleque e em todas aquelas gostosuras que o inverno nos convida a festejar.
E você, como tem se exercitado?

Bota o tênis.
Salte de pára-quedas. Respire Pilates. Escale montanhas. Mergulhe fundo.
Faça amor. Cesta. Gol.
Bota o corpo pra rezar.

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<![CDATA[Ora bolas!]]>https://rfeldman.web.app/ora-bolas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf2Wed, 02 Jun 2010 10:23:00 GMT
Ora bolas!
Ora bolas!

Na rotineira arte de ensinar os filhos a serem mais organizados, e pelejando com a bagunça diária do quarto do Léo, acabei inventando mais uma moda: as “bolinhas felizes e tristes”.
Peguei uma folha de papel e dividi em duas colunas: uma do “Smile” e outra do “Smile” invertido, bem tristinho mesmo.
Se passo pelo quarto do pimpolho e vejo alguma coisa fora do lugar – toalha molhada na cama, tênis jogado, brinquedos incrivelmente espalhados pelo chão -, desenho uma bolinha na coluna do sorriso invertido, e escrevo ao lado o motivo. Já se encontro o quarto arrumado, as gavetas fechando tranquilamente, tudo tinindo, lá vai uma bolinha na coluna do “Smile”, seguida da justificativa. A folha fica pregada na porta do armário, bem visível.
Não é que a moda pegou? De repente o Léo ficou super motivado com a organização do quarto, e até me chama pra ver a arrumação. Claro, pra ganhar bolinha feliz. E é claro também que continua ganhando bolinha triste, organização doméstica não se faz de um dia pro outro…
Empolgada com a empolgação dele, passei numa papelaria e comprei alguns presentinhos, lindamente embrulhados: bola de futebol, monstrinho que pula, Super Trunfo, argila, boné da Copa…
E aí o combinado é o seguinte: todo domingo, fazemos a contagem das bolinhas. Se ele tiver mais bolinhas felizes do que tristes, “abro a lojinha”: exponho na mesa de jantar os presentinhos que comprei, e ele escolhe o que quiser, apalpando os embrulhos pra ver qual o atrai mais. Se as bolinhas tristes forem maioria, baubau presente…
Ontem resolvemos inaugurar a lojinha. Eu já tinha passado o olho na folha e vi que tinha dado “empate técnico”. Só não contava com a astúcia do Léo. O danado foi lá na folha, desenhou mais uma bolinha na coluna do “Smile” e escreveu: TOMÔ BANHO.
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<![CDATA[A vida depois dos filhos]]>https://rfeldman.web.app/a-vida-depois-dos-filhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf1Fri, 28 May 2010 11:33:00 GMT
A vida depois dos filhos
Depois que você tem filhos, tudo muda.
A vida depois dos filhos

Os filmes da locadora viram minissérie.

O almoço esfria: suco derramado, briga com a beterraba, “quero fazer cocô” no exato momento em que você está levando à boca o rocambole de frango.

As manhãs de domingo começam cedo, por volta das seis da manhã.
As festinhas de aniversário viram programa de sábado à noite.
Você se torna um especialista em miojo.
Cria quase que dependência de babá e empregada.
Chuta o balde ou os brinquedos espalhados.
Descobre que a sua vida se divide em antes e depois deles.
E que eles são, sem nenhum exagero, a melhor coisa do mundo.

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<![CDATA[Raiva]]>https://rfeldman.web.app/raiva/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdf0Wed, 26 May 2010 22:33:00 GMT
Raiva
Grrrrrrrrrrrrrrrrrr!
Raiva aperta o dente, ferve o estômago,
bagunça a mente, corrói a alma, apimenta o dia.
Raiva de quê? De quem?
Nem!…
Pega uma almofada, vai…
Vai socando, gritando, xingando.
Chora se for preciso, solta um palavrão.
Joga longe a almofada, esperneia, faz pirraça…
Chupa bala chita, toma ducha fria, medita,
espreguiça, espirra!
(Saúde.)
Mas tira essa raiva de dentro de você, faça-me o favor.
Expurga esses demônios, manda a raiva embora, exorcisa.
(Precisa.)
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<![CDATA[Israel mora em mim]]>https://rfeldman.web.app/israel-mora-em-mim/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdefMon, 24 May 2010 16:20:00 GMT
Israel mora em mim
Israel mora em mim

Música. Dança. Calor humano. Alegria.
Este foi o domingo que vivi na Praça Estado de Israel, em comemoração aos 62 anos de independência do país.
Eu estava lá para ver os meus filhos dançando entre bolhas de sabão.
Eu estava na barraca de produtos religiosos, ajudando a vender mezuzás, preces, chaveiros de mãozinha.
Eu estava inteira, em casa, respirando o ar contagiante de um povo que é pura emoção.
Entre comidinhas gostosas, velhos amigos e a alegria de estar em família, eu experimentei uma sensação especial de pertencimento.
Saudade do vô, da vó, de toda uma ancestralidade judaica que me fez chegar até aqui.
Na minha camiseta, a palavra PAZ circulava com esperança.
Alguns metros abaixo da praça, uma mesquita fazia igualmente parte da paisagem.
Minha mãe ficou com vontade de ir lá convidar o sheik.
Shalom!

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<![CDATA[Como se escreve saudade?]]>https://rfeldman.web.app/como-se-escreve-saudade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdeeTue, 18 May 2010 23:38:00 GMT
Como se escreve saudade?
Ai que saudade de brincar com as palavras
Fazer sopa de letrinhas
Respirar a pausa sutil das reticências.
Abro parênteses para declarar a minha saudade
De escrever pra você
Pra mim
Para os nós que desatam sós
Para você que tem olhos de poeta e alma de gente.
Sente a saudade desenhando cada letra
Gritando em cada verso
Ritmando o meu universo
Em prosa e alegria.
Quando escrevo mato minha sede de falar
Pra quem quiser ouvir
A emoção que mora no mundo
O amor que reside no fundo desse seu olhar que lê.
]]><![CDATA[Profissão: mãe]]>https://rfeldman.web.app/profissao-mae/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdedSun, 09 May 2010 21:39:00 GMT
Profissão: mãe
Profissão: mãe

Outro dia estávamos tomando café da manhã fora e, depois da terceira vez que a Bella me falou que queria fazer cocô (nunca vi tanto encantamento em passear no banheiro – cocô que é bom mesmo nada…), o Dé entoou o clichê universal:
– “Ser mãe é padecer no paraíso!…”
– “Que que é padecer, mãe?” – perguntou ela.
Ah, minha filha, um dia você vai entender… Um dia você vai viver a alegria que é acordar com chorinho no meio da noite e experimentar o fascínio da amamentação. E põe pra arrotar. Troca fralda. Dá o outro peito. Embala pra dormir. Troca fralda de novo. Gotas homeopáticas para cólica. Mantas macias para aconchegar o colo.
Você não imagina o trabalho que dá, filha. Mas é um trabalho bem braçal. Deliciosamente braçal. Depois os filhos crescem e aí é que são elas. Operação tira fraldas. Operação tira bico. Dizer sim. Dizer não. Pode. Não pode. Castigo. Pirraça. Olha a educação. Seja obediente. Faça o para-casa. Escove os dentes. Hora de tomar banho. Nada de brigas. Reze antes de dormir.
Este é o trabalho educacional, filha. Este é que dá trabalho, pano pra manga, ruga e cabelo branco. Isso porque eu nem cheguei ainda na adolescência.
Calma, mãe. Um dia de cada vez. E cada segundo com a certeza de que maternidade é sinônimo de felicidade. Emoção especial. Alegria pra vida toda. Razão de ser. Sentido de vida. Preciosidade maior do mundo.

* Dedico este post à minha amiga Tiça, que ganhou o Davi de presente há 13 dias. E à minha mãe, que não tenho palavras para agradecer tudo o que ela significa na minha vida. E a todas as mães do mundo, anjos com o dom de abrir e iluminar caminhos.

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<![CDATA[Guerra]]>https://rfeldman.web.app/guerra/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdecThu, 06 May 2010 11:23:00 GMT
Guerra
Ontem tive a alegria de participar do Programa Caleidoscópio, da TV Horizonte.
Apesar de não ser uma especialista em assuntos bélicos, fui convidada a falar sobre a guerra, juntamente com dois professores da área de Relações Internacionais e um estudante brasileiro que serviu ao Exército Israelense.
Essa era a pauta: guerra. A guerra que mata, que fere, que explode, que bombardeia e separa. A guerra do Vietnã, do Iraque, do videogame que aliena o seu filho por horas a fio, fazendo-o apertar mecanicamente o mouse como se fosse o gatilho de uma metralhadora.
Haja dor. Haja caos. Haja aleijamento do senso de humanismo, juízo, prudência. Haja falta de paz e benevolência.
Falar de guerras tão históricas e distantes me fez lembrar das guerras que escuto todos os dias no consultório: guerras frias, fervorosas, silenciosas. Verdadeiros armamentos dentro de casa, desunindo casais, quebrando famílias, rasgando o que poderia ser uma convivência de paz. Violência psicológica na escola, ecoando pelos corredores e reverberando na internet através de mentiras, rótulos, preconceitos. (O novo e famoso bulling.)
As pessoas estão guerreando sem perceber. Sem se darem conta. É ataque e defesa, pó e poeira, distância e aspereza.
Do jeito que as coisas estão, fica difícil pensar na possibilidade – mesmo que a princípio utópica – da paz. Mas me recuso a perder a batalha pra guerra.
Podem me chamar de ingênua, cega, poeta, otimista.
Prefiro acreditar na força maravilhosa que a vida tem de transformação.
(…)
Paz pra você.
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<![CDATA[Todos merecem o céu]]>https://rfeldman.web.app/todos-merecem-o-ceu/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdebTue, 04 May 2010 23:37:00 GMT
Todos merecem o céu
“- Papai do céu,
 ´potege` a mamãe,
o papai,
o Léo,
a vovó,
o vovô,
a minha ´piminha`,
o Ursinho Puf
e o Lobo Mau…”
*Bella rezando antes de dormir.
]]><![CDATA[Descubra a Alice que existe em você]]>https://rfeldman.web.app/descubra-a-alice-que-existe-em-voce/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdeaSat, 01 May 2010 21:54:00 GMT
Descubra a Alice que existe em você
Descubra a Alice que existe em você

No País das Maravilhas tem Chapeleiro Louco,  gato risonho, coelho apressado, flores falantes, rainha que manda cortar as cabeças. Tem poção mágica para diminuir de tamanho, efeitos especiais, cenário merecedor de Oscar.
Mas o que Alice tem de melhor é a mensagem que deixa pra gente grande. Gente que sonha, que tem ideias malucas e imaginação de montão. Gente que precisa descobrir que é dono da própria vida. Que pode ter liberdade de escolha, poder de decisão, conhecimento de causa quando o assunto é o coração.
Vai ver o filme e depois me conta.
Vai sonhar, vai tomar as rédeas da sua vida, vai viver o que é seu.
Corra, corra. Siga o coelho e transforme-se, como a corajosa Alice, em protagonista da sua história.
Loucura é não ser você.

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<![CDATA[Contratempo]]>https://rfeldman.web.app/contratempo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde9Thu, 29 Apr 2010 22:35:00 GMT
Contratempo
O bolo queimou.
O tempo fechou.
A vela apagou.
O pepino sobrou.
O riso acabou.
O buraco aumentou.
O encanto quebrou.
Ou!
Ou você come poeira
ou sacode poeira.
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<![CDATA[Coisas da idade]]>https://rfeldman.web.app/coisas-da-idade-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde8Tue, 27 Apr 2010 15:49:00 GMT
Coisas da idade
Adoro minha aula de hidroginástica. A água, o sol, a música, a energia é contagiante.
Minhas colegas – a maioria do sexo feminino – estão aproximadamente na faixa dos 70 anos. Entre um exercício e outro, trocam receitas de bolo, lamentam a falta do marido, ajeitam suas simpáticas touquinhas de banho.
No final da aula é comum a professora dar um de seus recados:
-“Meninas, a D.Terezinha fez cateterismo, está no hospital, vamos fazer uma visitinha!”
Hoje a aula veio parar no blog. Ganhei o dia.
Estava eu pulando igual doida, fazendo à risca meus abdominais, jogando água pra todo lado, quando a D. Gertrudes, de apenas 92 anos, olhou pra mim, soltou um suspiro e falou:
-“Ah, meus 20 anos!…”
– “Ah, os meus também, D. Gertrudes!…”
…………………………………………………….
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<![CDATA[Notícias]]>https://rfeldman.web.app/noticias/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde7Fri, 23 Apr 2010 10:36:00 GMT
Notícias
Mosquito assassino.
Gripe suína.
Notícias

Chuva desaguando vidas.
Vulcão desadormecido.
Criança desaparecida.
Turbulência.
Demência.
Sofrida existência.
Fim dos tempos?
Mande notícias.
Boas notícias.

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<![CDATA[Pai e mãe]]>https://rfeldman.web.app/pai-e-mae/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde6Tue, 20 Apr 2010 10:50:00 GMTPai e mãe

Pai e mãe

– Bênção, pai.
– Bênção, mãe.
A frase soa antiquada, incomum, rara nos dias de hoje. Mas aprendi isso com a Constelação Familiar, e passo pra frente a beleza desse ensinamento.
Pode ser sempre que você quiser. Ou todos os dias, como num ritual. Ou simplesmente quando estiver triste, passando por algum problema, se sentindo só.
Feche os olhos e imagine o seu pai e a sua mãe atrás de você, te abençoando. Sinta a força  especial e única que vem daí.
Em prece ou em pensamento, visualizando abraços cheios de energia, é como se eu pedisse bênção ao meu pai e a minha mãe todos os dias. E com a veia materna que reside em mim, vou abençoando os meus filhos, acreditando na força desta bênção.
De geração em geração, o amor vai deixando raízes e florescendo na sua continuidade.
Djavan estava mesmo inspirado quando cantou “Pai e mãe, ouro de mina, coração, desejo e sina, tudo mais…”
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<![CDATA[A fada e a madrinha]]>https://rfeldman.web.app/a-fada-e-a-madrinha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde5Mon, 12 Apr 2010 19:25:00 GMT
A fada e a madrinha
A fada e a madrinha

Todo mundo tem um sonho em alguma fase da vida. Há quinze anos atrás o meu era virar madrinha. Ser destaque na carregação de colo, paparicar até dizer chega, ganhar o carinhoso apelido de dinda, caprichar nos presentes e me fazer presente de uma forma especial.
Pois o sonho virou realidade. Aconteceu a Déborah na minha vida. Branquinha, linda, fofucha, pequena “pilha duracel”, espuletinha feito ela só.
E como o tempo não pára, hoje a menininha que eu carregava no colo pra cima e pra baixo virou menina-moça, florescendo nos seus 15 anos, doçura e poesia, leveza e encanto.
Ela é fada, eu sou madrinha. De carrego, eu sei. Mas o amor que carrego comigo é maior do que qualquer título ou convenção. Coisas do coração.

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<![CDATA[História de amor]]>https://rfeldman.web.app/historia-de-amor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde4Sun, 11 Apr 2010 01:17:00 GMT
História de amor
História de amor

Eles se gostaram, se enamoraram, se casaram. Combinaram de jamais perder o encanto, jamais desafinar o canto, jamais se perderem de vista.
Criaram um ritual de comemorar o aniversário de casamento todos os anos, sem direito a esquecimento, com flores e velas acesas, prestando constante homenagem ao amor.
Este ano, escapuliram para Ouro Preto. Viraram rei e rainha no Solar do Rosário, brindando em largas taças de vinho, celebrando a data com boas lembranças e antigas histórias deles dois.
As contas, o síndico, a empregada, o chefe e tantos outros assuntos rotineiros ficaram no pó da estrada. Marido e mulher viraram namorado e namorada. Risoto pra ele, peixe pra ela; petit gateau pra ele, creme brullè pra ela, licor de jabuticaba irmamente dividido entre os dois.
Saíram de lá abraçados, descendo a rua de pedras rumo à igreja, agradecer a Deus e todos os anjos pelos oficiais dezenove anos juntos – e outros tantos espirituais, eles tinham certeza.
Igreja cheia, casamento na certa. Os dois, de barriga e coração cheios, sentaram-se no chão para ver a noiva chegar. Começou a cair uma chuva fina, sinal de bom agouro.
Entraram pra igreja sem terem sido chamados,  olhos molhados pelo céu, pela música e pela emoção de renovar os votos de um jeito tão  especial e simbólico.
Saíram abraçados na chuva, lavando a alma e levando história, deliciosamente bem-casados.

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<![CDATA[O mundo é dos espertos]]>https://rfeldman.web.app/o-mundo-e-dos-espertos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde3Fri, 09 Apr 2010 00:23:00 GMT
O mundo é dos espertos
Já vi muito irmão mais velho salvar o caçula. Mas o contrário…
Fato é que a Bella é a queridinha da escola. Inteira. Do maternal ao ensino fundamental, a baixinha é conhecida e paparicada por todos.
E aí o Léo estava no recreio, subindo num brinquedo, quando esbarrou com uma menina uns dois anos mais velha:
– Desce logo, pirralho.
Foi quando ele deu a dentro:
– Eu sou irmão da Bella, sabia?
– Ahhhhhhhhhhh…. Guti guti guti!….
Um apertão carinhoso na bochecha e lá foi ele, sorriso matreiro, descer pelo escorregador sem ser incomodado.
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<![CDATA[Dizer não]]>https://rfeldman.web.app/dizer-nao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde2Tue, 06 Apr 2010 00:00:00 GMT
Dizer não
Não.
Nana nina nuna.
Nem pensar.
Ene a ó til.
Neca de tibiribiriba.
Nem….
Zen.
Muito bem.
….
Dizer não é a difícil e necessária arte de dizer sim a você.
Você sabe dizer não?
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<![CDATA[Rima de Tia]]>https://rfeldman.web.app/rima-de-tia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde1Wed, 31 Mar 2010 18:36:00 GMT
Rima de Tia
Rima de Tia

Nasce Ana Clara.
Facho de luz
Enchendo de sol a nossa vida
Iluminando varandas, espaços, jardins.

Chega borboleteando as nuvens
Brincando de anjo em terra de homens
Dando um sentido especial a tudo que se chama amor.

Seja bem-vinda, Ana Clara.
Seja abençoado o seu colo,
Cadente o seu caminho,
Cheio de música o seu chorinho.

Seja feliz no seu viver
Pois o seu nascer, você já sabe:
é imensidão de emoção e alegria.

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<![CDATA[Família]]>https://rfeldman.web.app/familia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afde0Mon, 29 Mar 2010 09:18:00 GMT
Família
Família

Família nenhuma é perfeita. Unida, embolada, fragmentada, inteira. Com anjos ou ovelhas negras, mama italiana ou judia por natureza, pais separados ou em plenas bodas.
A verdade é que nada é mais confortante do que poder ter a família por perto, nas horas boas e nas horas ruins. Seja para dar uma boa notícia, acudir na hora do aperto, estender a mão, passar pra frente uma prece, pedir colo e proteção.
Por maiores que sejam as diferenças e os caminhos trilhados por cada um, nada como esta ligação que dá razão e sentido. Nada como o abraço contagiante, o almoço de domingo, os olhos cheios de emoção. Nada como olhar pra trás e enxergar as raízes – raízes que sustentam, fazem história, explicam um porção de coisas e geram frutos os mais lindos.
Se é verdade que a gente escolhe, muito antes de nascer, a família que vai fazer parte, encho o coração de ternura para agradecer de onde vim. E também para onde desaguou essa imensidão de amor, na força de uma continuidade que não tem fim.

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<![CDATA[Banhozinho de leve]]>https://rfeldman.web.app/banhozinho-de-leve/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afddfSun, 28 Mar 2010 15:47:00 GMT
Banhozinho de leve
Acho que o Léo anda meio fã do Cascão.
Sexta-feira teve que ir ao médico por causa de uma forte faringite. Muita tosse e dor de garganta.
Saindo de lá, fiz questão de ler a receita pra ele, em alto e bom som:
“Evitar piscina, gelados, ar-condicionado e cabelos úmidos. Tomar banhos rápidos.”
Depois que li a última frase, ele exclamou:
– Essa é a parte boa!!!
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<![CDATA[Brincando de mãe]]>https://rfeldman.web.app/brincando-de-mae/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afddeTue, 23 Mar 2010 23:18:00 GMT
Brincando de mãe
Brincando de mãe

Ontem minha irmã do meio fez aniversário. Quando vi os números 2 e 9 brilhando acesos em cima do bolo, constatei a inevitável passagem do tempo. Olhei pra trás e me vi, com todo o glamour de irmã mais velha, cuidando da minha “bonequinha viva”.
Empurrava o carrinho para fazê-la dormir, inventava canções de ninar, ajudava minha mãe no banho e na trocação de fralda, dava-lhe coragem para aprender a andar. Se ela não parava quieta, eu dizia que “o jacarezinho ia pegar”. (Não é à toa que a danada acabou virando veterinária…)
Lá pelos seus 4 anos, trocando o “r” pelo “l”, precisou ir à fonoaudióloga, e quem a levava também era eu. Enquanto a pequena treinava a fala com leite condensado, eu ficava na sala de espera, no meio de um tanto de mães, ouvindo casos de dona de casa, aguada num leite condensado…
Lembro disso com carinho, com a ressalva – e um leve puxão de orelha na minha mãe – de que talvez tenha me tornado gente grande antes da hora, responsável demais…
Mas também conheço casos que são o avesso dessa história. Pais que saem para trabalhar e deixam crianças cuidando de outras crianças. E aí, no lugar do cuidado fica o descuido, a distração, a falta de noção. Não é por mal, mas por falta de maturidade. Consequência: crianças expostas ao sol, à rua, ao fogão, ao perigo – palavras que definitivamente não combinam com a materna-idade e a paterna-idade.
A estes pais, o meu carinhoso puxão de orelha.

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<![CDATA[Fim de caso]]>https://rfeldman.web.app/fim-de-caso/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdddFri, 19 Mar 2010 19:49:00 GMT
Fim de caso
Tudo que começa um dia tem que terminar.
Angustiada, mas ao mesmo tempo decidida a encarar a verdade, Bia* pediu à sua irmã que ligasse para o fatídico número.
Raquel* ligou, explicou a situação e o que ouviu foi uma impaciente resposta:
-Olha, está havendo algum engano, eu não tenho nada com isso.
– Mas as mensagens vieram do seu celular… Com direito a encontro marcado e tudo!…
Raquel fez questão de ler as mensagens para a fulana. E aí veio a grande surpresa:
– COPEG? Você disse COPEG*? Peraí. Por acaso a sua irmã tem filho adolescente?
– Tem, sim, o Felipe*.
– Um minuto. Rafaelaaaaaaaaaa*! Por acaso você conhece algum Felipe?
– Co-conheço, mãe. Ele é da minha sala lá na escola, a gente tá meio que ficando…
Na espera mais tensa da sua vida, Bia viu sua história ganhar um final feliz. Não sabia se puxava a orelha do filho ou se enchia ele de abraços e beijos.
Acabou enchendo o celular do menino de créditos, e fez ele jurar que nunca mais mandava mensagens do celular do pai.
Qualquer semelhança com a sua novela é mera coincidência.*Nomes fictícios.
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<![CDATA[Caso de traição - parte II]]>https://rfeldman.web.app/caso-de-traicao-parte-ii/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afddcWed, 17 Mar 2010 16:12:00 GMT
Caso de traição - parte II
Caso de traição - parte II

Depois de três dias da primeira mensagem veio a segunda: “Amor, te vejo na COPEG.”
Pior: ao checar a caixa de saída do celular, Bia viu que havia mensagens enviadas para o mesmo número, e depois deletadas.
Aí foi a gota d´água. Bia colocou Marcos na parede e exigiu saber toda a verdade, aos prantos, se desmanchando em dor e decepção.
Tranquilo, ele disse que aquilo só podia ser um engano e, para provar, ia ligar para o número da mensagem na frente dela.
Bia gritou que não. Não ia dar conta dessa confrontação, não estava preparada.
Fim de linha? Segunda chance? O que você faria?
Aguarde o post do último capítulo.

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<![CDATA[Caso de traição]]>https://rfeldman.web.app/caso-de-traicao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afddbMon, 15 Mar 2010 11:55:00 GMT
Caso de traição
Parece capítulo de novela, coisa de Manoel Carlos.
Mas aconteceu de verdade com uma grande amiga e, já que ela autorizou, a história veio parar aqui no blog.
Imagine um casamento estável, mais de 20 anos, 3 filhos e uma vidinha feliz – nenhuma propaganda de margarina, é claro, mas uma vidinha feliz.
Pois é. Só que um dia a Bia* foi usar o celular do Marcos* e acabou encontrando a mensagem de uma mulher: “Amor, senti sua falta. Por que você não passou na minha sala hoje?”
Perna bamba. Sudorese. Taquicardia. Por dentro da Bia, era como se um terremoto fosse abalando tudo: sua estrutura, sua história, sua vida. O chão despencou.
Pior do que a sensação de estar sendo traída era pensar na possibilidade da perda. Perder seu marido, seu companheiro, o amor da sua vida. E aí Bia começou a sofrer calada. Chorando escondida, deixando de comer, agindo de uma forma estranha com Marcos – fugindo dele, recusando o sexo, deprimindo-se um pouco a cada dia.
E você? O que faria nesta situação? Como reagiria diante de uma traição?
Caso de traição

Aguarde cenas do “próximo capítulo”.

*Nomes fictícios.
]]><![CDATA[Flores para você]]>https://rfeldman.web.app/flores-para-voce/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afddaMon, 08 Mar 2010 09:41:00 GMT
Flores para você
Para lembrar do amor, da delicadeza,
do perfume, de tudo que é singelo.
Para você que dá colo e pede colo.
Que é mulher e também menina.
Flores para você

Que sonha e realiza.

Que cai e levanta.
Que veste máscara e capa de mulher maravilha.
Que acha que tem que dar conta de tudo.
Que se desdobra, sofre, chora.
Que se embeleza e põe as cartas na mesa.

Que suspira com noites de amor.

Que faz bonito na reunião.

Que não tem medo de mostrar seu talento ao mundo.
Que se desmancha por uma taça de vinho.
Que sabe que nem tudo são flores.
Que reconhece a emoção de ser mulher.

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<![CDATA[Culpa]]>https://rfeldman.web.app/culpa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd9Fri, 26 Feb 2010 10:49:00 GMT
Culpa
C, U, L, P, A: culpa.
Por comer demais, por amar de menos, por não ter tempo, por ser só lamento.
Quem carrega culpa no peito sabe a angústia que tem.
Ô palavrinha pesada, sofrida, danada.
Culpa

Quanto mais culpa, mais tortura.
O culpado leva o mundo nas costas, se veste de super homem e acha que tem que dar conta de tudo.

(Tem?)

Comece a rever o peso que essa palavra grandiosamente pequena tem na sua vida.

Experimente trocar culpa por responsabilidade.
Pense um pouquinho, aí com os seus botões, se a culpa não é na verdade uma certa pretensão de perfeição.

Até rima, mas a gente sabe que perfeição é um negócio que não existe.
Perfeito?

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<![CDATA["Léo da Vinci"]]>https://rfeldman.web.app/leo-da-vinci/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd8Sun, 21 Feb 2010 22:02:00 GMT
"Léo da Vinci"
Estava eu folheando uma revista, o Léo ao meu lado, quando apareceu uma foto da Mona Lisa.
Empolgado, o pequeno gritou, apontando para a famosa obra de arte:
– Olha, mãe!!!
– Quem é essa, filho?
– A Limousine!
É. Ele é mesmo aficcionado por carros. Tal qual o tio.
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<![CDATA[De colo em colo]]>https://rfeldman.web.app/de-colo-em-colo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd7Sat, 20 Feb 2010 22:48:00 GMT
De colo em colo
De colo em colo

Quando era criança, minha mãe gostava de me levar a peças de teatro, e acabei repassando este hábito delicioso para os meus filhos.
Há uns quatro anos assisti com o Léo a peça “Jojô e Palito em: Chapeuzinho Vermelho”, e hoje repeti a dose com a Bella, que foi entusiasmada pelo caminho cantando “Pela estrada afora, eu vou…”.
Gostosa a sensação de assentar na primeira fila com a pituquinha no colo, dividindo com ela a pipoca, o pirulito e o brilho nos olhos.
Interessante ver uma Chapeuzinho mais bonita, um lobo mau já com alguns furos no macacão, a vovozinha cheia de energia e as mesmas músicas que escuto até hoje no CD que adquiri na época.
Impossível não constatar a passagem do tempo, a maternidade estendida, o reviver de uma fase que o Léo já não vive mais: seus olhos agora brilham pelo Galo, pelo lego, Star Wars…
Olho pra trás e me vejo, menina, no colo da minha mãe, fascinada pelos personagens à minha frente.  Hoje é o meu colo que acolhe o tempo, a memória, a alegria de viver e reviver a fantasia que um dia encheu de sentido a minha infância.

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<![CDATA[Partir pra ação]]>https://rfeldman.web.app/partir-pra-acao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd6Thu, 18 Feb 2010 13:20:00 GMT
Partir pra ação
Partir pra ação

Sim, às vezes é preciso transformar insatisfação em ação.
É preciso encher o peito de coragem, agir com determinação e seguir em frente.
Começar a dieta. Terminar o namoro. Entrar na ginástica. Procurar um noco emprego.
Pedir demissão. Pedir colo. Voltar pro ballet. Enfiar a cara nos livros. Arregaçar as mangas.
Começar de novo.
E você, o que quer da sua vida?

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<![CDATA[Por água abaixo]]>https://rfeldman.web.app/por-agua-abaixo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd5Mon, 15 Feb 2010 22:37:00 GMT
Por água abaixo
Por água abaixo

Controle é uma palavra que cabe bem no meu dicionário. Controlo meus horários, minha agenda, minhas contas, meus e-mails. Faço semanalmente a lista do supermercado, checo a geladeira, bato ponto, registro  notas e reservo o datashow. A condução da empregada, o termômetro, a retirada das fraldas, o ponteiro da gasolina. Arrumar gavetas, doar roupas que não servem mais, guardar recibos, organizar a papelada.
Pois hoje eu brinquei de perder o controle. Desci dez vezes do toboágua, cada vez de um jeito: aos urros, sentada, com os braços pra cima, deitada, com a Bella no colo, agarrada no Léo, morrendo de rir, fazendo careta, fazendo pose, virando criança outra vez.
Eu que não sou muito dada a aventuras – não tenho a menor paixão por correr riscos e a última vez que andei de montanha-russa achei que meus neurônios fossem virar paçoca – amei descer de tuboágua no Praia Clube de Disneylândia, quer dizer, Uberlândia, misto de adrenalina e alegria correndo nas veias.
Mandei o controle por água abaixo. Literalmente.

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<![CDATA[Carnaval sem igual]]>https://rfeldman.web.app/carnaval-sem-igual/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd4Sun, 14 Feb 2010 21:39:00 GMT
Carnaval sem igual
Não sei como está sendo o seu Carnaval. Na praia, no sítio, em BH ou no Rio. Inventando fantasias, tirando as máscaras, pulando igual pipoca, refugiando-se na fuga da multidão. Samba no pé ou Carnaval zen?
O meu feriado não poderia estar sendo mais especial.
Alegria de travessia: 546 km de chão até Uberlândia, visitar minha cunhada, cumadre, fada madrinha, e uma sobrinha por quem tenho enorme carinho.
Folia na cozinha: lasanha, pudim de “leite-moça”, biscoitinho de queijo, rosca caseira, salada de frutas, arroz doce, conversas que alimentam a alma, panelas cheias de afeto.
Desfile de fantasia: a Bella de princesa, o Léo de piloto de avião comandando o espetáculo, a Lu a própria sereia.
Carnaval sem igual

Grito de adrenalina nos toboáguas do Praia Clube, um show à parte.
Alegorias de “lego” por todos os cantos.
“Piano-enredo”: de Mozart a chapeuzinho vermelho inundando a casa de alegria, “Tia Ôsi” cantando e encantando minhas crianças.
Este é o Carnaval de Uberlândia. Mas pode chamar de Disneylandia.

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<![CDATA[Filhos da separação]]>https://rfeldman.web.app/filhos-da-separacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd3Fri, 12 Feb 2010 10:49:00 GMT
Filhos da separação
Filhos da separação

Os publicitários andam inspirados na temática da separação.
No propaganda da margarina Qualy,  uma avó conta para o neto, sem fazer o menor rodeio, que a mãe está namorando. Expressão de surpresa e indignação no rosto do menino.
Já no comercial da Vivo (http://www.youtube.com/watch?v=DVZFvMqEWOE), um pai separado se torna presente na vida da filha de uma maneira muito especial. Compartilha sua rotina, seu ballet, e a protege dos “monstros” escondidos debaixo da cama.
Filha de pais separados que sou, confirmo a importância do afeto, da presença, da ligação e dos laços de vida que presenteiam uma relação tão permeada de significado.
Vi no pai da bailarina o pai da menina que fui um dia.

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<![CDATA[TROCA-SE]]>https://rfeldman.web.app/troca-se/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd2Tue, 09 Feb 2010 22:07:00 GMT
TROCA-SE
A vida é feita de trocas.
A gente troca energia, experiência, ideias, palavras, beijos, abraços.
E às vezes troca de problema também.
Um namorado ciumento por um desligado demais. Uma empregada preguiçosa por outra espaçosa. Um trabalho estafante por um emprego maçante. Uma mulher sem sal por uma temperamental.
Well, nothing is perfect. E se você pensar bem, tudo recai nas suas escolhas. Na sua forma romântica ou objetiva de viver a vida. Na urgência de ser feliz, de ter o melhor ou de não ter o menor trabalho.
Ser ou não ser? Eis a questão.
TROCA-SE

O que você anda trocando na sua vida?

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<![CDATA[Sofrer por antecipação]]>https://rfeldman.web.app/sofrer-por-antecipacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd1Mon, 08 Feb 2010 08:53:00 GMT
Sofrer por antecipação
Sofrer é um verbo doído, arranhado, inerente à condição humana.
Mas como se não bastasse sofrer pelo fato em si – falta, doença, luto, decepção, qualquer que seja o motivo -, tem gente que sofre por antecipação. Como se o sofrimento tivesse hora marcada, bomba-relógio no coração.
Sofrer por antecipação

E às vezes nem se trata de um problema, mas algo bom de se viver: o grande dia do casamento, o parto do  primeiro filho, um primeiro encontro, uma aula inaugural, a defesa de tese…
Uma coisa é ansiedade produtiva, que move a gente e nos faz buscar fazer sempre o melhor. Outra coisa é ficar se martirizando, roendo as unhas, morrendo de dor de barriga por algo que ainda nem aconteceu.
Cuidado pra não aumentar o tamanho das coisas. Para não pesar o que pode ser leve. Para não transformar em barulho o que poderia ser música.
Confie em você.

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<![CDATA["Você tem fome de quê?"]]>https://rfeldman.web.app/voce-tem-fome-de-que/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdd0Tue, 02 Feb 2010 22:24:00 GMT
"Você tem fome de quê?"
Arroz.
Feijão.
Beijo.
Abraço.
Trabalho.
Afeto.
Filho.
Sexo.
Goiabada.
Queijo.
Família.
Grana.
Cultura.
Gana.
Pizza.
Poesia.
Vagem.
Viagem.
Cama.
Manha.
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]]><![CDATA[Autenticidade]]>https://rfeldman.web.app/autenticidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdcfSat, 30 Jan 2010 16:13:00 GMT
Autenticidade
Nada como a sensação de estar inteiro(a). Fazer o que gosta, se sentir bem, aproveitar o tempo. Seja do jeito que for, o importante é fazer sentido.
Você pode ser do signo de touro ou aquário. Seguir a multidão ou experimentar um pouco de solidão. Curtir rock ou música clássica. Bombar até de madrugada ou pular no sofá com o seu pijama preferido. Devorar um romance de 500 páginas. Fazer aquele romance dar certo. Brincar de esconde-esconde mesmo aos 40 anos. Viajar sem rumo nem prumo. Visitar um asilo. Fazer um curso de dança. Chamar o velho pra conversar. Dizer sim. Dizer não. Roubar um beijo. Mudar de emprego. Pintar o cabelo. Virar piloto de avião.
Qualquer que seja a sua, que seja você.
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<![CDATA[Cultive]]>https://rfeldman.web.app/cultive/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdceFri, 29 Jan 2010 10:33:00 GMT
Cultive
Cultive

Continue dizendo ao seu filho que ele é burro. Que não presta pra nada. Que faz tudo errado.
Esqueça-se das brincadeiras, de rolar no chão, do abraço carinhoso e do beijo de boa noite.
Reforce sua falta de tempo com a falta de afeto.
É assim que se abrem fendas na alma, feridas enormes que doem e adoecem.
É assim que a auto-estima despenca, minúscula e impotente, marcada por um vazio abissal.
No entanto, se você escolher o jardim ao invés do deserto, não se esqueça de abençoar o seu filho todos os dias. Diga quantas vezes for preciso que ele é a razão da sua vida, luz do seu viver, menino querido, menina linda, poço de inteligência, seu céu, seu chão, seu mar, seu tudo de bom.
Isso sim é se preocupar com o futuro dos filhos.

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<![CDATA[Receita Especial]]>https://rfeldman.web.app/receita-especial/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdcdWed, 27 Jan 2010 18:58:00 GMT
Receita Especial
Receita Especial

Tem filme que a gente devia assistir ajoelhado.
Julie&Julia tem este sabor especial: é passado na França, baseado em uma história real e mostra o tempo todo delícias culinárias que eu jamais ousei fazer na vida.
Mas o filme vai além das panelas, ovos nevados, lagostas, risotos, tortas de chocolate, patos desossados. Julie&Julia é um convite para você pensar na sua vida. No que faz do momento em que acorda até a hora em que vai dormir. Na maneira como preenche o seu tempo ou simplesmente ocupa o tempo.  Na forma emocionante, monótona ou realizadora como vive a sua rotina.
Se você ainda não se encontrou, vai se encontrar um pouco na doce Julie e descobrir o quanto a vida pode ser transformada. Da deliciosa química da manteiga com o salmão, até a indescritível alegria de se realizar na profissão.
“Bon appetit!”

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<![CDATA[Desafina-idades]]>https://rfeldman.web.app/desafina-idades/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdccSat, 23 Jan 2010 21:23:00 GMT
Desafina-idades
Desafina-idades

Sei que irmãos brigam, sentem ciúmes, fazem as pazes. Faz parte.
Mas mesmo sabendo disso, a mãe coruja aqui sempre torceu para que seus filhotes fossem amigos, amorosos, companheiros.
Valeu a torcida. Apesar da diferença de idade, dá gosto ver e sentir o amor dos dois. O que não impede, é claro, alguns desencontros pelo caminho, especialmente no quesito gosto musical.
Arrumando a gaveta de CDs e DVDs, comentei:
– Nossa, isso aqui está muito cheio, acho bom separarmos o que vocês não escutam muito e fazer uma doação…
E aí veio a sugestão do Léo:
– Que tal dar a coleção inteirinha da Xuxa?
………………………….

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<![CDATA[Cada um com o seu problema]]>https://rfeldman.web.app/cada-um-com-o-seu-problema/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdcbWed, 20 Jan 2010 22:00:00 GMT
Cada um com o seu problema
Cada um com o seu problema

Passo um terço do meu dia escutando dores, amores, angústias e alegrias (sim, essa bendita invenção, graças a Deus, também faz parte da vida).
Falta de dinheiro, sobra de tristeza, muitos casos, namorados raros, casamento com problemas, o problema de não ter casado, traição, dificuldade de dizer não, viva o vestibular, agrúrias da profissão, estar grávida, abortar os planos, crise da adolescência, crise da “adultescência”, crise de existir, simplesmente.
Quem disser que não tem problema que tire os óculos cor de rosa.
Os problemas estão aí, é fato. Grandes, pequenos, singularmente universais. Mas depois que você tira os óculos, resta o seu olhar. Triste, esperançoso, embaçado ou feliz, é ele que te faz enxergar. É ele que se transforma em lanterna na noite escura do seu caminhar.

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<![CDATA[Fases]]>https://rfeldman.web.app/fases/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdcaMon, 18 Jan 2010 22:34:00 GMT
Fases
Fases

Infância, adolescência, vida adulta, terceira idade. O que parecem fases distintas configuram tênues fronteiras marcadas pela emoção.
Você pode até fechar um ciclo e abrir outro, mas sempre leva com você um pouco (ou muito) daquilo que ficou. Suas carências. Seus medos. Sonhos. Vontades.
Experimente olhar para trás e enxergar o menino gordinho. A menina que nunca era chamada pra jogar bola. O menino que perdeu o pai cedo. A menina assombrada por seus pesadelos. O adolescente tímido.  A adolescente rebelde. O engravatado sem tempo pra brincar com os filhos. A executiva durona. O vovô com olhar de criança. A senhora que perdeu a memória para não se lembrar do fim.
As fases se distinguem na fisiologia e na carteira de identidade. Mas no fundo, uma fase carrega a outra no colo. As questões existenciais são cumulativas, permeadas de volta e resgate.
Qualquer que seja a sua idade, há muito de você dentro de você.

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<![CDATA[Cotidiano]]>https://rfeldman.web.app/cotidiano/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc9Thu, 14 Jan 2010 18:53:00 GMT
Cotidiano
Cotidiano

– Manhê!… Você acha que eu faço um navio ou um ônibus de lego?
– Mãe, quelo cocolate!…
– Manhê, a Bella desmontou o meu lego!!!
– Mãe, passa batom?
– Manhê, quero a pirâmide do Playmobil de aniversário…
– Mãe, fiz cocô!… Cocossão!
– Ah, não, mãe, eu não quero tomar banho agora! Eu odeio tomar banho!
– Mãe, quelo bu! Buuuuuuuuuuuuuu!
– Manhê, agora você acha que eu desmonto o navio e faço um avião?

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<![CDATA[Os esquilos também amam]]>https://rfeldman.web.app/os-esquilos-tambem-amam/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc8Tue, 12 Jan 2010 22:03:00 GMT
Os esquilos também amam
Os esquilos também amam

Sabe aquela criança que vive dentro de você? Vai adorar ir ao cinema assistir “Alvin e os Esquilos 2”. O filme é uma graça, cheio de tiradas interessantes, gostoso de ver e ouvir, quebra deliciosa de rotina. Não sei quem ria mais, se eu ou o Léo. A Bella, empolgada feio ela só, saiu da cadeira e começou a dançar. Vai lá e depois me conta. Dá vontade de levar um daqueles esquilinhos pra casa.

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<![CDATA[Alternativa C (de Complexo de Édipo)]]>https://rfeldman.web.app/alternativa-c-de-complexo-de-edipo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc7Tue, 12 Jan 2010 21:51:00 GMT
Alternativa C (de Complexo de Édipo)
Alternativa C (de Complexo de Édipo)

No período em que estive de férias, fiquei sem marido uma semana. O Dé precisou voltar para trabalhar (“afinal, alguém tem que fazer isso lá em casa”) e eu fiquei aproveitando a praia com os meninos.
No dia dele chegar, ficamos ansiosamente aguardando do lado de fora da casa, ensaiando canções de boas-vindas.
Como já estava na hora de a Bella jantar, perguntei:
– Está com fome, filha?
– Tô!
(Perguntinha ingênua:)
– O que você vai querer,  pizza ou miojo?
– Papai!

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<![CDATA[A pausa da pausa]]>https://rfeldman.web.app/a-pausa-da-pausa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc6Mon, 11 Jan 2010 18:40:00 GMT
A pausa da pausa
Amo o meu trabalho, amo trabalhar e amo tirar férias. Nada como colocar o pezinho na areia, olhar pro mar e não pensar em nada. Ou pensar em tudo – na vida, no repouso merecido, no peroá com farofa ou camarãozinho frito (isso é que é dilema), nos meninos que estão crescendo (e às vezes dá vontade de congelar),  na mistura de sal com água que lava a alma, na cocada puxenta, no próximo post,  no picolé da Kibon que é tudo de bom desde sempre, na família que é pura ligação, no amor que dá sentido à vida.
Nada como o sol, o mar, sombra e água fresca pra fazer a gente voltar ainda mais apaixonado pelo trabalho. Mãos à obra.
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<![CDATA[Nem tudo está perdido]]>https://rfeldman.web.app/nem-tudo-esta-perdido/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc5Wed, 06 Jan 2010 19:40:00 GMT
Nem tudo está perdido
Em tempos de “pegação”, “vínculo-não”, beijos e abraços banalizados, tive uma grata surpresa com o meu querido sobrinho Lucas, de 16 anos.
Clima de praia, sorvetinho no final da tarde, a família inteira resolveu pegar no pé do menino  por causa de uma garota que estava de olho nele.
“- Vai, Lucas, aproveita, só uns beijinhos, dá uma chance pra ela…”
Prensado contra a parede, mas demonstrando uma personalidade especialmente sua, ele sorriu timidamente e falou:
“Não dá, tem que rolar um sentimento…”
Sentimento, taí uma palavrinha que muda tudo. E que, acabo de ter a prova, não está em extinção.
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<![CDATA[Fim de um começo]]>https://rfeldman.web.app/fim-de-um-comeco/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc4Sun, 03 Jan 2010 23:20:00 GMT
Fim de um começo
Em absoluto contraste com os fogos, as taças brindando, a alegria  e a música contagiante, 2010 começa pedindo – implorando – um minuto de silêncio.
Silêncio para chorar a dor de quem se foi e de quem ficou, testemunha de uma tragédia sem tamanho.
Desmoronamento de sonhos. Alegria soterrada. Avalanche de sentimentos. Chuva sem trégua, taças quebradas, tristeza cobrindo tudo, música desafinada. Gente que nasceu de novo. Gente que morreu sem ver.
Ilha Grande ficou pequena para conter tanta dor. Corpos sem flor. Vidas sem vestígios. Deslizamento de terra abrindo um buraco enorme na alma.
Um minuto de silêncio é pouco. Grande é o sentimento de pesar, grito surdo que vira nó na garganta, constatação do quanto somos pequenos nessa vida que é contraste da morte.
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<![CDATA[Tá no sangue]]>https://rfeldman.web.app/ta-no-sangue/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc3Sun, 03 Jan 2010 19:08:00 GMT
Tá no sangue
Tá no sangue

A genética é mesmo uma coisa incrível.

Meu avô materno foi um grande médico pneumologista, antitabagista ferrenho e fervoroso. Era do tipo que andava com guarda-chuva mesmo nos dias de sol, para abri-lo caso algum fumante aparecesse na sua frente: uma forma explícita de se proteger da intragável fumaça e demonstrar sua indignação contra o cigarro.
Pois  hoje o Léo ficou horas observando um homem fazendo uma  linda escultura de sereia na praia. Tão linda que não precisava do detalhe final: um cigarro colocado pelo autor da obra-prima na boca da sereia.
Sem titubear, o bisneto do Prof. José Feldman fez sua pequena grande intervenção:
– “Ô, moço, tira esse cigarro da boca dela…”
Pedido que foi imediatamente atendido pelo artista.
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<![CDATA[Reze antes de dormir]]>https://rfeldman.web.app/reze-antes-de-dormir/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc2Thu, 31 Dec 2009 00:40:00 GMT
Reze antes de dormir
Reze antes de dormir

Minha Bella aprendeu a rezar. Toda noite fecha os olhos, junta as mãozinhas e começa sua conversa com Deus:
– Papai do céu, protege a mamãe, o papai, o Léo, a Bella, a vovó, o vovô…
E por aí vai abraçando pelo pensamento seus afetos, percorrendo a família inteira (inclusive os três cachorros da Tia Tati), para depois dormir com os anjos.
Ontem seguiu o mesmo ritual, com a diferença de repetir o seu nome ao final.
O pai foi logo dizendo:
– Você já rezou pra você, Bella…
Ao que ela rapidamente retrucou:
– Foi pra minha boneca, papai!…

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<![CDATA[Contagem regressiva]]>https://rfeldman.web.app/contagem-regressiva/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc1Mon, 28 Dec 2009 20:58:00 GMT
Contagem regressiva
Contagem regressiva

Sabe o que eu mais gosto neste final de ano? A ideia de um novo ano. Página em branco, prontinha para ser escrita, cheirando a coisas boas. As palavras não são novas, eu sei. Esperança de recomeçar de um jeito diferente.  Alegria de desfrutar cada momento. Paz pra amaciar ainda mais o travesseiro. Saúde pra dar e vender. Amor, amor, amor, conjunto de todas as virtudes, pequena palavra de um enorme sentido na vida da gente.
Pode ser que você pule 12 ondas. Saboreie 12 uvas. Vista branco, azul ou prata. Passe pulando. Passe beijando. Passe dormindo ou acordado. Pode ser que faça 3 pedidos. Ou 5, 7, mil. Pode ser que apenas agradeça pelo ano que passou. Pode ser que peça um namorado. Quem sabe uma viagem ao redor do mundo. Seu nome na lista de aprovados da Federal. Um trabalho que te realize. Amigos de verdade. “Um marido pra chamar de seu”. Um tanto de sonhos pra sonhar.
Pois do jeito que for, onde você estiver, viva um Feliz Ano Novo. Escrito com a letra mais bonita, inspirado em tudo o que é importante para a sua vida.
Acreditar, sonhar, merecer, estes são os verbos-chave.
Eu fico daqui, fazendo figa e contando as horas, torcendo por você.

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<![CDATA[Feliz Natal]]>https://rfeldman.web.app/feliz-natal/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdc0Tue, 22 Dec 2009 19:12:00 GMT
Feliz Natal
Paz, amor, alegria, esperança.
Feliz Natal

Se você quiser, estas podem ser apenas palavras gastas, batidas, levadas ao vento.

Podem ser apenas potes cheios de bolas coloridas como os da minha estante do consultório.
Podem ser estampas de camiseta. Letras de música. Propaganda de Natal. Palavras faladas da boca pra fora. Pro forma.
Mas se você quiser, estas palavras podem ganhar vida dentro de você.
Podem ser ditas em alto e bom som, traduzindo tudo aquilo que você quer, busca, sonha e acredita.

Experimente desejar paz, amor, alegria e esperança acreditando de verdade no que você está dizendo.

Vá além da fonética, do ritmo e da sonoridade de cada léxico. Vá fundo no significado.
Muito mais que dizer, você vai sentir. Muito mais que pedir, você vai receber.
Feliz Natal e um 2010 cheio de paz, amor, alegria e esperança  para você.
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<![CDATA[Virei vó]]>https://rfeldman.web.app/virei-vo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdbfMon, 21 Dec 2009 18:22:00 GMT

Depois de uma semana com a avó na Patagônia, volta pra casa um Léo cheio de vida, alegria, pinguins e leões marinhos espreguiçando na memória.
Casa em festa. Motos e helicópteros de lego no meio do caminho outra vez. Sensação boa de completude, plenitude, tudo no seu lugar. A não ser por um pequeno detalhe: cada vez que ele ia me perguntar ou contar alguma coisa, o que saía era “vovó”, ao invés do bom e velho “manhê”.

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<![CDATA[À mestra com carinho]]>https://rfeldman.web.app/a-mestra-com-carinho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdbeThu, 17 Dec 2009 22:45:00 GMT
À mestra com carinho
Hoje fiquei com a alma cheia. Saí do consultório, passei na floricultura e fui torcer pela minha grande amiga e colega Maria Inês (a psicóloga que se mudou para Porto Velho, levando pedacinhos de mim com ela) na sua defesa de tese do mestrado da UFMG. Seu tema – luto – emocionou a banca e a platéia, tocada por constatar na morte fonte inexorável de vida.
Encantadora também a fala do Professor e Psicanalista Eduardo Gontijo (grato reencontro com este antigo amigo de minha mãe, que me conheceu quando eu tinha 5 anos e disse, pra minha alegria, se lembrar de mim): “o sofrimento de perder alguém é o sofrimento de perder a si mesmo”.
Não foi uma banca de mestrado. Foi uma aula, um banho de cultura, uma ode de amor à profissão.
Parabéns, Maria Inês, mestra querida, professora desde sempre.
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<![CDATA[Álibi perfeito]]>https://rfeldman.web.app/alibi-perfeito/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdbdTue, 15 Dec 2009 16:13:00 GMT
Álibi perfeito
Álibi perfeito

Podem me chamar de manteiga derretida, mãe judia, o que for. Fato é que o Léo está curtindo as férias com a vovó Clara em plena Patagônia, alternando a farra entre baleias e pinguins, e quando tocou uma música bonita no carro me deu um ataque de saudade dele. No espelho retrovisor, vi uns olhos meio molhados, embargados de emoção.
Fato é também que ele é lembrado toda hora aqui em casa, especialmente pela irmã, que de quinze em quinze minutos pergunta:
– Cadê o Léo?
Mas hoje foi demais. A baixinha resolveu colorir a parede lá de casa, e quando eu perguntei:
– Quem foi que fez isso?
– Foi o Léo!…
Pode?!

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<![CDATA[Pequeno aprendiz]]>https://rfeldman.web.app/pequeno-aprendiz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdbcMon, 14 Dec 2009 09:20:00 GMT
Pequeno aprendiz
Um dia desses o Léo chamou um coleguinha para passar o final de semana aqui em casa. Além de adorável, super bem educado, o menino é tipo geniozinho: começou a ler com 3 anos, fala obrigado em árabe, lê legenda de TV a cabo e por aí vai.
Quando passo pelo quarto, os dois estão lá brincando de lego num diálogo imperdível.
Pego já o meio da conversa, quando o colega fala alguma palavra que Léo não conhece e este logo pergunta:
– O que que é isso?
– Léo, seu vocabulário é muito ruim…
– O que que é vocabulário?
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Pequeno aprendiz

Pequeno aprendiz

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<![CDATA[Erosão]]>https://rfeldman.web.app/erosao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdbbTue, 08 Dec 2009 20:57:00 GMT
Erosão
Você pode não acreditar,
mas da erosão pode nascer flor.
Da dor pode nascer amor.
Do questionamento, resposta.
Da prece, conforto.
Do desencontro, sentido.
Do medo, coragem.
Do ombro, generosidade.
Da escuta, palavra.
Do fim, recomeço.
Do abismo, ponte.
Do encontro, abraço.
Da pedra, poesia.
Você pode acreditar.
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<![CDATA[Como se o sol estivesse brilhando]]>https://rfeldman.web.app/como-se-o-sol-estivesse-brilhando/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdbaSun, 06 Dec 2009 19:01:00 GMT
Como se o sol estivesse brilhando
Como se o sol estivesse brilhando

“Muita chuva. Muita dor. E muita alegria por completar.”
Este foi um trecho da mensagem que o Dé me mandou hoje no final da manhã, depois de completar os 18 km da Volta Internacional da Lagoa da Pampulha.
Tentei me colocar no lugar dele, e não consegui. Ou melhor, consegui: mas senti frio, sede, fome, dor,  cansaço, orgulho, amor e uma admiração ainda maior por ele.
Disciplina, perseverança e determinação são qualidades que aprecio, mas correr 18 km na chuva, no frio, levantando da cama às 6 numa manhã de domingo, ah, isso é pra poucos.
Não quero dizer que você tenha que virar maratonista e correr debaixo de chuva, provando para os seus músculos que você pode ir cada vez mais longe. Mas você pode criar metas, acelerar sonhos e descobrir a alegria, a endorfina indescritível da realização.
Já parou para pensar no que move você? No que te faz sair do lugar?
Aonde você quer chegar?

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<![CDATA[Traição]]>https://rfeldman.web.app/traicao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb9Tue, 01 Dec 2009 21:41:00 GMT
Traição
De todas as dores amorosas que escuto, uma chama atenção por sua forma pontiaguda e dilacerante: a dor de ser trocado(a), preterido, rejeitado(a), traído(a).
Onde se via amor, leia-se dor. Ferida na alma. Peito rasgado. Cabeça entupida de pensamentos moídos. Pura tortura.
O chão desaba. A casa cai. A vida fica sem sentido.
Pele, química, beijo, declarações de amor, juras de fidelidade: de repente tudo isso passa a não ser mais uma exclusividade de quem detinha (tinha?) o amor.
Como dividir? Como reagir? O que pensar? O que dizer? Como viver depois que a alma foi atropelada e estirada no chão?
Vivendo. Sobrevivendo. Juntando os cacos, hospitalizando a alma, cuidando do sofrimento para ele não virar eterno tormento. Descobrindo o seu auto-amor, buscando novos caminhos, abrindo janelas para o ar entrar.
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<![CDATA[A senhora do sorriso invertido ataca novamente.]]>https://rfeldman.web.app/a-senhora-do-sorriso-invertido-ataca-novamente/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb8Thu, 26 Nov 2009 10:37:00 GMT
A senhora do sorriso invertido ataca novamente.
Dessa vez a senhora do sorriso invertido implicou com uma criança de 6 anos que esbarrou  sem querer no seu “espaguete”, na hora da hidroginástica.
Por acaso essa criança era meu filho. Depois de chamar a atenção dele, ela olhou pra mim e me fuzilou com os olhos, esperando pela minha reação. Devolvi-lhe um olhar 49, rugi por dentro como boa mãe leoa, contei até 5 e resolvi dar uma de doida. Espia só:
Senhora do sorriso invertido (brava): Ô, menino!
Troca de fuzilamento de olhares.
Eu (um poço de educação e ironia): Ei, a senhora tá boa?
Senhora do sorriso invertido (desconcertada): Ah… Tô…
Senhora do sorriso invertido (brava, sem perder o rebolado e a rabugice): Criança, viu?!
Eu: Criança é tão bom, né? Uma troca gostosa de energia!…
Senhora do sorriso invertido: Meu neto não faz isso não!
Eu:  Ah, a senhora tem neto?! Quantos anos ele tem?
Senhora do sorriso invertido: Treze.
Eu: Ah, mas então não é mais criança, já é adolescente… Ou seria aborrescente? A senhora deve ser doida  com ele, né? (…)
Moral da história: se puder, não entre na onda do outro, no nervosismo do outro, na rabugice do outro, no mal-humor e azedume do outro, mesmo que você tenha que se passar por doido.
Se puder manter a sua sintonia, a sua endorfina, o seu sorriso e a sua alegria, melhor.
Alguns vão dizer que tenho sangue de barata. Mas acho melhor que ter o sangue talhado.
]]><![CDATA["Como é grande o meu amor por você"]]>https://rfeldman.web.app/como-e-grande-o-meu-amor-por-voce/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb7Mon, 23 Nov 2009 17:24:00 GMT
"Como é grande o meu amor por você"
"Como é grande o meu amor por você"

Saí hoje da piscina com os olhos marejados de emoção, depois de alongar ao som de “Como é grande o meu amor por você”.
Por um pequeno instante minha alma cantou este refrão, dirigido às pessoas mais especiais que vivem dentro de mim.
Por frações de segundo, foi como se este amor chegasse até elas e fosse devolvido a mim, maior ainda do que foi.
Amor. Essa pequena grande palavra que dá sentido a um porção de coisas. Que move o mundo. Que diminui distâncias. Que eterniza o tempo. Que emociona a gente.
Já reparou como às vezes o corre-corre do dia-a-dia, o engarrafamento, as contas a pagar, as duzentas ligações a fazer, a falta de tempo, a banalização da rotina e o cansaço acabam silenciando em você este refrão?
Já parou para pensar nas tantas vezes em que essa música sai gritada, rasgando o peito, esfolando a alma, quando uma pessoa especial da sua vida já não está mais aqui?
Muitas vezes o amor é lembrado na ausência, na falta, quando na verdade deveria preencher espaços importantes da sua vida, em vida.
Deixa viver o amor.
Como é grande este amor.

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<![CDATA[Linha do tempo]]>https://rfeldman.web.app/linha-do-tempo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb6Tue, 17 Nov 2009 22:57:00 GMTLinha do tempo

Linha do tempo Sempre gostei de fazer aniversário. Sempre vi com bom grado e alegria a mudança de idade. Alguns números, de tão especiais e marcantes, recebi como se fossem flores: os 7 anos (orgulho de aprender a ler e escrever), os 14 (primeiro namorado), os 17 (não sei explicar por que, mas havia um brilho diferente naquela data), os 22 (a felicidade do casamento), os 24 (vestibular para psicologia: “passeeeeeeeeeei!!!”), os 28 (a emoção do primeiro filho), os 32 (“é uma menina!!!”), o hoje, o amanhã, o depois…

Mas, como nem tudo são flores, comemorei os meus 25 com um certo estranhamento. As fotos mostram um olhar meio sem graça, habitado por uma tristeza que eu não soube explicar. Hoje talvez eu compreenda melhor: havia um ultrassom de mama para fazer dois dias depois do aniversário, por causa de um pequeno nódulo que graças a Deus não era nada. (Talvez seja isso, troquei a animação por preocupação…)
Mas acho que ainda posso formular uma pequena tese sobre os 25, em homenagem à minha querida sobrinha Carol (geminiana como eu), que vive hoje exatamente as agruras (ou será doçuras?) desta idade, e me pediu um post sobre o assunto.
Quem já passou pelos 25 não sei se vai concordar comigo, mas me soa como uma indefinida transição, o meio de um caminho um tanto quanto inquietante e angustiante: você já não tem mais 20 e ainda não chegou aos 30. Não é mais adolescente e tampouco senhora. Mas tem 25, um quarto de século, metade de 50, hora de trabalhar, encontrar o amor, se decidir sobre um tanto de coisas, inclusive se casa ou compra uma bicicleta. Ufa, quanta seriedade nestes 25!…
Sim, Carol, os 25 vão passar logo, daqui a pouco já serão 26, mais um pouco você será uma bela balzaquiana, irradiando luz do alto dos seus 30 anos.
Mas não se apresse, menina. Apesar dos espinhos, há beleza e perfume nos 25. Como dizem Roberto e Erasmo na linda canção entoada pelos Titãs, “É preciso saber viver”.
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<![CDATA[Educação vegetal]]>https://rfeldman.web.app/educacao-vegetal/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb5Sat, 14 Nov 2009 08:04:00 GMTEducação vegetal

Educação vegetal Estava procurando inspiração para o blog, quando o Léo me apareceu com a seguinte pergunta:

– Mãe, porque a planta tá amarrada com essa cordinha?
– Pra ela crescer educada, Léo…
Não demorou muito, lá estava meu pequeno professor falando com a planta, ensinando pra ela o abecedário inteiro….
]]><![CDATA[A senhora do sorriso invertido]]>https://rfeldman.web.app/a-senhora-do-sorriso-invertido/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb4Fri, 13 Nov 2009 15:06:00 GMTA senhora do sorriso invertido

A senhora do sorriso invertidoCéu azul, sol rachando, piscina cheia de gente feliz fazendo hidroginástica. Contrastando com o alto-astral, aquela senhora de cara fechada destoa da paisagem. Seus movimentos são duros e o “sorriso” fixamente invertido no rosto. Sua fama já é conhecida por reclamar de tudo e de todos, à mínima ação que a contrarie. (Mal-humorada e resmungona, é tudo que eu não quero ser “quando crescer”, penso.)

Pulando igual pipoca, cantando “Quando um certo alguém cruzou o meu caminho…”, cheia de endorfina pulsando nas veias, sou abordada pela distinta senhora, que aponta para o meu “jump” (minicama elástica) irritada:
– Isso atrapalha a gente!
– Mas eu estou aqui no meu cantinho, essa piscina é grande, igual coração de mãe!…
Incomodada com a minha resposta, a senhora de sorriso invertido se afasta visivelmente irritada.
Pego meu “espaguete”, flutuo na água e deixo afundar o peso desse pequeno dissabor aquático.
Se a vida é feita de escolhas, prefiro aproveitar cada gota de sol, água, céu e música.
Mas fico pesarosa pela amarga senhora.
]]><![CDATA[Massagem]]>https://rfeldman.web.app/massagem/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb3Thu, 12 Nov 2009 22:12:00 GMT
MassagemDos pés à cabeça.
No ego. Na alma. No coração.
Nos nódulos que insistem em doer.
No corpo que fala, grita, suspira, implora.
Óleo de canela, amêndoa, pimenta rosa.
Corpo em silêncio, clemente repouso,
venda nos olhos.
Adormece, anoitece,
espreguiça essa preguiça.
Relaxa.
Você merece.
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<![CDATA[Cabo de guerra]]>https://rfeldman.web.app/cabo-de-guerra/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb2Tue, 10 Nov 2009 23:38:00 GMT
Cabo de guerraSim, não.
Fogo. Água.
Razão. Emoção.
Coma. Insônia.
Leve. Pesado.
Drama. Comédia.
Grito. Silêncio.
Falta. Sobra.
Guitarra. Piano.
Nascer. Morrer.
Rádio. TV.
Vê?
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<![CDATA[Fome de afeto]]>https://rfeldman.web.app/fome-de-afeto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb1Mon, 09 Nov 2009 17:48:00 GMT
Fome de afeto Imagine uma chuva de hambúrgers. Jujuba. Cachorro quente. Sorvete. Frango, pizza, fettuccine. É isso o que você vê no filme “Tá chovendo hamburger”.
Nada mais surreal (e delicioso) que gulodices despencando do céu. Mas a criativa animação vai além da barriga e chega fácil ao coração.
Mais uma vez, a auto-estima é abordada em um filme infantil. Um filho querendo ser amado pelo pai acaba criando um máquina maluca que faz chover comida. Claro, tinha que ser comida. Quer ícone de afeto melhor do que este? Comida nutre, dá prazer, tapa buraco, mata a fome.
Mas quando a fome é de amor, o estrago pode ser grande. Milhos verdes gigantes rolando por cima das casas e atropelando as pessoas. Coma alimentar. Obesidade mórbida. Vento de sal e pimenta.
Só mesmo um “eu te amo” do pai, dito em alto e bom som, para acabar com a confusão e curar a indigestão.
Simples assim.
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<![CDATA[Transmissão de Sentimento]]>https://rfeldman.web.app/transmissao-de-sentimento/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdb0Sat, 07 Nov 2009 18:29:00 GMTTransmissão de Sentimento

Transmissão de Sentimento Passado um dia inteiro do Léo na casa do amiguinho, liguei para saber como ele estava, corujar um pouco e dar boa noite – ele foi de mala e cuia para dormir lá.

Ao final da conversa, depois de “eu te amos”, “Deus te abençoe” e “dorme bem”, ele me solta essa:
– Mãe, você tá linda!…
– Ué, você não tá me vendo…
– Eu te vejo na minha mente, mãe…
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<![CDATA[Gostinho refinado]]>https://rfeldman.web.app/gostinho-refinado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdafFri, 06 Nov 2009 19:08:00 GMTGostinho refinado

Gostinho refinado O Léo recebeu com alegria um convite do Rafa para passar o sábado na casa dele.

Quando o amiguinho perguntou o que ele gosta de comer, meu pequeno gourmet não titubeou: “bacalhau”! (…)
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<![CDATA[Dicas]]>https://rfeldman.web.app/dicas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdaeWed, 04 Nov 2009 17:17:00 GMTDicas

Dicas* Para um supermercado sossegado em família: coloque as crianças no carrinho e vá direto à prateleira dos chips. Comportamento nota 10.

* Para tirar esmalte vermelho: passe antes óleo secante.
* Comeu muito docinho no aniversário? Castanha do Pará leva a gordura embora.
* Terminar o banho com uma ducha de água fria faz bem pra pele, pro cabelo e manda o sono embora.
* Já inventaram diário de vinho: você adesiva o rótulo dessa bebida dionísica num livrinho e registra detalhes como sabor, cor, aroma e o momento em que ele foi brindado.
* Maçã argentina tem muito mais vitamina – ideal para crianças em fase de crescimento.
* Embalagem vazia de bombom Ferrero Rocher: excelente porta-brincos.
* Arroz de segunda água com um pouquinho de orégano: “pega-marido”.
* Uma dica sua: muito bem-vinda.
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<![CDATA[Remédio]]>https://rfeldman.web.app/remedio/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdadTue, 03 Nov 2009 09:49:00 GMT
RemédioDor de cabeça, neosaldina.
Dor de coração, namorado.
Dor de separação, chocolate.
Dor de trabalho, férias.
Dor de crescimento, fermento.
Dor de mau humor, sexo.
Dor que paralisa, terapia.
Dor de solidão, companhia.
Dor de estômago, cappuccino.
Dor de ouvido, silêncio.
Dor de tomada, calmante.
Dor de vida, antidepressivo.
Dor de amor, amor.
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<![CDATA[Cuida da sua vida]]>https://rfeldman.web.app/cuida-da-sua-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdacFri, 30 Oct 2009 17:22:00 GMTCuida da sua vida

Cuida da sua vida Sem querer, sem perceber, com preocupação e a melhor das boas intenções, você começa a cuidar de questões que não são propriamente suas. Problemas da sua mãe, velhos hábitos do seu pai, decisões malucas do seu irmão, dores da sua tia, incoerências da melhor amiga.

Ok. Eles fazem parte da sua vida e merecem todo apoio e carinho.
Mas não insista em entrar dentro da sua mãe, do seu pai, do seu irmão e de todos aqueles que são importantes para você, achando que vai agir por eles, resolver por eles, caminhar por eles.
A vida é deles, não se esqueça disso.
Dar pequenos toques e puxões de orelha é muitas vezes necessário, e tira um peso enorme das costas. Mas tem um limite até onde você pode ir.
Então siga o seu caminho: em paz, com a alma leve, olhando com atenção para dentro de você e enxergando as suas questões, os seus problemas, seu amor, sua saúde, seu trabalho, sua vida. Isso já é um tanto enorme assim.
Sim?
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<![CDATA[Pedofilia]]>https://rfeldman.web.app/pedofilia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdabThu, 29 Oct 2009 08:47:00 GMTPedofilia

PedofiliaTive a alegria de saber que o meu aluno Tiago Moreira Araújo ganhou o primeiro lugar no Prêmio Central de Outdoor 2009, Categoria Estudantil.
A delicadeza do tema – pedofilia – reforça o valor desta conquista e enche de orgulho a professora, que viu o trabalho quando ele ainda estava saindo do forno, deixando no ar um cheirinho de talento e sensibilidade.
De forma simples e criativa, a peça transmite a emoção de um tema árido e doloroso, que deixa marcas para o resto da vida.
Parabéns, Tiago. Que esta seja apenas a primeira de outras grandes conquistas.

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<![CDATA[Liquidificador]]>https://rfeldman.web.app/liquidificador/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afdaaWed, 28 Oct 2009 16:30:00 GMTLiquidificador

LiquidificadorVocê já teve a sensação de que a sua cabeça é um grande liquidificador?

Pedaços de tarefas, ideias, pensamentos, problemas, vontades. Um mix diário de coisas pra fazer, pessoas pra ligar, e-mails pra responder. Chama o eletricista, marca o dentista, faz sacolão, cuida do coração, levanta cedo, deita tarde, corta o cabelo, corre-corre, bate ponto, paga conta, estuda pra prova, manda a empregada embora, ufa. E depois toma um suquinho de maracujá, maçã, laranja e mel. Dizem que é anti-stress.
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<![CDATA[Satisfeito?]]>https://rfeldman.web.app/satisfeito/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda9Thu, 22 Oct 2009 09:59:00 GMT

Quem trabalha o dia inteiro sonha com meio horário.
Quem tem livre horário quer bater ponto.
Quem mora longe do emprego reclama até chegar.
Quem mora do lado precisa de novos ares.
Quem trabalha em casa quer trocar o pijama por camisa social.
Quem só anda de gravata quer é desapertar o nó.
Quem tem chefe quer ser chefe.
Quem é chefe quer mandar.
Quem é fixo quer aumento.
Quem é frila quer rotina.
Quem é desempregado quer ser chamado.
Quem parou na inércia quer realizar.
…………………………………………….
E você? O que quer?

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<![CDATA[Sentimento]]>https://rfeldman.web.app/sentimento/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda8Thu, 22 Oct 2009 09:46:00 GMTSentimento

SentimentoNascer, crescer, morrer.

Viver, sofrer, sentir.
Fome, sede, frio.
Saudade, apego, dor.
Raiva, paixão, amor.
Tristeza, alegria, cumplicidade.
Medo, esperança, festança.
…………………………………………
O que você está sentindo agora?
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<![CDATA[Vivo, logo sinto.]]>https://rfeldman.web.app/vivo-logo-sinto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda7Thu, 22 Oct 2009 09:29:00 GMT

Exame clínico periódico numa das faculdades em que o meu colega Lamounier dá aula.
Perguntinha básica da doutora:
“-Você sente alguma coisa?”
“-Claro. Eu tô vivo” (…).

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<![CDATA[Crescer dói]]>https://rfeldman.web.app/crescer-doi/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda6Thu, 22 Oct 2009 07:37:00 GMTCrescer dói

Crescer dói Há alguns dias o Léo vinha reclamando de dor nos pés.

Toda noite era a mesma história:
“-Mãe, faz massagem?…”
E lá ia eu, creminho na mão, carinho no peito, atender ao pedido do meu filho.
Cheguei a pensar que era charminho. Pedido de atenção. Puro deleite.
Mas, por via das dúvidas, fomos parar no Hospital Ortopédico.
Depois do exame clínico, o doutor foi taxativo: raio x.
Hipótese diagnóstica: osteocondrite (uma inflamação na cartilagem e nos ossos relacionada à dor do crescimento.) É, crescer dói, pensei.
Suspeita confirmada: não chegou nos ossos, mas era inflamação mesmo.
Duas semanas sem fazer atividade física. Gelo e anti-inflamatório de 6 em 6 horas.
Massagem com o dobro de atenção e carinho.
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<![CDATA["Que esse seja o seu maior problema"]]>https://rfeldman.web.app/que-esse-seja-o-seu-maior-problema/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda5Tue, 20 Oct 2009 10:12:00 GMT"Que esse seja o seu maior problema"

"Que esse seja o seu maior problema"Tem dia que começa ligeiramente azedo.

Pra começar, horário de verão quando se tem que estar em sala de aula às 7:40 h da manhã.
Depois, uma sequência de pequenos dissabores domésticos: a farinha láctea da Bella acabou; a máquina de lavar enguiçou; a empregada atrasou.
Muito a contragosto, acabo atrasando também.
É. Às vezes não é fácil ser dona de casa. Às vezes dá vontade de voltar pra barriga da mamãe.
E aí é muito bom lembrar de uma frase que a minha avó vivia dizendo pra minha mãe, e eu acabei herdando: “Que esse seja o seu maior problema”, minha filha.
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<![CDATA[Terapia]]>https://rfeldman.web.app/terapia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda4Mon, 19 Oct 2009 00:15:00 GMTTerapia

TerapiaChora.
Derrama seu pranto.

Desenrola esse novelo embolado,
bolorado de dor.
Quanta tristeza. Escuridão. Escravidão.
Quanta beleza no seu olhar.
Vê. Percebe as coisas como ela são.
Separa o joio do trigo. O céu do chão.
Separa-ção.
Aprende a conviver com o que você tem.
Aceita o que não tem.
Chora.
Tira da prisão esse luto abafado,
trancado, contido.
Manda embora o que não é seu.
Dá liberdade ao coração de se esvaziar
dos velhos entulhos, lixo.
Chora.
Lava a alma. Tira a poeira do peito.
Aqui você não precisa disfarçar o choro.
Aqui você tem escuta, espaço, estiagem.
Tem os meus olhos para desembaçar os seus.
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<![CDATA[Sobrei]]>https://rfeldman.web.app/sobrei/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda3Sat, 17 Oct 2009 21:08:00 GMTSobrei

SobreiAgora uma da Bella, pra não dar ciúmes lá na frente…

Dormiu na casa da vó e eu, como boa mãe coruja, liguei pra dar boa noite:
– Ei, Bella!
– Papai!!!
– Ô, florzinha, é a mamãe, tô ligando pra dar boa noite!
– Papai!
– Tá bom, vou chamar o papai, mas manda um beijo pra mamãe…
– PAPAIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!
…………………………….
É. Complexo de Édipo existe. Tá confirmado.
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<![CDATA[Lapso de memória]]>https://rfeldman.web.app/lapso-de-memoria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda2Thu, 15 Oct 2009 16:21:00 GMT

Mais uma do Léo pra guardar na memória e no coração:
-Mãe, ontem lá na escola a gente assistiu um filme super legal, de um indiozinho…
-É, filho? Que bacana!… Qual é o nome do filme?
-Ahhh, esqueci…
-Léo, você está muito novo para ficar esquecendo as coisas!…
-Acabei de esquecer o que você me falou agora, mãe!…

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<![CDATA[Leia nas entrelinhas]]>https://rfeldman.web.app/leia-nas-entrelinhas/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda1Wed, 14 Oct 2009 22:42:00 GMTLeia nas entrelinhas

Leia nas entrelinhas Véspera de feriado lá no sítio, friozinho gostoso de montanha. Com os meninos dormindo feito anjos, pude enfim assistir “O Leitor”. Sei que “demorou”, mas a vida com filhos nem sempre nos permite ir ao cinema assim que um filme entra em exibição. Tive que me contentar com o vídeo, não menos ansiosa por ver a Kate Winslet no papel que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz.

Premiada fui eu, até hoje impactada com a beleza dessa história. Uma história que vai muito além de temas como nazismo, Segunda Guerra, holocausto.
Com sensibilidade e emoção, “O Leitor” deixa registrado o quanto uma pessoa pode fazer diferença na vida de outra pessoa. O quanto existe mesmo uma coisa chamada lei do retorno. E o quanto a palavra ajuda tem poder.
Quando um filme é bom mesmo, a gente lê lições de vida nas entrelinhas, e ele acaba entrando dentro da gente.
Fui dormir com a alma leve, cheia, florida.
…………………………………………………………………..
E você? Compartilha desta leitura?
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<![CDATA[Alegria tamanho família]]>https://rfeldman.web.app/alegria-tamanho-familia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afda0Tue, 13 Oct 2009 18:17:00 GMTAlegria tamanho família

Alegria tamanho família Algumas coisas que falei, ouvi, senti, aprendi e reaprendi em um delicioso final de semana no sítio, rodeada dessa coisa maravilhosa chamada família (“a graaaaaaaaaaaaaaande família”):

1- Tem um gostinho especial chupar jabuticaba no pé.
2- Sapo não só pula na lagoa, como também gruda na panela.
3- Você pode ser a melhor mãe do mundo. Só não pode perder o título de mulher da vida dele.
4- Caldinho de cenoura com laranja da Carol é o que há.
5- Mudanças podem soar como perdas. Mas algumas são extremamente necessárias.
6- Melhor que jiló na chapa, só a atenção e doçura do mestre-cuca.
7- Tem gente que faz uma falta danada. Deixa um buraco enorme na mesa.
8- Presentes escondidos dentro da geladeira e da churrasqueira. Caça ao Tesouro para um Dia das Crianças mais feliz.
9- A sauna esquenta com pequenos segredinhos.
11- Pastel de queijo, banana e bicho-de-luz. Faz bem pra vida.
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<![CDATA[Conte até 20.]]>https://rfeldman.web.app/conte-ate-20/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd9fFri, 09 Oct 2009 15:59:00 GMTConte até 20.

Conte até 20.Quando a casa estiver de pernas pro ar.

Quando a vida virar pelo avesso.
Quando todos quiserem falar ao mesmo tempo.
Quando aquela eficiente operadora de telemarketing te acordar no sábado.
Quando o namorado fizer tromba.
Quando a namorada fizer doce.
Quando o marido deixar a toalha molhada na cama.
Quando a mulher uivar de TPM.
Quando as crianças derem um show de pirraça no shopping.
Quando você levar uma fechada no trânsito.
Quando a empregada der o bolo.
Quando a sogra der palpite.
Quando o chefe falar que vai comer seu fígado.
Quando tentarem furar fila.
Quando buzinarem no seu ouvido.
Quando alguém te falar pra contar até 20.
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<![CDATA[Fome de criatividade.]]>https://rfeldman.web.app/fome-de-criatividade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd9eThu, 08 Oct 2009 10:25:00 GMTFome de criatividade.

Fome de criatividade.

Adoro cinema. Adoro chips. Amo uma boa ideia.
Não canso de incentivar meus alunos a queimar fosfato para colocar no papel o talento e a criatividade que já existem dentro deles.
Taí esse anúncio que não me deixa mentir. Inspirado no clássico “Beleza Americana”, os alunos Rubens Quirino, André Gusmão e José Rogério Fontes fizeram bonito ao divulgar a “nova” batata da Elma Chips Sensações Fit sabor Rúcula e Tomate Seco, “sucesso de público e crítica”.
Nota 10.

 

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<![CDATA[Dinheiro e felicidade]]>https://rfeldman.web.app/dinheiro-e-felicidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd9dTue, 06 Oct 2009 10:32:00 GMTDinheiro e felicidade

Dinheiro e felicidade Tem gente que mora em mansão e vive em depressão.

Tem gente que faz um puxadinho e distribui alegria.
Tem gente que lota o cofrinho.
Tem gente que quebra ele em mil pedaços.
Tem gente que torra tudo em roupa, cerveja e buteco.
Tem gente que é sobrinho assumido do Tio Patinhas.
Tem gente que precisa ter, ter, ter e não sabe o que é ser.
Tem gente que vai pra Disney e reclama o dia todo.
Tem gente que namora vendo Supercine com pipoca.
Tem gente que sabe ganhar dinheiro.
Tem gente que só sabe perder.
E você?
Qual é a sua relação com o dinheiro?
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<![CDATA[Ai, que saudade do lobo mau...]]>https://rfeldman.web.app/ai-que-saudade-do-lobo-mau/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd9cSun, 04 Oct 2009 22:25:00 GMTAi, que saudade do lobo mau...

Ai, que saudade do lobo mau... Não conheço nenhuma criança que tenha sido traumatizada pelo lobo mau. Fez parte da minha história, hoje faz parte da história dos meus filhos e é com alegria que eu passo ela pra frente, cantando: “Quem tem medo do lobo mau? Lobo mau! Lobo mau!…”

Mas hoje saí no meio de uma peça de teatro, extremamente incomodada com o teor da mensagem que estava sendo transmitida. Como o nome da peça é “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Guará”, pensei que seria uma adaptação do conto original voltada para a questão ecológica. Ledo engano. Propaganda enganosa. Desagradável surpresa ao ver que pintaram um lobo dez vezes pior que o lobo mau: um lobo se dizendo ser o “espírito do mal”, persuadindo o pobre do lobo guará a fazer maldades, desde com uma formiga até com a avó do Chapeuzinho Vermelho.
O que era para ser diversão virou frustração. Melhor dizendo, indignação.
Para minha filha e sobrinha, foi como colocar na boca um pirulito cheio de pimenta. Para mim, o desgosto de ver uma peça infantil sem o menor zelo quanto aos valores incutidos no texto. De dar medo.
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<![CDATA[Aventure-se]]>https://rfeldman.web.app/aventure-se/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd9bSun, 04 Oct 2009 20:41:00 GMTAventure-se

Aventure-se A princípio parece mais um filme da Disney feito para divertir as crianças.
“Up, Altas Aventuras” é mais do que isso. É feito para emocionar os adultos.
A cada tape cheio de colorido e leveza, um lembrete de que amor não envelhece com o tempo. Que os sonhos foram feitos para serem realizados. E que a infância dá um sentido todo especial à velhice.
Leve os filhos, os sobrinhos, a caixa de lenços e um balde de pipoca. Mas acima de tudo leve você, com seu espírito de aventura, a criança que você foi um dia e sua capacidade infinita de amar.

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<![CDATA[Procura-se]]>https://rfeldman.web.app/procura-se/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd9aThu, 01 Oct 2009 16:12:00 GMT

O amor da sua vida.
Uma babá quase perfeita.
Casa de vó.
Colo de mãe.
Amigo do peito.
Estagiário nota dez.
Apartamento com varanda.
Emprego merecedor.
Fórmula pro neném dormir a noite inteira.
………………………………………………………………
Nem tudo a gente acha no google.
Mas dentro da cabeça tem de tudo um pouco.
[O que você anda sonhando em encontrar?]

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<![CDATA[Conexão]]>https://rfeldman.web.app/conexao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd99Mon, 28 Sep 2009 18:40:00 GMTConexão

ConexãoCurso de psicanálise. O tema, Desenvolvimento Emocional Primitivo. (Em outras palavras, este fascínio que é a relação mãe-bebê desde sempre, esse amor que não se explica, que de tão grande chega a doer.)

Escuto a teoria, passeio por Freud, Melanie Klein, Winnicott e acabo voltando no tempo. Um pouquinho de cada gravidez, o amor crescendo dentro de mim, a delicadeza de amamentar, olhos nos olhos, encontro de almas.
Volto à cena da sala de aula e escuto a professora falar dos objetos transicionais – os famosos paninhos, travesseiros, chupetas – recursos que as crianças encontram para enfrentar a angústia da separação com a mãe. Mãe que também é mulher, filha, dona de casa, profissional, entre tantas outras importantes titulações.
Aí danou-se. Levanto a mão e pergunto para a professora:
“- E quando o objeto transicional é a mão da mãe?!”
“Conheço uma menininha” que não deixou por menos. Ficou sem o cordão umbilical, perdeu o seio materno mas não abriu mão de uma ligação ainda mais concreta e humana com a mãe.
Mãe, mão, no final tudo é conexão.
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<![CDATA["All we need is love"]]>https://rfeldman.web.app/all-we-need-is-love/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd98Thu, 24 Sep 2009 22:14:00 GMT"All we need is love"

"All we need is love" AMOR. Com todas as letras, nomes, endereços e sobrenomes. Amor de mãe, amor de pai, amor de irmão, amor de vô e vó. Amor tratado a pão-de-ló.

O amor que você recebeu. O amor que te faltou. Amor transbordante. Amor escasso. Descaso.
Amor em migalhas. Amor em conta-gotas. Amor caro. Amor raro.
Amor de bom dia. Amor que vira a noite. Amor de infância. Amor sem esperança.
Amor que brotou. Amor que morreu. Amor próprio.
“Love is all you need”, não foi à toa que eles fizeram tanto sucesso.
Qualquer que seja a sua história, a sua busca, suas questões e andanças, essa é a música que eu escuto no seu olhar.
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<![CDATA["Esse seu olhar"]]>https://rfeldman.web.app/esse-seu-olhar/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd97Thu, 24 Sep 2009 18:05:00 GMT

Muitos são os olhares que vejo à minha frente.
Vejo dor, tristeza, angústia, medo, inquietude, saudade, decepção, incerteza.
Vejo também alegria, sonho, realização, serenidade, leveza.
Cada olhar uma história, um buraco, um pedido de socorro.
Cada olhar luz de lua, sol nascendo, chuva fina.
O olhar se coloca como espelho, retrato da alma, senha de acesso ao coração.
Mas de tudo que vejo e escuto, cada vez mais chego à conclusão de que o amor é a raiz de todas as coisas. De todas as faltas e todas as dores. Qualquer que seja esse amor.
E ele é tanto, que merece continuar no próximo post.
Leve o seu olhar até lá.

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<![CDATA[Filosofando]]>https://rfeldman.web.app/filosofando/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd96Tue, 22 Sep 2009 10:33:00 GMT
Filosofando Penso, logo sinto.
Sinto, logo existo.
Existo a partir de mim.
A partir de você.
De um coração partido.
Da parte de um todo.
De um todo incompleto.
De um tempo que não acabou.
De uma esperança que nasceu.
De um sentimento que morreu.
De um olhar que diz tudo. E tanto.
De um vazio que grita.
De uma escuta que é ponte.
De um existir que é feito de sol.
E sombra.
E céu. E chão.
Pois não.
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<![CDATA[Bem-vindo à vida]]>https://rfeldman.web.app/bem-vindo-a-vida/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd95Fri, 18 Sep 2009 19:18:00 GMT
Bem-vindo à vida Quem é que nunca chorou em público?
Quem é que nunca voltou atrás?
Quem é que nunca ouviu sermão?
Quem é que nunca teve uma decepção?
Quem é que nunca quebrou a cara?
Quem é que nunca sentiu ciúmes?
Quem é que nunca disse nunca?
Quem é que nunca teve bicho de pé?
Quem é que nunca pôs o sapato errado?
Quem é que nunca fez manha?
Quem é que nunca quis voltar pra barriga da mãe?
Quem é que nunca pensou em viajar sem rumo?
Quem é que nunca pensou em não voltar?
Quem é que nunca se escondeu?
Quem é você?
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<![CDATA[Infância]]>https://rfeldman.web.app/infancia/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd94Wed, 16 Sep 2009 23:20:00 GMTInfância

Infância Quantos anos você tem?
Pode ser 15. 20. 30. 90.
Estou chegando à conclusão que, quanto mais distante da sua infância, mais próximo você está.
Pode parecer um paradoxo, mas é a mais pura verdade.
Olhe pra trás. Feche os olhos. Volte no tempo.
Como toda criança, você adorava brincar, correr, preencher o tempo de coisas boas. Coisas coloridas.
Mas como a vida não é só cores, algumas cenas foram tingidas de preto e branco.
Provavelmente você chorou. Sofreu. Ouviu coisas que não precisava ouvir. Levou susto. Guardou tristeza. Engoliu raiva. Acumulou poeira.
E aí você cresceu. Ganhou idade, experiência, responsabilidade. Enfeitou o rosto de máscaras e passou a ensaiar as palavras.
Mas aquela criança de outrora não morreu. Está bem aí, dentro de você, nascendo de novo a cada dia, brilhando os olhos, fazendo birra, pedindo colo.
Você não teve infância. Você ainda tem.

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<![CDATA[Ciúmes pra cachorro]]>https://rfeldman.web.app/ciumes-pra-cachorro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd93Mon, 14 Sep 2009 23:03:00 GMTCiúmes pra cachorro

Ciúmes pra cachorro Se tem uma coisa que vem com a maternidade é flexibilidade. Haja jogo de cintura para lidar com a casa bagunçada, o joelho ralado, a cama dividida, o ciúmes entre irmãos, o para-casa suado. A gente dança conforme a música, faz a maior ginástica, vira “mulher elástico” e vai dormir exausta, mas com o coração cheio de graça, agradecendo a Deus e todos os anjos.

Voltando à flexibilidade, eu, que nunca pensei em ter cachorro em casa, me peguei outro dia pensando na real possibilidade de presentear os meninos com um Yorkshire. Isso depois que o Léo inventou de cuidar de um ovo como se fosse seu filho. (É claro que o ovo quebrou e ele, não se dando por satisfeito, pegou uma mexerica, pintou olhos e boca de canetinha e encasquetou que queria levar o “filho” pra escola).
Quebrando todos os paradigmas e colocando por terra minha rigidez sobre o tema, falei do cachorro. Fizeram a maior festa, como era de se esperar.
Passado alguns minutos, a Bella fez alguma arte da qual não me lembro. Só não esqueço o pequeno diálogo que travei com o Léo:
– O que que a gente faz com a sua irmã, Léo?
– Ah… Dá um “putibull” pra ela e um cachorro bem bonzinho pra gente!…
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<![CDATA[O bom filho à casa volta]]>https://rfeldman.web.app/o-bom-filho-a-casa-volta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd92Fri, 11 Sep 2009 11:37:00 GMTO bom filho à casa volta

O bom filho à casa volta Sempre tive orgulho de dizer que sou “filha da PUC”.

Foi lá que me formei em Publicidade e Propaganda, os olhos brilhando, as mãos coçando para começarem logo a escrever.
Depois de mais de dez anos, volto à faculdade, cheia de alegria, para ministrar um minicurso de Redação Publicitária.
Tanto tempo e tudo no mesmo lugar: a alegria do prédio 13, o cheirinho de pão de queijo da cantina, a simpatia da secretária Suzana, a energia da Professora Glória, a criatividade dos meninos pulsando na veia.
Tem lugares que marcam a nossa vida de um jeito especial.
Qual é o seu lugar?
]]><![CDATA[Você merece]]>https://rfeldman.web.app/voce-merece/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd91Thu, 10 Sep 2009 09:31:00 GMTVocê merece

Você mereceÁgua na peneira.

Massagem no pé.
Aconchego de almofada.
Beijo roubado.
Colo de mãe.
Declaração de amor.
Chocolate da Kopenhagen.
Sessão de cinema.
Sais de banho.
………………………….. (Complete.)
Complete-se.
Você merece.
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<![CDATA[Dia arranhado]]>https://rfeldman.web.app/dia-arranhado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd90Wed, 09 Sep 2009 22:25:00 GMT

Tem dia que toca arranhado.
Você sai atrasado. Bate o joelho na quina da mesa. Fica preso no engarrafamento. Perde a paciência. Ganha uma multa. Prende o dedo na porta. Descarrega o celular. Briga com o melhor amigo. Quem dera um banho de descarrego no mar.
Graças a Deus não aconteceu nenhuma tragédia. Não tem ninguém no hospital. Você está são e salvo. Tudo na mesma ordem e lugar.
Apenas um dia arranhado. Um dia que vira noite. Uma noite que amanhece.
Já ouviu essa toada?
Vê se levanta com o pé direito.

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<![CDATA[Na vida tudo se transforma]]>https://rfeldman.web.app/na-vida-tudo-se-transforma/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd8fMon, 07 Sep 2009 09:18:00 GMTNa vida tudo se transforma

Na vida tudo se transforma Sempre acreditei na transformação. Dor em amor, tristeza em alegria, fracasso em sucesso, decepção em esperança, inércia em movimento.

Vejo, no consultório, pequenas grandes transformações acontecendo o tempo todo, na minha frente. Mudanças de postura, pensamento, sentimento; mudanças na forma de enxergar o outro e a si mesmo.
Há algum tempo venho acompanhando, em casa, uma transformação que, de tão grande, tinha que virar post: meu marido, que durante anos vivia correndo pra empresa, pro aeroporto, pras reuniões sem fim, acabou correndo na meia maratona do Rio de Janeiro. 21 km na raça, no peito, num dos mais belos cartões postais do país.
Sim, eu estava lá pra ver. Pra testemunhar sua alegria, sua vitória, sua garra e emoção.
Eu, que brincava que “seu nome era trabalho, seu sobrenome hora extra e seu apelido plantão”, agora brindo a força dessa transformação.
Se já era sua fã, agora vou montar um fã-clube.
Parabéns, meu amor, por essa vitória que é minha também.
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<![CDATA[Ainda está em tempo]]>https://rfeldman.web.app/ainda-esta-em-tempo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd8eThu, 03 Sep 2009 20:08:00 GMT
Ainda está em tempo Corre, corre, corre.
Pula daqui, salta dali.
Esconde-esconde.
Escapole o tempo.
Abarrota as gavetas.
Esvazia o tempo.
Preenche o tempo?
Ou passa o tempo?
Passatempo.
Vive.
Intensamente.
Apaixonadamente.
Faz cada segundo ter sentido.
Faz sentido?
]]><![CDATA["Desconfie de todos"]]>https://rfeldman.web.app/desconfie-de-todos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd8dThu, 03 Sep 2009 15:30:00 GMT

Uma senhora tricota uma blusa de lã enquanto sua neta assiste à TV, saboreando um chocolate. A avó entrega a blusa para a menina, que agradece feliz e a veste na mesma hora.
O detalhe é que a blusa ainda estava com a parte da cabeça fechada, e a menina acabou ficando “entalada”, sem visão, derrubando tudo que aparecia na sua frente.
Enquanto a neta se desorientava, a avó devorava os chocolates.
Ao final do comercial, o slogan: “Novo Bis sabor avelã. Desconfie de todos.”

Chocólatra assumida que sou, não comprei a idéia. Um exagero danado a menina derrubar tudo daquele jeito. Surreal a velhinha enganar a própria neta. Pobreza de espírito apelarem para a desconfiança, palavra tão pesada e negativa.
O novo Bis pode até ser uma delícia. O problema é que, se obedecer o slogan, até do chocolate você desconfia.

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<![CDATA["Boadrasta"]]>https://rfeldman.web.app/boadrasta/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd8cThu, 03 Sep 2009 10:23:00 GMT

Uma graça minha vizinha de apenas 7 anos.
Ao encontrá-la no elevador, falei:
– Vai lá em casa depois, Bárbara, brincar com o Léo.
– Hoje eu não posso, vou sair com a minha “boadrasta”.
(…)

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<![CDATA["Bom dia, tristeza!"]]>https://rfeldman.web.app/bom-dia-tristeza/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd8bMon, 31 Aug 2009 14:39:00 GMT"Bom dia, tristeza!"

"Bom dia, tristeza!"Você cresceu ouvindo que homem não chora. Disse que era um resfriado quando na verdade estava tentando disfarçar as lágrimas. Viu tudo cinza quando o sol estava brilhando.

É, você conhece bem esse negócio chamado tristeza.
Já quis não sair do quarto muitas vezes. Já deixou de comer. Comeu uma barra inteira de chocolate. Quis dormir para fugir. Quis acordar só daqui a cem anos.
Bem-vindo à vida, meu(minha) caro(a). Tristeza é antônimo de alegria. E de vez em quando aparece sem avisar, entra sem pedir licença, arromba a porta.
E aí o que você faz? Além de ficar triste pelos motivos que tem, fica triste pelo simples (ou complicado) fato de estar triste. E aí vira dupla melancolia. Você fica triste porque está triste.
Já parou para pensar que você pode, sim, ficar triste de vez em quando? Que pode ter motivos pra isso? Que faz parte da vida? Que a vida, inclusive, não é um mar de rosas nem propaganda de margarina?
Sábia era a minha bisavó que costumava dizer: “Bom dia, tristeza”. O que quer dizer mais ou menos o seguinte: olhe para a sua tristeza. Não finja que ela não existe. Antes que ela arrombe a porta, atenda a campainha e diga-lhe para entrar. Sirva um cafezinho. E não se assuste se ela for logo embora, dar espaço pra alegria entrar.
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<![CDATA[Freud explica]]>https://rfeldman.web.app/freud-explica/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd8aFri, 28 Aug 2009 00:38:00 GMTFreud explica

Freud explica

Ontem a famosa teoria do Complexo de Electra (oposto do Complexo de Édipo) saiu dos livros e anais de psicologia e foi parar na minha cama.
Aliás, muito antes de ontem. Com apenas um ano e nove meses, minha pequena Bella é apaixonada pelo pai. Óbvio.
Mas ontem eu não acreditei no que esse pinguinho de gente fez. Eram quase onze horas da noite e a pituquinha estava na cama com o pai, assistindo ao jogo do Galo, gritando gol e tudo mais, quando a mãe foi trocar sua fralda e tentar finalmente fazê-la dormir. (Já passava da hora.)
Fui trocando a fralda com o quarto à meia luz, caixinha de música, e ela foi amolecendo. Não titubeei e a levei na direção da sua minicama, quando ela disse pra minha alegria: “Deita, mamãe!”
Ufa. Deitei junto dela, a cobri com carinho, ela segurando a minha mão, eu fazendo cafuné no seu fino cabelo de anjo. Quando a mãe já estava quase cochilando, a mocinha me sai da cama e vai se aboletar com o pai, na minha cama. Pode?!
E foi assim, provando na prática que o Complexo de Electra existe, que a minha filha me pôs pra dormir.
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<![CDATA[Aluna de novo]]>https://rfeldman.web.app/aluna-de-novo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd89Wed, 26 Aug 2009 16:09:00 GMTAluna de novo

Aluna de novo Depois de anos dando aula, me vejo – com a maior alegria do mundo – no lugar de aluna. Estojo novo, caderno de capa dura, motivação correndo nas veias, perguntas que não querem calar.

Ao me ver de tênis e calça jeans, pronta pra ir pra aula, encontro um Léo surpreso:
-“Onde você vai, mãe?”
-“Pra Federal, filho. Estudar, igualzinho a você.”
-“Você virou Polícia Federal?!” (…)
Não, filho. Virei uma estudante de mestrado, igual gente grande, tendo que ler textos em inglês e francês, tirando xerox, botando fé, aprofundando nos temas mais instigantes, abraçando o conhecimento, rebolando pra dar conta do recado. E feliz da vida lá vou eu, ser aluna de novo.
]]><![CDATA[Caça ao tesouro]]>https://rfeldman.web.app/caca-ao-tesouro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd88Mon, 24 Aug 2009 19:29:00 GMTCaça ao tesouro

Caça ao tesouro É assim: escondo uma pista no vaso de flor e vou dando dicas pro Léo: “tá frio… tá quente!…”

Quando ele abre o papel, lê algo do tipo: “Para achar a 2ª pista, vá até o banheiro. Dica: xixi.”
Aí ele vai até o banheiro, abre o penico da irmã e encontra a 2ª pista. Abre o papelzinho e mais uma instrução, dessa vez que ele terá que dar 7 passos em direção à sala de jantar. Dica: banana, e lá vai ele procurar por mais uma pista na fruteira. Abre o papel e lê em voz alta, letra por letra, em puro processo de alfabetização, a última pista: “para achar o tesouro, vá até a cozinha. Dica: frio!”. E lá vai ele, esse meu menino ávido por abrir a geladeira e encontrar, feliz da vida um novo carrinho da “Hot Wheels”.
Brincando brincando, ele caça as letras para achar o seu tesouro. Mergulha nas vogais, consoantes, desbrava frases e sonhos. Brincando brincando, eu entro no mundo dele e aprendo a ler nos seus olhos a alegria de fazer essa linda travessia.
PS: Essa brincadeira eu aprendi com a minha mãe, ícone de amor na minha vida, também apaixonada pelo mundo das letras, que na Páscoa costumava esconder meu ovo dentro da máquina de lavar.
]]><![CDATA[Amor pela profissão]]>https://rfeldman.web.app/amor-pela-profissao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd87Fri, 21 Aug 2009 10:31:00 GMTAmor pela profissão

Amor pela profissão Dá para perceber de longe um profissional que ama o que faz. Brilho nos olhos, seriedade, competência, dedicação e cuidado são alguns indícios de que você está em ótimas mãos.
Dei a sorte de encontrar no meu caminho pessoas que eu carrego na agenda e no coração, pra vida toda: professores, médicos, massagistas, dentistas e uma psicóloga querida que mudou para Porto Velho, levando com ela muitos pedacinhos de mim.
Conheço também uma odontopediatra pra lá de especial, cheia de amor pela profissão: além de acolher seus pacientezinhos (portadores de necessidades especiais também) com carinho e cantigas, a danada ainda por cima é contadora de histórias. Os meninos ficam literalmente boquiabertos com suas histórias de fadas, princesas e dragões. É tanto encantamento que não dá tempo nem de sentir medo do velho e chato motorzinho.
E você? Tem uma boa história pra contar sobre profissão?

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<![CDATA["Vende-se"]]>https://rfeldman.web.app/vende-se/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd86Wed, 19 Aug 2009 17:32:00 GMT

Todo início de semestre, no primeiro dia de aula, gosto de pedir a cada um de meus alunos que criem um anúncio publicitário vendendo um produto muito especial: o próprio aluno.
Com essa dinâmica acabo possibilitando uma apresentação mais criativa, menos “arroz com feijão” e com um pouco mais de “pimentinha”.
Apesar do susto de ter que criar algo de cara, já no primeiro dia de aula, os meninos acabam agradando da idéia. Um anúncio, de tão criativo, foi premiado e acabei mandando publicar no jornal. A aluna e se comparava a uma bula de remédio e o título era “AcetilSimonesalicílico”. Fantástico.
Mas uma coisa é comum e recorrente nesta atividade: o medo, a angústia, o desconforto de falar de si mesmo. Falar e ainda por cima colocar no papel, pânico total. A baixa auto-estima é visível e coletiva.
Se você tivesse que “vender” você num anúncio de revista, ou num slogan que seja, o que sairia?

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<![CDATA[Separação]]>https://rfeldman.web.app/separacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd85Mon, 17 Aug 2009 18:30:00 GMTSeparação

Separação O post anterior me fez pensar no avesso do amor duradouro: no amor quebrado, rasgado, doente. No amor que se tranforma em desamor. No amor que subtrai. No amor que machuca. No amor que envelhece com o tempo. No amor que não dá frutos. No amor que enrijece. No amor que nem deveria mais se chamar amor.

E aí fica a pergunta: o que leva duas pessoas que um dia se apaixonaram, se enamoraram, se gostaram, perderem-se pelo caminho? O que faz o encontro virar um grande desencontro? Qual é a razão de uma separação?
Para uns, traição. Para outros, rotina. Filhos. Falta de dinheiro. Agressão física. “Brincar de casinha”. Virar irmão.
Qual é a sua visão?
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<![CDATA[Segredo]]>https://rfeldman.web.app/segredo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd84Fri, 14 Aug 2009 18:42:00 GMTSegredo

Segredo Antigamente divórcio era tabu, algo impensado e proibido. Hoje, apesar de toda a dor que isso implica, parece que já está no “script”. É comum ouvir por aí que “algumas pessoas já casam pensando em separar.”

Diante deste cenário, sempre que vejo algum casal completando bôdas de ouro, prata, porcelana, compartilho dessa alegria com admiração e uma pergunta que gosto sempre de fazer: “Qual é o segredo?”
Tenho obtido algumas respostas bem manjadas, mas cheias de significado:
“paciência”, “amor”, “tolerância”… “Dar mais valor aos pontos positivos do que negativos”…
Outro dia ouvi de um casal que prezo muito esse segredo: “cerimônia”. Palavrinha tão bem-vinda, expressa na delicadeza do “por favor”, “obrigada”, “um beijo”, “volte logo”. Coisas que acabam se perdendo com a rotina e com a própria intimidade, causando um estrago enorme no relacionamento, esburacando o respeito.
Tenho visto casais de degladiando sem cerimônia nenhuma. E outros, que redescobriram o poder dessa palavra, resgatando o que ainda pode ser salvo.

Qual é o segredo, para você?

]]><![CDATA[Epitáfio]]>https://rfeldman.web.app/epitafio/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd83Thu, 13 Aug 2009 13:59:00 GMTEpitáfio

EpitáfioEm um de meus encontros mensais com o Grupo Bem Viver, do Olympico Clube, cujo tema era “Viver o Morrer”, propus o seguinte exercício: “Pense no seu epitáfio. (…) O que você gostaria de ver escrito nele?”

A princípio a proposta soa fúnebre, “prosa ruim”, mas logo estavam todas aquelas simpáticas senhoras compenetradas sobre o papel, pensando na morte e – como não poderia deixar de ser – na vida.
Por mais que tenhamos dificuldade em viver a morte, ela é a grande e inexorável certeza da nossa vida. Daí o convite a vivermos o melhor que pudermos cada dia, cada segundo, como se ele fosse realmente o último.
E, se a morte aparecer de surpresa, levando embora alguém querido, que tenhamos força, força, força e serenidade para não morrermos junto.
Diante de uma perda, a vida nos convoca a sobreviver – a despeito de toda dor, incompreensão e desmoronamento.
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<![CDATA[Filho de Galo...]]>https://rfeldman.web.app/filho-de-galo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd82Mon, 10 Aug 2009 19:56:00 GMTFilho de Galo...

Filho de Galo... Cartão de Dia dos Pais criado exclusivamente pelo Léo (zero de interferência materna), suando a camisa pra escrever direitinho, em pleno processo de alfabetização e sem medir a paixão:

“PAI, VOCÊ É MELHOR DO QUE O TARDELI!”
………………………………………………………………………….
Nem preciso dizer que este desbancou todos os outros presentes…
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<![CDATA["Carta ao Pai"]]>https://rfeldman.web.app/carta-ao-pai/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd81Thu, 06 Aug 2009 16:59:00 GMT"Carta ao Pai"

"Carta ao Pai" Cada vez mais me vem a confirmação do quanto pai e mãe tem influência direta na vida da gente. Um gesto. Um grito. Colo. Carinho. Ausência. Presença. Tudo que vem deles deixa marcas pro resto da vida. Marcas que não se apagam com o tempo.

No caso do famoso escritor Franz Kafka, o simples pedido de um copo d´água deixou cicatrizes profundas. Transcrevo aqui um emocionante trecho da carta que ele escreveu ao seu pai, e de como ele se sentiu um nada na vida.
Quanto ao meu pai, tenho a sorte de ter as melhores lembranças, o chamego mais doce e um amor do tamanho do mundo. Ganhei na loteria por tê-lo na minha vida. E ele sabe disso.
“Querido Pai,

Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas conseqüências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento.

De imediato eu só me recordo de um incidente dos primeiros anos. Talvez você também se lembre dele. Uma noite eu choramingava sem parar pedindo água, com certeza não de sede, mas provavelmente em parte para aborrecer, em parte para me distrair. Depois que algumas ameaças severas não tinham adiantado, você me tirou da cama, me levou para a varanda e me deixou ali sozinho, por um momento, de camisola de dormir, diante da porta fechada. Não quero dizer que isso não estava certo, talvez então não fosse realmente possível conseguir o sossego noturno de outra maneira; mas quero caracterizar com isso seus recursos educativos e os efeitos que eles tiveram sobre mim. Sem dúvida, a partir daquele momento eu me tornei obediente, mas fiquei internamente lesado. Segundo a minha índole, nunca pude relacionar direito a naturalidade daquele ato inconseqüente de pedir água com o terror extraordinário de ser arrastado para fora. Anos depois eu ainda sofria com a torturante idéia de que o homem gigantesco, meu pai, à última instância, podia vir quase sem motivo me tirar da cama à noite para me levar à varando e de que eu era para ele, portanto, um nada dessa espécie (…).”
Franz
*Retirado do livro Carta ao Pai, de Franz Kafka, Companhia das Letras
]]><![CDATA[Na flor da idade]]>https://rfeldman.web.app/na-flor-da-idade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd80Wed, 05 Aug 2009 17:51:00 GMTNa flor da idade

Na flor da idade Criança é um serzinho especial mesmo.

Minha filha descobriu uma amiguinha nova no prédio, e eu fui logo fazendo o “social”:
-“Mas que menina mais linda, como você se chama?”
-“Renata.”
-“Ó! Minha xará!… Quantos anos você tem?”
– “Quatro. E você?”
– “Adivinha!…”
– “Mil.”
(…)
Ei, alguém tem um creminho da Natura aí?
]]><![CDATA[Cuidado]]>https://rfeldman.web.app/cuidado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd7fMon, 03 Aug 2009 20:43:00 GMTCuidado

Cuidado“Cuidado com o que você pede, porque você pode conseguir.”
Ouvi essa frase de uma professora do curso de psicologia, e acredito muito na verdade que ela encerra.
Tem gente que sabe sonhar e faz por onde realizar. Pede, reza, implora, corre atrás e quando vê já está voando.
Junto com a realização vem o sorriso no rosto e o friozinho na barriga. “E agora? Será que eu dou conta?”
(Ambíguo ser humano: medo e vontade, querer e fazer, inteiro e metade.)
É claro que você dá conta. Vai lá e faz. Vá em frente. Vibre. Dance. Pule. Comemore.

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<![CDATA[De volta pra casa]]>https://rfeldman.web.app/de-volta-pra-casa/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd7eSun, 02 Aug 2009 17:35:00 GMTDe volta pra casa

De volta pra casaFérias é muito bom. Revigorante. Necessário. Bom demais da da conta.

Mas tão bom quanto ir é voltar, inteiro, pro seu lugar. Sua cama. Seu chuveiro. Seu canto. Suas contas. Suas plantas.
A padaria da esquina. O pão nosso de cada dia. O bom dia. O boa noite. Essa sensação deliciosa de se sentir em casa.
Bem-vinda à rotina.
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<![CDATA[Ciclos]]>https://rfeldman.web.app/ciclos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd7dTue, 28 Jul 2009 22:03:00 GMTCiclos

Ciclos Ouvi dizer que 2009 é o ano dos ciclos. Tempo de fechar uma etapa da sua vida para abrir outra.
O que você quer ou precisa encerrar? Que janelas quer abrir? Que novo tempo quer viver?
Feliz Novo Ciclo para você.

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<![CDATA[Filhos]]>https://rfeldman.web.app/filhos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd7cMon, 27 Jul 2009 22:49:00 GMTFilhos

Filhos As primeiras palavras, os infindáveis por quês, abraço de urso, beijo de esquilo, o isso e aquilo, o meu e o seu, descobertas de minicientista, passo de bailarina, aventura de astronauta.

Amor que não se explica, não tem tamanho, preenche a alma em toda a sua extensão, razão de toda uma vida.
Rugas, cabelo branco, calvície. O sim e o não, o colo e o limite, o manual que não veio, tropeços de marinheiro, tentativa e erro, tenta de novo, disfarça o choro, “rebola pai, rebola mãe, rebola filho, eu também sou da família, também quero rebolar!…”
Filhos. Alegria e preocupação pra vida toda.
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<![CDATA[A Era do "Zelo" 3]]>https://rfeldman.web.app/a-era-do-zelo-3/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd7bSun, 26 Jul 2009 20:04:00 GMTA Era do "Zelo" 3

A Era do "Zelo" 3Os criadores de “A Era do Gelo 3” deviam estar apaixonados. Só pode.
O filme, além de divertido e cheio de graça, faz uma ode ao amor, revelado em situações de namoro, adoção e maternidade.
Dessa vez, o obstinado esquilo não está sozinho na busca da sua noz. Ele esbarra com uma esquilinha de olhos doces para acompanhá-lo nesta incessante jornada; o bicho-preguiça encontra três ovos de dinossauro e resolve adotar os “bichinhos” a qualquer custo (seus trejeitos tipicamente maternais são um show à parte); a mamute está grávida, e no final do filme dá à luz a uma linda mamutinha (seu chorinho dá gosto de ouvir).
Não sei quem se divertiu mais: eu, o Léo ou a Bella, os três de óculos 3D e a mão cheia de pipoca. Imperdível para crianças de todas as idades.

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<![CDATA[Feliz Aniversário]]>https://rfeldman.web.app/feliz-aniversario/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd7aThu, 23 Jul 2009 10:38:00 GMTFeliz Aniversário

Feliz Aniversário O fato de você ter nascido fez uma grande diferença na minha vida. Fez nascer emoções especiais, dessas que os poetas têm o dom de traduzir. Alegria, êxtase, graça, gratidão, plenitude. Sua existência preencheu de significado a minha existência, acendeu a minha luz, floresceu cada pedaço da minha estrada.
Você faz aniversário e sou eu que ganho o presente. Você sopra as velas e sou eu que faço o pedido, quase uma ordem: seja feliz, abrace seus sonhos, siga um caminho repleto de luz. (Sua felicidade é minha também.)
*Este post eu dedico ao André, amor da minha vida, meu maior presente.

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<![CDATA[Sagrado]]>https://rfeldman.web.app/sagrado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd79Tue, 21 Jul 2009 17:54:00 GMTSagrado

SagradoNum dos posts aqui do blog prestei uma homenagem ao livro “Comer, Rezar, Amar”, quando estava bem no seu início, na parte do sofrido divórcio da autora com o marido.

Mas, depois de algumas páginas, meu apetite com a história foi arrefecendo justamente na parte da Itália, e eu quase deixei a leitura de lado. (…)
Ainda bem que não fiz isso. Consegui “chegar à Índia” inteira, motivada, e acendi de novo. Eu, que nunca fiz ioga, comecei a mergulhar no universo da meditação trazido pela autora, e achei muito pertinente um mantra sagrado cuja tradução é: “Eu honro a divindade que reside em mim”.
Bacana isso. Olhar pra dentro de mim e enxergar força, fé, coragem. Me ver inteira, serena, capaz de seguir adiante o meu caminho independente do meu catolicismo, judaísmo, espiritismo ou budismo. Olhar pra dentro de mim e enxergar Deus. Saber que não estou sozinha. Isso é sagrado.
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<![CDATA[É permitido]]>https://rfeldman.web.app/e-permitido/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd78Fri, 17 Jul 2009 22:02:00 GMTÉ permitido

É permitido Sem perceber (ou com plena consciência), algumas pessoas vão se escravizando, se aprisionando em meio às tarefas do dia-a-dia, ao tic-tac do relógio, ao outro, ao “ter que”.

“Tenho que fazer isso…”
“Tenho que fazer aquilo…”
“Tenho que ser assim…”
“Tenho que ser assado…”
Experimente ser simplesmente você. Arranque as máscaras. Tire a maquiagem. Respire fundo. Você pode. Você merece.
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<![CDATA[Dor]]>https://rfeldman.web.app/dor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd77Thu, 16 Jul 2009 18:08:00 GMT

Cai o chão.
Despenca o avião.
Fecham-se as cortinas.
Demolição.

Pó, poeira, areia movediça.
Quem foi que apagou a luz?
Quem disse que homem não chora?
Quem inventou a dor?

Dor visceral.
Dor aguda.
Dor de dente.
Dor de barriga.
Nó no peito.
Cabeça latejando.
Faca entrando nos olhos.
Dor à prova de morfina.
Dor que não tem dó.
Só.

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<![CDATA[Juntando os cacos]]>https://rfeldman.web.app/juntando-os-cacos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd76Tue, 14 Jul 2009 14:27:00 GMTJuntando os cacos

Juntando os cacosTem coisas que a gente não pede pra viver. Uma decepção. Um desapontamento. Uma traição. Um rompimento. Uma separação.

Na maioria das vezes, envolve a relação de um eu com um outro. E aí é como um vaso que quebra: você pode até colar os pedaços, mas ele nunca mais vai ser o mesmo.
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<![CDATA[Papo de mulher]]>https://rfeldman.web.app/papo-de-mulher/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd75Sun, 12 Jul 2009 18:12:00 GMTPapo de mulher

Papo de mulher A pedido de uma querida amiga e leitora do blog, venho hoje “ressuscitar” um assunto da maior importância, mas que parece ter caído na rotina e no esquecimento: AIDS.
Ao passear pela interessante revista eletrônica “Papo de Homem” (papodehomem.com.br), tive acesso à maior pesquisa já feita sobre o comportamento sexual do brasileiro, realizada pelo Ministério da Saúde. Não vou me ater aqui aos números (a pesquisa está lá para quem quiser ver), mas em suma detectou-se que:1) Muita gente ainda NÃO usa camisinha com os parceiros casuais.2) O maior problema, como muitos pensam, NÃO são os jovens, que cresceram sob a pressão da conscientização. O alerta vermelho está piscando para pessoas entre 50 e 54 anos, que tanto nas suas relações fixas quanto casuais NÃO têm o hábito de usar a camisinha.3) Traição: a maioria dos homens e mulheres que possuem parceiro fixo NÃO usam camisinha nas suas relações extra-conjugais.
Este terceiro item merecia um post a parte. Para quem é traído, como se não bastasse o grande estrago na alma, fica a possibilidade de um estrago no corpo, no sangue, nas células deterioradas por um vírus que mata em silêncio.
É de enlouquecer. A falta da camisinha vira camisa de força. Dupla negligência com o amor.

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<![CDATA[Serotonina]]>https://rfeldman.web.app/serotonina/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd74Fri, 10 Jul 2009 16:06:00 GMTSerotonina

Serotonina Sol, ar fresco, energia.

Entrega, movimento, riso.
Vontade de abraçar o mundo.
Correr pro abraço.
Fogos de artifício.
Alegria correndo nas veias.
Ser. Ter. Tonina.
Tinindo.
]]><![CDATA[Bronca]]>https://rfeldman.web.app/bronca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd73Thu, 09 Jul 2009 20:00:00 GMT

Mais uma do Léo, só pra gente lembrar o quanto criança é um serzinho mesmo muito especial, com espontaneidade pra dar e vender: estava eu folheando o seu portifólio (pasta de trabalhos desenvolvidos ao longo do semestre), encantada com os desenhos, pinturas, o nome dele escrito em letra cursiva, quando me deparei com a seguinte atividade:
“O que você mais gosta na escola?”
“O pátio, as brincadeiras, os amigos.”
“O que você menos gosta?”
“A professora”.
Diante do meu espanto, ele disse: “Ah, ela dá muita bronca na gente!..”

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<![CDATA[Luto]]>https://rfeldman.web.app/luto/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd72Wed, 08 Jul 2009 14:45:00 GMTLuto

Luto

Morte súbita.
Morte lenta.
Luto.
Traição.
Assombração.
Luto.
Despedida.
Malas prontas.
Luto.
Perda do emprego.
Casamento desfeito.
Luto.
Vida.
Esperança.

Mudança.

Luta.
]]><![CDATA[Felizidade]]>https://rfeldman.web.app/felizidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd71Mon, 06 Jul 2009 17:10:00 GMTFelizidade

FelizidadeAcabo de voltar, toda feliz, de um encontro com o Grupo de Terceira Idade Bem Viver, do Olympico Clube. Uma vez por mês me reúno com estas pessoas tão vividas e cheias de vida para conversarmos sobre emoções, sentimentos, perdas, vivências, etc.

Hoje o tema foi Felicidade. Essa palavrinha tão comum e almejada que está muito mais dentro da gente do que fora. Que reside muito mais na simplicidade do que na complicação. Que é chão e ao mesmo tempo céu, e tem uma capacidade enorme de nos fazer sentir inteiros.
E se a gente troca o c pelo z, vira feliz idade. Nem a terceira, nem quarta, nem primeira. Simplesmente a idade que a gente tem hoje. Agora, neste exato momento, é hora de ser feliz. Depende do seu olhar. Da direção que a sua vida toma. Do pensamento que você tem.
O que é felicidade, para você?
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<![CDATA[Acredita?]]>https://rfeldman.web.app/acredita/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd70Fri, 03 Jul 2009 17:52:00 GMTAcredita?

Acredita?

Quando eu era adolescente, há algumas décadas atrás, esse negócio de “ficar” (que hoje já está ultrapassado, a moda agora é “pegar”) não me atraía muito. Eu sempre gostei do vínculo, do pedido de namoro, do cineminha domingo à tarde… Enquanto o namorado não aparecia, eu ficava me perguntando como ele iria aparecer. Em que circunstância ele iria chegar na minha vida: se numa sala de aula ou no barzinho, no ponto de ônibus ou no correio elegante da festa junina. Acabou sendo num concerto de piano, amor à primeira vista, amor pra toda vida.
Na minha “perguntação”, acabei encontrando a resposta. E aprendi que, quando a gente quer muito alguma coisa – seja um namorado, um emprego, um mestrado -, uma hora a resposta vem. Você só precisa acreditar.
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<![CDATA[Escute a aeromoça]]>https://rfeldman.web.app/escute-a-aeromoca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd6fWed, 01 Jul 2009 23:21:00 GMT

A queixa é comum: “Faço tudo pelo outro, acabo esquecendo de mim.”
Esse outro pode ser o marido, o filho, o trabalho, pai, mãe, papagaio. A questão é que, quando você coloca o outro em primeiro lugar, você acaba ficando sem lugar. É muita doação, muita arrumação, um dispêndio danado de energia.
Sabe aquela famosa fala da aeromoça? “Em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automáticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca e somente depois ajude quem estiver ao seu lado, mesmo que crianças ou idosos.”
É isso. Questão de sobrevivência aprender a se colocar em primeiro lugar.

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<![CDATA["São tantas as emoções"]]>https://rfeldman.web.app/sao-tantas-as-emocoes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd6eMon, 29 Jun 2009 16:19:00 GMT

Ontem dei uma palestra para um grupo de jovens da Igreja São João Evangelista, sobre o tema “Emoções, Sentimentos e Afetividade”. Em determinado momento, perguntei a cada um dos participantes “Qual foi a maior emoção da sua vida.”
A maioria falou (e chorou) sobre a perda de um ente querido.
É. Por mais que a morte seja algo dolorosamente certo, arranca pedaço da gente. Embaça a vista. Faz doer a alma.
Paradoxalmente, o nascimento de um filho surgiu em segundo lugar como a maior emoção já vivida. (Eu me encaixo aqui.)
E muitos disseram que a maior emoção da sua vida ainda está por vir.
E você? Qual foi (ou ainda será, de acordo com o que você sonha) a maior emoção da sua vida?

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<![CDATA[Ansiedade]]>https://rfeldman.web.app/ansiedade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd6dFri, 26 Jun 2009 18:17:00 GMTAnsiedade

AnsiedadePra comer. Pra beber. Pra ir. Pra chegar. Pra ligar. Pra falar.
A ansiedade produtiva move a gente. A improdutiva acelera, embola, atropela.
Respire fundo. Conte até dez. Experimente trocar ansiedade por serenidade.
Você está na idade.

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<![CDATA[Rouquidão]]>https://rfeldman.web.app/rouquidao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd6cThu, 25 Jun 2009 19:47:00 GMTRouquidão

RouquidãoPara quem acredita em leitura corporal, anota aí: “voz rouca é vontade de namorar.” (…)

É, o amor deixa mesmo a gente sem voz.
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<![CDATA[Dica da hora]]>https://rfeldman.web.app/dica-da-hora/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd6bThu, 25 Jun 2009 17:16:00 GMTDica da hora

Dica da horaEm tempos de gripe suína, aviária e humana, aí vai uma dica que funcionou muito comigo: chá de hortelã (com folhas fresquinhas, é claro) para descongestionar até a alma, e chá de hortelã com gengibre para dar aquela aliviada na garganta. Deixe ferver por alguns minutos, escolha a xícara mais bonita e aproveite o friozinho debaixo das cobertas!…

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<![CDATA[Saudade]]>https://rfeldman.web.app/saudade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd6aTue, 23 Jun 2009 20:57:00 GMTSaudade

Saudade “Dentro de cada pessoa tem um cantinho escondido… Decorado de saudade….”
Deliciosa essa música da Marisa Monte. E verdadeira também.
Se você olhar pra dentro de você, também vai encontrar um cantinho escondido. Ou escancarado, talvez. Quem sabe arejado? Florido? Já sei: um cantinho trancado a sete chaves…
Eu tenho um cantinho iluminado. Saudade de vó, sabe o que é isso? Vó que rima com xodó e pão-de-ló. Vó que é mãe com açúcar, abraço de urso, amor pra toda vida.
Quando ela morreu, eu tinha só quatro anos. Mas nossa ligação foi tão forte que eu fui crescendo lembrando de tudo, nos mínimos detalhes: o chinelo azul que eu insistia em calçar quando ia dormir na casa dela; os alegres passeios no Fusca azul (eu deitada lá atrás, no “buraco”, me divertindo com o formato das nuvens); o pirulito de açúcar alaranjado do Mercado Distrital; o chocolate Alpino que eu ia lambuzando sem pressa…
Não, vó, você não morreu. Está mais viva do que nunca nas minhas lembranças, nas minhas andanças, no nome da sua bisneta, na minha genética, iluminando o meu cantinho “decorado de saudade”…

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<![CDATA["Mini-monstrinha"]]>https://rfeldman.web.app/mini-monstrinha/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd69Tue, 23 Jun 2009 14:27:00 GMT"Mini-monstrinha"

"Mini-monstrinha" O Léo é louco pela Bella. Abraça, pega no colo, cuida, protege, quer fazer tudo com ela. Mas ontem, enquanto ele foi ao banheiro, a espuletinha jogou pelos ares o tabuleiro do seu jogo Lince com todas aquelas centenas de pecinhas coloridas.
Sem perder a “classe”, muito calmo por sinal, chega o Léo com a pergunta que não quer calar: “O que é que a mini-coisinha, etezinha, monstrinha fez?”
Metade de mim era vontade de rir. A outra metade deve ter demonstrado, de leve, uma “mini-repreensão” aos “carinhosos” apelidos que ele acabara de pôr na irmã. Ao que ele respondeu com uma perspicácia gigante: “Modo de dizer, mãe!…”.

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<![CDATA[Último suspiro]]>https://rfeldman.web.app/ultimo-suspiro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd68Mon, 22 Jun 2009 18:18:00 GMTÚltimo suspiro

Último suspiroSabe aqueles filmes que tocam fundo na alma da gente? Foi assim que “A Partida” me tocou. Singular, emocionante, imperdível. Não é à toa que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Resumindo a ópera: um violoncelista se vê desempregado quando a orquestra em que atua é dissolvida, e acaba encontrando uma nova e insólita profissão: “acondicionador” de corpos em caixões, o que também envolve a árdua tarefa de lavar, maquiar e vestir aquele(a) que morreu.
Você deve estar torcendo o nariz, se perguntando porque eu falaria de algo tão repugnante e prosaico aqui, neste blog que é um convite à vida. Porque – apesar de quase ninguém pensar nisso, existe uma profissão assim: sem nome nem diploma, mas cheia de valor, tornando mais suave e até mais bonito o doloroso momento da morte, a impactante despedida de alguém que está partindo.
Muna-se de pipoca e caixas de lenço e prepare-se para apreciar um filme belíssimo. A morte nos convidando a pensar na vida – e por consequência na família, nas nossas escolhas, nos sentimentos e ressentimentos cultivados, no amor pelo outro e pela profissão.
Bravo!

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<![CDATA[Aos alunos, com carinho - Parte 2.]]>https://rfeldman.web.app/aos-alunos-com-carinho-parte-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd67Fri, 19 Jun 2009 10:31:00 GMT

Evitando maiores crises de ciúmes, publico aqui também o meu carinho e orgulho pelos alunos do 4º período, igualmente cheios de empenho e boas idéias.
Vocês vão longe!

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<![CDATA[Aos alunos, com carinho.]]>https://rfeldman.web.app/aos-alunos-com-carinho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd66Thu, 18 Jun 2009 10:16:00 GMT

Acabo de sair do auditório da faculdade, onde meus alunos do 5º período apresentaram o trabalho final: campanhas publicitárias para clientes reais como Melissa, Aymoré, Adidas, Seda e Estrela.
Dá um orgulho danado ver estes meninos virando gente grande, ensaiando seus primeiros passos, descobrindo o talento que existe dentro de cada um.
O mercado não perde por esperar.

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<![CDATA[Você "se morde de ciúmes"?]]>https://rfeldman.web.app/voce-se-morde-de-ciumes/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd65Wed, 17 Jun 2009 16:52:00 GMTVocê "se morde de ciúmes"?

Você "se morde de ciúmes"? No último sábado dei uma entrevista no MGTV para falar de um assunto “cabeludo”, mas que anda arrancando o cabelo de muita gente: ciúmes.

Falei sobre o ciúmes saudável (aquele temperinho que faz parte, mas não pode virar “pimenta”…) Falei do ciúmes como sinalizador do amor – aquele que surge quando a relação está bem “arroz com feijão”, exatamente para mostrar que o amor ainda existe… Falei do ciúmes entre irmãos (Caim e Abel que o digam), entre mãe e filha, patroa e babá…
Quando saí do estúdio, ainda comentando o assunto com a produtora do programa, atentei para um outro tipo de ciúmes muito em voga na atualidade: o ciúmes eletrônico. É. Agora, ao invés de cheirar a camisa do marido e procurar marcas de batom, as mulheres rastreiam o celular, invadem caixas de e-mails, fuçam orkuts e a confusão está feita. E olha que este comportamento não é exclusivo do sexo feminino.
Quem é que nunca cantou o consagrado refrão do Ultraje a Rigor: “Mas eu me mordo de ciúmes…”
Só que morder dói. Machuca. Sangra. E pode até arrancar pedaço.
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<![CDATA[Depressão]]>https://rfeldman.web.app/depressao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd64Mon, 15 Jun 2009 21:51:00 GMT

Não é à toa que depressão termina com ÃO – palavra no aumentativo, grande o suficiente para aumentar a dor, a tristeza, a vontade de não levantar da cama.
Se você colocar um N na frente do ÃO, vira NÃO: não ao riso, não ao amor, não ao trabalho, não aos amigos, não à vida.
A boa notícia é que além do não tem o SIM: sim ao sol, à rua, à cura e à transformação. Sim senhor.

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<![CDATA[Namorados]]>https://rfeldman.web.app/namorados-2/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd63Fri, 12 Jun 2009 18:04:00 GMTNamorados

Namorados

Para os que estão pegando. Para os que estão apegando. Para os que estão amando apesar de tudo. Para os que estão se reencontrando. Para os que estão comprando, comprando, comprando. Para os que estão se declarando. Para os que estão buscando. Para os que estão se apaixonando.
Feliz Dia dos Namorados do seu jeito. Porque como já dizia Caetano, “Qualquer maneira de amor vale a pena. Qualquer maneira de amor vale amar.”
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<![CDATA[Pegou geral]]>https://rfeldman.web.app/pegou-geral/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd62Fri, 12 Jun 2009 16:59:00 GMT

De uma querida sobrinha minha de 15 anos: “Pegar pode. Não pode é apegar.”

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<![CDATA[Terapêutico]]>https://rfeldman.web.app/terapeutico/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd61Wed, 10 Jun 2009 17:20:00 GMT

Supermercado.
Escaldapé.
Massagem.
Cinema com pipoca.
Conhecer novas paisagens.
Dormir depois do almoço.
Chocolate quente.
Gavetas arrumadas, cada coisa no seu lugar.
O que é terapêutico para você?

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<![CDATA[Solidão]]>https://rfeldman.web.app/solidao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd60Mon, 08 Jun 2009 17:43:00 GMTSolidão

SolidãoEste sábado tive o prazer de assistir à peça “A alma imoral”, adaptada do livro de Nilton Bonder pela talentosa e premiada atriz Clarice Niskier.

A peça é um presente, tanto pelo conteúdo quanto pela forma. Em um instigante monólogo, a atriz se desnuda e se cobre ao refletir sobre o bom e o correto, o apego e o desapego, a traição e a fidelidade. Inusitadamente, abre espaço para que a platéia peça que ela repita alguns trechos de sua fala.
Reproduzo aqui, com as minhas palavras, um de seus pensamentos mais marcantes: “A pior solidão é aquela em que o sujeito não consegue estar consigo mesmo.”
(…)
Tenho ouvido muito acerca desta solidão, de todas a mais torturante e avassaladora. Se não há alguém, não se é ninguém. É ficar sem chão, sem rumo, sem tudo. Angústia visceral que cria um buraco enorme na alma.
E você?
Como fica quando está SÓ com VOCÊ?
]]><![CDATA[Silêncio Ensurdecedor]]>https://rfeldman.web.app/silencio-ensurdecedor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd5fFri, 05 Jun 2009 09:36:00 GMT

A convite do meu amigo Bê Sant´Anna (professor, publicitário, locutor e blogueiro, apaixonado pelas palavras faladas e escritas), abro aqui um espaço para falar do silêncio. Não do silêncio generosamente propiciado pela ioga, alunos interessados ou ruas vazias, mas o silêncio constrangedor – aquele que incomoda, agride, embaraça, machuca.
Talvez você já tenha passado por alguma destas situações:
( ) Descer 15 andares de elevador na maior falta de graça, tendo que quebrar o gelo com o velho : “Está frio, né?”
( ) Sofrer com o(a) namorado(a) (leia-se também marido, esposa) emburrado(a), com uma “tromba” de todo o tamanho.
( ) Mandar um e-mail e não receber a tão esperada resposta.
( ) Ficar olhando pro terapeuta sem ter absolutamente nada para dizer.
Num mundo tão acostumado a falar, falar, falar, o silêncio soa às vezes como um indesejável penetra de festa. Inconveniente, incômodo, embaraçoso, constrange-DOR.
Grandissíssimo paradoxo este: o silêncio fala alto, grita, faz um barulho danado.
Faz parte.

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<![CDATA[Bons tempos]]>https://rfeldman.web.app/bons-tempos/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd5eWed, 03 Jun 2009 16:14:00 GMT

Tempo seco. Junto com esse friozinho delicioso vêm as viroses, bactérias, peitos cheios, otites, rinites, sinusites.
A gente que é “velho de guerra” acaba dando um jeito: toma um antigripal, enche a bolsa de lenço, entra no mel, se enche de chá e seja o que Deus quiser.
Mas com criança é diferente. Principalmente criança neném, que ainda não fala, não sabe soar o nariz e acaba engolindo a tosse, levando mais bactéria pra dentro.
Aí o que a gente faz? Liga pro pediatra. Não tem horário. Agenda lotada. Deixa recado.
Quando a criança já piorou o que podia e além do peito cheio fica com estômago vazio depois de vomitar tudo o que comeu, você vai parar no pronto-atendimento de um hospital, que de pronto não tem nada. Espera algumas horas na fila enquanto o seu pimpolho troca brinquedos, biscoitos e bactérias com outras 49 crianças doentes.
Bons tempos aqueles em que o Doutor ia de casa em casa, tocando a campainha e sentindo já da porta o cheirinho de café, maleta na mão e muita disposição.
Bons tempos…

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<![CDATA[Cachaça]]>https://rfeldman.web.app/cachaca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd5dTue, 02 Jun 2009 22:33:00 GMT

Dá trabalho. Dá suor. Dá pano pra manga.
Dou o sangue. Dou a voz. Dou presença.
Dar aula é uma cachaça que eu tenho a alegria de beber.

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<![CDATA[Roda gigante]]>https://rfeldman.web.app/roda-gigante/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd5cTue, 02 Jun 2009 09:58:00 GMT

Sábado à noite fui com o Léo ao Parque Guanabara, onde foi comemorado o aniversário do filho de uma grande amiga. Lá pelas tantas, quando o parque já ia fechar, ele queria porque queria dar uma voltinha na roda gigante.
Já tínhamos nos divertido a valer no Minhocão, Trem-Fantasma, Bate-Bate, etc, e tive que dizer:
“-Mas filho, o parque já está fechando… Imagine se ele fechar quando a gente estiver lá no alto da roda gigante, nesse frio… Já pensou se a gente tiver que dormir lá?”
“-Ah, mãe, aí a gente não ia ter que escovar dente!…”

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<![CDATA[Baixa auto-estima]]>https://rfeldman.web.app/baixa-auto-estima/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd5bFri, 29 May 2009 16:05:00 GMT

“Às vezes é muito difícil fazer as pessoas rir. Principalmente para quem, como eu, é muito inseguro. Sempre acho que os diretores vão me demitir.”
Acreditem ou não, foi a famosa atriz espanhola Penélope Cruz quem falou isso. Está na Revista Veja do dia 27 de maio.
Celebridade ou não, muita gente compartilha desse sombrio estado de insegurança. E a insegurança paralisa, congela o movimento, diminui quem quer crescer.
Ainda bem que inventaram os antônimos nessa vida: para baixa auto-estima, alta auto-estima; para insegurança, segurança; para fraqueza, força.
Eu sei que não é tão simples assim. Mas só de enxergar uma perspectiva de contraposição já se abre algum caminho, alguma janela para tomar ar e apreciar uma nova paisagem.
Transformar é possível. Só resta acreditar.

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<![CDATA[Amor virtual]]>https://rfeldman.web.app/amor-virtual/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd5aThu, 28 May 2009 16:54:00 GMTAmor virtual

Amor virtual

Passando ontem em uma livraria para comprar um presente, vi um livrinho que me chamou a atenção: a capa toda vermelha e o título: “eu@teamo.com.br – O amor nos tempos da internet”. Folheando, vi que trata-se da história real entre uma escritora e um publicitário que começaram a trocar e-mails , se apaixonaram e acabaram no altar.
O livro (que acabei comprando, é claro) é simplesmente a reprodução, na íntegra, de todas as mensagens enviadas pelos dois – Leticia Wierzchowskie e Marcelo Pires, e foi dado de lembrança aos convidados no casamento.
Para quem ainda não encontrou o amor e já cansou de procurar em tempo real, está aí uma prova (de amor) de que ele também acontece pelo dedilhar acelerado, mouse em prontidão, pontos de reticência e exclamação. Que bom que ele acontece.
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<![CDATA[Menino pede socorro]]>https://rfeldman.web.app/menino-pede-socorro/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd59Tue, 26 May 2009 18:13:00 GMT

Não é preciso ser Freud para explicar o quanto a infância deixa marcas significativas – muitas delas indeléveis – na nossa vida. Se você olhar para trás, o que vai ver? (…)Eu vejo alegria, brincadeiras, paparico de pai e mãe, briga com o irmão, colo de vó, escola, amigos, brigadeiro, boneca, patins…
Enquanto você pensa na sua infância, UM MENINO PEDE SOCORRO. Ao invés de afeto, recebe maus tratos da mãe: agressões físicas, privação de alimentos, castigo no quarto trancado. Sua idade é de 11 anos mas o peso é de uma criança de 7. Os pais são separados. O pai detinha a guarda provisória do filho, mas a decisão de um desembargador devolveu-a para a mãe, apesar da recomendação de psicólogos e assistentes sociais de que o filho NÃO ficasse com a mãe. O juiz ouviu a criança, que deixou claro seu desejo de ficar com o pai.
No último dia 26 de março, o Jornal Estado de Minas publicou a seguinte matéria: “Modelo russa invade escola no Belvedere”. A mãe do menino, acompanhada de policiais e oficiais de justiça, foi retomar a guarda do filho. Tirou a criança no meio da aula e levou-a com ela. Enquanto o táxi arrancava, podia-se ouvir os gritos do menino pedindo por socorro.
Diante do sofrimento desta criança, foi criado um blog: http://meninopedesocorro.wordpress.com.
Acessar este endereço é acessar a dor e a injustiça que sofre esta criança, numa tentativa esperançosa de que as pessoas, a imprensa e o direito se mobilizem para mudar esta situação absurda e pungente.
O menino pede socorro, pede ajuda, pede de volta a sua infância.

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<![CDATA[Cordão Umbilical]]>https://rfeldman.web.app/cordao-umbilical/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd58Mon, 25 May 2009 10:21:00 GMTCordão Umbilical

Cordão Umbilical

Este post foi “encomendado”pela minha querida amiga Vanice Guedes, às voltas com algumas reflexões sobre o apego.
Convite: volte alguns anos no tempo e busque visualizar o momento do seu nascimento. Você não vai se lembrar, mas é certo que chorou quando saiu da barriga da sua mãe. O corte do cordão umbilical representou a pimeira grande separação da sua vida.
De lá pra cá vieram outras perdas: a mamadeira, o bico, as fraldas, os dentes de leite. Provavelmente você também mudou de escola, de casa, de namorado e emprego.
E hoje pode estar às voltas com velhos papéis, velhos hábitos, gavetas lotadas, relações que precisam ser cortadas.
Desapegar dói. Às vezes cura. Mas não deixa de ser um processo de mudança e, como toda mudança, traz dor, crescimento e um frio enorme na barriga.
Comecei falando de nascimento e é inevitável que termine falando na morte. Nesse corte pungente que rasga a alma (isso quando não leva um pedaço grande dela) e sangra até causar hemorragia.
Perder uma pessoa querida, principalmente quando a perda é abrupta, tira o chão da gente. E aí não há filosofia no mundo que compreenda o grande vazio visceral que fica.
Há de chorar. Há de viver o luto. Há de aprender a desapegar da voz, do encontro, do colo e de tudo que é de carne e osso. Mas também há de sobre-viver – viver sobre essa dor aguda que não para de doer.
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<![CDATA[Danoninho]]>https://rfeldman.web.app/danoninho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd57Fri, 22 May 2009 17:13:00 GMT

Foi com alegria que ouvi hoje da minha massagista, especializada em leitura corporal, a seguinte frase: “Você tem uma criança bem viva aí dentro de você… Uma criança com os olhos brilhando, sorriso espontâneo, que parece querer dizer a toda hora: ´Oba!!!”.
É assim que eu me sinto, apesar de já não ser mais a marreca (apelido carinhoso da querida vizinha Maria José) que batia na porta dessa mesma vizinha com um sorriso sapeca, sacola aberta e a pergunta cheia de graça e espontaneidade : “Oi! Tem Danoninho?”.
A “marreca” cresceu, ficou mais séria e certinha, fez nascer seus marrequinhos, trocou o Danoninho por Yakult, passou da roda gigante pra roda da vida, mas onde vai leva no colo a criança que foi um dia.

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<![CDATA["Sinto, logo existo."]]>https://rfeldman.web.app/sinto-logo-existo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd56Wed, 20 May 2009 16:28:00 GMT"Sinto, logo existo."

"Sinto, logo existo."

Segunda-feira, 18 de maio, foi o Dia da Luta Antimanicomial. Vi na faculdade um cartaz que me chamou a atenção pela beleza do mote criado: “Sinto, logo existo.”
Seja o sentimento falado, mudo, louco ou aprisionado, ele dá sentido a toda uma existência.
Para pensar e arejar a alma:
*Por que será que é tão difícil falar dos sentimentos?
*Por que tanta gente prefere banalizar o que vem de dentro?
*Por que imobilizar com camisa de força o que foi feito para fluir?
*Por que passar tetra-chave na emoção?
Sentir é causa de existir.
Como você se sente?
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<![CDATA[Muito prazer]]>https://rfeldman.web.app/muito-prazer/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd55Mon, 18 May 2009 19:19:00 GMTMuito prazer

Muito prazerNo final de semana assisti a um delicioso filme de Woody Allen, exibido recentemente nos cinemas: Vicky Cristina Barcelona.

Por duas horas de riso e pipoca “visitei”, encantada, essa cidade maravilhosa que é Barcelona. Apaixonante, indescritível, absolutamente convidativa…
O filme chama atenção pela forma como aborda o prazer. Não só o prazer que vem do desejo, da pele e da química perfeita, mas que também provoca novos pensamentos e instiga a mudança, seja ela escancarada ou apenas interiorizada.
Vicky Cristina Barcelona também poderia se chamar “Carpe Diem”. Chega a ser engraçada a forma “séria” como o sedutor ator Javier Bardem chega até a mesa onde estão jantando duas mulheres até então desconhecidas (Vicky e Cristina) e diz sem nenhum rodeio: “Vamos pegar um avião até Oviedo e fazer amor, nós três”.
Simples assim.
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<![CDATA["Eu não consigo!..."]]>https://rfeldman.web.app/eu-nao-consigo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd54Thu, 14 May 2009 11:09:00 GMT

Tenho ouvido, estarrecida, o depoimento de pais e profissionais da área de psicologia sobre uma nova pressão: a pressão da alfabetização. Está cada vez mais comum algumas escolas quererem que seus pequenos alunos leiam cada vez mais cedo.
Pra quê? Qual a fundamentação pedagógica para que uma criança de 3, 4, 5 anos saiba ler e escrever? Para massagear o ego da escola e aguçar a vaidade dos pais?
E a criança, como fica nessa história? Pressionada. Desmotivada. E o que é mais grave: com a auto-estima baixa.
Sei de crianças que, diante de um outdoor ou manchete de jornal, começaram a repetir várias vezes a frase: “EU NÃO CONSIGO!… EU NÃO CONSIGO LER, PAPAI!”
Sei de escolas que se orgulham de preparar verdadeiros “vestibulinhos” para receber seus pequenos grandes gênios.
Ler e escrever precisa ser um processo natural, sem data e hora marcada para acontecer. Neste processo, AUTO-ESTIMA é palavra das mais importantes.

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<![CDATA[Hábito]]>https://rfeldman.web.app/habito/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd53Tue, 12 May 2009 10:21:00 GMTHábito

Hábito

Quem conhece o amor sabe o que é viver a alegria e tranquilidade do hábito.
Hábito que habita o bom dia, as escovas de dente, o doce ruído dos talheres à mesa, a roupa de cama, o beijo de despedida.
Quem conhece o amor sabe o que é viver o hábito da torcida, do cuidado, dos projetos tão em comum. Hábito que habita os porquês do filho, o chorinho da filha, o abraço cheio de energia ao final de um dia cheio de trabalho.
Quem conhece o amor sabe o que é viver o hábito dos domingos de sol ou de chuva, quando o melhor programa é estar simplesmente junto, não importa onde.
Quanto mais cresce o amor, mais a gente se acostuma com o outro: pernas entrelaçadas para dormir, mensagens de boa viagem, boas risadas à hora do jantar, porto seguro que torna mais leve os assuntos pesados.
Mas o amor se assusta qundo se habitua à rispidez dos desencontros, aos rótulos que são pregados, às palavras que são colocadas na boca.
Se deixar, o amor se habitua à falta de conversa, ao bom dia atravessado, ao carinho atropelado, à autoridade surda. (Será que o amor se acostuma?)
O leve fica pesado, o pequeno fica grande, o domingo vira segunda, a ponte vira abismo, o amor vira dor.

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<![CDATA[TPM]]>https://rfeldman.web.app/tpm/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd52Mon, 11 May 2009 17:34:00 GMT

Um dia desses ouvi da minha querida massagista, Júnia Alves, um novo significado para a sigla da famosa Tensão Pré-Menstrual : “Tempo Para Mim”.
Acho que ela tem toda razão. Antigamente, a menstruação era quase um fenômeno: as mulheres nem saíam de casa, ficavam mais quietas se preservando, guardando energia… (Contei isso pro meu marido e ele disse que “elas deviam ficar enjauladas”, tive que ouvi isso…)
Mas a verdade é que TPM existe, não é filme de ficcção, e acho que realmente as mulheres precisam de um tempo para elas nesse período tão tenso e delicado…
O problema é que tem mulher que acha que tem que ser “mulher maravilha”: eu mesma me peguei um dia, com os hormônios à flor da pele, achando que tinha que fazer supermercado em plena sexta-feira à noite, com o maridão e os meninos a tiracolo. Apesar de amar fazer supermercado (sei que isso é raridade, mas pra mim é um pouco terapia…), cheguei em casa esbudegada, sem força nas pernas e um pingo de paciência. Tudo o que eu queria era virar um eremita e ficar sozinha, quietinha no alto de uma montanha, ouvindo só o silêncio.
Se você é mulher e já passou por isso, está feito o convite: transforme a TPM em TPV – Tempo Para Você.

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<![CDATA[A vida não é uma propaganda de margarina]]>https://rfeldman.web.app/a-vida-nao-e-uma-propaganda-de-margarina/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd51Mon, 11 May 2009 17:30:00 GMTA vida não é uma propaganda de margarina

A vida não é uma propaganda de margarina

A cena é perfeita: mesa impecavelmente posta, crianças felizes diante do prato de cereais, mãe bem-humorada servindo o café, pai sorridente lendo o jornal, margarina derretendo no pão. Um perfeito mundo cor-de-rosa.
Fora da TV, a vida ganha outras tonalidades. Muitas vezes as relações não deslizam tão fácil quanto a margarina no pão. Ao invés de trilha emotiva, silêncio fazendo barulho. Ao invés de sol, tempo fechado. Como às vezes é difícil digerir as diferenças e entender que a perfeição não passa de um comercial de TV…
Bom mesmo é quando a gente aprende a ser, muito mais que mero espectador, autor de mudanças na nossa maneira de pensar, sentir, agir e interagir com o outro.
Aceitar as diferenças, dormir com o imprevisto e conviver com o imperfeito é dar bom dia à vida.

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<![CDATA[Dor de homem e dor de mulher]]>https://rfeldman.web.app/dor-de-homem-e-dor-de-mulher/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd50Wed, 06 May 2009 17:49:00 GMT

Essa eu ouvi do meu querido dentista fisioterapeuta buco-maxilar, Dr. Marcelo Mascarenhas, quando fui fazer uma nova plaquinha para aplacar de vez o meu bruxismo…
“Homem marca consulta assim:
– Doutor, eu estou com uma dor alucinante há um ano. Dá pra gente marcar um horário pra este mês?

Mulher marca assim:
-Doutor, eu amanheci hoje com uma dorzinha no maxilar direito… Você tem algum horário pra hoje? ”

Ai, ai… Esta é apenas uma pequena amostra da grande diferença entre homens e mulheres…
Da dor ao futebol, passando ainda pelo sexo, romantismo, TPM, filhos, etc, etc e tal, é assunto que dá um livro. Uma boa pedida pra gente conversar aqui no blog.

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<![CDATA[Briga de criança]]>https://rfeldman.web.app/briga-de-crianca/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd4fMon, 04 May 2009 20:23:00 GMT

Ontem o meu filho de 6 anos veio me contar de uma briga que aconteceu numa festinha de aniversário:
– Mãe, o Fulano me deu um chute e eu não gostei.
– E o que você fez, Léo?
– Contei pra mãe dele.
– E o que ela fez?
– Disse que ia colocar ele de castigo.
– E você falou alguma coisa com ele?
– Não… Mas eu devolvi o chute, porque não era meu…
(…)
Coisas de criança. Espontaneidade deliciosa de criança que a gente tem mesmo que escrever pra não esquecer.

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<![CDATA[Constelações Familiares]]>https://rfeldman.web.app/constelacoes-familiares/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd4eMon, 04 May 2009 19:54:00 GMT

Semana passada participei de um workshop de Constelações Familiares. O nome causa estranhamento pra uns, curiosidade pra outros, mas fato é que esta nova abordagem terapêutica tem dado o que falar – e o que sentir.
A constelação familiar é um fenômeno complexo, difícil de explicar (tem que ir pra ver e entender na prática como a coisa acontece), mas é regido por alguns princípios muito claros: a necessidade do perdão, a importância de agradecer aos nossos pais pela nossa existência e de reverenciar os nossos ancestrais.
Sabe aquele seu comportamento (ou pensamento) que tanto te aflige, angustia, faz sofrer? Pois é. Pode ser que você esteja repetindo a sua vó, ou tentando suprir o seu pai de alguma coisa que ele não teve… Parece nonsense, mas tem muita lógica…
A família tem mais influência na nossa vida do que a gente pensa. É sangue, amor, ligação, cordão umbilical. Sou eu agradecendo todos os dias por ter pai e mãe vivos, tão amorosamente ligados a mim, presentes preciosos da minha vida, razão e emoção da minha existência.

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<![CDATA[Trabalho]]>https://rfeldman.web.app/trabalho/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd4dThu, 30 Apr 2009 17:36:00 GMTTrabalho

Trabalho

Véspera de um merecido descanso para comemorar o Dia do Trabalho. Me lembro agora de uma gostosa canção do Paralamas do Sucesso -“Capitão de Indústria”, que diz: “Eu acordo pra trabalhar, eu durmo pra trabalhar, eu corro pra trabalhar…”.
Feliz de quem pode comemorar o 1º de Maio não só porque tem um trabalho, mas porque trabalha no que gosta, ama o que faz, se realiza a cada dia, a cada despertador que toca chamando para a labuta.
Agradeço a Deus todos os dias por ter um trabalho que me preenche tanto a alma.
Feliz Dia do Trabalho para você que também já se encontrou ou que ainda está procurando.
E bom merecido descanso!
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<![CDATA[Medo]]>https://rfeldman.web.app/medo/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd4cWed, 29 Apr 2009 21:03:00 GMT

Como uma palavra tão pequena pode tomar tanto espaço na vida de algumas pessoas?
Medo de amar, medo de errar, medo de sofrer e crescer. Medo de ficar sozinho, medo de ficar junto, medo de ter medo.
Que bom que existe uma palavra maior: CORAGEM. Em letras garrafais, então, parece ainda maior que o medo. É isso aí. Como sabiamente dizia Guimarães Rosa, “o que a vida quer da gente é coragem”.

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<![CDATA[Livro de Cabeceira]]>https://rfeldman.web.app/livro-de-cabeceira/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd4bMon, 27 Apr 2009 14:49:00 GMTLivro de Cabeceira

Livro de CabeceiraEstou lendo “Comer, Rezar, Amar”, da norte-americana Elizabeth Gilbert. O livro é uma delícia, e logo no começo traz uma parte emocionante: quando a autora (protagonista de sua própria história) resolve fazer um “abaixo-assinado” pra Deus, implorando que tudo ficasse bem em relação ao seu divórcio (o marido não queria assinar de jeito nenhum…).

E aí, arrumando umas gavetas, encontrei uma prece-poema que escrevi há quatro anos atrás. Independente do credo ou religião, acho que é sempre muito confortante conversar com Deus – seja qual for o seu Deus. Que bom que a gente pode contar com essa grande escuta principalmente quando a conversa gira em torno de temas tão universais e atemporais – como medo, tristeza, desalento, solidão.
Espero que você não precise. Mas como a vida não é perfeita, e às vezes dói muito, que pelo menos a gente não fique sem fala quando há muito a dizer. Taí o meu “Pai Nosso” singelamente reinventado, com todo o respeito.
“Pai Nosso que estais no céu”, olhai por mim. Cuida dos meus medos para que eles não se transformem em temores, abismos, terrores sem fim. Acende a sua luz, encontra o seu olhar protetor nos meus olhos cheios de dor. Clareia o escuro, faz-se ponte em meu caminho. Transforma o choro, a falta de compreensão em sinal de entendimento. Leva embora o que não é meu. Tira de mim o que eu não pedi pra viver. Toma conta de mim, seca essas lágrimas que embaçam os olhos, me envolve no seu manto de energia purificadora e divina. Faz do desencontro encontro. Do grito palavras de amor. “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Amém.
]]><![CDATA["Homem Diet".]]>https://rfeldman.web.app/homem-diet/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd4aSat, 25 Apr 2009 20:52:00 GMT

Tive uma agradável manhã de sábado assistindo a uma palestra promovida pelo Grupo de Estudos Psicanalíticos de Minas Gerais, sobre a Obesidade. Entre os excelentes palestrantes presentes estava o médico, professor e amigo João Gabriel Marques da Fonseca. Interessante sua fala sobre um paradoxo que vivemos nesta era do “Homem Diet”: “a sociedade cria a obesidade e depois a rejeita.”

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<![CDATA[Bom apetite!]]>https://rfeldman.web.app/bom-apetite/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd49Fri, 24 Apr 2009 15:48:00 GMT

Nunca fui uma cozinheira de mão cheia. Me falta tempo, técnica, desenvoltura na cozinha.
Mas sempre apreciei uma alimentação saborosa e saudável, e não troco a hora do almoço por nada.
Para simplificar o dia-a-dia da minha empregada e sair um pouco do “arroz com feijão”, criei uma sugestão de cardápio semanal bem variado, focado no prato principal. Confesso que me dá preguiça e um certo desgosto ouvir a cozinheira perguntar, bem na hora em que eu estou saindo de casa atrasada: “O que que é pra fazer de almoço?”
E é aí que entra o cardápio, para evitar possíveis conflitos domésticos. (Sim, porque mesmo que ela não seja de forno e fogão, eu não sei viver sem ela… Tenho comigo que uma boa empregada é 50% de um casamento. E quando o casamento inclui filhos, então, a estatística sobe pra 90%…)
Se você também não é nenhuma Ana Maria Braga mas aprecia pitadas de organização e criatividade no seu dia-a-dia, sirva-se à vontade!

2ª – Frango grelhado c/ legumes.
3ª – Fricassê de frango c/ batata palha.
4ª – Strogonofe.
5ª- Bife acebolado c/ farofa de ovo e cenoura.
6ª – Frango assado c/ creme de milho.

2ª – Galinhada.
3ª – Purê de frango c/ frango desfiado ou carne moída.
4ª – Bacalhau c/ creme de leite e leite de coco.
5ª – Bife de frango à milanesa + brócolis na manteiga.
6ª – Enroladinho de frango c/ presunto + mandioca frita.

2ª – Bife acebolado c/ fritas e farofa de bacon.
3ª – Frango assado c/ molho de maracujá.
4ª – Rocambole de frango.
5ª – Almôndega recheada c/ queijo + vagem na manteiga.
6ª – Bife de frango grelhado e mandioca cozida.

2ª – Peixe c/ legumes e purê de batata.
3ª – Frango c/ quiabo e angu.
4ª – Frango assado c/ molho de laranja.
5ª – Bife rolê.
6ª – Bife à parmegiana e couve-flor ao forno.

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<![CDATA[Pequenos momentos de grande felicidade]]>https://rfeldman.web.app/pequenos-momentos-de-grande-felicidade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd48Thu, 23 Apr 2009 10:36:00 GMTPequenos momentos de grande felicidade

Pequenos momentos de grande felicidade

Há alguns anos, uma propaganda da Lacta chamou minha atenção. Uma criança de aproximadamente dois anos, só de fralda, se lambuzava de chocolate. Na parte superior do outdoor, a frase: “Pequenos momentos de grande felicidade”.
Como chocólatra assumida que sou, reconheço que a identificação foi imediata. Como apreciadora das palavras e da emoção, parabenizo o redator da campanha pela maneira sensível e inteligente que encontrou para vender chocolate.
Até hoje levo essa frase comigo, e tenho um prazer especial em compartilhá-la com as pessoas de que gosto. Enquanto muitos procuram a felicidade como quem busca ganhar um Prêmio Nobel ou coisa grandiosamente parecida, a felicidade pode estar bem ali: num café com as amigas, no abraço de urso do filho, numa massagem relaxante, num domingo de chuva, num bom livro, naquela música que te faz voltar 20 anos no tempo e inclusive numa barra de chocolate.
Pequenos momentos de grande felicidade, é o que desejo a você.
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<![CDATA[Ganhei na loteria.]]>https://rfeldman.web.app/ganhei-na-loteria/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd47Mon, 20 Apr 2009 23:19:00 GMT

Foi assim que me senti ao assistir ao premiado “Quem quer ser um milionário?”, vencedor de oito Oscars, inclusive o de melhor filme. Saí do cinema encantada com o roteiro, a fotografia, a trilha sonora e a atuação dos atores, principalmente os mirins.
Apesar de colocar o dinheiro como tema central, o filme mostra o incomensurável valor do amor, da lealdade, da justiça e da verdade.
Imperdível.

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<![CDATA[Sobre o amor]]>https://rfeldman.web.app/sobre-o-amor/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd46Fri, 17 Apr 2009 18:49:00 GMT

Tenho no meu consultório, enfeitando o alto da estante, quatro grandes potes de vidro contendo bolinhas coloridas, cada um com um rótulo: AMOR; ALEGRIA; PAZ; ESPERANÇA.
Resolvi falar hoje um pouco sobre esse primeiro pote, tão singular e ao mesmo tempo universal.
Mesmo escutando tanto sofrimento – separações, desavenças, traições – ainda prefiro acreditar no amor. Na força que ele tem para acontecer, transformar, crescer; no amor construído sob as diferenças (talvez este seja o verdadeiro amor: aquele em que se consegue compreender e amar as diferenças…)
O amor também fecha o tempo, zanga a alma, faz chorar de doer. Desencontros fazem parte do caminho. Mas o amor precisa de sabedoria até para desencontrar. O problema não está em discutir, brigar. O problema é por que uma briga começa e como é que ela termina. Ações geram reações muitas vezes maiores que as ações. E aí o que era para ser leve fica pesado, o pequeno fica grande e a decepção, desproporcional.
Algumas palavras, dependendo da forma como são ditas, fazem o amor se sentir pequeno, feio, mau, contrariando toda uma história de amor. O amor pede liberdade e espontaneidade para respirar. Pede compreensão, juntidade, sintonia: duas pessoas jogando no mesmo time, e não se atracando como adversários.
O amor pressupõe aprendizado: aprender a brigar sem ferir o amor; aprender a enxugar o chão quando a tempestade faz o copo entornar.
Dá trabalho, mas dá para encher o pote de amor.

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<![CDATA[Irritação]]>https://rfeldman.web.app/irritacao/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd45Thu, 16 Apr 2009 15:26:00 GMT

O que te irrita? Trânsito parado? Vendedor de “pamonha, pamonha pamonha” sábado de manhã? Alarme disparado? Toalha molhada na cama? Gente lenta, prolixa ou que come de boca aberta?
O mundo está ficando muito irritado.
Por todos os poros, ruas e esquinas há alguém perdendo a paciência por aí. Mulheres e homens no auge da TPM, hormônios à flor da pele, grunhindo diante do menor estímulo (ou maior, depende do ponto de vista).
Não vou fazer aqui apologia aos monges budistas, nem sair entoando mantras sagrados, mas acho que cada um tem – se quiser – o poder de não se deixar contaminar pela irritação. Sim, porque ela passa de um pro outro rapidamente, e polui o ar.
Mas acho que o pior é o mal-estar que fica para quem se irritou. Cada vez que você tem uma explosão de irritação, é como se destilasse um veneno, uma fumaça que intoxica você mesmo, em primeiro lugar.
É claro que somos fihos de Deus, de carne e osso, e faz parte da vida ficar irritado também. Mas acredito que não seja impossível, sempre que possível, contar até 20, sair de cena ou cantarolar sua música favorita naquelas horas não tão agradáveis e serenas do dia… Experimente.

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<![CDATA[Quarto arrumado.]]>https://rfeldman.web.app/quarto-arrumado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd44Wed, 15 Apr 2009 15:48:00 GMT

Todo dia era a mesma coisa: “Léo, seu quarto tá uma bagunça!” “Guarda o tênis no armário, coloca os brinquedos no lugar!”
Até que veio a luz (viva a vovó Clara!): premiar o meu filho de 6 anos por suas “iniciativas organizativas”: cada brinquedo no lugar, cada sapato guardado no armário vale ponto.
Para ficar bem motivante e concreto, transformei os pontos em fichinhas de plástico que ele passou a guardar cuidadosamente na carteira.
No final de semana, monto na sala lá de casa uma “lojinha” com carrinho da Hot Hills,chips, figurinhas, gibis, massinha, livros, jogo da memória e lá vai o Léo às compras, feliz da vida.
Sei que lembra muito a história do ratinho da psicologia comportamental, mas tem funcionado.
Uma boa pedida pra mãe e filho não ficarem como cão e gato.

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<![CDATA[Pais com déficit de atenção e hiperatividade.]]>https://rfeldman.web.app/pais-com-deficit-de-atencao-e-hiperatividade/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd43Mon, 13 Apr 2009 19:32:00 GMT

É isso mesmo o que você leu. Hoje fala-se muito em crianças hiperativas e com déficit de atenção, mas a rotina intensa dos pais nos leva a refletir sobre uma falta que tem afetado muito a vida dos pequenos: falta de tempo, falta de brincadeiras, falta de atenção.
Que os pais precisam trabalhar, não há dúvida. Precisam por uma questão de necessidade e, na maioria dos casos que eu conheço, também por realização, por gostar do que fazem.
Mas, como dizia Carlos Drummond de Andrade, “a vida necessita de pausas”. Experimente você – pai, mãe – fazer ao seu filho aquela pergunta que é ele quem sempre faz a você: “Vamos brincar?”
Experimente rolar no chão, fazer castelos de lego, pintar cachos de uva, contar histórias de assombração.
Brincar com os filhos é dizer eu te amo. É descansar depois de um dia de trabalho estafante. É descobrir a criança escondida em você. Sem brincadeira.

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<![CDATA[Esterilidade psíquica]]>https://rfeldman.web.app/esterilidade-psiquica/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd42Sun, 12 Apr 2009 18:33:00 GMTEsterilidade psíquica

Esterilidade psíquica Tenho ouvido algumas mulheres obcecadas pela idéia de engravidar, sem infelizmente conseguir. Eu mesma vivi essa dolorosa experiência quando quis ter um segundo filho. Foram quase dois anos de espera, nove Beta HCG negativos e a fala da minha médica querendo me tranquilizar: “Calma, Renata!… Você já ouviu falar em inseminação artificial?” (!…)
Chorei uma manhã inteira e fui parar na Origen, clínica de fertilidade do competente e renomado Selmo Geber.
Saí de lá aliviada ao saber que não havia problema algum comigo. Mas apesar do alívio, veio o cansaço, a vontade de “trocar o disco”.
Resolvi dar um tempo e adiar o projeto do segundo filho, substituindo-o pelo mestrado.
Engravidei no mês seguinte.

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<![CDATA[Nota zero]]>https://rfeldman.web.app/nota-zero/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd41Sun, 12 Apr 2009 18:25:00 GMT

É com tristeza e indignação que tenho visto uma situação comum nas salas de aula: alunos apresentando trabalhos (de monografia, inclusive) que foram copiados da internet, acessados no site “Zé Moleza” ou comprados por “profissionais” que descobriram neste filão um ótimo ganha-pão.
Complexa e complicada, esta situação me leva a pensar no profissional que está se formando (ou fazendo de conta que está…).
Plágio acadêmico é crime de roubo intelectual e falsidade ideológica. O MEC determina que casos assim sejam encaminhados para a delegacia, e feito um boletim de ocorrência.
O professor dá zero. A delegacia dá o B.O. O mercado de trabalho provavelmente não dará trabalho. (…)

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<![CDATA[Pausa sagrada]]>https://rfeldman.web.app/pausa-sagrada/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd40Sun, 12 Apr 2009 18:05:00 GMT

Sexta-feira da Paixão e eu apaixonada por cada cantinho da idílica Fazenda Santa Marina. Eu e o Dé, sem as crianças (abençoada seja a vovó Clara, no seu corujíssimo posto de vó), desfrutando de uma pausa sagrada: o tempo do casal. Esse casal que veio antes dos filhos, da rotina intensa de trabalho e das contas a pagar.
Quem já teve essa experiência vai concordar comigo: o quanto é necessário e vital preservar a identidade do casal, até mesmo para que os filhos reconheçam – e admirem – o amor dos pais.
Ao contrário do que muitos dizem – e vivem -, casamento não precisa ser um decreto do fim do namoro, e a paixão não precisa nomear apenas um feriado santo.

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<![CDATA[Ginástica.]]>https://rfeldman.web.app/ginastica/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd3fTue, 07 Apr 2009 11:34:00 GMT

Começo a semana na hidroginástica, pulando no jump ao som de Fernanda Takai. Endorfina pura. 45 minutos na água, cuidando exclusivamente de mim. Nada mais terapêutico que sentir a água, o sol e cada músculo do meu corpo em movimento. Fim da hidro. Começo da ginástica: dar aulas na Faculdade, levar o Léo pra escola, cortar a unha da Bella, responder aos 59 e-mails, fazer a lista de supermercado, correr pro mestrado, buscar os exames do Dé, chamar o bombeiro porque a torneira não pára de pingar, renovar o seguro do carro. No meio dessa maratona, encontro momentos de paz e intensa alegria quando me assento na minha berger azul no consultório, e me coloco a escutar o que vem do coração: dores, amores, conflitos, sonhos, planos, incertezas. Aqui eu me encontro.

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<![CDATA[Dedo no nariz.]]>https://rfeldman.web.app/dedo-no-nariz/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd3eTue, 07 Apr 2009 11:32:00 GMT

Vários casais entram em crise sem perceber. Com o dedo em riste, apontam incisivamente para o outro e partem pro ataque: “Você é isso!” “Você é aquilo!” Não percebem a diferença, a sutil diferença que é voltar o dedo para si mesmo, na direção do peito, e dizer: “Eu me sinto mal quando você faz isso.” “Eu me sinto triste quando você faz aquilo.” A direção do dedo muda tudo.
A mudança do pronome faz sentido e diferença.

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<![CDATA[Tempo fechado.]]>https://rfeldman.web.app/tempo-fechado/Ghost__Post__67532a9f83b0de00017afd3dTue, 07 Apr 2009 11:26:00 GMT

Dia lindo. Céu de brigadeiro. De repente bate uma rajada de vento e joga a casa pro ar.
Algum dia você já se sentiu assim, como a pequena Doroty do Mágico de Oz?
E se você conseguisse falar com o Mágico, o que ia pedir?
Eu ia querer a casa de volta, com tudo no lugar.

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